>O time da moda

>

“Ah, já tá valendo? Então eu enterro a bola!”

Vocês não odeiam esses times que viram modinha? Que de uma hora pra outra viram assunto de todo mundo? Que ganham dez milhões de fãs que antes viviam nos esgotos e só aparecem na luz do dia porque o time tá famosinho? Vocês não odeiam esses times que… opa, o Portland jogou ontem? Então deixa esse assunto para lá, nem lembro mais do que eu estava escrevendo, vamos falar do Blazers!

Esse time é um fenômeno sociológico interessante, acho que nem os responsáveis pela equipe conseguem entender de onde vem tanto apoio e admiração sendo que, por enquanto, eles não ganharam nada. É uma coisa meio “fenômeno do Orkut”, consigo imaginar os nerds responsáveis afirmando algo como “tá, a gente criou um modo das pessoas fazerem círculos virtuais de amigos, mas por que tem tanto brasileiro usando essa merda? Alguma comunidade de samba?” Todo mundo está abraçando o Blazers do mesmo modo, com aquele carinho divertido de “segundo time” que uns anos atrás era comum com o São Caetano, lembram? Torcedor nativo, de longa data, meia dúzia de gatos pingados.

Dito isso, confesso que o Blazers é completamente irresistível e não há modo de explicar o motivo. Se fosse pelo talento dos dirigentes e os drafts impecáveis, eu seria um torcedor do Spurs também, coisa que, veja bem, eu estou muito longe de ser. Também não é por nenhuma estrela, afinal o Brandon Roy deve ser a estrela menos estrela de toda a NBA: ele não atropela ninguém com um carro, não tem números absurdos e nem enterrou na cabeça do DJ Mbenga, requisito pra ser estrela de verdade. Também não é pelo Greg Oden porque o garoto que conheceu a Pangéia já chegou machucado e não jogou nenhuma partida temporada passada. Meu curso de psicologia matrimonial por correspondência em uma universidade esquimó me leva a crer que essa paixão irresistível pelo Blazers é a paixão que temos pelas possibilidades, pelo que ainda pode acontecer. Pode ser também efeito de mensagens subliminares ou hipnose, mas se for isso, não tem a mesma graça.

A expectativa pelo que esse Blazers pode fazer é que dá a graça para a coisa. Os posts sobre o time estão ficando mais comuns aqui no Bola Presa, dia desses analisei as possíveis formações do elenco em quadra, e não tem como negar que estamos com água na boca. É tudo uma questão de imaginar um time que pode ser incrível.

Só que, ontem, o time foi incrível. Fato. Finalmente o elenco esteve inteiro em quadra, chutou uns traseiros e agora sabemos que toda a empolgação com o Blazers tinha um motivo: eles são sensacionais de se ver jogar! Eu sei, eu sei, foi apenas um jogo de pré-temporada. Mas como não quero ficar me contendo por causa disso, darei a seguir três regras para que você possa assistir aos jogos e ler o Bola Presa durante a pré-temporada de maneira segura:

1) Um fato só significa ele mesmo

O que significa essa cadeira na qual você está sentado? Que um marceneiro fez a cadeira, que ela é confortável, que estará aí amanhã quando você voltar pra casa? Coisa nenhuma! Essa cadeira significa apenas uma cadeira! Ela pode ter sido feita por duendes, pode ter nascido assim do acasalamento de uma mesa com um sofá, pode ser abduzida por alienígenas durante a noite. Quando o Donte Greene fizer 40 pontos num jogo de pré-temporada, lembre-se de que isso não significa que ele é talentoso, que ele vai repetir o feito ou que ele te ama. Só significa que o Donte Greene fez 40 pontos. Mas, vale dizer, eu acho ele bastante talentoso.

2) Entenda o momento histórico

Sabe aquela garota que você acha linda uma hora mas, dias depois, você percebe que ela é uma baranguinha e só parecia bonita porque as amigas dela eram ainda mais feias e porque ela tinha feito chapinha? “O mundo dá voltas”, já diria o filósofo Badauí. Não é que a garota não estivesse bonita, naquele momento ela de fato estava, mas é preciso compreender que em um diferente momento histórico você pode parecer ridículo na frente dos seus amigos por ter achado aquilo. Ainda assim, sua afirmação inicial não estava incorreta, só que ela era verdadeira apenas para aquele momento em particular. Essa é a desculpa ideal para todos aqueles que disseram que o Bulls ia ganhar o Leste na temporada passada. Não tem problema, na pré-temporada, dizer que o Turiaf é o melhor jogador do planeta, afinal o Kobe e o LeBron só jogam 5 minutos por jogo e não fazem grandes merdas. Mas quando você disser que o francês vai ser MVP (e da próxima vez que você for dizer que aquela garota cercada de amigas feias é bonita), fale baixinho.

