>O Suns do Mundo Bizarro

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Marbury: igualzinho ao Nash, só que ruim e careca

Esses dias eu estava conversando sobre o novo Knicks e fiz uma comparação que pode ajudar um pouco a entender a situação por lá: basta pensar nos filmes do Batman dirigidos pelo Tim Burton (e se você acha que é estranho alguém explicar basquete usando o Tim Burton, é porque você nunca me viu explicar a filosofia de Descartes usando o famoso “suco de tamarindo” do Chaves, mas isso fica para outra hora – e para outro blog).

Funciona assim: o Tim Burton é um diretor de cinema amado por uns, odiado por outros. Ele é o maluco responsável por Edward Mãos de Tesoura, O Estranho Mundo de Jack, Peixe Grande e o novo A Fantástica Fábrica de Chocolates, dentre outros. Não importa sua opinião sobre os filmes, basta ver um deles passando ao longe, lá no horizonte, no escuro, debaixo de neblina, para qualquer um ser capaz de afirmar: “olha, um filme do Tim Burton!”. Tudo no filme grita seu estilo, sua identidade. Para os que gostam, é um estilo gótico pós-moderno; para os que acham que ele fede, é um estilo “terror para a geração emo”. Dê um filme pornô do Brasileirinhas para o Tim Burton e você terá trepas góticas com a Vivi Fernandes e uma caveira, tudo a cara dele.

Pessoalmente, eu odeio os dois filmes do Batman que ele dirigiu: aquele com o Jack Nicholson como Coringa, e aquele com o Pingüim. Acho os filmes uma afronta ao personagem. Mas a culpa não é do Tim Burton, ele simplesmente fez um filme com a cara dele, como todos os outros. A culpa é do imbecil que acordou um dia e se perguntou “e se a gente desse um Batman para o Tim Burton filmar, não seria legal?”. É, tão legal quanto ter uma apendicite.

O que diabos isso tem a ver com Knicks? É simples: tudo que o Mike D’Antoni faz tem a cara dele. Não é difícil imaginar ele indo pra cama com sua esposa e levando 7 segundos ou menos para terminar, por exemplo. O modo dele pensar o basquete é o modo como o Suns jogava sob seu comando. Esse novo Knicks, com o D’Antoni como técnico, é uma tentativa de copiar o sucesso que o Suns teve nos últimos anos (sucesso mais ou menos, né, pergunte para um torcedor do Spurs o que ele acha disso) .

Bem, pude assistir à primeira partida do Knicks na pré-temporada e posso afirmar facilmente: o time fede. E isso é culpa do D’Antoni? Não. Isso é culpa de quem acordou e pensou “vamos dar esse time horrível com um punhado de gordos que não conseguem correr nem para ir no banheiro para o Mike D’Antoni”. É ainda pior do que dar o Batman para o Tim Burton, mas é parecido.

Na partida contra o Raptors, tudo que o Knicks tentou fazer foi correr desesperadamente. Isso eles até conseguiram fazer, em parte porque o obeso do Eddy Curry teve problemas intestinais e não jogou (eu entendo o Curry, tente comer trinta panquecas com chocolate e não ficar preso no banheiro pela próxima década). Com a maior concentração de banha por metro quadrado em toda a NBA, D’Antoni resolveu dar uma emagrecida no elenco: Curry fora com problemas de saúde, Jerome James comendo rosquinhas no banco de reservas. Como pivô, preferiu usar Zach Randolph, que passou a vida toda como ala. A idéia é ter um time mais voltado para o perímetro e com apenas um cara grande parado lá embaixo da cesta.

O aumento de velocidade, no entanto, não significou um aumento de talento ou de QI. Os armadores do Knicks não sabiam o que fazer com a bola, cometiam erros de passe grosseiros e então D’Antoni percebeu: não é todo armador que tem dois cérebros enfiados na cabeça como Steve Nash (o cabelo ridículo esconde a verdade). Com uma série de tropeços, desperdícios de bola e arremessos bastante idiotas, o Knicks se mostrou um cover mal feito, a resposta para a pergunta “como o Suns seria se tirássemos os jogadores e colocássemos 5 macacos adestrados de circo”. Assistindo ao jogo, lembrei imediatamente das pilhas “Durabell”, rádios “Sonyc” e do videogame “Polystation” – o mundo da pirataria está cheio de cópias bizarras.

