>Qual o problema com Allen Iverson?

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O Iverson não usa mais o cabelo-de-iverson

Ontem foi a emocionante volta do Chauncey Billups para Detroit. Seu primeiro jogo na cidade onde se consagrou desde que começou a jogar pelo Denver Nuggets. O início do jogo foi lindo, a torcida estava aplaudindo de pé e o locutor do ginásio até soltou o seu tradicional “Chaunceeey B-b-b-b-b-billups”.

Depois disso a noite continuou como se o roteiro tivesse sido escrito por um torcedor do Pistons sem criatividade. Um jogo disputado, bem jogado, com uma ótima atuação do Billups e com a vitória do time da casa no final. O Billups foi destaque primeiro porque é um armador sensacional e depois porque o time estava sem Carmelo Anthony, suspenso pela equipe. Melo se recusou a ir para o banco de reservas em um jogo da semana passada e isso, com toda razão, tirou o técnico George Karl do sério. A suspensão foi de um jogo.

Sem o Melo, na temporada passada, o Nuggets iria correr como doido, o Iverson arremessaria trocentas bolas, o time ia fazer uns 95 turnovers e iriam tomar 144 pontos. Nesse ano não, com o Billups lá todo mundo estava envolvido no jogo, todo mundo marcou seus pontinhos e se esforçou (o que não é sinônimo de jogar bem) na defesa. Culpa do Iverson ou mérito do Billups?

Vejamos o outro lado da história. O Pistons com o Billups chegou em quatro finais de conferência seguidas, quando perde o armador e ganha o Iverson o time cai para a sétima colocação do Leste e tem, pela primeira vez em quase uma década, uma sequência de 8 derrotas seguidas. Para piorar para o Iverson, eles superaram essas 8 derrotas com 3 vitórias em sequência, as três sobre times grandes (Magic, Celtics, Nuggets) e todas elas sem o Iverson, machucado, no time.

Essas vitórias do Pistons sem o Iverson estão sendo tão humilhantes para ele! No lugar do A.I. eu estaria em depressão. Na volta eu imploraria para voltar no banco de reservas e ficaria no meu canto sem querer incomodar ninguém. Imagino que o Iverson deva se perguntar quando se olha no espelho de manhã: “O que diabos estou fazendo de tão errado?”

No caso do Pistons até existe uma explicação, uma que o Billups deu ontem:

“Eu me sinto mal pelo Allen, porque não é culpa dele. Ele jogou de uma mesma maneira a carreira toda e não é dessa maneira de jogo que o Detroit precisa. Ele é ainda um grande jogador e provavelmente ainda pode fazer 30 ou mais pontos quase toda noite em uma situação diferente dessa. Mas não era o que esse time precisava”

O que deve dar raiva nos torcedores do Pistons é que aquilo de que o time precisava era o Billups, mas tudo bem, isso é outra discussão, estamos falando agora do Iverson.

Então o caso do Pistons pode ser considerado explicado. O Iverson tem para oferecer algo que o Detroit não precisa: um pontuador, alguém que segura muito a bola, alguém que cria arremessos só para si, alguém que joga na mesma posição do Rip Hamilton. Também chegou em um time que tinha acabado de perder seu armador principal, o cara que era responsável por chamar todas as jogadas da equipe. Talvez uma troca Iverson por Hamilton, com A.I. jogando junto do Billups, tivesse dado mais certo, mas nunca saberemos.

Se o caso do Pistons foi desvendado, e o do Nuggets? O Nuggets era uma confusão total, uma correria sem controle que fazia 120 pontos e tomava 140. Um time que foi humilhado nos playoffs pelo Lakers, que parecia um caso perdido. Foi só a troca de uma peça, o Iverson, por um armador e o time é hoje candidato a título e tem a terceira melhor campanha da conferência. Mais uma vez o Iverson tinha os talentos de que seu time não precisava?

Mais um caso então, o Philadelphia 76ers. Na temporada em que o Iverson foi trocado, a de 2006-07, o Sixers estava com um recorde de 5 vitórias e 18 derrotas. Depois da troca do Iverson pelo Andre Miller, conseguiram 30 vitórias e 29 derrotas, mais de 50% de aproveitamento. Mais uma vez ele não tinha o que o time precisava? Ele não era o defensor que rendia os contra-ataques que viraram marca registrada do time?

Diabos, então quem precisa do Iverson?

Vamos ter que voltar bem mais no tempo para nos lembrar da última vez que o Iverson se deu realmente bem em uma equipe. Foi na sua temporada de 2002-03 pelo Sixers, quando o time acabou em quarto a temporada regular com 48 vitórias, duas a menos que o líder Pistons, e quando perdeu na semi-final do Leste para o próprio Detroit.

Naquele ano o técnico ainda era o Larry Brown, técnico responsável pelo time em que o Iverson se deu melhor, o do Sixers da temporada 2000-01, quando o time chegou à final da NBA e foi a única equipe a vencer uma partida do Lakers nos playoffs daquele ano. Naquela mesma temporada, Iverson foi o cestinha e MVP.

Será a velocidade do jogo o problema? Acho que não. O Iverson jogava no time mais veloz da NBA segundo o ranking de posses de bola por jogo na temporada passada e agora está no segundo mais lento, dando errado nos dois. O Sixers do ano da final era quase um meio termo, era o 19° time mais rápido, tinham 10 mais lentos do que eles.

Os números de ataque não variam muito de um ano para outro. Já esteve bem em times com o 16° melhor ataque e mal em times com o 18° melhor ataque. A única coisa que aquele time de 2001 tinha que os outros não tinham, nem o Pistons de hoje, era uma boa defesa. Ótima, aliás. Era a quinta melhor defesa de toda a liga com 98,9 pontos sofridos a cada 100 posses de bola (um tipo de estatística que compensa a velocidade de jogo que cada time joga, quem lê o “8 ou 80” já está familiarizado com isso).

O time de 2001 era aquele que tinha Eric Snow, Aaron McKie, George Lynch, Toni Kukoc, um Raja Bell bem novinho, Tyrone Hill e o pivô Theo Ratliff, que no meio da temporada foi trocado por Dikembe Mutombo. O time era sim bem discreto em questão de estrelas e isso se traduzia na distribuição ofensiva dos pontos. Iverson fazia 31 pontos por jogo, depois dele vinha Mutombo com 11,7 e McKie com 11,6 pontos. Mais ninguém chegava aos 10 pontos por partida.

Era um time com aproveitamento pífio dos 3 pontos, o segundo time que menos tentou arremessos de 3. Um time que estava na média geral da liga em aproveitamento de arremessos e que era um dos 10 times que mais cometia turnovers.
Em compensação, era o quarto que mais batia lances livres e estava no Top 5 em todas as categorias defensivas que você pode imaginar.

Se a solução para o Iverson é buscar um time que remeta à sua melhor temporada na NBA, ele deve buscar algum time que tenha especialistas em defesa em todas as posições, um técnico com mentalidade defensiva e um ataque que use, basicamente, apenas ele como foco principal. Já que seu talento principal é ficar com a bola nas mãos, driblar e criar arremessos para si mesmo, então que faça o que tem que fazer no ataque e o time vira uma muralha na defesa.

Pode parecer que estou pegando pesado com o cara e que não é bem assim, mas é que o Iverson parece ser um daqueles jogadores que só funcionam em alguns estilos de jogo. Assim como o Nash só funciona em ataques velozes, o Odom não funciona quando tem que jogar no perímetro, o Yao não joga na correria e etc. Alguns jogadores têm características que só funcionam em determinado esquema e tentar mudar as características desses jogadores é transformá-los em jogadores comuns. Alguns times então tentam adaptar uma equipe inteira a esse jogador, o que também não dá certo.

Por isso mesmo eu creio que essa próxima temporada será decisiva para o legado que o Iverson deixará para a NBA. Ele está com 33 anos e provavelmente irá assinar o seu último contrato antes de se aposentar, é a chance dele ir para um time em que finalmente possa voltar a render o que já rendeu, disputar playoffs e títulos. Ou pode escolher o time errado e continuar sendo o que é hoje no Detroit, um fardo.

Que o Iverson, infinitamente melhor do que esses que vou citar, não vire mais um Steve Francis ou Stephon Marbury.

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