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Sai desse corpo, que ele não te pertence!

Não fui apenas eu que fiquei preguiçoso e diminui um pouco a frequência dos posts nesse final de ano (já que ninguém é de ferro). O Celtics também deu sinais de preguiça e as 19 vitórias em sequência, que viraram farofa no jogo épico contra o Lakers no Natal, agora são lembrança distante depois que a pequena viagem pelo Oeste terminou com 3 derrotas e apenas uma vitória. E a vitória nem vale, porque foi contra o Kings e eles não são um time de verdade, são apenas um amontado de gente que sequer sabe pular. Foram derrotas em Los Angeles, em Golden State e em Portland, três das cinco que o Celtics perdeu nessa temporada, e tudo num intervalo de 5 dias. Das outras duas derrotas, uma foi para o Nuggets de Billups e a outra para o Pacers, no primeiro jogo da temporada e provavelmente em uma falha na Matrix (que o Hawks seja rival do Celtics eu até posso aceitar, mas o Pacers não, tem que ser um erro de programação!)

O melhor começo de temporada da história da NBA, com 21 vitórias e apenas 2 derrotas, é um absurdo e sinal claro de que o Celtics é ainda melhor do que aquele que ganhou o título passado. No entanto, apenas sete desses jogos foram contra equipes do Oeste, incluindo vitórias em cima de Warriors e Blazers – que depois se vingaram. Novamente, como na temporada passada, não estamos lidando com um time invencível, mas sim com um time que está deitando e rolando contra oponentes mais fracos e tendo um problema ou dois contra os times de verdade no Oeste.

De fato, o Leste parece bem mais forte do que nos anos anteriores, mas vamos encarar a realidade: por enquanto, Heat, Nets e Bucks estariam nos playoffs – os três, times que fedem muito. Ainda não dá pra levar aquelas bandas a sério, do mesmo modo que não dá pra levar o recorde do Celtics a sério demais. Podemos ver história sendo feita, o maior número de vitórias de todos os tempos e blablablá, mas pra mim o que importa mesmo são os confrontos com o Cavs. Por trás da aberração dos números, do calendário fácil e da disparidade exagerada de talento no Leste, poderemos assistir ao verdadeiro Celtics indo para Cleveland (onde o Cavs permanece invicto na temporada) na sexta-feira que vem, e você deveria colar um lembrete na geladeira para não esquecer, até porque deve passar na televisão (se a ESPN daqui não passar, é porque eles são débeis mentais e decidem o jogo que vão transmitir na base do uni-duni-tê). Depois disso, lá em fevereiro, o Celtics faz uma viagem de verdade pelo Oeste com direito a revanches contra Lakers e Nuggets e outros adversários como Suns, Spurs, Hornets e Mavs. Acho que os anos de temporada regular estão pesando nas minhas costas, estou ficando um velho chato, na verdade tudo que eu queria era que o Celtics e o Cavs enfrentassem apenas os times do Oeste, quem tivesse mais vitórias ganhasse o mando de quadra, e então se pegassem numa melhor de 7 jogos pra ver quem vai pra Final da NBA logo de uma vez.

Fica difícil pro próprio Celtics manter a concentração e a intensidade em todos os jogos sabendo que aqueles que realmente importam são raros. O time fica querendo vencer o Lakers e acaba sendo um porre ter que se importar com os times pequenos. É nessas horas que os “recordes” acabam sendo bastante úteis. A sequência de vitórias do Celtics, que chegou a 19 seguidas, foi a maior que a franquia já tinha alcançado. Começa então a pintar aquele clima de manter a marca, de alcançar novos recordes, e aí até o jogo contra o Thunder é importante em nome dos números. Depois que a sequência foi quebrada com a derrota para o Lakers, lá se foi aquele objetivo secundário e o time relaxou de vez, deu preguiça. É como um cara qualquer que consegue não deixar uma peteca cair por 10 horas. Não serve pra nada, a tarefa é fácil, o número de horas é enganador, mas e se ele bater o recorde de 15 horas? E se tentar o recorde de 20 horas? Acaba se tornando uma motivação para continuar com aquela besteira, torna-se um vício à parte. Para o Celtics, a temporada regular é uma besteira mas o esforço precisa ser mantido, mesmo que através de objetivos tolos secundários. Contra o Warriors, por exemplo, o Boston jogou sem a menor vontade, cometeu erros tolos no quarto período e parecia simplesmente se esforçar o mínimo possível. Sem recorde, sem Lakers, sem importância, pra que correr contra o time do maluco do Don Nelson? Acabaram perdendo.

