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Nenhuma surpresa. Não foi surpresa ser uma missão impossível achar o segundo jogo do Brasil na paraolimpíada para assisitr e não foi surpresa a derrota. O jogo foi exatamente 16 horas depois da tensa e cansativa batalha contra a Austrália. Considerando as oito horinhas de sono que o dotô recomenda, são só 8 horas ativas entre um jogo e outro para se recuperar da derrota, conversar sobre o time adversário, comer, procurar a princesinha da Jessica Long na Vila Olímpica e, se possível, tomar um banho porque ninguém é obrigado a aguentar um monte de marmanjo fedorento.
Se a batalha contra a Austrália tivesse sido vencida por nós, ainda iríamos para o próximo jogo cansados, mas com sorriso no rosto. Tipo quando você vai pro trabalho sem dormir, não por causa da insônia, mas porque a vizinha do 212 que é uma delícia finalmente foi jantar com você e acabou ficando. Mas como perdemos, foi como se fossemos para o trabalho sem dormir depois de ficar na internet tentando comprar ingresso pro show da Madonna para a cunhada.
Para completar, esse segundo jogo foi contra a espetacular seleção dos EUA e sabe como são os americanos, podem ter perdido uma perna no meio do caminho mas nasceram sabendo jogar basquete, talento é talento. É como o Brasil que é o atual campeão paraolímpico no futebol de 7 (com problemas motores) e de 5 (para cegos). O placar foi de 87 a 41, um placar bem feio mas compreensível, se tinha um jogo que o Brasil podia relaxar porque a derrota era inevitável era contra os EUA. O problema agora é o futuro: enfrentamos Israel, Grã-Bretanha e China e precisamos de pelo menos duas vitórias nesses confrontos para classificarmos em quarto lugar, mas o ideal é vencer os três jogos para fugir do Canadá nas quartas-de-final.
Conversei com o Sileno, o assistente técnico da seleção e nosso maior colaborador, e ele estava comentando como estavam lamentando a derrota por um ponto para a Austrália e de como ela foi difícil de engolir pelos brasileiros, por mais que eles saibam que não podem deixar se abater.
É difícil ter a vitória nas mãos e deixar escapar, mas pode-se usar como exemplo de motivação a própria Olimpíada de Pequim, quando a China surpreendeu o mundo levando o jogo contra a Espanha para a prorrogação (depois de liderar por muito, como o Brasil contra os australianos) mas perdeu no final diante da torcida. Mesmo assim os chinas arranjaram forças para derrotar a Alemanha e garantir a classificação para as quartas-de-final. O Brasil precisa dessa força pra ir lá e garantir as vitórias que precisa, não pode se abalar com derrotas para times mais fortes pra não acabar perdendo para os mais fracos.
A comissão técnica já sabe disso e está fazendo de tudo para deixar tudo o que aconteceu para trás, conversou com os jogadores e já está preparando todos os vídeos dos jogos que já aconteceram, do Brasil e dos adversários, para estudar e continuar dando trabalho para os oponentes.
Pelo menos a derrota, junto com o sentimento de “quase”, trouxe mais uma coisa junto: o respeito. Logo após o jogo contra a Austrália, no jantar, os jogadores da seleção americana encontraram com os brasileiros e comentaram que o Brasil não merecia a derrota porque tinha jogado muito bem, além disso a seleção americana entrou com tudo hoje, jogando seu melhor, sabendo que era melhor não dar chance porque o Brasil poderia se aproveitar. Olha só o o que o armador Schulte disse sobre a nossa seleção:
“Nós fomos capazes de vencer eles por muito. Mas para os outros times eu daria um alerta sobre o Brasil, eles são um time experiente e não se deve pegar leve contra eles. Se nós deixássemos eles esquentarem, seria difícil pará-los, então tinhamos que abrir uma diferença logo no começo para eles não crescerem.”
E é assim que funciona mesmo no esporte, você precisa de resultados para conseguir que o tratem de outro jeito. Lembram dos playoffs desse ano quando todo mundo ficava com um pé atrás ao falar sobre o Hornets mesmo eles tendo acabado em segundo no temido Oeste? Sabíamos que eles eram bons mas faltava alguma coisa pra provar. Com um 4-1 em cima do Mavs e uma derrota apertada por 4-3 sobre o todo-poderoso Spurs, deu pra respeitar mais e colocar eles como favoritos para a próxima temporada.
O Brasil está conseguindo o respeito, faltam os resultados, mas ainda dá tempo.