>Um Top 5 para ajudar Larry Brown

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Marbury com cara de quem preferia uma lavagem intestinal

O Larry Brown é um dos técnicos mais vitoriosos da história da NBA, o que é digno de consideração. Além disso, para os que acreditam que é necessário respeitar os mais velhos, o Larry Brown merece todo o respeito do mundo por ter sobrevivido ao dilúvio da época de Noé. Ainda assim, não tem como negar que sua passagem pelo Knicks, com uma temporada de 59 derrotas, foi um dos maiores fracassos da história da humanidade, comparável apenas à carreira solo da Carla Perez.

Agora, Larry Brown tenta esquecer seu passado e colocar o Bobcats para funcionar, o que aparentemente não está funcionando. O time teve atuações deprimentes na pré-temporada e, pior, o técnico fodão parece estar cometendo os mesmos erros que cometeu no Knicks uns anos atrás. Para ajudar o bom velhinho que não tem lá muito tato com esses tais seres humanos, resolvi fazer um Top 5 com os principais erros que ele cometeu com o Knicks e que não devem se repetir se ele deseja montar um time vencedor.

1 – Enlouquecer seu PG titular

É como se a Super Nanny, a babá-maravilha que ensina os pais a cuidarem de seus filhos na televisão, entrasse na casa de uma família e, para começar, aloprasse a mãe. “Os filhos a gente vê depois, primeiro precisamos nos livrar dessa baranguinha, conseguir uma mulher de verdade.” Nos mesmos moldes, Larry Brown é famoso por mostrar sua insatisfação com qualquer PG assim que assume qualquer time. E se você acha que PG é “Progressão Geométrica”, você é um nerd, deveria parar de estudar um pouco e baixar pornografia no computador. Por “PG” eu me refiro ao armador principal, o responsável por chamar e conduzir as jogadas ofensivas.

O Larry Brown não admite nada além de perfeição quando se trata da armação e não tem vergonha de dizer isso. Quando estava no Sixers, levou o Iverson à loucura com críticas pessoais e cobranças insuportáveis, não tolerando o estilo individualista do armador. No Pistons, exigiu que o Billups alcançasse outro nível antes de deixá-lo em paz. No Knicks, criticou o Marbury sem descanso até que sua frágil mente quebrou e ele nunca mais foi o mesmo sujeito. Essa tática pirou por completo o Iverson mas, de fato, transformou seu modo de jogar para melhor. Allen Iverson foi MVP e atingiu uma Final de NBA, coisa que não deve repetir antes do fim do mundo. Billups se tornou um All-Star e agora é considerado um dos melhores armadores do jogo sendo que, antes, era um simples desconhecido. Marbury surtou e ano passado chegou até a abandonar o time.

Ou seja, as brigas e as ofensas funcionam de modo diferente para cada jogador, mas posso falar sem medo de errar quando afirmo que criam um clima ruim e cheio de conflito entre o técnico e o cérebro do time em quadra. Pode até dar certo a longo prazo, mas não é possível que não exista um modo de lidar com armadores sem que eles corram o risco de tentar suicídio. Depois do fracasso do Marbury, que pensou sinceramente em desistir do basquete depois de ter que lidar com o Larry Brown, era uma boa o velhinho pensar duas vezes antes de usar a tática novamente. Infelizmente, não foi o caso. A primeira coisa que fez ao assumir o Bobcats foi expressar sua incerteza quanto à armação da equipe e draftar um armador com a escolha de primeira rodada do time, apesar do Raymond Felton ser talentoso e titular.

Ótima mensagem o Felton deve ter recebido. Não basta ele ser o cara ignorado do trio de armadores do draft de 2005, enquanto todo mundo reza para Chris Paul e Deron Williams todas as noites como se fossem os deuses do basquete. Ray poderia receber tanta atenção quanto qualquer um dos dois se estivesse num time de verdade. (E com isso quero dizer que o Bobcats não é um time de verdade, é apenas uma ilusão de óptica. ) E para completar o Larry Brown chega para finalmente transformar esse time numa equipe competitiva e imediatamente drafta o armador DJ Augustin. Larry Brown, meu amigo, vamos tentar não mandar o Raymond Felton para um hospício, ok? Tente tratá-lo com carinho, ele pode ser o seu Deron Williams se você tiver um pouco de paciência e for gentil no comecinho.

