Na semana passada a NBA liberou o League Pass de graça para todos nós termos alguma coisinha a mais para fazer nessas incontáveis horas que temos que passar em casa para o bem geral da humanidade. Para quem não conhece, é a hora de se apaixonar: além da chance de ver TODOS os jogos ao vivo, o League Pass nos deixa ver todas as partidas passadas desta temporada na íntegra e ainda cortando intervalos comerciais.
Embora a gente não saiba ainda ao certo se a temporada 2019-20 da NBA vai ter fim ou como ele será, já tivemos muitas grandes partidas desde outubro do ano passado até a semana retrasada e vamos lembrar aqui de algumas que merecem atenção. Hoje separei cinco jogos para rever nesta semana e na próxima segunda-feira faço outra lista com sugestões para a semana que vem, combinado? A lista, claro, não é definitiva e nem está em uma ordem de preferência. São só grandes jogos para ver nas próximas semanas e com dicas do que se observar.
SEGUNDA-FEIRA – O duelo dos passadores
LA Lakers x Dallas Mavericks (1º de Novembro de 2019)
Ainda era começo de temporada e já estávamos impressionados com o que Luka Doncic estava fazendo. Lembra dele espetacular como novato em 2018-19? Estava ainda melhor. Sabe a projeção futura dele ser um dos melhores jogadores da NBA? Chegou mais rápido do que a gente pensava. Aqui o seu Dallas Mavericks recebia o Los Angeles Lakers, que vinha em um começo arrasador de temporada regular. O time completamente reformado, que nada lembrava o da temporada passada, mas tinha se entrosado bem rápido e já colecionava vitórias contra qualquer time forte que não se chamava LA Clippers. Era a hora de visitar o Mavs e ver se Luka conseguia roubar um pouco do protagonismo do seu ídolo de infância.
O que vimos foi um show dos dois: LeBron James (39 pontos, 12 rebotes, 16 assistências) se tornou o jogador mais velho da história da NBA a fazer um triple-double com ao menos 30 pontos e 15 assistências. Luka Doncic (31 pontos, 13 rebotes, 15 assistências) se tornou o jogador mais NOVO a fazer um triple-double com ao menos 30 pontos e 15 assistências. As semelhanças não ficam por aí, vale a pena conferir como os dois times começaram o jogo com jogadas praticamente IDÊNTICAS e que acabaram com LeBron e Luka dando passes para pontes-aéreas de Anthony Davis e Dwight Powell:
A partida foi bem jogada, disputada e decidida apenas na prorrogação. É uma chance não só de ver uma boa partida de basquete de dois dos melhores jogadores da atualidade, mas de prestar atenção especialmente em seus passes e em como os dois são muitas vezes bem parecidos e dominam o estilo “quarterback” de jogar basquete: dominam a bola por boa parte do tempo, tem total controle sobre onde estão todos na quadra e disparam passes precisos. Nas jogadas abaixo, mais semelhanças: passes de lá atrás no perímetro para pequenos armadores que encontraram espaço sob a cesta e, depois, infiltrações que concentram cinco defensores no garrafão e se tornam então passes diretos e retos para a zona morta:
Aproveite e veja se a bola de 3 pontos de Danny Green que empatou o jogo na última posse de bola te lembra alguma coisa. Já teve vídeo sobre esse lance na Prancheta Bola Presa anos atrás, quando Green matava essa bola usando a camisa do San Antonio Spurs.
TERÇA-FEIRA – A molecada e as prorrogações
Chicago Bulls x Miami Heat (8 de Dezembro de 2020)
O time que mais disputou prorrogações nesta temporada é o Miami Heat: NOVE. Tão impressionante quanto o número de empates é o número de vitórias no tempo extra, OITO. Só outros dois times chegam perto da equipe da Flórida em quantidade de prorrogações e ambos têm recordes bem piores. O Brooklyn Nets ganhou só três das oito prorrogações que disputou e o Minnesota Timberwolves venceu quatro das sete disputadas.
