>
antes que descubram que ele não merece
Quando a transmissão interrompeu meu sagrado Houston contra Portland para mostrar, ao vivo, os últimos momentos de Magic e Sixers, fiquei imediatamente com dó da equipe de Orlando. Pra mim era claro que eles iriam perder de algum jeito patético e humilhante, e agora todo mundo seria testemunha de como eles são uns derrotados. Se parte do público estivesse assistindo o Houston, pensei, pelo menos a humilhação não seria tão pública.
A situação era a seguinte: perdendo por 2 pontos, 6 segundos para o fim do jogo, o Magic tinha que cobrar um lateral para repor a bola. Esse é o momento que arrepia qualquer torcedor da equipe, no desespero da dúvida sem resposta: quem deveria receber essa bola? Jameer Nelson fora contundido, Hedo Turkoglu perdeu seu talento para os Monstars do Space Jam nessa temporada, Rashard Lewis é o homem mais bem pago da equipe e no entanto é apenas um arremessador, sem um histórico de liderança ou arremessos finais. Na noite de ontem, a bola foi inesperadamente para as mãos de Dwight Howard que, obviamente, recebeu uma falta na hora. Lá se foi o pivô para a linha de lances livres. O aproveitamento na temporada foi abaixo de 60% (ô, mal de pivô) mas, na partida, Howard havia acertado 10 em 12 tentativas. Com a pressão de empatar o jogo, fora de casa, com a torcida na sua orelha, aqueles troços fálicos infláveis balançando atrás da tabela, era a hora de ver se o Dwight já se tornara um hominho. Dá pra confiar nele para dominar jogos, fazer a última cesta, acertar lances livres? Seria uma bela arma para esfregar na cara do Shaquille O’Neal.
Acertou o primeiro. Barulho pra burro, a torcida fazendo escândalo (em Golden State, a torcida do Warriors teria considerado essa comoção “apenas um peidinho”). E aí Dwight Howard acertou também o segundo, empatando o jogo e coroando sua incrível atuação: 36 pontos, 11 rebotes (6 ofensivos), 3 tocos, 12 arremessos certos em 16 tentados, e apenas dois lances livres errados em suas 14 tentativas. Ainda assim, foi para o banco de reservas sem vibrar muito, interagindo timidamente com seus companheiros. De algum modo, ele também sabia que os torcedores que antes viam Houston e Portaland agora veriam seu Magic passar vexame.
Como já tinham tomado uma bola decisiva do Iguodala no primeiro jogo da série e um golpe nunca funciona duas vezes contra um Cavaleiro do Zodíaco, a defesa fez um bom trabalho em negar a bola para o Iggy. O Andre Miller tinha chutado o traseiro do Magic até então, e também lhe negaram muito bem a bola. Sobrou, no desespero, um passe para o pirralho do Thaddeus Young, que é novinho até no nome. Tá certo que ele foi fundamental na classificação e nos playoffs do Sixers na temporada passada, mas não é por isso que alguém em sã consciência iria querer a última bola de um jogo de playoff em suas mãos. Pois o moleque recebeu na zona morta, bateu para dentro do garrafão, quase perdeu a bola de costas para Dwight Howard e, então, girou em cima do pivô para fazer a cesta final sem muita dificuldade.
Não muito longe dali, Shane Battier dava uma risada. “Então esse aí é o Melhor Defensor do Ano?”, Battier deve ter se perguntado. Diabos, Dwight! Por que um cara com o troféu de melhor defensor, com quinhentos metros de altura, forte pra burro, se abaixa como uma menininha colhendo amoras ao invés de erguer os braços, trombar fisicamente, tirar o espaço do Thad Young para a cesta? Ainda mais porque, como vim a saber depois, todos os relatórios dos olheiros alertam que o Young só sabe girar para a sua direita, e o Dwight ficou lá na esquerda, todo bobão. Um momento só não faz um homem (a não ser se o momento for ir para a cama com a Alinne Moraes), mas estou seguro de dizer que o Dwight Howard não é um bom defensor no mano-a-mano. Seu talento em desviar arremessos quando a defesa afunila os adversários em sua direção no garrafão não é muito diferente de Yao Ming e Marcus Camby, por exemplo, com a única diferença de que ele é atlético e consegue sair do chão. E todos nós sabemos que Yao e Camby não são nem nunca foram bons defensores individuais. É por isso que esses prêmios são uma piada, eu duvido que qualquer um dos jornalistas e “especialistas” que votam nessas porcarias tenham assistindo o Dwight Howard marcar alguém em suas vidas.
