>Pobre LeBron

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Será que enquanto joga com as estrelas da seleção, LeBron James está
com saudades de sua relação íntima com Damon Jones?

O prato principal da rodada olímpica era o embate entre Estados Unidos e Grécia, o resto era aperitivo. Claro, tivemos atuações brilhantes de Kirilenko (apesar de outra derrota russa) e de Yao Ming, que era simplesmente alto demais mesmo para todos os jogadores angolanos empilhados uns em cima dos outros, errou apenas um arremesso e saiu de quadra com 30 pontos no currículo. Mas o importante mesmo era ver se os gregos representariam realmente o primeiro desafio para Kobe, LeBron e seus amigos.

O começo foi de fato bastante complicado para a seleção dos Estados Unidos, mas não exatamente graças à atuação grega. A arbitragem estava ligeiramente bêbada e marcou uma sensacional falta espírita em Dwight Howard – o pivô americano estava a um passo de distância de um grego que caiu sozinho de forma cômica e a falta foi marcada assim mesmo. Em algum lugar da China, o argentino Ginobili sorriu, orgulhoso. Na sequência, os árbitros marcaram um punhado de faltas altamente questionáveis em cima de Kidd, que foi parar no banco de reservas. O legal dessa seleção é que eles estão tão comprometidos, dispostos a manter o plano de jogo seja perdendo por 10, seja ganhando por 30, que as faltas fantasmas no máximo tiraram um sorrizinho irônico de Dwight (aquele humor sutil de que Tim Duncan nunca ouviu falar). Foi o técnico Mike Krzyzewsky quem mais se axaltou, tendo que até mesmo ser contido. Provavelmente estava mais bravo com o fato de que seu sobrenome parece um bêbado batendo aleatoriamente em várias teclas de computador.

Muita coisa se prometeu sobre a seleção americana: aprender a defender efetivamente por zona, não depender apenas de contra-ataques, movimento constante sem a bola. Pouco disso está efetivamente ocorrendo em quadra de modo que possamos afirmar que essa seleção é de fato muito diferente das outras que fracassaram nos jogos internacionais. Mas há algo ali, simples, que transforma derrotas em vitórias fáceis: constância, profundidade e comprometimento.

A Grécia começou atacando bem no garrafão, com passes precisos e um bom trabalho de costas para a cesta. Já as bolas de três pontos demoraram um pouco para cair. Mas para os americanos, não importava se as bolas estavam caindo ou não, mantiveram o mesmo comprometimento em vencer essa budega, o mesmo ritmo o tempo inteiro e talento demais no banco de reservas. Para jogadores acostumados com, às vezes, passar uma partida inteira de NBA dentro de quadra com quartos de 12 minutos cada, jogar uma partida de basquete internacional com quartos de 10 minutos é mamata. Descansando um bom tempo no banco, então, nem se fala. Kidd foi para o banco com 3 faltas mas ninguém sequer notou, afinal Chris Paul e Deron Williams estão prontos para manter a mesma intensidade e mentalidade na equipe. Aliás, como dizem alguns, é até melhor que Kidd saia logo: Chris Paul é, nessa altura de suas carreiras, melhor jogador. Dwight Howard anda fedendo um pouquinho, foi sentar no banco e passar um “Bom Ar” e o resultado foi Chris Bosh assumindo o jogo e chutando traseiro grego atrás de traseiro grego. Até o traseiro obeso do “Baby Shaq”, o Sofoklis Schortsanitis (que costuma jogar bem contra os Estados Unidos mas dessa vez parecia ter engolido no café algum membro da comissão técnica) foi chutado sem piedade. Cada acerto, cada falta, seguida por gritos de comemoração. Parece um bando de Kevin Garnetts.

A pressão defensiva foi intensa e o ataque foi frenético, afinal mesmo contra a Grécia há material humano para jogar intensamente por umas 40 horas sem parar. Inevitavelmente, os gregos morderam a isca e começaram a correr também, abandonando o jogo de meia quadra e partindo para a porra-louquice. Ali, naquele instante ainda no primeiro tempo, assinaram seu atestado de derrota. Não demorou muito para que o jogo estivesse fora de controle, línguas gregas para fora em exaustão, e após uma sequência humilhante de tocos, os gregos passaram a pensar duas vezes antes de entrar no garrafão. É aquele medo que muda o plano de jogo, aquele pânico que taca qualquer chance de vitória pela janela, junto com os pulmões. No último quarto, os esquentadores de banco oficias dos Estados Unidos – Boozer, Prince, Michael Redd – puderam brincar um pouco sem preocupações, mas com a mesma seriedade do resto do grupo.

