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A essa altura, todo mundo já sabe que a seleção brasileira tomou um pau da Grécia e que, portanto, deve agora vencer a seleção da Alemanha para ter chances de se classificar para as Olimpíadas. Nem comentamos nada porque com trocas, Summer League e as bilhões de vezes em que o Denis e eu ficamos vendo esse trailer aqui, ficar falando de sovas da seleção pareceu desnecessário. Não é como se tivesse sido algo inesperado e, definitivamente, não tem ninguém aqui que não esteja acostumado com derrotas verde-e-amarelas no esporte-da-bola-laranja.
Como notamos na vitória em cima do Líbano, a história na seleção agora é outra, com nova mentalidade, esquema tático e política de trabalho. Por mais estranho que pareça, agora temos jogadas planejadas, um técnico que assistiu basquete nos últimos 30 anos e não arremessamos mais quatrocentas bolas de 3 pontos por partida. Tudo isso é necessário, importante e deve ser assimilado pelos técnicos brasileiros, pelos times nacionais, pelos clubes, pelo seu time de basquete de rua. Ainda há a chance de termos um basquete tático, trabalho coletivo e consciência em quadra aqui na terra do futebol. A gente estava precisando dessa nova atitude, comparável a enfiar o nosso basquetebol na UTI para parar o sangramento.
Mas vejam bem: uma coisa é entubar o esporte, injetar ânimo, visão tática e esperança. Outra coisa completamente diferente é querer vencer seleções consagradas que respiram há décadas aquilo que estamos conhecendo apenas agora. Perder para a Grécia é natural, assim como seria perder para a Alemanha. É claro que temos esperanças de vencer Nowitzki e Chris Kaman, mas não passa disso: um sonho longínquo para coroar a recuperação de nosso basquete. No caso da impossibilidade, resta outro sonho, o de que essa retomada do caminho certo não seja apagada pelo fracasso da seleção.
Sair do pré-olímpico tendo vencido apenas um jogo, do Líbano (pior do que o Knicks), pode enterrar por completo a iniciativa do técnico Moncho. Muita gente vai dizer que não deu certo e que, portanto, foi uma perda de tempo. É isso que preocupa, é justamente pela manutenção da recuperação que nós temos que torcer. Como diria Nietzsche (hoje estamos cultos por aqui), “não é porque deu errado que você, necessariamente, fez algo errado.” A classificação para as Olimpíadas pode dar errado, mas a tentativa foi corretíssima, a evolução foi mais do que palpável.
Chega de válvulas de escape, de dizer que o Brasil perde porque os caras da NBA não são patriotas. Esse negócio de patriotismo só não é mais idiota do que “Pegadinha do Mallandro”. Neguinho te paga 20 milhões para você lavar pratos em Phoenix. Aí te convidam para lavar pratos no Brasil, te criticam o tempo INTEIRO dizendo que você lava pratos mal pra burro – sendo que a cozinha é toda arrebentada e o chefe é incompetente – e você ainda é obrigado a voltar pra Phoenix cansado, lesionado, xingado e correndo o risco de perder o emprego de quem realmente te valoriza (e te paga!). A culpa das condições do basquete brasileiro não é deles, muito pelo contrário. Muita gente nem saberia o que é basquete sem o Nenê na NBA, por exemplo. O buraco é mais embaixo.
A gente aqui do Bola Presa fica na torcida para que uma provável derrota para a Alemanha não enfie a gente num buraco ainda mais embaixo, ainda mais fundo. Se perdermos, que fique a lição de que é possível competir com as seleção de alto nível. Se ganharmos, então que fique a lição de que eu queimei a língua e que a gente se vê em Pequim, Yao Ming!
O jogo com a Alemanha é daqui a pouquinho, às 13h30. Se você não tem televisão e mora numa caixa de papelão com internet, basta dar uma passada no nosso chat e conferir nossos links para a transmissão.