Precisando vencer para não ser eliminado da pós-temporada, o Utah Jazz entrou em quadra no Jogo 5 e… marcou 16 pontos no primeiro período. Foi um festival de tijoladas no aro, Jae Crowder achando que iria salvar o dia arremessando sem parar (e errando tudo), bolas desperdiçadas e Donovan Mitchell completamente apagado. Em qualquer outro jogo dessa série, um começo desastroso desses teria significado que o Rockets abriria 20 pontos de vantagem, colocaria a partida no bolso e a gente nem teria que assistir os outros quartos. Mas não nesse Jogo 5, já que o Rockets se aproveitou do momento ruim do adversário e… marcou 21 pontos no primeiro período. Foi também um festival de tijoladas, tantos desperdícios quanto o Jazz (foram 5 pra cada lado), James Harden forçando demais a mão e Chris Paul errando todos os seus arremessos de longe. O Jazz acertou 33% dos seus arremessos, enquanto o Rockets converteu 38% – um jogo que ninguém deveria ser obrigado a ver.
No segundo quarto, felizmente, a coisa engrenou: o Jazz voltou a infiltrar como fez nos seus melhores momentos nessa série, Royce O’Neale continuou de onde parou na partida anterior e Alec Burks, surgido do limbo, passou a atacar o garrafão adversário. Mais uma vez a defesa do Rockets pareceu meio morta, preocupada demais com o perímetro, e foi punida por isso. Não que o time se importe, claro, quando suas próprias bolas de três pontos estão caindo, o que foi o caso no segundo período: o Rockets acertou 6 bolas de três pontos, mais do que suficiente para superar o que o ataque do Jazz estava produzindo. Foram bolas de três pontos na transição, quando o Jazz tentava proteger o aro, ou nas trocas de marcação de Rudy Gobert, que foi DESTROÇADO no perímetro nas poucas vezes em que tentou parar Chris Paul. Quando o Jazz deu sinais de que iria ajustar sua defesa de transição, PJ Tucker começou a cortar em direção à cesta vindo da zona morta e ficar completamente livre no garrafão. Com 8 pontos de vantagem no primeiro tempo, o Rockets parecia completamente no controle – jogando uma defesa meia boca perfeitamente suficiente para o basquete que o Jazz estava apresentando.
Até que na volta do intervalo, mais especificamente no meio do terceiro quarto, Donovan Mitchell SURTOU e resolveu que estava a fim de vencer o jogo sozinho. O Jazz passou a usar para ele um corta-luz bem alto, quase no meio da quadra, para permitir que ele ganhasse velocidade – e aí quando a defesa do Rockets chegava, Mitchell simplesmente INFILTRAVA NA MARRA, fosse com seus giros tradicionais, fosse ABSORVENDO PORRADA:
15 points in a quarter? You sure this guy is a rookie?
🎥: @NBA pic.twitter.com/2jNhO6AwFy
— Yahoo Sports NBA (@YahooSportsNBA) May 9, 2018
Com trocas de marcação rápida para impedir que Mitchell infiltrasse em velocidade, tudo que o Rockets conseguiu foi forçá-lo a fazer cestas ainda mais acrobáticas, batendo Capela ou Nenê na passada:
Donovan Mitchell with the spin and lefty scoop finish. pic.twitter.com/QCNxUmqAe2
— RealGM (@RealGM) May 9, 2018
Com a defesa aos trancos e barrancos, o Rockets tentou manter o ritmo no ataque, mas sem sucesso: James Harden não acertou nem os próprios cadarços na noite de ontem, e se não fosse um par de bolas de três pontos desesperadas – uma de Gerald Green, que nunca PERCEBE que tem algo de errado acontecendo no jogo, outra de Chris Paul – o estrago teria ainda maior. Isso porque, depois de duas piscadas, Donovan Mitchell já tinha feito VINTE E DOIS PONTOS no quarto, acertando 8 dos 12 arremessos de sua equipe no período, convertendo duas bolas de três pontos e ainda cavando faltas no ataque. O Rockets, que liderava o quarto por 12 pontos, de repente perdia por 6. Foi uma das coisas mais impressionantes que Mitchell fez na sua jovem carreira, que já coleciona uma quantidade incrível de momentos memoráveis. Com pouquíssima ajuda, transformou por completo um jogo fora de casa. Esticando a série em mais um jogo, o Jazz teria a chance de empatar em 3 a 3 no próprio ginásio, um cenário desesperador para qualquer torcedor do Rockets.
Mas quando o terceiro quarto estava quase acabando, ficou evidente que Mitchell estava MORTO, com a língua de fora, precisando desesperadamente ser colocado numa câmara criogênica. Passou alguns minutos no banco de reserva no início do período final para respirar, mas nesses minutos Chris Paul começou sua vingança. Primeiro acertou alguns arremessos de meia distância, forçando Rudy Gobert a marcá-lo, coisas assim:
CP3 can't miss. 13 straight points. pic.twitter.com/Wat1eL9ydd
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E quando Gobert mordeu a isca, Chris Paul começou a levá-lo para o perímetro para dar início à TORTURA:
Chris Paul hits the step back 3 over Gobert. pic.twitter.com/dzp9YucYhu
— RealGM (@RealGM) May 9, 2018
O técnico Quin Snyder entrou em desespero e colocou Mitchell de volta no jogo assim que o Rockets recuperou a liderança. Mitchell, ainda visivelmente cansado, ameaçou umas infiltrações vagarosas, até ter a bola roubada por James Harden e, no processo, chocar seu joelho com o do Barba, tendo que ser carregado para fora da quadra:
Donovan Mitchell helped to the locker room after colliding with James Harden. pic.twitter.com/ghb6BpqaMc
— RealGM (@RealGM) May 9, 2018
Chris Paul, decidido a jogar a PRIMEIRA FINAL DE CONFERÊNCIA DA SUA CARREIRA, fingiu que nem percebeu. Continuou torturando o Jazz no perímetro, fazendo 13 pontos consecutivos e acertando 4 bolas de três pontos no período – todas as que ele tentou. Antes que o Jazz conseguisse pensar o que faria sem Donovan Mitchell, Chris Paul já somava 20 pontos no quarto e o Rockets já tinha construído uma vantagem intransponível no placar.
