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É o fim da novela Ben Gordon, o maior dramalhão mexicano desde os tempos de Maria do Bairro. O moço pobre que batalhou duro por um lugar no mundo não conseguiu o que queria, que era casar com o mocinho rico no final. Até apareceu um mocinho rico na história, mas o Ben Gordon achou que ele não era rico o suficiente. Então, ao invés de casar com ele, resolveu ficar lavando as cuecas de um mocinho meia-boca enquanto reza para que, no ano que vem, apareça um mocinho num cavalo branco. Quer dizer, cavalo hoje em dia é coisa de pobre, ele quer um mocinho num jato particular. Dez jatos particulares. Vinte.
No fundo, a novela apenas foi prolongada e justamente por isso é que deve ficar ainda mais dramática, tenho certeza de que a Thalia estaria orgulhosa. O que acontece é que o Bulls ofereceu um contrato de 59 milhões por 6 anos para Ben Gordon, que alegou não ser o bastante. Faça as contas por aí, eu espero, pode usar os dedos. Pronto? São praticamente 10 milhões por temporada, dinheiro pra burro, coisa de jogador de elite. Não é por nada não, mas acho que enquanto eu me preocupava demais em escrever sobre NBA, postar no Bola Presa e assistir aos jogos dos times que importavam, o Ben Gordon deve ter se tornado um dos melhores jogadores do planeta e eu não notei. Pelo que eu me lembro, ele é um armador que só sabe pontuar, baixo demais para a posição e incapaz de jogar como armador principal, posição mais condizente com seu porte físico. Não defende, não arma o jogo, não pega rebotes, não é o Allen Iverson no quesito “nanico-que-pontua”, é apenas um jogador baixo demais com uma boa pontaria nos arremessos e um talento mutante para render no quarto período. Infelizmente, como para todo talento heróico existe uma kryptonita, Ben Gordon também tem aquela estranha condição que só o permite jogar bem quando vem do banco de reservas. Quando é titular, desaparece em meio ao resto do elenco e parece nem estar em quadra.
Pior ainda é ter que ficar aturando o Ben Gordon chorando por começar as partidas no banco. É como se ele não fosse consciente da própria condição, é como um Superman que passasse kryptonita no pão como se fosse manteiga durante o café da manhã. É verdade que o Ben Gordon é às vezes espetacular, e justamente por isso já foi colocado como titular, como reserva, como sexto homem, como sétimo homem, como armador principal, como ala-armador, como manobrista do estádio do Bulls, como faxineiro do vestiário. Tentou-se de tudo para encontrar o melhor ambiente para Ben Gordon, a melhor maneira para que ele possa produzir constantemente. Mas não há consistência em seu jogo, nunca. O mais próximo disso é sua produção melhor quando vindo do banco, em especial no fim de jogos. Mas até mesmo isso foi se tornando uma lenda com o passar do tempo e ninguém mais sabe se é verdade ou mentira. O que sabemos é que Ben Gordon às vezes reina, às vezes fede.
Tendo isso em mente, sabendo de sua inconsistência e de suas limitações com qualquer coisa que não seja colocar a bola na cesta, chega a ser engraçado o argumento que Ben Gordon utiliza para reclamar um contrato mais gordo: “sou o cestinha desse time“. Ah, parabéns, você é o cestinha de um dos piores times do Leste na temporada passada, aposto que você deve ter vendido sua alma para conseguir algo tão espetacular! Alguém se lembra daquele Nuggets que tinha o Nenê novato e era um dos piores times que eu já vi jogar na minha vida? O Juwan Howard era o cestinha daquela budega com cerca de 20 pontos por jogo e fedia do mesmo jeito, era uma vergonha. O Bulls teve problemas graves para pontuar, o Ben Gordon marcou 18 pontos por jogo em arremessos forçados de fora do garrafão e então ele é o rei do Universo conhecido? Ben Gordon, meu querido, lembre-se de uma coisa: em terra de cego, quem tem um olho é caolho.
Sua exigência por um contrato maior ficou ainda mais problemática quando o Bulls mandou sua oferta para Luol Deng. Foram 71 milhões por 6 anos e o Ben Gordon imediatamente arregalou os olhos e apontou: “Taí, é um troço desses que eu quero.” Mas tenhamos um pouco de bom senso aqui: o Deng é mais completo no ataque, pega rebotes, joga mais para a equipe e pelo menos consegue pegar um pote em cima da geladeira com sua altura. Eu acho ridículo mandar quase 12 milhões de doletas por ano para o Deng, mas ele definitivamente é mais sólido do que o Gordon. Na pior das hipóteses, ele foi o líder dessa equipe horrível que fedeu no Leste, marcando 17 pontos por jogo – não tão longe assim do tãaaaao idolatrado título de cestinha ostentado pelo Ben Gordon.
O Bulls não é burro (só é meio burro) e não cometeu a mesma cagada duas vezes, ou seja, 70 milhões vai só para o Deng. Com isso, o Ben Gordon ficou esperando algo acontecer, o Bulls decidir valorizá-lo de acordo ou então outro mocinho, um time com dinheiro disponível e vontade de colocá-lo como titular, enviar uma oferta. Nada disso aconteceu. A Maria do Bairro ficou apenas esperando, sem nenhum contrato, nenhum emprego, sonhando com o príncipe encantado. Uma hora isso dá no saco e agora finalmente ele resolveu aceitar a proposta mínima de apenas 6 milhões nessa temporada, de modo que na temporada seguinte ele será um free agent livre, ou seja, não terá mais vínculos com o Bulls e poderá assinar com qualquer outro time.
Na prática, isso significa que o Ben Gordon tem mais uma temporada para provar para o Universo que vale 70 milhões. Isso também significa que ele exigirá tempo de quadra para mostrar que pode produzir o suficiente para merecer o dinheiro. Isso, por sua vez, significa que ele não vai dar a mínima para sua equipe, para seus companheiros ou para o futuro da franquia, tendo em vista que ele está apenas interessado em mostrar seus dotes para outros times, outros compradores. Sou só eu ou isso cheira a fracasso total e absoluto? Um jogador que já é fominha e reclama de vir do banco, mas agora exigindo tempo de quadra loucamente, sem passar a bola, apenas se importando com seus arremessos e estatísticas? Eu não quero nem de graça! O Bulls é maluco de colocar um cara desses em quadra justamente quando está se formando um elenco jovem, promissor e voltado para o futuro. Ele quer 70 milhões? Sejamos francos, ninguém vai dar essa merda pra ele e só teremos um jogador descontente, individualista, que acha valer muito mais do que o mundo opressor lhe aponta.
Não me entendam errado, o Ben Gordon é um jogador interessante e qualquer time gostaria de tê-lo em quadra para decidir partidas, para ter profundidade num banco durante os playoffs. Mas com esse clima de donzela desrespeitada, de puta mal paga, o Bulls não ganha nada tendo o Ben Gordon no elenco. É hora de trocá-lo o mais rápido possível pelo que estiver disponível, uma escolha de segunda rodada de draft, um hamster, duas canetas. Que ele vá mostrar seus seios em busca de um cheque gordo em outro lugar. E, se o Derrick Rose for tudo isso que imagina-se, ninguém sequer vai perceber o sumiço do Gordon. Lembra quando o Blazers mandou seu cestinha embora e tudo ficou melhor? Às vezes, menos é mais. Mesmo que isso parece apenas uma frase de calendário da Seicho No Ie.
O Bulls não precisa de um cara que só quer se mostrar em quadra. Tem jeitos melhores de se mostrar por aí, como o Amaré Stoudemire pode comprovar: