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Lakers e Cavaliers são os líderes incontestáveis de suas respectivas conferências, bem à frente dos demais times. No Leste, o Cavs até é seguido de perto por Boston e Magic, é verdade, mas apenas uma catástrofe tira de LeBron o primeiro lugar geral e o futuro mando de quadra numa possível Final, graças a um calendário fácil com jogos apenas dentro de casa até o final da temporada regular.
Ainda assim, não consigo me lembrar de líderes de conferência tão frágeis quanto esses dois. Na temporada passada, era difícil olhar para o Celtics e não vê-los sendo campeões (e, por isso, o sufoco passado na primeira rodada contra o Hawks foi ainda mais surpreendente). A gente até tentava se enganar, “não tá decidido ainda”, “o Bynum ainda pode voltar”, mas a verdade é que o Boston era areia demais para qualquer caminhãozinho, quase uma Alinne Moraes do mundo do basquete.
O Lakers fez o que dava pra fazer, o Kobe até chutou uns traseiros, mas nem por um segundo houve dúvida de quem levaria o anel para casa. Dessa vez, o Celtics não passa nem de longe a mesma confiança, sem a experiência de Posey, PJ Brown e com as crescentes contusões de Kevin Garnett, que eventualmente ia ter que sentir dor e virar humano. Confesso que o time tinha falhas evidentes na temporada passada, com aquele ataque mequetrefe planejado por Doc Rivers (palavra errada, “planejado” significaria que ele passou ao menos 5 segundos bolando alguma coisa), mas mesmo assim estava em outro nível. As falhas agora são maiores, o elenco menos sólido, a saúde mais sofrida. Sobra espaço, então, para Lakers e Cavs como maiores candidatos ao título, o que não significa de modo algum que eles também não tenham falhas gigantescas e sejam times frágeis – por mais que essa palavra doa, aponta perfeitamente a verdade.
Por mais que eu admire o jogo atual do Cavs depois de passar toda minha carreira no Bola Presa metendo o pau na equipe (ainda me assusto quando percebo que o time simplesmente não comete turnovers!), e por mais que o Lakers seja um dos times mais completos e, pra mim, o mais bonito de se ver jogar, eu não ficaria nem um pouco surpreso ao ver qualquer um deles perdendo logo na primeira rodada dos playoffs. Na verdade, eu iria até dar um bocejo e depois chamar o Duncan para um carteado.
Não quero dizer que engulo meu pé de novo se o Lakers ou o Cavs não forem eliminados na primeira rodada, até porque já faz um tempo que estou com um certo gosto de chulé na boca. Não estou dizendo que as eliminações prematuras são prováveis, apenas estou dizendo que, mais do que nunca, elas são tremendamente possíveis. No momento, LeBron e seus amigos enfrentariam um Pistons lutando pelo resto de dignidade que lhes sobra depois de, com um sorriso no rosto, terem mandado o Iverson passear (a desculpa foi “ele está com dor nas costas”, mas teria sido muito mais divertido se eles apenas tivessem dito que o Iverson foi comprar cigarros e não voltou). Por mais freguês que o Pistons seja do LeBron em fins de jogos, não é necessário muito esforço para ver uma situação em que a equipe de Detroit elimine os favoritos. Principalmente para quem viu o Cavs perder dois jogos seguidos, primeiro para o Wizards (também chamado pelos íntimos de “o time que mais fede no Leste”) e depois, numa humilhação histórica, para o Magic.
Contra o Cavs, o Arenas fez de novo: provou que, assim como ele disse, é a maior mamata dar 10 assistências por jogo na NBA. Se acabasse a temporada agora, o Arenas teria 2 jogos e uma média de exatas 10 assistências por partida, sem esforço nenhum, e um número conveniente o bastante para ele não voltar mais para as quadras (some a isso o fato de que, vencendo de vez em quando sem querer, o Wizards corre o risco de terminar com mais vitórias do que Clippers e Kings, o que não seria legal em termos de draft). O duelo entre as duas equipes, que já foi um clássico quando elas se enfrentavam nos playoffs todo ano um tempo atrás, agora serviu apenas para mostrar que o Cavs tem problemas em enfrentar times velozes com bons armadores. O Arenas nem precisou pontuar, foram apenas 11 pontos, mas a vitória moral além de tudo dá esperança para os torcedores do Washington. Logo depois, o Orlando Magic arrasou o Cavs em nossas televisões jogando muito mais rápido do que eu sonhava ser possível, e mostrando o desconforto da equipe em defender contra times dispostos a correr e chutar. O Magic, o melhor time do mundo com as maiores falhas do mundo (cansamos de escrever sobre as deficiências do Magic), chutou bonito o traseiro do LeBron James. Que, pra se vingar, chutou o traseiro do Spurs (com o LeBron passando um bom tempo jogando de ala de força num time que agora não tem Ben Wallace e nem Varejão, contundidos). LeBron chegou no ginásio 3 horas antes do jogo começar (seu ritual para “jogos importantíssimos”) e marcou 14 pontos seguidos ainda no começo do jogo, acabando o primeiro período com 18. Diabos, como não respeitar um time assim e, ao mesmo tempo, não esquecer do pau que eles levaram nos dois jogos anteriores?
Muito se falou sobre a última temporada ter sido a mais disputada de todos os tempos, mas os playoffs foram muito decepcionantes. Agora talvez estejamos tendo o efeito contrário: com uma fragilidade tão grande das melhores equipes, estamos caminhando rumo a um programa gigante da Luciana Gimenes, ou seja, “terra de ninguém”. O mesmo Cavs que pode atropelar potências do Oeste pode perder para o Pistons na primeira rodada. Eu não duvido. Se não for tão cedo, pode ser logo depois: vale lembrar que eles perderam todos os jogos em Orlando e em Boston nessa temporada.
O mesmo acontece com o Lakers. Se não bastasse eles serem completamente fregueses do Bobcats, conseguiram perder duas partidas seguidas graças a uma derrota para o Hawks. Cada vez o banco de reservas parece ajudar menos e o time começa a mostrar que é exageradamente inconsistente, sujeito a apagões terríveis que podem custar uma série. Pior do que o Cavs, que pegaria o Pistons, o time de Kobe corre o risco de enfrentar o Utah Jazz logo na primeira rodada (atualmente enfrentaria o Dallas, que pra mim “no ecxiste”, já diria o Padre Quevedo). Uma derrota para a equipe de Utah, por exemplo, seria estranha e perfeitamente normal ao mesmo tempo, tipo a testa da Juliana Silveira. Vale lembrar que o Magic, que sempre cutucamos pelos seus problemas no garrafão, falta de um armador agressivo e dependência dos chutes de três pontos, ganhou todos os jogos contra o Lakers na temporada. Ou seja, toma essa. Mas aí, quando eu começo a achar que o Kobe e seus amiguinhos fedem, eles vão e chutam o traseiro do meu pobre Houston Rockets.
É por isso que estou psicologicamente preparado para os playoffs mais disputados dos últimos anos. Não lembro de ter acompanhado uma pós-temporada com times tão nivelados, com os times do topo tão frágeis, e com zebras tão plausíveis. Talvez isso signifique uma queda do nível técnico, excesso de lesões, o fim dos tempos, mas eu estou é feliz da vida: caminhamos para playoffs sem favoritos. Até sabemos quem são os melhores, sabemos quem deveria vencer, mas quem apostar cegamente em alguém é totalmente maluco. Pra mim, até o Suns poderia ganhar essa budega, mas isso pode ser sinal de que eu sou retardado e simplesmente não sei perder.