Aliás, as votações para os prêmios esse ano tiveram um punhado de gafes um tanto engraçadas. Para o prêmio de “Melhor Sexto Homem”, que o Jason Terry ganhou, alguém votou no Paul Millsap, que não poderia concorrer por não ter vindo mais da metade de seus jogos do banco de reservas. Para o “Melhor Defensor”, receberam votos de algum maluco por aí o Turkoglu e o Ronny Turiaf! Seja quem votou no Turiaf, essa pessoa não tem televisão e nunca ouviu falar que a defesa do Warriors é motivo de piada. Mas o pior aconteceu na votação para novato do ano: alguém votou no Robin Lopez como melhor calouro! Isso mesmo, o irmão sem talento do Brook Lopez, o Danny DeVito do Arnold Schwarzenegger, o cara que trocou habilidade por cabelo (ver foto ao lado), o homem que mal entra em quadra como reserva do Shaq e que não faz porcaria nenhuma além de dar um ou outro toco nas raras partidas em que vê a cor da bola. Não tenho dúvida alguma de que o infeliz que deu esse voto simplesmente confundiu os irmão e deveria ser demitido, seja no que ele trabalhar. Lavador de pratos, engenheiro químico, físico de foguetes? Pro olho da rua, mané, não sabe nem diferenciar os irmãos Lopez!
Seja como for, o prêmio do Dwight foi dado no escuro e o Magic, não importa o que aconteça, dá um jeito de feder. Cortar o jogo do Houston foi crueldade com o próprio Magic, apontando pra mais gente o fato inquestionável de que eles não conseguem vencer. O time simplesmente tem falhas demais, fragilidades demais, falta um jogador decisivo, falta decidir o que fazer com o Turkoglu (que vai querer um contrato maior mesmo tendo desaprendido a jogar basquete), saber como o Jameer Nelson vai voltar, e como será a evolução constante do próprio Howard. Eu gosto desse time, vejo um futuro brilhante para eles, mas como tanto alertamos (nossos palpites estão disponíveis para todo mundo fuçar até o fim dos tempos), ainda falta alguma coisa para esse time ser levado a sério – não importa o recorde, não importa quão bem eles tenham ido na temporada regular.
No fundo, é o mesmo que acontece na série entre Houston e Portland. O Blazers pode ter ido melhor na temporada regular, pode ter o melhor recorde em casa, pode até ser mais time. Mas ainda falta alguma coisa que meu Rockets, ao contrário, exala pelos poros: experiência. Mesmo quando tudo está dando errado, o Ron Artest não consegue acertar um arremesso sequer, o Yao Ming sequer recebe a bola, ainda há uma sensação estranha de que tudo está sob controle. Em parte isso é a experiência do técnico Rick Adelman, que não teme fazer o que é melhor para equipe. O Yao sofreu com a dura marcação mais uma vez do Blazers, mal tocou na bola, mas quando foi questionado sobre isso ao fim do jogo, apenas afirmou: “Nós vencemos, não? Então não me importo.” Para mim é triste, mas não há dúvidas de que o time está fazendo algo inteiramente funcional em quadra, usando o Yao para atrair marcadores enquanto o Luis Scola fica livre, trocando passes velozes bem perto do aro com Yao e Carl Landry, e mantendo uma calma que o Blazers simplesmente não tem, assustados e exageradamente dependentes do astro-cheirando-a-bunda-de-neném Brandon Roy. Engraçado é que, se o T-Mac estivesse em quadra, talvez isso não estivesse acontecendo simplesmente pela sua fama, pela maldição a ele associada. Ninguém quer olhar para um time e pensar que, não importa o que aconteça, eles vão dar um jeito de perder de novo. Não é mais o caso do Houston Rockets mas, infelizmente, é o caso do Orlando Magic. Para a sorte deles, espero que nenhuma transmissão mais seja interrompida para mostrar ao mundo como eles, de um modo ou de outro, fedem.