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Antes de entrarmos de vez no maravilhoso mundo olímpico, que tal falar de um esporte um pouco menos nobre mas não menos divertido? Estou falando do ápice da programação da ESPN, da melhor parte da faculdade, o jogo do pôquer.
Você deve estar achando que eu estou louco e que estamos ficando sem assunto mesmo nesse ponto do ano onde não tem nada acontecendo na NBA, mas a verdade é que só agora o Danilo achou essa matéria muito legal do jornal Sun Sentinel sobre o jogo de pôquer entre os jogadores da NBA, e como falamos muito em contratos e cifras na offseason, acho que o pôquer é uma boa introdução para mostrar como os jogadores da NBA lidam com seu dinheiro.
A matéria diz que o jogo de pôquer é comum entre os atletas desde sempre, o que não é lá muita novidade, qualquer lugar que tem homens juntos e entediados tem baralho e conversas sobre sexo. Aqui no Brasil nossos atletas preferem o bom e velho truco, na terra do Tio Sam o esquema é pôquer. Aposto que na China, do jeito que eles são um povo vibrante, os jogadores devem fazer campeonatinhos de Uno. Vocês imaginam o Yao nervoso pra diabo porque não tem uma carta verde ou um 2? Dá pra sentir a tensão no ar.
Na faculdade eu, o Danilo e mais uma renca de caras jogávamos pôquer diariamente, eu jogava menos porque sempre fui ruim, o Danilo jogava mais e nosso amigo mais pobre era o mais viciado e o que mais perdia dinheiro. Mas ele não passava necessidades, fiquem tranquilos, as nossas apostas ficavam na casa dos cinco e dez centavos, quando uma rodada passava do um real já tinha gente se amontoando em volta da mesa e duvidando da masculinidade de quem se recusasse a igualar a aposta. Eram bons tempos, pobres mas bons tempos.
Se ganhássemos mais dinheiro, se fossemos um bando de riquinhos, pode ter certeza de que iríamos apostar mais dinheiro, o jogo é um vício desgraçado. O Pat Riley, ex-técnico do Heat e ex-jogador da NBA, disse que no seu tempo eles jogavam pôquer no meio dos aviões comerciais que usavam para ir de um jogo a outro. Eles apostavam cinco ou dez dólares em cada rodada e se divertiam assim.
As coisas mudaram um pouco desde os anos 60, época em que o Pat Riley jogava seu poquerzinho maroto. A primeira mudança é que não são mais aviões comerciais, são particulares, todo time tem o seu. Muda também as notas usadas. Pat Riley disse que no Miami Heat não se usam mais suas notas de cinco e dez, agora são de 20 e 100 doletas. Como a média de salário de um jogador da NBA é de 5,4 milhões de dólares por temporada, 66 mil dólares por jogo, é normal que os jogadores fiquem à vontade para apostar bastante. Mas nem sempre a disputa é justa:
“O Paul Pierce era o jogador de pôquer mais agressivo, porque 100 dólares não era nada pra ele.”
Quem disse isso foi o armador Dan Dickau sobre os tempos de Celtics dele. O Paul Pierce ganhava 16 milhões de dólares por temporada ou 195 mil dólares por jogo de temporada regular. Quando você ganha 195 mil dólares por um jogo acho que não deve ser muito difícil cobrir uma aposta de míseros 100 dólares para descobrir qual é a mão daquele novato mané que quer crescer pra cima de você. O técnico do Magic, Stan Vun Gundy, também fala sobre o assunto:
“Você tem caras que ganham muito dinheiro e que gostam de jogar, eles podem entrar num avião e perder 10 mil dólares. Mas o problema é que tem muito jogador jovem que gosta de jogar com eles, de andar com os veteranos e, bem, 10 mil dólares dóem mais no bolso deles, e aí eles ficam bem mal.”
Ter apostas em 100 dólares não quer dizer que elas paravam por aí, dependendo dos jogadores a coisa poderia ir longe. O armador Derek Anderson disse que já viu gente perder 30 mil dólares em uma mísera viagem de avião:
“Você sai de Chicago e tem 30 mil dólares, você chega em Detroit e não tem mais.”
Não é das coisas mais fáceis para o cidadão comum entender como alguém perde, numa boa, 30 mil dólares em um jogo, mas pretendo ganhar todo esse dinheiro um dia, só pra ver se eu entendo eles, claro . Essa relação, digamos, promíscua, dos atletas da NBA com o dinheiro, vai além das partidinhas de pôquer, é o que dá pra ver em uma matéria do jornal The Star de Toronto.
Segundo a matéria, a associação dos jogadores da NBA revelou um dado impressionante: 60% dos jogadores da NBA perdem todo seu dinheiro cinco anos depois de sua aposentadoria. Sim, aqueles caras que eu disse acima que ganham em média 5,4 milhões de dólares por ano quebram depois de 5 anos sem receber.
