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O Warriors perdeu Baron Davis, que deve assinar em breve com o Los Angeles Clippers, e cogitou-se Gilbert Arenas para o seu lugar. Bem, agora já era, Arenas não é mais Free Agent e não defenderá o time de Golden State. Continuará no Wizards e, vejam só, por um salário bem menor do que se esperava.
Na NBA, dinheiro é status, no maior estilo “eu tenho, você não tem” de crianças de primeira série. Na hora de assinar novos contratos, não se trata apenas de bufunfa, mas também do próprio valor do jogador em seu meio. Se o Nenê ganha 10 milhões e você é um ala-pivô como ele, assinar um contrato menor do que isso significa que você é um jogador pior do que ele. Assim, na base da comparação, jogadores disputam para ver quem terá a conta bancária mais gorda e o talento melhor reconhecido pelos caras que assinam os cheques. Isso até que os jogadores fiquem velhos, entrem em pânico frente à possibilidade de nunca terem sido campeões, e aceitam ganhar apenas comida e o dinheiro do busão para jogar num time com chances de ganhar anéis.
Todo mundo que conhece o Gilbert Arenas, seja amando ou odiando o sujeito, sabe que ele não é o cara mais humilde do mundo. Ele se acha bem foda (tanto no basquete quanto no videogame) e acredita merecer um contrato máximo, daqueles que são oferecidos apenas para as maiores estrelas da NBA. Trata-se de reconhecimento e aceitação, ainda que ele tenha dinheiro enfiado até nas orelhas. Por isso, Arenas surpreendeu todo mundo quando, ao fim da temporada passada, anunciou que estaria disposto a aceitar um corte em seu futuro salário para que o time pudesse renovar com Antawn Jamison. “Assinem Antawn primeiro, depois aceitarei uma redução salarial para manter o time intacto.” Para quem ama o Arenas, foi uma demonstração de consciência e responsabilidade. Para quem o odeia, foi a confirmação de que o Arenas faria qualquer coisa para continuar jogando com alguém que não se importa do Arenas dar dez mil arremessos por partida.
Seguindo o pedido de Arenas à risca, o Wizards cuidou de assinar Jamison primeiro. Curiosamente, o jogador pediu menos dinheiro do que se esperava. Antes do contrato terminar, ganhava 16 milhões. Agora, ganhará em média 12 milhões por temporada. Parabenizado por Arenas, respondeu: “não vejo a hora de te parabenizar também amanhã.”
Dito e feito. No dia seguinte, graças ao corte salarial de Jamison, o time de Washington foi capaz de oferecer o tão sonhado contrato máximo para Gilbert Arenas, em torno de 127 milhões. Consigo imaginar o tamanho do sorriso do rapaz, o cara cotado para jogar zero minutos na NBA dando a volta por cima e recebendo a proposta na mesa de um contrato máximo. Daria um filme ruim em Hollywood, com o Arenas interpretado pelo Will Smith.
Mas Arenas negou o contrato e assinou outro, menor, de apenas 111 milhões. “O que eu posso fazer com 127 milhões que eu não possa fazer com 111 milhões?” Bem, pensando melhor, não há nada que você possa fazer com 5 milhões que não possa fazer com 111 milhões, esses caras não tem nenhuma noção de dinheiro. Por que diabos alguém precisaria de mais de 100 milhões de doletas para fazer alguma coisa? É uma visão muito distorcida da realidade, mas ao menos é menos distorcida do que o normal para a NBA. Não é todo mundo que aceita ganhar menos hoje em dia, seja qual for o valor. Se Antawn Jamison e Gilbert Arenas aceitaram uma redução nos bolsos, é porque os tempos estão mudando. Podemos chamar a tendência de “fenômeno Boston Celtics.“
Toda a NBA testemunhou o que três grandes estrelas podem fazer juntas em quadra. Com a junção de Garnett, Pierce e Ray Allen, até o picareta do Doc Rivers pareceu gênio, até o inexperiente Rajon Rondo pareceu All-Star. Os três têm salários monstruosos que, juntos, levariam a grande maioria dos times à falência. No entanto, bastou que o Celtics se mostrasse capaz de pagar os custos para sair da pior campanha em uma temporada para o anel de campeão na outra. Se Arenas aceitasse um contrato máximo, correria o risco de ficar ganhando 127 milhões por 6 anos, limpando a bunda com notas verdinhas, preso num time porcaria e rezando para algum time mais afortunado fazer uma troca e juntar três estrelas bilionárias e arrependidas. Arenas conversou com Garnett antes de assinar seu contrato e foi aconselhado a aceitar menos dinheiro para não correr o risco de apodrecer num time medíocre, assim como ele gastou boa parte de sua vida no Wolves. Se pudesse voltar atrás, Garnett não teria aceitado o contrato máximo que afundou seu time na impossibilidade de assinar outras estrelas.
Parece que Jamison e Arenas levaram a sério a voz da experiência. Com uma tríade de Jamison, Arenas e Caron Butler, sem que nenhum deles tenah exigido salários exorbitantes, sobrará uma graninha para assinar peças de apoio, os James Poseys da vida que tornam ganhar um campeonato possível. O dinheiro afetou os miolos da maioria das estrelas da Liga, mas todo mundo uma hora enche o saco de perder o tempo inteiro. Olhando para o exemplo verde, espero que mais jogadores aceitem reduções salariais em nome da competitividade, das chances de vitória, de times mais completos. Não pude deixar de sorrir ao ver que o Wizards mantém-se inteiro e deve fortificar o elenco. Do mesmo modo que sorrirei quando Elton Brand, que recebeu uma proposta de contrato máximo do Golden State Warriors, assinar por bem menos grana lá no Clippers mesmo, como tudo indica que ele deve fazer.
Dinheiro não é tudo, crianças. Quando vocês receberem ofertas de 120 milhões, aceitem um pouquinho menos, e não esqueçam de mandar uns milhõezinhos para financiar o Bola Presa, claro. É que a redução salarial por aqui não costuma ser voluntária, sabe como é.