>Por pouco

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“Assopra, assopra!”

A seleção brasileira de basquete em cadeira de rodas começou sua participação nas Paraolimpíadas de Pequim com uma grande partida contra a Austrália, uma das melhores equipes do mundo. Os brasileiros começaram o jogo sendo agressivos, confiantes, jogando em velocidade e abusando dos contra-ataques, surpreendendo os australianos que não esperavam um ritmo tão intenso na partida. “Eles vieram para cima de nós jogando forte e sendo físicos, não soubemos responder a isso e acabamos pagando“, explicou Justin Evenson, estrela da Austrália no jogo. Ao fim do primeiro tempo, o Brasil vencia por 17 pontos. A partir dali, os australianos foram se recuperando aos pouquinhos e com uma cesta de Shaun Norris a quatro segundos do fim, conseguiram sua primeira liderança na partida. Acabaram vencendo por 73 a 72 graças a uma incrível recuperação que culminou no arremesso nos segundos finais.

Um jogo incrível. Quer dizer, pelo menos eu imagino que tenha sido. Afinal, eu não consegui assistir ao maldito jogo. Ninguém conseguiu. Existem basicamente três locais para assistir as Paraolimpíadas por essas bandas: a SporTV (para quem tem TV a cabo), o portal Terra e o site oficial do evento. O problema é que as três opções são, na verdade, o mesmo canal, e nenhum deles passou a partida de nossa seleção brasileira. Minha indignação vai muito além de eu ter perdido uma grande partida de basquete. Estou soltando fumaça pelas orelhas é pela cobertura mequetrefe que somos obrigados a engolir num dos maiores eventos da história.

Então quer dizer que nas Olimpíadas temos duzentos canais diferentes, a possibilidade de assistir qualquer modalidade e descobrir a estranha diversão de estar de cueca às 3 da manhã assistindo arco e flecha feminino por equipes debaixo de chuva. Por que, então, nas Paraolimpíadas só temos apenas um canal, nenhuma possibilidade de escolher a modalidade a ser assistida e somos obrigados a saber sobre a quase vitória brasileira através do “ouvi dizer”? Isso é ridículo. Não me venham com “falta de interesse do público”, a maioria sequer sabe do evento simplesmente porque não há cobertura. Muita gente se empolgou com a iniciativa do Bola Presa de acompanhar nosso basquete paraolímpico mas ficou na mão, incapaz de assistir aos jogos. Conseguir informações sobre as partidas já é um parto, era mais fácil ensinar o Shaquille O’Neal a cobrar lances livres ou manter o Eddy Curry longe dos doces, simplesmente porque não há cobertura alguma. Se não fosse o Sileno Santos, o assistente técnico da seleção (que deve ter pesadelos com o Bola Presa de tanto que enchemos seu saco), a gente não teria a menor idéia do que está acontecendo lá em Pequim. Uma cobertura falha, a gente lamenta mas até entende, é questão de gosto, de interesse. Mas faltar uma transmissão no mesmo nível da que vimos um punhado de semanas atrás nas Olimpíadas é uma vergonha e todos nós, por causa disso, perdemos uma partida sensacional, emocionante e uma atuação épica. Ao menos, é o que dizem as estatísticas.

Sem poder assistir ao jogo, somos obrigados a voltar para os tempos ancestrais em que acompanhávamos basquete por boxscore. É tão divertido quanto, ao invés de ver um filme pornô, ler um relato númerico: “beijou duas vezes, gritou três vezes, caiu da cama oito vezes”, mas pelo menos dá um gostinho, deixa com vontade. Pelo Brasil, o Erick Silva acertou 9 de seus 11 arremessos (sem errar nenhum dos 8 arremessos de 2 pontos que tentou) e acabou o jogo com 25 pontos e 6 rebotes. O Irio Nunes acertou 12 de seus 22 arremessos e terminou com 27 pontos, 5 rebotes e 4 assistências. Obviamente, foram fundamentais para a liderança que a seleção brasileira manteve durante todo o jogo. Mas nenhum dos dois foi páreo para a chutação de traseiros proporcionada pelo australiano Justin Evenson, que levou o time nas costas e manteve vivas as chances de vitória.

Respira fundo: Evenson acertou 16 de 24 arremessos, marcou 39 pontos, pegou 14 rebotes, deu 8 assistências e roubou 5 bolas. Diabos! Alguém deveria ter furado um dos pneu dele! Mas confesso que, além de ver nossa seleção estreiar, fico triste mesmo é de ter perdido uma atuação dessas, sem falar no arremesso decisivo, no placar disputado. Depois de acordar tantas madrugadas para ver uns jogos nas Olimpíadas com menos emoção do que o Tim Duncan escovando os dentes, perder uma partidaça dessas me deixa ofendido.

Agora, o Brasil enfrenta os Estados Unidos às 23h, num jogo que muito provavelmente não será transmitido em lugar nenhum, mas a gente sempre tem uma esperança. Quase vencemos a Austrália, não queria perder a chance de ver os brasileiros darem ao menos um susto nos americanos, grandes favoritos ao título. Se fosse uma porcaria tipo Knicks e Sonics, seria super fácil assistir ao jogo na internet, mas grandes jogos num torneio global que só acontece de quatro em quatro anos a gente tem que depender da boa vontade de alguém que sequer sei quem é – e fica muito mais difícil falar uns palavrões quando não sei em quem botar a culpa.

Na falta de alguém, vou culpar o tal do Justin Evenson mesmo. Fazer 39 pontos e quase um triple-double justo contra o Brasil? Se ferrar, viu?! A culpa é dele.

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