Essa partida contra o pobre Chicago Bulls é um grande exemplo de como o Heat é bom, organizado, decisivo e levemente sortudo nesses jogos disputados. Não foi a melhor partida da equipe de Erik Spoelstra, mas a disciplina estava lá e na hora dos vamos ver eles contaram com a ajuda de toda a cambada de pirralhos do time: Kendrick Nunn marcou 18 pontos, Bam Adebayo fez mais um de seus inúmeros double-doubles e o novato Tyler Herro fez nada menos que CINCO bolas de 3 pontos apenas nos minutos finais do tempo normal e da prorrogação. Vale também observar como Jimmy Butler foi uma força poderosa para essa equipe mesmo em um dos dias em que não estava lá muito inspirado ofensivamente: ele defende, rouba bolas, cria jogadas e dá algumas das assistências para o jovem Herro ser, com o perdão do trocadilho, o herói da partida.
Se por algum motivo vocês têm interesse em entender o Chicago Bulls, essa é uma boa lição também. A partida mostra todo o potencial do time, a capacidade de jogar de igual para igual com outros grandes do Leste, mas também a rotina de partidas jogadas fora nos minutos finais. Junte um time especialista em perder partidas apertadas e um com poderes mágicos para ganhá-las e você tem esse divertido duelo com um herói improvável. Se quiser ir mais a fundo taticamente vale ler esse texto (para assinantes) e observar como o Heat é o time que mais usa a defesa por zona em toda a NBA.
Variações do mesmo tema – Se você gostar do show, procure outras das OITO prorrogações vencidas pelo Heat. Destaque especial para a partida de 28 de Dezembro contra o Philadelphia 76ers, ex-time de Jimmy Butler. De novo Herro, dessa vez ao lado do próprio Butler, marcaram diversas cestas importantes no fim do jogo para empatar uma partida que até então estava sendo dominada por atuações incríveis de Ben Simmons e Joel Embiid.
QUARTA-FEIRA – Novo dono da coroa?
LA Lakers x Milwaukee Bucks (19 de Dezembro de 2019)
Com uma boa parte da temporada já encaminhada, era hora de vermos frente a frente os times que lideravam as conferências Leste e Oeste, uma possível prévia da Final da temporada. Não deixava de ser também uma prévia da disputa pelo troféu de MVP: LeBron James contra Giannis Antetokounmpo dominavam desde então a discussão sobre melhor jogador da temporada. O jogo foi muito aguardado, antecipado e o LA Lakers até poupou Anthony Davis na partida anterior contra o Indiana Pacers para que ele chegasse pronto para marcar o Greek Freak. É o mais próximo dos Playoffs que podemos chegar para um jogo em Dezembro.
Toda a expectativa foi correspondida em quadra: o Milwaukee Bucks jogou com a intensidade esperada de quem estava em casa e dominou a partida, mas o Lakers se mostrou um time experiente e resiliente e não deixou a peteca cair. Chegou a se aproximar no placar no final do terceiro período e começo do quarto, mas não foi o bastante. O grande diferencial foi, por incrível que pareça, o arremesso de longa distância de Giannis! Ele acertou CINCO bolas de 3 pontos no jogo, ainda hoje o recorde da sua carreira. O plano do Lakers era deixar ele chutar, tiveram que aguentar o resultado. Depois de um desses arremessos, Giannis se AUTOPROCLAMOU NOVO REI e colocou uma coroa imaginária na cabeça para desafiar LeBron. Um dos grandes momentos da temporada!