2 – Humilhar seus jogadores na frente da imprensa

Quando o Marbury reclamou que queria arremessar mais no Knicks, o Larry Brown não foi conversar com o jogador. Ao invés disso, respondeu numa coletiva de imprensa. Quando Marbury foi reclamar que o “espírito de equipe” instituído por Larry Brown não estava gerando vitórias, o técnico foi responder para a imprensa. Quando o time, em coro, disse não compreender inteiramente seu papel em quadra, Larry Brown respondeu através da imprensa. As coisas chegaram a um ponto surreal: quando alguém do Knicks queria falar com o Larry Brown, era instruído pelos próprios responsáveis do Knicks a se dirigir para o departamento de Relações Públicas. Qualquer afirmação tinha que passar pela imprensa.

Para compreender essa bizarrisse, só usando muita imaginação e um pouco de efeito nuvem (“olha, parece um coelho; não, parece um ursinho; não, parece a Mallu Magalhães”). Dá pra imaginar que o Larry Brown queria que todas as afirmações tivessem uma repercussão na mídia de modo que todo jogador sentisse o peso sobre elas. Com a pressão e a crítica da mídia e dos torcedores, a tendência era de que os jogadores fossem abaixando a cabeça e parando de falar, aceitando mais as idéias do treinador. Era isso ou eles se sentiriam acuados e ofendidos e prefeririam jogar para Adolf Hitler. Em pouco tempo, o elenco abandonou Larry Brown e ele estava num barco vazio, dando ordens para o vento. Acabou demitido.

O técnico Phil Jackson adora dar umas duras em jogadores através da mídia. A bola da vez é o Lamar Odom, que é humilhado na frente dos jornalistas diariamente. A intenção do Phil é criar alguma espécia de ânimo no Lamar Odom que, de outro modo, é capaz de deitar no meio da quadra e tirar um cochilho – os playoffs passados estão aí para provar. Mas acontece que o Phil Jackson sabe lidar com as pessoas, ele conhece seus jogadores individualmente, entende como motivar cada um em particular. Larry Brown, por sua vez, sabe como pirar cada jogador em particular, fazendo-os preferir a morte. Deveria existir uma lei que o obrigasse a ficar afastado da imprensa, simplesmente para evitar a depressão clínica de seus jogadores.

Nas últimas semanas, com o Bobcats perdendo partidas horrorosas na pré-temporada, li trocentas declarações do Larry Brown aloprando seu próprio time. Algumas dizendo que eles não entravam no garrafão e que perdiam tempo arremessando de fora porque eram burros, outras dizendo que vencer ou perder não interessava, se o time jogasse com vontade já seria algo maior do que ele podia esperar. Minha nossa, ele é tão delicado quando a Edinanci Silva. Por favor, Larry Brown, se você não quer seu time envolvido num ritual de suicídio coletivo, fique longe dos microfones.

3 – Aloprar a rotação da equipe

Se a pergunta decisiva do Show do Milhão fosse quantas escalações diferentes o Larry Brown tentou com o Knicks durante a temporada, eu duvido que você acertaria. Foram mais de quarenta, acredite ou não. Sou péssimo em matemática mas ele deve ter tentado praticamente todas as possibilidades possíveis com todos os jogadores que tinha à disposição e ainda mais, deve ter colocado os sobrinhos para jogar e colocado o Marbury de pivô só para aumentar o número de tentativas.

Em nenhum momento o Knicks adquiriu uma identidade porque ninguém sabia seu papel, sua função, os minutos que teria em quadra. Nessas circunstâncias, todo mundo fica descontente: o cara que joga 20 minutos acha que iria jogar 40, o cara que nem entra em quadra não compreende porque não está jogando se foi até titular no jogo passado. Essa é uma boa tática se você está querendo arrumar um clima ruim no Big Brother, mas é uma maluquisse num time de basquete. É preciso escolher uma escalação e dar tempo para que seja testada, mudando-a com cuidado, aos poucos. Transformar a escalação de um jogo para o outro não só deixa todo mundo inseguro como também dá a impressão de que o técnico não faz a menor idéia do que está fazendo. O Larry Brown não sabia mesmo, mas é sempre melhor fingir que você sabe e que feder e ser humilhado está completamente dentro dos planos.