Mas contra o Kings e depois o Blazers, o ânimo já estava de volta. A intenção parecia ser recomeçar uma sequência de vitórias o mais rápido possível. Obra, nitidamante, de Kevin Garnett. Se ele perde no par-ou-ímpar, vai sequestrar a mãe do infeliz ganhador até que ele aceite uma revanche. Para ele, todos os segundos de um jogo são o momento esportivo mais importante de sua vida (o que, aliás, lembra bastante aquele narrador de NBA do canal “Esporte Interativo”, que narra uma cobrança de lateral como se fosse um momento histórico e sempre parece que vai estourar uma veia de tanta emoção). Resumindo, o Garnett é um pentelho, e agora todo mundo está pegando no pé dele por isso. Tem gente dizendo que ser campeão lhe subiu demais à cabeça, que ele está com “Complexo de Frodo”, que virou estrelinha. Ué, só posso deduzir que esse pessoal não conhecia o Kevin Garnett antes. Lá em Minessota ele ficava bastante escondido e arrisco dizer que foi o melhor jogador invisível que já existiu, num time horrível, numa franquia inexpressiva, com um técnico risível, e uma fama injusta de feder nos playoffs. Ele gritava como um orangotango no cio, batia no peito, mostrava os dentes, bebia sangue, dava cabeçadas na parede, palitava os dentes com ossos humanos, ficava repetindo durante o jogo que ele era o melhor jogador de todos os tempos, criava duelos pessoais com jogadores aleatórios e se empolgava com isso durante as partidas. Mas ninguém assistia, um ou outro caso em especial virava uma anedota e o Garnett era apenas “intenso”, nada mais. Agora, no time campeão (e, consequentemente, no time odiado da vez), trocentos jogos transmitidos o tempo inteiro, todas as câmeras apontadas e o Grande Irmão conhecido como YouTube sempre de olho, é possível ver de perto como Garnett sempre foi e notar direitinho até onde vai sua intensidade e paixão desmedida pelo esporte. Aquilo não é teatrinho, não é um personagem que surgiu num time vencedor, porque ele fazia exatamente as mesmas coisas quando ninguém assistia e o time era uma piada. Trata-se apenas da maneira com que ele lida com o basquete e com a pressão que coloca sobre si mesmo. Se ele parece um maluco, que seja: todos os caras bacanas parecem uns malucos (vai dizer que o Einstein não era bacana?). O Kobe é um nerd do basquete, o Artest ousa se divertir com o jogo, o Rasheed fica entediado quando fica apenas cumprindo seu papel. Todos eles levam sua paixão longe demais, a níveis que destoam do resto dos jogadores, e são portanto considerados loucos. Não apenas é uma besteira tratar isso como loucura como também essa paixão é o que de mais humano podemos encontrar no esporte. Gente de verdade grita, bate no peito e se dedica inteiramente àquilo que ama. Quando o Garnett xinga o coleguinha que fez merda na quadra, como aconteceu quando ele fez o Glen Davis chorar, eu não deixo de achar ele um pentelho chato pra caralho, mas o respeito como um ser humano com emoções. Não há dúvidas de que ele é o coração do Celtics. Taticamente, ele é o coração defensivo, ele dita o ritmo da marcação, aponta as falhas, dá ordens e lidera pelo exemplo. Quando o jogo está parado, ele é o coração afetivo, ele é a intensidade, a motivação da equipe. O Celtics perdeu três partidas para o Oeste numa temporada regular que não serve pra nada? Um recorde inútil foi interrompido? Para o Garnett, isso é questão de vida ou morte. Em pouco tempo, questão de horas, o Boston estava de volta nos trilhos.

Exatamente por isso é que a vitória do Blazers foi tão espetacular e surpreendente. O Celtics jogou com vontade, o Garnett estava berrando, e o time de Portland estava sem sua maior estrela, Brandon Roy. Incrível como ele faz falta, porque mesmo numa noite tremendamente inspirada do armador Steve Blake, que ditou o ritmo do jogo e acertou trocentas bolas de três pontos, o Blazers carece de alguém para chamar e executar as jogadas. Não importa em que posição o Roy jogue, é ele quem faz as coisas acontecerem. Com sua ausência, Blake manteve a mão calibrada, Greg Oden conseguiu não cometer 5 faltas enquanto coçava o nariz, e tudo acabou dando certo para o Blazers – até mesmo os juízes não perceberem a presença de 6 jogadores em quadra e acabarem validando uma cesta que, pelas regras, não pode ser cancelada.

Sinceramente, não achei que o time de Portland jogou particularmente bem, e até fiquei um bocado enlouquecido com a ruindade do Travis Outlaw, que parece um maníaco com a bola nas mãos, ignora os companheiros e é completamente apaixonado pelo próprio arremesso. Ele até pode ser um grande jogador, teve ótimos números, é excelente nos minutos finais dos jogos, mas o Blazers é profundo e coletivo demais para se deixar ser dominado por um jogador como ele, que já reclamou em voz alta sobre seus minutos, sobre o número escasso de arremessos e sobre seu contrato. Ou seja, ele precisa ir brilhar em outro lugar. Só que mesmo com o Outlaw sem noção, sem Brandon Roy, sem um jogo impecável, o Celtics novamente motivado virou farofa nos minutos finais. Mais uma vez, isso é um lembrete de que o Blazers é o time do futuro acontecendo agora (uma confusão espaço-temporal nos moldes do “De Volta para o Futuro”). Mas também é um lembrete de que o Celtics tem suas fragilidades, não importa quantas vitórias eles tenham em cima de times mequetrefes do Leste. Fiquemos no aguardo desesperado pelo confronto com o Cavs semana que vem e a viagem para o Oeste em fevereiro. E espero que o Garnett mantenha o time imensamente motivado até lá, com uma nova sequência de vitórias como um novo motivo para que os jogos sejam levados bem a sério. Mesmo que, no fundo, a gente saiba que não vale pra nada.

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