3) Fãs são um porre

Isso você deve saber bem, afinal se está lendo o blog é porque é um fã e deve ser um pé no saco. Fã de basquete trata cada jogo como se fosse o último e se empolga com qualquer merdinha, principalmente depois de tantos meses sem NBA. Então, quando a gente aqui no Bola Presa ficar dizendo como o Rudy Fernandez é espetacular e poderia acabar com a fome na África se quisesse, lembre-se de que estamos com saudade da NBA e somos fãs. Chatos. Como você.

Com essas três lições básicas, você está pronto para me ver falando do Blazers: eles terem sido espetaculares ontem não quer dizer que vão ser sempre assim (regra 1), eles foram espetaculares contra um time asqueroso do Kings em um jogo mequetrefe de pré-temporada (regra 2) e eu vou ficar babando em cima deles mesmo assim (regra 3). Pronto?

A primeira cesta do Blazers veio com uma enterrada de Greg Oden, o que ditou a história do jogo. Parecia que ele podia enterrar quando bem entendesse, logo que começou. Oden jogou menos de 20 minutos e anotou 13 pontos, além de 5 rebotes e 2 tocos. Logo de cara, impressionou pelo posicionamento e mãos rápidas quando o assunto é rebote ofensivo, sem contar o trabalho de pés espetacular. Ele deitou e rolou em cima do garrafão adversário, deixando os pivôs horríveis do Kings já pensando no que iam comer no jantar depois daquela humilhação. Os giros do Oden são impressionantes, e eu recomendo todo mundo ver com os próprios olhos. No pacote, tem também ganchinho, um passe preciso quando sofreu marcação dupla e trocentas enterradas.

Mas o que mais impressionou sobre esse Blazers foi o conjunto, o coletivo. Para se ter uma idéia, Brandon Roy deu 7 assistências, Rudy Fernandez deu 5 assistências, Sergio Rodriguez deu 7 assistências e Bayless deu 3 assistências, todos em minutos limitados. Todo mundo parece estar com tesão por passar a bola. O armador Sergio Rodriguez, aliás, anotou também 11 pontos com 3 bolas de três pontos. Confesso que sou um fã do Steve Blake, embora praticamente nunca o tenha visto jogar no Blazers. Minha experiência com ele foi durante sua estadia em Denver, armando para Iverson e Carmelo, e eu fiquei impressionado desde seu primeiro minuto por lá. Sei que tem muita gente que critica o Blake, que acha ele destrambelhado, mas em geral acho ele um armador muito sólido (quem critica o Blake não sabe o que é ter o Rafer Alston armando para o seu time). Mas, mesmo assim, sempre torci para o Steve Blake dar uns minutinhos para o Sergio Rodriguez, um armador espetacular que já deixou sua bunda na famosa “calçada da fama dos reservas que nunca jogam”. Diz a lenda que ele e o Rudy Fernandez têm uma química espetacular juntos que impressiona todo mundo quando eles se encontram na seleção da Espanha, graças a um festival de passes malucos e pontes-aéreas. Com o Rudy no Blazers, talvez seja a chance do Serginho ganhar uns minutos, ou talvez tenha acontecido só porque o Steve Blake está contundido mesmo. Em todo caso, não dá pra negar como a dupla foi espetacular na partida de ontem, incluindo, claro, um par de pontes-aéreas. Tudo documentado no bom e velho YouTube:

Depois de assistir ao vídeo, responda o questionário abaixo:

1 – Ao ver o passe do Rudy Fernandez por debaixo das pernas do adversário, você:
a) levou as mãos à cabeça e gritou “putaquemepariu”
b) fez um sinal de “jóia” com o polegar estendido
c) bocejou

Se você respondeu a alternativa “a”, você ama basquete como nós, parabéns! Se você respondeu “b”, você vive nos anos 70 e é um fracassado. E se você respondeu “c”, então você tem vários anéis de campeão da NBA e se chama Duncan. Não tem como não vibrar com o passe, com as enterradas, com o trabalho coletivo do time inteiro. O Blazers é o time mais divertido de se ver nos últimos 15 minutos, e até amanhã vou continuar achando que eles vão ser campeões da NBA na temporada que vem. Derrotando o Bulls na final, claro.

Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?

Como são os planos?

São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:

R$ 14

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

R$ 20

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Como funciona o pagamento?

As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.