O Bobcats sofre justamente de uma falta de identidade. O time não sabe no que é realmente bom e os jogadores não sabem que papel deveriam ter. Jogadores como Matt Carroll e Nazr Mohammed ficam pulando do banco de reservas para o time titular o tempo inteiro. Gerald Wallace cada hora joga numa posição, até que finalmente deu um ultimato dizendo que nunca mais será ala de força, para o bem de sua saúde. O que o Bobcats precisa, então, é de uma escalação fixa por uns tempos, para ser alterada aos poucos. Mohammed ou Sean May devem ser titulares, mas nada de ficar mudando de um para o outro o tempo inteiro. Dê um pouco de estabilidade para as crianças, Larry Brown. Principalmente porque o Mohammed só precisa de alguém que acredite nele para que possa chutar uns traseiros, sério mesmo.

4 – Ter medo de mandar para o banco de reservas

Mesmo aloprando as escalações o tempo inteiro, Larry Brown teve problemas lidando com as estrelas mais bem pagas do time. Resolveu que não iria colocar o Marbury mais em quadra, mas ele ganhava demais para isso e eventualmente mudou de idéia. Curry deveria vir do banco mas foi titular a maior parte do tempo porque deveria ser estrela. O que faltou foi delimitar os papéis e saber colocar estrelas no banco de reservas se isso for o melhor para o time. Manu Ginóbili vem do banco e o mesmo pode acontecer com Lamar Odom na temporada que vem. Isso não é problema com técnicos que sabem lidar com o lado psicológico desses jogadores.

O Bobcats é um time profundo e jogadores talentosos terão que ficar no banco de reservas. É essencial que o Larry Brown saiba lidar com eles, deixá-los no banco, e não ficar recompensando boas atuações com vagas no time titular. É preciso ter bons reservas capazes de mudar o jogo. Se Gerald Wallace vier do banco, pode ser ainda mais útil para o time. Sem criar uma guerra na imprensa e informando os jogadores sobre seus papéis, o problema do banco pode até se resolver, mas ainda exige uma boa dose de tato e bom senso.

5 – Tentar ganhar agora

O Larry Brown assinou um contrato de 5 anos com o Knicks, o mais caro contrato da história dos técnicos. No entanto, quando a temporada estava indo para o saco, Larry Brown começou a se preocupar com seu pescoço e voltou atrás em um punhado de decisões sobre o Marbury, elenco titular e estilo de jogo. Não tenho dúvidas de que seu plano original era experimentar muito e feder por uns tempos até encontrar a fórmula certa para o futuro. Mas quando o time começou a feder demais, os bagos diminuíram e a necessidade de vencer imediatamente acabou falando mais alto. Foi justamente tentando ganhar na hora que o Knicks acabou se saindo ainda pior, estragando a base que estava sendo criada para o futuro.

A pressão para vitórias imediatas é parecida em Charlotte. O Bobcats é o time que deve surpreender já faz uns anos, mas a única surpresa é que eles nunca surpreendem. Fedem sempre, não se aproximam dos playoffs e também não ficam na última posição. Todo ano, a desculpa da pouca idade e experiência é utilizada, mas agora os jogadores já estão mais calejados e um técnico de elite está na brincadeira. A cobrança para que vençam imediatamente é enorme. O que o Larry Brown precisa fazer é ignorar isso e trabalhar a longo prazo. Basta assistir a um jogo deles da pré-temporada ou até dar uma espiada no elenco, não há meios desse time ser uma força real e concreta na NBA. O único modo é pensar no amanhã, criar um núcleo sólido, instaurar um clima diferente na equipe. Eles estão acostumados a perder, é completamente natural para eles, alguns acham que ganhar é sair de quadra sem ter quebrado os dois pés. Então Larry Brown deve se focar numa mudança de atitude aos poucos, não com vitórias acima de tudo. Resta saber se ele terá 5 anos para formar essa equipe da base, ou se dormirá na praça outra vez se o time feder demais de uma hora para outra.

Se feder demais, poderemos ver se Larry Brown estará repetindo os mesmos erros de antes, ou se seguiu uns conselhos e as derrotas são porque o time é uma porcaria. Em todo caso, a evolução desse Bobcats tem tudo para ser uma das coisas mais divertidas das próximas temporadas. Principalmente, claro, quando o Raymond Felton for visto com uma cueca na cabeça tentando pular de uma ponte. DJ Augustin provavelmente será o próximo.

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