>História repetida

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O toque na tabela é pra fazer charme

Na temporada passada eu virei alvo de piadas, muitas feitas por mim mesmo, porque tinha dito no preview da temporada que o Chicago Bulls iria vencer o Leste. Achei que o novo Celtics ia morrer na praia, que o velho Pistons não tinha mais forças e que o jovem Bulls, que um ano antes tinha feito bonito nos playoffs ao varrer o então campeão Heat, iria colocar o Leste no bolso.

O pensamento fazia sentido até, mas alguns meses depois soava como dizer hoje que o Suns vai vencer o título. No fim das contas o único título que eles ganharam foi o de vencedor do sorteio do draft (pequena diferença) e com a primeira escolha draftaram o Derrick Rose.

Como já disse no último post, o Bulls acertou em cheio e pegou o cara mais talentoso do draft. O Derrick Rose chuta o traseiro gordo de 90% dos outros armadores da liga desde o primeiro dia que pisou numa quadra da NBA. Sem exageros, hoje eu o coloco apenas atrás de uma elite de armadores que tem Deron Williams, Chris Paul, Tony Parker, Jason Kidd e Steve Nash. Ter um ótimo armador já é um passo enorme para um time ser campeão. Com o grande armador e grande parte do elenco que brilhou nos playoffs de 2007, seria o bastante para o time voltar a brilhar?

A princípio o talento do Rose não serviu pra muita coisa porque o time continuava no mesmo esqueminha dos tempos de Scott Skiles: vamos ficar rodando a bola até a água bater na bunda e aí forçamos um arremessos de meia distância desequilibrado. Afinal, de que vale um armador que sabe infiltrar se o time não tem jogadas que utilizem esse talento? Que continuassem usando o Kirk Hinrich que pelo menos tinha um arremesso mais confiável.

Para resolver esse problema era necessário arrumar o elenco, que era feito para ser um time de arremessadores. O time do começo da temporada tinha o garrafão de trogloditas com Tyrus Thomas e Joakim Noah e os arremessadores Ben Gordon e Luol Deng. A mudança aconteceu no meio da temporada quando, em uma troca imensa, o Bulls perdeu de relevante apenas o Nocioni e o Drew Gooden e em troca conseguiu o John Salmons e o pivô Brad Miller. A troca rolou no dia 18 de fevereiro e o recorde do Bulls de março até agora é de 12 vitórias e 7 derrotas, aproveitamento muito superior ao de 27 vitórias e 33 derrotas de antes da troca.

Detalhe que essa nova fase do Bulls tem vitórias sobre adversários de recorde melhor que o do time de Chicago, como 76ers, Heat, Rockets, Hornets e até uma sobre o Magic e outra o Celtics.

O segredo para essa evolução está na maior quantidade de opções que o elenco tem agora, principalmente pela chegada do Salmons. Se antes só o Derrick Rose infiltrava, agora o John Salmons infiltra também, se antes só o Ben Gordon criava seu próprio arremesso em momentos difíceis do jogo, agora o ex-King também consegue. Mesma coisa com o Brad Miller, que mesmo não virando titular participa bem do jogo por ser um pivô de estilo bem diferente do Tyrus Thomas e do Joakim Noah, fazendo até os outros dois parecerem menos limitados.

O Brad Miller faz muito bem o papel do pivô que faz a bola chegar no garrafão e depois volta para o perímetro atrás de um jogador mais bem posicionado, ou mesmo indo buscar a bola na cabeça do garrafão e buscando jogadores mais bem posicionados embaixo da cesta.

O maior beneficiário dessa chegada do Brad Miller e do John Salmons é o Tyrus Thomas. Agora o homem que só sabe enterrar consegue receber passes de um companheiro de garrafão ou mesmo de um outro cara que infiltra, não precisando receber a bola de costas pra cesta pra tentar e errar uma jogada à la Tim Duncan. Basta pra ele se posicionar bem, receber o passe e subir pra enterrada.

O time está numa sequência ótima de jogos, venceu 7 dos últimos 10 jogos e está em sétimo lugar no Leste, meio jogo atrás do Sixers pela sexta vaga. Mas seja acabando em sexto ou sétimo, os prováveis adversários são os mesmos, Orlando o Boston. O Bulls não ganha uma série de jogos contra nenhum dos dois, isso é fato, mas acho que ele pode dar trabalho demais como deu ao Pistons nos playoffs de 2007.

Isso acaba revelando uma situação inusistada: dois anos depois de ser apontado como um time cheio de jovens talentos e pronto para explodir, o Bulls é, de novo, um time cheio de jovens talentos e pronto pra explodir. Porra viado, agora vai ou não vai?

Ano que vem o Bulls tem que lidar com o seu cestinha como Free Agent, o Ben Gordon. Não sei se o mercado estará cheio de propostas por ele, mas provavelmente ele não irá pedir pouca grana. Deve o Bulls aceitar pagar bastante e manter o cara ou eles deveriam apostar no John Salmons e na volta do agora contundido Luol Deng?

O Deng, aliás, fez uma temporada horrível para o que se espera dele e para o salário que ele ganha. Começou mal, em janeiro fez bons jogos, depois caiu um pouco de nível e agora está fora, machucado e pode nem jogar nos playoffs. Vale a pena manter o Deng mesmo ele estando meia boca? E se o Gordon ficar, vai colocar ele de reserva ou mantê-lo no time titular com o Deng no banco?

Tem também o caso do Kirk Hinrich, um cara com um talento enorme mas que não tem espaço no time titular porque faz o pecado de não ser melhor que o Derrick Rose e nem ser um segundo armador puro. O detalhe é que assim como o Deng, o Hinrich ganha uma nota preta. Com Hinrich, Deng e Brad Miller, o Bulls teria provavelmente o banco mais caro da história da NBA, uma má idéia numa época em que todos os times estão buscando gastar menos por causa da crise econômica.

Não tenho idéia do que vai acontecer com esse Bulls, talvez eles virem um timaço já no ano que vem (com ou sem trocas e Free Agents) ou talvez eles façam uma festa comemorando o décimo ano seguido em que são o “Time do futuro” com os Baby Bulls de 10 anos atrás aparecendo pra fazer uma boquinha na festança. Eu não aposto em nada dessa vez.

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