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O universo ainda não conseguiu se recuperar da volta de Monta Ellis, recuperado de sua tão polêmica contusão. Desde então, uma avalanche de contusões tem dominado a NBA – o Instituto Oito ou Oitenta de Estatísticas do Bola Presa aponta que um jogador se contunde a cada vez que um antigo participante de Big Brother é completamente esquecido pelo público, o que é certamente um número alarmante.
Michael Redd está fora pelo resto da temporada, assim como as chances do Bucks de ir para os playoffs. Andrei Kirilenko machucou o tornozelo e ficará umas semanas fora, já que todo mundo no Jazz parece feito de Lego nessa temporada. O fedido do Andrey Blatche passará umas semanas de molho num Wizards que não tem mais ninguém pra jogar, vão ter que chamar o Obama. O Gerald Wallace teve seus pulmões transformados em farofa pela pancada do Bynum e o pivô do Lakers sofreu com um estranho castigo divino, resultando em ao menos um par de meses fora das quadras com um problema no joelho.
Engraçado é que o Gerald Wallace já está retornando para o Bobcats, e o “está retornando” não é questão de gerundismo, como “vamos estar te retornando a ligação” ou “vamos estar encaminhando o senhor para outro ramal”. O Wallace está retornando porque enquanto você lê isso ele deve estar ainda com o traseiro num ônibus de viagem, a caminho de Charlotte. Seus pulmões estão melhores, ele recebeu alta, mas viajar de avião não é a melhor idéia para lidar com um pulmão recentemente colapsado, basta lembrar dos experimentos com bexigas nas aulas de Biologia na quinta série. Por isso, o rapaz vai enfrentar trocentas horas de viagem para atravessar o país. Isso no fundo é bom sinal, parece que o Gerald Wallace está muito mais perto de estar com o time do que o Bynum, o que contraria todas as pragas dos nossos vingativos leitores que clamaram para que o pivô ficasse fora o mesmo tempo que o Wallace não pudesse jogar.
Mas as contusões não pararam: nos últimos dois dias, além dos 61 pontos do Kobe (e das quinhentas discussões sobre quem é melhor, Kobe ou LeBron, que pelo menos é menos idiota do que comparações com o Jordan – mas, como já disse há mais de um ano atrás, comparações fedem) tivemos também outros eventos que mudarão drasticamente o posicionamento nas duas conferências e do Sistema Solar. Chris Paul contundiu a virilha e pode ficar fora por algum tempo, mesma coisa com o Billups que torceu o tornozelo na partida de ontem contra o Spurs. Aliás, o time de San Antonio deu folga para o Parker e para o Duncan porque o Ginóbili estava meio baleado e preferiu descansar as pernas. Para os bons falantes do português brasileiro-maroto-moleque, trata-se do bom e velho “migué”, mesma coisa que aconteceu com o Garnett. O ala do Celtics alegou estar gripado e não apareceu para jogar justamente depois de ter dado uma festa para assistir ao Super Bowl, a final do futebol americano, e ontem não jogou de novo. Ou seja, a gripe é feia, mas a ressaca é pior.
A contusão do Billups coincidiu exatamente com a volta do Carmelo Anthony, que havia passado as últimas semanas lesionado. É o típico caso de “equilíbrio do Universo” que impediu até hoje o meu Houston de jogar com T-Mac, Artest, Battier e Yao Ming. Ontem, os quatro estiveram em quadra contra o Bulls no que eu só posso descrever como “momentos de pânico absoluto”. O Yao teve uma noite perfeita, acertando 9 dos 12 arremessos que tentou e todos os dez lances livres que cobrou, sem falar nos 4 tocos, e por isso fiquei aguardando atenciosamente o momento em que seus ossos se quebrariam, sua cabeça desprenderia do pescoço, ou o placar eletrônico caíria sobre sua cabeça. Nada aconteceu.
Já a contusão do Chris Paul é mais preocupante, não pela gravidade da lesão, já que ele deve ficar fora por pouquíssimo tempo, mas sim por como o Hornets fede. O Denis pegou o Hornets e Blazers pela metade, justamente quando o Chris Paul virou farofa e o Blazers virou um jogo que chegou a perder por 17 pontos. Enquanto me descrevia a partida, o Denis usou tantas caretas e expressões de desgosto que fiquei nauseado. Aparentemente, sem o Chris Paul o Hornets é o pior time do planeta, o que faz bastante sentido porque o esquema tático se baseia em suas ações e decisões. Na falta disso, todos os outros jogadores perdem o sentido. Por mais que eu goste do David West (na temporada passada louvei um bocado o garoto), ele não tem como segurar as pontas sozinho (e nem deveria estar no All-Star), tem “carregador de piano” tatuado na testa – mesma coisa com todo o resto do elenco, bem montado, bem lubrificado, mas todos apenas ajudantes. Se ele ficasse fora por alguns meses, o Hornets e o Wizards teriam, digamos, muito a conversar.