Vamos dar uma olhada, então, em como se saiu cada versão bizarra do time do Knicks e quem eles tentam imitar:

Chris Duhon: Imitar Steve Nash não é muito fácil. Além de correr muito, é necessário ter uma visão impressionante do jogo, saber o que fazer com a bola o tempo inteiro e nunca ficar desesperado. Duhon até deu suas 6 assistências, mas também teve 7 turnovers (desperdícios de bola), a maioria sendo precipitado e confundindo correria com afobação. Outra coisa de que o Nash pode se orgulhar é sua pontaria nos arremessos, tanto de perto quanto de trás da linha de 3 pontos. Já o Duhon mostrou que é uma cópia paraguaia, ele nunca ouviu falar desse tal de “arremesso”, desde seus tempos no Bulls ele apenas taca a bola pra cima e torce, se entrar é lucro. Mas há outra coisa essencial para ser uma cópia de Steve Nash: não defender, não levantar os braços, fingir que você não existe na quadra defensiva. Isso o Duhon também não sabe imitar muito bem, ele pelo menos finge que está defendendo e acabou saindo de quadra com 10 rebotes. Em parte porque ele levanta os braços, em parte porque o resto do Knicks fede.

Quentin Richardson: Esse é um caso da cópia imitando a cópia que imitou a cópia. O Quentin Richardson cumpria no Suns a função de arremessar o tempo inteiro e grudar nos jogadores adversários, cargo passado para Raja Bell quanto o Quentinho foi feder no Knicks. Agora, ele passa a ser uma versão bizarra do Raja Bell porque, convenhamos, ele tem muito menos cabeça e defende muito pior. Ainda assim, trata-se de uma das posições em que o Knicks mais tem chances de sucesso, o Quentinho se dá bem nesse sistema e deve ser, no mínimo, competente. Contra o Raptors, fez 12 pontos e acertou duas bolas de 3 pontos. Mais do que isso já é pedir demais, né?

David Lee: Essa comparação é forçar um pouco a barra, eu sei. Mas David Lee faz mais ou menos o papel que o Shawn Marion fazia, no sentido de ser um cara grande capaz de correr pela quadra, pegar rebotes e enterrar o tempo inteiro. Algumas coisas impedem o David Lee de ser um bom Shawn Marion, no entanto. Pra começar, ele é branco. Além disso, não arremessa da linha de 3 pontos (muito menos como se fosse uma garota com lepra, tipo o Shawn Marion). Mas o David Lee já foi considerado por um bom tempo o melhor jogador do Knicks, simplesmente porque ele é cheio de energia, se esforça pra burro, é um reboteiro nato e bastante refinado no garrafão. Sua atuação foi o maior ponto positivo desse Knicks versão bizarra do Suns, o David Lee se encaixou direitinho no esquema, foi o cestinha com 22 pontos e tem tudo para se dar bem nas próximas partidas.

Zach Randolph: Em números, o Randolph pode imitar muito bem o Amaré Stoudemire, com uma produção consistente de 20 pontos e 10 rebotes todos os jogos. Mas agora olhe para a foto ao lado, com o Amaré enterrando na cabeça (agora aposentada) do Olowokandi. Isso – exatamente isso aí – é justamente o que o Randolph nunca vai fazer na vida. Coloque um donut em cima de um armário e assista enquanto o Randolph procura um banquinho, uma escada ou derruba o armário com uma machadada. Em outras palavras: pular não é com ele, tadinho. Fora isso, a comparação faz muito sentido, ambos são alas-pivôs obrigados a jogar como pivôs no esquema do D’Antoni, acham que “defesa” é coisa de advogado e não são muito fãs de passar a bola. Num time em que os outros caras grandes são Eddy Curry e Jerome James, membros vitalícios dos Vigilantes do Peso, espere ver Randolph sendo o pivô a maior parte do tempo, pegando sua parcela de rebotes, fazendo seus 20 pontos e – acredite ou não – arremessando milhões de bolas de 3 pontos. Quando ele começou a fazer isso do dia para a noite, ainda no Blazers, deixou todo mundo assustado. A experiência não foi muito estimulada mas, com o D’Antoni, todo mundo que quiser pode arremessar de 3 pontos. Contra o Raptors, Randolph teve 19 pontos, 13 rebotes, arremessou quatro bolas de 3 pontos (acertou uma delas) e ainda deu 5 assistências. Para o fominha do Randolph isso deve ser um recorde pessoal, mas ele também perdeu a bola 4 vezes apenas se empolgando demais com a brincadeira. Como no caso do Duhon, a afobação ainda prevalece.