Os motivos, claro, são gastos excessivos e falta de planejamento. Se o Derek Anderson já viu gente perder 30 mil em um jogo de pôquer, o Jason Kapono disse que já jogou com um jogador que tinha em sua garagem 14 carros. Um cara solteiro, que mora sozinho e tem 14 carros só porque pode ter.
O carro é um exemplo, mas todo mundo tem seu luxo diferente, seus hobbies, que são elevados à enésima potência quando o cara tem rios de dinheiro. Uns tem trocentos carros, outros sua própria academia em casa, outros ainda seu próprio cinema, piscinas gigantescas e mais uma enormidade de coisas. O Steve Francis tem até seu próprio barbeiro em casa para não precisar sair do conforto do lar para raspar a cuca. O programa MTV Cribs da MTV americana já mostrou vários jogadores da NBA e suas nada humilde casas, dá pra ter uma idéia, ao ver os vídeos, de como os jogadores não pensam duas vezes antes de decidir morar em castelos.
É só clicar no nome do jogador que você vai ver o vídeo sobre sua casa: Steve Francis, Dwight Howard, Shaquille O’Neal, Paul Pierce e Rasheed Wallace.
Tem também os que se dão mal porque são bonzinhos demais. Existem histórias de jogadores que melhoram de vida ao entrar na NBA e querem que todos à sua volta, todo mundo que ele gosta, mudem de vida também, então o cara compra casas para os amigos de infância, para os tios, primos e outros familiares. Mas aí tem que pagar as contas, tem que pagar um carro pra acompanhar a casa, tem que abastecer a casa e quando o salário acaba essa missão fica mais difícil.
O que a Associação dos Jogadores da NBA tenta fazer é alertar os jogadores para que eles pensem mais antes de gastar seu dinheiro, para que eles possam dividir seu dinheiro entre seus desejos e em algum investimento para o futuro. Como disse o Kapono, o contrato dele garante que ele receba salário até os 30 anos de idade, depois disso ele não sabe se ganhará outro contrato, então se ele viver até os 80 anos ele tem que ter dinheiro guardado para viver esses outros 50 anos entre o fim da sua carreira e o da sua vida.
Quando o assunto é dinheiro não dá pra esquecer do grande Latrell Spreewell. Há alguns anos ele recusou uma proposta de 21 milhões de dólares por três anos do Minnesotta Timberwolves com a desculpa de que “preciso alimentar minha família”. Depois disso o Wolves não ofereceu mais nada e o Spree nunca mais jogou na NBA. Há pouco mais de um ano ele perdeu um iate no valor de mais de 1 milhão de dólares porque não podia continuar pagando por ele.
Mas não é tudo culpa dos jogadores, o que não falta é gente querendo se aproveitar de jogadores que foram pobres a vida inteira, não tem experiência em lidar com dinheiro e que de repente estão ganhando milhões de dólares. Agentes e empresários estão sempre rondando, dizendo que cuidam dos impostos, que arranjam novos contratos e o jogador nem percebe que estão levando o seu dinheiro, como disse o armador Darrick Martin, você vira um alvo dos aproveitadores assim que começa a ganhar dinheiro.
Mas não vamos ficar tristes porque os jogadores da NBA não sabem cuidar de seu rico dinheirinho. Vamos pensar em coisas mais divertidas, como o cara do blog Str8balling, que fez um post genial sobre os 4 jogadores com quem ele não queria jogar pôquer.
Ele escolheu:
1. Kevin Garnett – porque o cara é intenso demais e ia ficar olhando com aqueles olhos esbugalhados enquanto você tenta blefar.
2. Tim Duncan – porque ele tem eternamente aquela “poker-face“, a cara de nada que faz com que você não saiba se ele tem cartas boas ou não na mão.
3. Stephen Jackson – porque não é bom negócio apostar dinheiro contra um cara que tem uma tatuagem de mãos rezando enquanto seguram uma arma de fogo.
4. Kwame Brown – porque ele não ia conseguir segurar as cartas com aquelas mãos pequenas e o jogo não ia rolar.
Eu concordo plenamente com todas as escolhas dele e completo a lista com jogadores com quem eu gostaria, sim, de jogar pôquer:
1. Tony Parker – em algum momento do jogo ele teria que apostar a esposa.
2. Yao Ming – ele é tão bonzinho que não seria capaz de blefar.
3. Lamar Odom – quando sobrarmos só nós dois na mesa ele vai amarelar e me entregar o prêmio de graça.
4. Dikembe Mutombo – só para ouvir aquela voz engraçada dele falando “I check”.
E você, jogaria ou não jogaria pôquer na NBA, e com quem? Ou não jogaria com ninguém porque ficou com medinho de falir em menos de 5 anos?