A seleção americana acertou a marcação do perímetro? Não, Papaloukas acertou bolas não contestadas. A seleção americana marcou por zona? Não, insistiu na defesa individual apesar da Grécia ter chutado 18 bolas de fora. As bolas de três pontos dos Estados Unidos caíram? Não, LeBron James deixou a pontaria em Cleveland e Kobe ainda forçou arremessos desnecessários. Não foi um jogo perfeito, nem de longe, mas foi um esforço coletivo de comprometimento com a vitória e nem por um segundo pareceu que os gregos poderiam ganhar coisa alguma, nem se abandonassem o basquete e fizessem um torneio de par ou ímpar.

O Chris Bosh foi a estrela do jogo, fazendo questão de lembrar pessoalmente que o banco de reservas pode até ser melhor do que o elenco titular, e que ele é muito mais versátil ofensivamente do que Dwight Howard. Mas LeBron e Dwyane Wade chutaram traseiros também. Se o Wade não está completamente recuperado, então quando ele estiver marcará 100 malditos pontos por jogo. LeBron está sendo um monstro na defesa, sempre na cobertura de seus companheiros, e teve um jogo completo apesar da falta de mira. Até Kobe jogou muito, apesar de muitas vezes fechar os olhos, achar que está em Los Angeles e arremessar de qualquer lugar. Às 11h15 do sábado, a Espanha será o time que terá que lidar com essa bizarra concentração de talento americano disposta a manter o mesmo ritmo durante toda uma partida.

No meio desse talento todo, LeBron James deve respirar aliviado e esquecer um pouco do Cavs. Quem acha que jogar nas Olimpíadas não é ficar de férias está negando o refresco psicológico que deve ser jogar ao lado de Wade e Kobe ao invés de jogar ao lado de Damon Jones e Varejão. Por isso mesmo, gostaria de saber se alguém na seleção americana ousou acabar com a tranquilidade mental de LeBron James avisando que seu time da NBA acabou de efetuar uma troca.

Foi um bacanal entre três equipes: o Bucks recebe Luke Ridnour, Damon Jones, Adrian Griffin; o Cavs recebe Mo Williams; e o maldito time da cidade de Oklahoma que ainda não tem uma porcaria de um nome recebe Joe Smith e Desmond Mason.

Deveria ser proibido um time sem nome fazer qualquer troca, é ridículo demais, então conforme prometido vou dizer que “o time outrora chamado Sonics” fez uma troca e pronto, que se danem os dirigentes de Oklahoma. Para eles, a troca é uma forma de se livrar do Ridnour, que exigia minutos mas perderia fácil uma partida contra uma cadeira, já que seria incapaz de defendê-la. Com Joe Smith e Desmond Mason o ex-Sonics consegue veteranos para dar uma força na pirralhada e depois ir embora.

Para o Bucks, trata-se de se livrar do Mo Williams. Não me entendam errado, ele é muito talentoso, excelente pontuador e competente passador. O único problema é que ele parece policial inglês, atira primeiro e pergunta depois. O clima em Milwaukee começou a ficar insuportável porque durante os momentos cruciais das partidas, Mo Williams se negava a passar a bola para a estrela Michael Redd e tentava resolver o jogo sozinho, como se fosse o único em quadra. Um débil mental desses com um contrato salgado se tornou descartável com o surgimento de Ramon Sessions, que assustou todo mundo com seu talento nos jogos finais da temporada passada. O único problema é que ele é um pirralho e não é saudável tacar muita responsa no colo dele, então Ridnour pode armar um pouco o jogo e segurar as pontas. Damon Jones, que é tão retardado quanto Mo Williams mas tem menos talento, pode continuar jogando nas partidas que não interessam.

Já para o Cavs a intenção óbvia é arrumar um pontuador para tirar o fardo de LeBron. Por várias vezes James precisou de alguém que tivesse os bagos necessários para dar um último arremesso quando ele não conseguia, porque em Cleveland todo mundo é cagão e prefere passar a bola para o Rei, mesmo se fosse o rei Roberto Carlos. Bem, Mo Williams é o cara certo para ter coragem de arremessar no final dos jogos e pontuar por si mesmo, mas você realmente quer um cara em seu time que, quando o troço esquentar, não vai passar a bola para sua grande estrela? Que diabos de plano é deixar a bola com um maluco instável justo agora que LeBron virou especialista em finalizar jogos?

Posso imaginar LeBron James lá na China sentado num canto de vestiário, olhando para Wade, Kobe, Chris Paul e Deron Williams, deprimido com o rosto escondido entre as mãos. Na sua cabeça, a verdade aterradora: depois de jogar com tantas estrelas talentosas e solidárias, resta a ele retornar a Cleveland. O respiro de alívio pela ida de Damon Jones vai ser substituído pelo choro de desespero: terá que jogar com Mo Williams. Pelo menos, deverá ter uma medalha de ouro para se consolar. Aposto que jogará com o dobro da intensidade contra a Espanha.

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