Did Giannis just put on the crown? I’m literally shaking pic.twitter.com/ljDZva7u1o
— Ryley (@PrimetimeRyley) December 20, 2019
Na questão tática é um bom jogo para entender melhor a estratégia defensiva do Bucks. Não é à toa que Danny Green acertou SETE bolas de 3 pontos e JaVale McGee e Dwight Howard SOMADOS fizeram apenas seis pontos, o time de Mike Budenholzer tem por prioridade fechar o garrafão a todo custo, com todos seus jogadores se concentrando sob a cesta a cada ameaça de infiltração. Algumas bolas de longa distância são permitidas de vez em quando por isso, mas no longo prazo eles acreditam que impedir arremessos próximos ao aro é o plano correto. O resultado é que Anthony Davis e LeBron James, que têm quase 65% de aproveitamento na temporada em arremessos ao redor do aro, acertaram só 50% nessa partida: 6/12 para Davis, 4/8 para LeBron:
Variações do mesmo tema – Se você quer ver mais jogos do Milwaukee Bucks dominando e mostrando seu potencial de futuro campeão vale ver outras vitórias sobre favoritos. No dia 6 de Dezembro eles MASSACRARAM o LA Clippers, que estava com Kawhi Leonard e Paul George em quadra e mesmo assim não viu a cor da bola. Outro grande jogo foi a vitória sobre o Boston Celtics em 16 de Janeiro, uma surra humilhante que Kemba Walker, quase sozinho, conseguiu transformar em um placar respeitável e até perigoso no quarto final.
QUINTA-FEIRA – O mundo é apresentado a Ja Morant
Houston Rockets x Memphis Grizzlies (14 de Janeiro de 2020)
Muitas estrelas da NBA têm um grande jogo em que foram apresentados para o grande público do basquete. Nós, bitolados, sempre estamos ligados em quem está evoluindo e prestes a estourar, mas para o POVÃO é preciso um grande momento em rede nacional para dizer a que veio. Foi o que vimos acontecer em Janeiro com o novato Ja Morant, do Memphis Grizzlies.
Sem Zion Williamson, Morant já era, com sobras, o melhor novato dessa temporada. Em Janeiro ele liderava o melhor momento do surpreendente Grizzlies na temporada, uma sequência de vitórias que levou aquele suposto saco de pancadas a se tornar um time que estava na zona dos Playoffs. Junte esse grande momento coletivo e individual e coloque a partida em rede nacional nos EUA, na NBA TV (não era a ESPN, mas tá valendo!), contra o poderoso Houston Rockets de James Harden (Russell Westbrook foi poupado neste dia) e temos o cardápio para uma festa de debutante. Até aqui no Brasil a partida foi transmitida na TV a cabo para uma enorme quantidade de pessoas que jamais tinha visto um jogo do nosso Memphão em toda sua vida.
O armador pegou a oportunidade e abraçou ela com estilo: 26 pontos (acertou 10 dos 11 arremessos que tentou!), acertou três bolas de longa distância, deu oito assistências, falou palavrões na fuça de Harden e fez tantas jogadas de efeito que rever esse jogo vai dar uma sensação de assistir uma compilação de highlights no YouTube. É também uma oportunidade para ver o quanto esse Grizzlies foi um dos times mais intensos e divertidos da liga durante ao menos um mês inteiro.
Taticamente é interessante olhar para duas coisas. Pelo lado do Houston Rockets, lembrar de como era a vida com Clint Capela e como sua presença em quadra alterava as coisas para o time. Reparem como poucas vezes ele faz pick-and-rolls com James Harden e ao invés disso prefere ficar quase atrás da tabela, no fundo da quadra, só à espera de uma possível ponte-aérea. Eventualmente o time percebeu que não ter ele lá e colocar mais um arremessador no lugar daria mais espaço às infiltrações.
Pelo lado do Memphis Grizzlies eu recomendo observar a transição ofensiva: com boa capacidade atlética e alguns bons defensores no elenco, o time consegue forçar turnovers e imediatamente transformá-los em contra-ataques. Não há dúvida, hesitação nem uma procura desesperada por Ja Morant. Quem rouba a bola já dispara para frente, normalmente acompanhado por ao menos um ou dois companheiros. Desesperador para os adversários…
SEXTA-FEIRA – Os Reis da Virada
OKC Thunder x Minnesota Timberwolves (6 de Dezembro de 2019)
Se o Miami Heat domina as prorrogações, ninguém manda mais nos quarto períodos que o OKC Thunder. Como o Danilo explicou num post recente, o time tem o melhor ataque da NBA nos últimos cinco minutos de jogos disputados, uma das melhores defesas, comete poucos erros e é um dos times que mais virou jogos na temporada. Quer um número legal? O time tem DEZESSEIS vitórias em jogos onde começou o último quarto perdendo, nenhum outro time da NBA tem mais que… OITO.
