>Lakers em dia de Magic

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Kobe imita o famoso soquinho de comemoração do Raí

O Orlando em Magic entrou em quadra com a mesma mentalidade da partida anterior, a famosa tática do “corra pela sua vida”, numa tentativa de jogar em velocidade e atacar a cesta ao invés de passar a noite arremessando de trás da linha de três pontos como lhes seria natural. Apesar do clima de Programa do Ratinho que a experiência cria (confusão, bagunça e um punhado de testes de DNA), os resultados são bastante positivos, o Magic é melhor jogando na transição e atacar a cesta cria uma variação ofensiva que tanto falta à equipe. Se eles conseguissem manter essa velocidade de forma mais controlada, sem perder tantas posses de bola, o plano seria perfeito. A princípio, pareceu estar dando certo como nunca, o Magic entrou na partida agressivo, correndo e cuidando bem da bola. A vantagem no placar foi crescendo e todos os mamíferos bípedes que não se vestem de amarelo e roxo começaram a salivar com a ideia de pelo menos um joguinho a mais na série para salvar nossas vidas do terrível vazio da existência humana sem NBA.

Mas aí aconteceu uma jogada emblemática: num colapso defensivo do Lakers, Rafer Alston ficou completamente livre na linha dos três pontos, de frente para a cesta. Consegui escutar aqui de casa cada célula do seu ser berrar em total satisfação, seu corpo estava feliz, ele nasceu para arremessar bolas de três pontos, é para isso que ele sai da cama todas as manhãs! Mas foi então que Alston colocou um pé a frente, depois o outro, e quando menos percebi ele já estava na cabeça do garrafão, correndo em direção a quatro defensores do Lakers. Não via ninguém correr em direção a tanto homem suado assim desde o último sucesso do Brasileirinhas. Naquela muvuca, Rafer Alston tentou um passe tolo e obviamente desperdiçou a bola. Estava dada ali a história da partida: as orientações do meio-técnico, meio-pizzaiolo Stan Van Gundy foram levadas looonge demais.

Talvez a insistência em estabelecer um jogo de garrafão tenha tirado os arremessadores do Orlando de seu ritmo habitual, talvez tenha sido apenas uma questão de confiança e medo por estarem com a água batendo na bunda frente à eliminação eminente na frente de seus próprios torcedores. Mas, seja como for, o Magic arremessou pouco da linha de três pontos e, quando arremessou, foi com a mira totalmente descalibrada. Nenhuma bola de três foi convertida pelo Magic no primeiro período, ainda que o jogo de velocidade tenha garantido ao time a vantagem no marcador. Mas é como ver o Maguila cuidando de um jardim e regando orquídeas, pode até dar certo a princípio, mas eventualmente ele vai querer dar umas porradas e, se não conseguir, algo vai dar muito errado.

O jogo de transição funcionou para o Magic a princípio, mas o Lakers controlou o garrafão com o Bynum agressivo nos rebotes ofensivos e uma marcação bem montada para impedir os rebotes ofensivos do Dwight Howard, principalmente naqueles tapinhas para trás que ele sempre dá. Com menos rebotes os contra-ataques do Orlando ficaram mais limitados, a defesa do Lakers foi se acertando, e aí chegou a hora do Magic ter que jogar um basquete de meia quadra, com seus tradicionais arremessos de três pontos. Que, como vimos antes, mal estavam sendo tentados e definitivamente não estavam caindo. Ou seja, a jardinagem do Maguila foi até legal, deu certo, mas quando chegou a hora de dar umas porradas, ficar mexendo com orquídeas não ajudou nada a sua causa. O Magic perdeu porque não conseguiu fazer aquilo que fez a temporada inteirinha: mover a bola e arremessar de três.

Enquanto isso, no Mundo Bizarro, o Los Angeles Lakers movia a bola e acertava cestas de três pontos. Marcações duplas no Kobe viraram rotações perfeitas da bola e cestas de três impecáveis de Trevor Ariza e Lamar Odom. A vantagem do Magic foi virando farofa e no segundo quarto, quando a defesa do Lakers apertou e o time de Orlando não conseguia mais correr, ninguém no elenco fazia a menor ideia de como agir. Se não tá dando pra correr e nem adiantando arremessar de três pontos, vamos fazer o quê? Sentar e chorar parecia uma decisão plausível e foi exatamente o que o Magic fez, perdendo bola atrás de bola, sequer conseguindo dar um arremesso que fosse, sentando no chão na defesa e tomando 16 pontos seguidos sem pontuar uma só vez num espaço de menos de 3 minutos. Pronto, fim de jogo, não teria sido melhor ter ido ver o filme do Pelé?

Eventualmente algumas bolas de três pontos do Magic até começaram a cair, mas ainda no terceiro período o jogo de meia quadra estava comprometido pela correria que batia na defesa do Lakers, comprometido pelas bolas que não haviam caído no começo do jogo, e comprometido pela falta de uma estrela capaz de chamar a responsabilidade. Turkoglu teve o caminho para a cesta finalmente bloqueado simplesmente porque a defesa do Lakers não precisou se preocupar em marcar o perímetro, Dwight Howard pelo mesmo motivo não conseguiu ser tão agressivo e acabou tendo os minutos limitados pelo excesso de faltas (mérito do Gasol, que é um excelente cai-cai), e Rashard Lewis não acertaria nem o próprio mijo na privada, sua esposa provavelmente acordou hoje e enfiou o pé numa poça de urina no chão do banheiro. Nós sempre soubemos disso, o Magic até disfarça bem, mas ontem ficou muito óbvio: o time não tem estrelas capazes de mudar o jogo quando nada mais está dando certo. Os engravatados em Orlando já disseram que vão abrir os bolsos, pagar todas as taxas, vender os iates e então renovar com o Turkoglu, o que é bem legal, até pela força nominal dele, mas achar que o cara é estrela porque tem culhão de dar uns arremessos desesperados no final dos jogos é besteira.