Stephon Marbury e Nate Robinson: Armadores velozes vindos do banco para dar um fôlego no ataque e não defender porcaria nenhuma, eles vão ser uma versão dupla do Leandrinho. O Marbury quase foi mandado pra casa, quase foi trocado, quase foi escolhido para ser o faxineiro do vestiário, mas quando ele voltou das férias na – dizem – melhor forma física de sua carreira e um discurso politicamente correto afirmando que não se importaria de vir do banco, acabou ganhando seu lugar na brincadeira. Afinal, você está fazendo um experimento maluco, juntando um bando de gente que não tem nada a ver um com o outro e colocando eles na mesma equipe, que diferença faz colocar um maluco a mais? Essa é a idéia desse Knicks, do Clippers (que juntou Baron Davis, Ricky Davis, Kaman e Camby – mais nada a ver, impossível) e do Big Brother Brasil.

Lembra quando o Leandrinho era obrigado a armar o jogo e só fazia merda, incapaz de correr e pensar ao mesmo tempo? Com Marbury e Nate Robinson acontece a mesma coisa, mas eles também são competentes nos arremessos e serão de grande ajuda. O Marbury, em particular, foi o que teve os desperdícios de bola mais ridículos, mais típicos de quem não consegue saber o que fazer com a bola quando está correndo e deveria fazer o passe certo. Ao todo, foram 5 desperdícios. Já o Nate Robinson ficou mais preocupado é em ficar arremessando de trás da linha de 3 pontos, num total de 7 vezes. No Knicks, se você entra em quadra e não dá pelo menos um arremesso de fora, não vai ter amiguinhos na hora de jantar.

Allan Houston: Como imitação de um jogador espetacular com um problema gravíssimo no joelho, ele é a cópia perfeita do Grant Hill. O único problema é que, no Suns, que tem o lendário departamento médico que curou Hill e Shaquille O’Neal, todo mundo fica saudável (é tipo o São Paulo no futebol, todo mundo quer ser contratado só para visitar o centro médico). No Knicks, em que a fase é péssima, ninguém fica saudável – só se machuca. Allan Houston não jogou nenhum minuto e deve se aposentar mais uma vez. E o ala Jared Jeffries, jogador que mais impressionou o técnico D’Antoni durante os treinos, vai ficar até 8 semanas fora com uma fratura na perna.

Jerome James: O Suns tem seu mascote, o Gorilla, para fazer papel de ridículo e deixar todo mundo feliz. Sua imitação no Knicks é o pivô mais motivo de piada em toda a NBA.

Lembro como se fosse ontem daqueles tempos em que o Jerome James era um bom pivô defensivo num Sonics que foi aos playoffs. Naquela época não tinha inflação, dava pra nadar no riacho, o Roberto Marinho estava vivo e o futebol tinha talento, não era esse bando de perna-de-pau por aí que só joga esse futebol-força, esse futebol-de-resultado. Mas agora, somos obrigados a lidar com o mercado ocidental virando poeira e o Jerome James que gastou todo seu contrato milionário (ganho graças à boa campanha com o Sonics) comprando carboidratos. Toda maldita temporada o Jerome James volta das férias obeso e se contunde no primeiro treinamento, e isso é sério: foram fois anos seguidos. Dessa vez não foi assim e ele já chegou dizendo que queria voltar a jogar. Claro, claro, estamos tentando fazer uma cópia falseta do Suns aqui e vem o pivô mais lento da Liga dizer que quer uns minutos. Vai lá comer uma coxinha, tá legal?

Do jeito que está, o Knicks vai fazer 120 pontos todos os jogos, não vai defender nada, vai perder a bola porque seus armadores fedem e não deve ganhar muitas partidas. Tentando imitar o Suns, algumas peças se encaixam, outras são similares, mas muitas delas simplesmente não têm lugar. Com o passar do tempo, durante a temporada, o Knicks e D’Antoni terão que tomar uma decisão: trocarão suas peças, moldando a equipe, aos poucos, ao basquete desejado, arranjando outros armadores, se livrando dos pesos-pesados; ou então criarão a própria identidade, um time que não tenta ser uma cópia, que não tenta encaixar os jogadores em um padrão pré-estruturado, mas tenta criar um modelo que englobe todas as peças. Nenhuma das decisões é fácil mas, ao aceitar o cargo, D’Antoni estava ciente de que estava se metendo numa furada. Agora, ou ele se suicida ou aguenta o desafio. Eu aposto 20 mangos no suicídio, alguém quer entrar no bolão?

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