Foi o caso desse jogo contra o Minnesota Timberwolves, que trago aqui por motivos de grandes lances, grandes atuações e, acima de tudo, lances BIZARROS nos segundos finais. Começo com as atuações: é uma chance de ver uma boa partida de Karl-Anthony Towns numa época em que o Wolves ainda não tinha jogado tudo para o alto. Ele fez 30 pontos e acertou 5 bolas de 3 pontos, aproveitando a nova liberdade que recebeu nessa temporada de disparar tiros de longa distância. Do lado do OKC Thunder é uma chance dos desatentos verem como Shai Gilgeous-Alexander já é um dos grandes jovens jogadores da NBA, como Chris Paul tem o jogo no seu bolso e porque eu, depois de tanto xingar, votaria em Dennis Schröder como melhor reserva da temporada. Todos tiveram seus momentos na recuperação do Thunder nos minutos finais e na prorrogação.
Agora a bizarrice: o final do tempo normal foi tão estranho que eu abri mão de minhas regras MORAIS e fiz uma thread no Twitter para contar os acontecimentos. Juro que não sou desses, mas valeu a pena: envolve uma camisa para fora do calção, o livro de regras da NBA, um veterano dedo-duro e um passe de futebol americano no último segundo:
Era a vez de Towns tentar matar o jogo, mas ele errou o 1o lance-livre. Antes do segundo, Jordan Bell, que tinha saído do jogo durante o pedido de tempo, voltou para brigar pelo rebote. Só que ele entrou com a camisa pra fora do calção e Chris Paul percebeu e avisou todo mundo… pic.twitter.com/YcRR1fyQAJ
— Bola Presa (@bolapresa) December 7, 2019
E nem dá pro Jordan Bell reclamar, já que em todos os vestiários há um guia com as regras de vestimenta dentro da quadra para esta temporada. (via @royceyoung)
Só Kyrie Irving pode pelo jeito 🙃 pic.twitter.com/aQaYRows9d
— Bola Presa (@bolapresa) December 7, 2019
O Thunder não tinha mais tempos para pedir, então teria que bater o fundo-bola e conseguir uma cesta. O Wolves marcou os passes mais próximos e óbvios, mas graças à camiseta fora de bermuda, o Thunder não precisava mais de uma cesta de 3 pontos, só de dois. Aí isso aconteceu… pic.twitter.com/NkY4nCB5Iy
— Bola Presa (@bolapresa) December 7, 2019
Depois do jogo ele disse que abraçou o cara porque viu ele na frente e achou que ele tinha entrado na quadra para comemorar junto. Na verdade os policiais sempre entram em quadra ao fim dos quartos para evitar invasão de torcedores…
— Bola Presa (@bolapresa) December 7, 2019
Na prorrogação o OKC Thunder arrasou com o Wolves, fez 17 a 5 na parcial e venceu a partida por 139 a 127.
— Bola Presa (@bolapresa) December 7, 2019
Variações do mesmo tema: Em 17 e 19 de Dezembro o Thunder conseguiu uma façanha que nem sei se vale um parabéns ou um tapa na bunda. Eles conseguiram, em dois jogos seguidos, virar jogos em que perdiam de 26 e 24 pontos! O primeiro foi contra o Chicago Bulls (eu falei que eles jogavam lideranças no lixo como hobby) e o outro contra o Memphis Grizzlies. O parabéns vai para a capacidade do time de reverter situações difíceis, o tapa na cara é por ficar 26 pontos atrás do Bulls.
Semana que vem tem mais dicas envolvendo a REVELAÇÃO de Jayson Tatum, mais prévias de Playoffs, o jogo com mais pontos na temporada, a consagração do retorno de Carmelo Anthony e mágicas vindas da cartola de Nick Nurse.