Mas o terceiro armador a se contundir nos dois últimos dias teve a lesão mais grave: Jameer Nelson deslocou o ombro e pode optar por fazer uma cirurgia imediatamente ou então começar uma reabilitação que vai levar meses e que não deve deixar o ombro cem por cento. Na Dime, o caso foi comparado com o do Dwyane Wade, que por fim acabou perdendo quase uma temporada inteira nessa história de reabilitar o ombro e acabou mesmo caindo na faca. O Magic ainda é um timaço sem o Nelson, mantém sua posição na elite no Leste, mas se antes a gente aqui no Bola Presa já era incrédulo com o time, agora é que eu aposto meus quinhentos pés como a equipe não vai a lugar algum. Quando eu estava quase começando a acreditar no Magic, apontei o Jameer Nelson como a peça mais importante para ver até onde a equipe poderia chegar. Quando o armador tinha boas atuações, sua equipe era tão monstruosamente melhor e (pasmem!) munida de opções ofensivas que dava realmente para imaginar esse time chegando numa final do Leste. Finalmente o Jameer Nelson estava colocando seu potencial em prática, finalmente o Magic estava mostrando ser um time a ser temido com uma arma que vai além do simples “arremessar de três”, finalmente o time tinha três jogadores no All-Star. Mas todo mundo sabia que tinha sido um absurdo, o Denis questionou a escalação tanto do Rashard Lewis quanto do Jameer no time do Leste, mostrando que existiam opções mais plausíveis. Logo, o Universo compreendeu que um dos dois teria que morrer, e acabou sendo o coitado do Nelson – que, arrisco dizer, é mais importante para o Magic do que o Lewis, que por sua vez ganha quinhentas vezes mais.
Agora, mais importante do que lamentar a perda para o Magic já que eu nem botava muita fé mesmo, é ver quem será chamado para substituí-lo no Jogo das Estrelas! O mais óbvio seria chamar alguém de verde, seja Rajon Rondo e sua temporada espetacular, seja Ray Allen e sua condição de melhor jogador do Celtics desde aquela série de derrotas que começou contra o Lakers no Natal. O Mo Williams não ser chamado rendeu críticas severas de LeBron, Ben Wallace e seus coleguinhas de Cavs que provavelmente não assistem aos outros times da liga, e duvido muito que o mascote do Rebote seja chamado. Para aumentar o currículo do Ray Allen, ele meteu duas bolas de três pontos mortais contra o Sixers ontem, garantindo no sufoco a vitória do Celtics, e para mim vai ser chamado quase sem sombra de dúvidas. O Rondo também deve fazer uma participação, substituindo o Jameer Nelson no “Skill Challenge”, o desafio de habilidades que lembra uma versão basquetebolística daquelas finadas Olimpíadas do Faustão. Se não for o Rondo, outras possibilidades seriam Monta Ellis, Deron Williams, Steve Nash, ou o nosso Leandrinho pra manter a velocidade do evento. Talvez até pudessem chamar o Mo Williams como uma espécie de prêmio de consolação, mas teria um problema: ele não ia sair da prova dos arremessos. Depois de acertar, ele iria querer arremessar de novo, e de novo, e de novo…
Entendo que a maioria das contusões que aconteceram até agora foram simples obra do acaso, o Kobe deu o azar de cair em cima do Bynum, os pés viram, os ombros chocam-se, não houve nenhuma lesão que seja claramente por stress como ocorreu na última temporada com o Yao Ming. Ainda assim, não posso deixar de apontar que, se a temporada tivesse metade de sua extensão (ou seja, 41 partidas ao invés das insanas 82), a enorme maioria dessas lesões que acompanhamos nos últimos dias teria sido evitada. Além do óbvio, que é o fato de que a diminuição do número de jogos diminuiria a carga nos corpos exaustos dos jogadores, também vale perceber que menos jogos significa simplesmente uma menor probabilidade de que aconteçam lesões. Jogar num nível tão elevado de intensidade, de força, de explosão, de competitividade durante 82 jogos é pedir para dar alguma merda. Cortar esse tempo pela metade seria cortar pela metade as chances de lesões mais sérias e permitir que os corpos descansem o suficiente, e olha que eu sou ridículo em matemática (conto usando os dedos, só sei dividir se for pizza). É como aquela famosa “teoria da morte em massa no baseball” do George, no clássico seriado Seinfeld. Cada time de baseball joga 162 jogos por temporada, 81 jogos em casa e 81 jogos fora. Isso significa viajar 81 vezes numa temporada, quase sempre de avião. Aliando a isso a porcentagem de vôos que caem causando a morte de todos os seus passageiros e a quantidade de times da liga (são 30) todos viajando sem parar, a chance de que morra um time inteirinho de baseball é muito grande! Do mesmo modo, no basquete a chance de alguém ter uma lesão no joelho é grande demais para ser tolerada, grande demais para que seres humanos normais olhem para a tabela de 82 jogos e achem que está tudo bem. Enquanto isso, continuo em depressão aguardando o momento em que o Yao Ming vai se machucar: metade da temporada já foi, agora falta a outra metade. Metade exagerada, desnecessária, cruel. Se você não acredita, pergunte para o Yao. Pergunte para o Jameer Nelson. Pergunte para os (cinco) torcedores do Magic.