Donovan Mitchell, o dos 22 pontos no terceiro quarto, terminou o jogo com 24 – errou todas as bolas no quarto inicial e no final, em que mal jogou. Chris Paul, o dos 20 pontos no quarto período, acertou TODAS as bolas de três pontos que tentou depois do fiasco do primeiro quarto: foram 8 acertos em 10 tentativas do perímetro, rumo a 41 pontos, 10 assistências e – QUE ABSURDO – nenhum desperdício de bola. É a primeira vez que um jogador consegue esses números sem um desperdício nos Playoffs desde que a NBA passou a contabilizar essas estatísticas.
Chris Paul, que afirmou que James Harden jogou doente em sua entrevista ao fim da partida (o Barba teve apenas 18 pontinhos), assumiu o que talvez tenha sido o quarto mais importante da sua carreira, o quarto definitivo para espantar quaisquer chances de uma virada histórica – como as que ele tomou em Los Angeles – e colocá-lo nas Finais do Oeste. Nem a doença de Harden ou o terceiro quarto inacreditável de Donovan Mitchell foram suficientes para pará-lo. Agora, resta esperar o Warriors – e ver se ele será capaz de quartos como esse contra os atuais campeões.
Sim, o Rockets enfrentará o Warriors nas Finais do Oeste porque o Pelicans também não conseguiu esticar sua série nas semi-finais jogando fora de casa. A dinâmica toda da série lembrou bastante a série anterior do Warriors contra o Spurs: o time de San Antonio jogou no seu limite, tornando os jogos disputados até aquele momento em que todo o esforço era em demasia e o time simplesmente desmoronava diante da superioridade do adversário. Roubar um joguinho na série foi uma incrível vitória moral, um notável símbolo de resistência. Pois bem, o Pelicans seguiu a receita: roubou um joguinho e fez todos os jogos minimamente disputados, incluindo esse Jogo 5, até o momento em que não eram mais.
No primeiro quarto, mesmo com o Warriors errando bolas do perímetro que não costuma acertar – e o Pelicans finalmente acertando bolas de três pontos na série, com Jrue Holiday encontrando alguns espaços – a vantagem no placar foi, ainda que módica, para o time da casa. Enquanto Kevin Durant sofreu marcação dupla desde o primeiro minuto, bastava que tocasse na bola, Klay Thompson se aproveitou para finalmente brilhar nessa série. No segundo quarto, o Pelicans finalmente engatou no ataque, correndo mais na quadra e com Anthony Davis atacando a cesta sem parar. O Warriors começou a se atrapalhar, errando muitos passes, e não conseguiu parar os contra-ataques adversários. Aos poucos, o Pelicans chegou a ficar 2 pontinhos na frente no placar. Não é bonitinho?
Mas aí o Pelicans empolgou: voltou para o segundo tempo correndo como nunca, atacando os rebotes de ataque e implantando um jogo de velocidade que, no fim das contas, só beneficiou o Warriors. Cada vez que o Pelicans errava alguma coisa na transição, o Warriors devolvia com uma transição ainda mais veloz que terminava em bolas de três pontos. Alguns erros do Pelicans e umas bolinhas de três resultantes no contra-ataque durante um período de 6 minutos foram suficientes para uma sequência de 25 pontos para o Warriors tomando apenas DOIS. Quando Stephen Curry começa a tentar ESSE TIPO de bola de três pontos em transição e ACERTA, você sabe que o jogo acabou:
Curry out here hitting shots from Narnia
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— Yahoo Sports NBA (@YahooSportsNBA) May 9, 2018
Depois de ir para os vestiários vencendo por apenas 3 pontos, o Warriors só precisou de SEIS MINUTOS para empurrar a liderança para surreais 26 pontos.
Parabéns para o Pelicans por não ter desistido mesmo assim: se aproveitaram que o Warriors passou a errar arremessos no quarto período para construir uma sequência de 18 pontos a 2, comandados por Anthony Davis, Jrue Holiday e uma RARA bolinha de três de Nikola Mirotic. Mas o máximo do Pelicans, que foi cortar a vantagem do adversário para 7 pontos, era o máximo mesmo: dava pra ver os jogadores soltando fumaça, não podendo errar NADA, e eventualmente fazendo alguma besteira de puro estresse e exaustão. Já o Warriors tinha criado uma vantagem já intransponível, podia só esperar o jogo acabar, e para isso só precisou encaixar a defesa e a transição por um período, arremessando umas bolas hilariantes e, como deveriam, morrendo de dar risada disso.
O Pelicans sai, como o Spurs, com o selinho de boa participação, mas o Warriors está simplesmente em outro nível, podendo vencer jogos inteiros em 6 minutos impecáveis. Enfrentará agora, nas Finais do Oeste, outro time que fez EXATAMENTE ISSO em diversos momentos desses Playoffs também. Está aí a Final de Conferência que tanto queríamos: o time que piscar primeiro toma oito bolas de três pontos. Já vou preparando o colírio e o desfibrilador.