Do outro lado, o Kobe estava fazendo aquela cara-de-Kobe que eu a princípio achava legal, mas que depois comecei a achar nojentinho, e estava decidindo o jogo com ela. Vários minutos sem tocar na bola, aí finalmente recebe um passe marcado pelo cangote, e lá está: um arremesso forçado que cai e o Kobe faz cara-de-Kobe, do tipo “eu podia estar fazendo isso o tempo todo, olha como eu sou maravilhoso, até a Alinne Moraes quer dar pra mim.” Como a marcação dupla no Kobe gerou bolas de três pontos para o Lakers e o Courtney Lee era um dos poucos jogadores do Magic que tinha bagos de tentar decidir o jogo (esses novatos não têm noção, acham que podem dominar o mundo, mas todos os jogos do Orlando sempre começarem com um arremesso do Courtney Lee me cheira a erro do técnico, não dele), acompanhamos o duelo entre Kobe e Lee a partida inteira, o Pietrus mal ficou em quadra. O que significa que o Kobe teve motivos para forçar arremessos, decidir sozinho e fechar o caixão do Magic. Quando ele estava invisível, sem participar muito do jogo, a defesa do Lakers deu conta do recado e Odom e Ariza seguraram as pontas no ataque.

O Lamar Odom estava num daqueles dias de “oi, meu nome é Ben Gordon e eu quero um contrato”. Veio do banco com agressividade, atacou os rebotes como nitidamente o Lakers tentou fazer para minimizar contra-ataques e a velocidade do Magic, e acertou as 3 bolas de três pontos que tentou. Foi uma atuação com momentos espetaculares e o Kobe lhe mandou alguns olhares apaixonados de agradecimento (inversamente proporcionais aos olhares de ódio que o Kobe manda para ele quando o Odom está fedendo e parece se importar mais com a procriação dos pandas do que com basquete). Com o Kobe feliz, o Lakers com um anel de campeão no dedo e uma atuação gloriosa pra chamar de sua, todo mundo vai se lembrar do Odom como aquele cara legal que joga muito e não pode de jeito nenhum sair do time. Tá vendo, Ben Gordon? É assim que se faz: o Odom pode ter sido um vagabundo, fedido em trocentos jogos, mas não reclamou de dinheiro e nem de vir do banco de reservas e vai garantir uma bolada em verdinhas – fora o anel, rá.

Times inconsistentes como o Orlando Magic são um perigo para os adversários, e a série pareceu pender para o lado do Magic um bom punhado de vezes. Pequenos detalhes decidiram os primeiros jogos, que poderiam ter ido para qualquer lado. Mas, depois de quatro partidas, os detalhes não importaram mais e o jogo foi decidido mesmo na prancheta. O que é que o Magic conseguiu fazer nas partidas anteriores? Bolas de fora, Dwight Howard, corredor para o Turkoglu, jogo na velocidade? Tá bom, o técnico Phil Jackson foi aos poucos cuidando disso. Teve deslizes complicados na Final, mas soube minimizar todas as armas do Magic, embora dizer “todas as armas” faça parecer que as armas eram muitas. Um time limitado com estratégias limitadas e nítida falta de criatividade não iria durar muito tempo contra o Phil Jackson sem ter todos os seus caminhos táticos bloqueados. O Lakers tem seus problemas, o elenco é muito limitado (às vezes a gente se esquece de que não houveram muitas mudanças naquele Lakers patético que todo mundo dizia que não chegaria nem nos playoffs uns anos atrás) e jogadores importantes desaprenderam a jogar basquete (Sasha Vujacic, os Monstars mandaram lembranças!), mas as variações do que eles podem fazer em quadra são muito grandes. Não havia apenas um par de caminhos a seguir e o Orlando não poderia pará-los de verdade, a única chance do Magic era impor o próprio estilo de jogo. Não demorou muito para que seu estilo de jogo, no entanto, ficasse claro demais, óbvio demais e pudesse ser interrompido. Dizer que o Lakers mereceu é lugar comum e pode tirar um pouco o foco de quão frágil essa equipe campeã realmente é, mas sem dúvida nenhuma todos os botões certos foram apertados para derrubar o Orlando Magic. Mesmo se todas as bolas de três da equipe tivessem caído, não vejo o Orlando sendo capaz de repetir a mesma fórmula por mais duas partidas a ponto de sair campeão. Simplesmente porque, em matéria de tática, o Magic é um cobertor curto demais que deixa os pés ou o pescoço sempre com frio (ontem, deixou os dois). Deu certo contra o Leste inteiro, marca de um time coletivo e subestimado, e nos trouxe grandes esperanças para um novo tipo de basquete que torne-se eficiente na NBA sem aquele exagero de defesa, defesa e Tim Duncan. Mas a partida de ontem foi o final perfeito para a história: o Magic mostrou-se um time incapaz de correr e incapaz de jogar de forma cadenciada quando o outro time sabe o que está fazendo (o engraçado é que justamente por isso, mais do que mérito do Lakers ou demérito do Magic, o resultado dessa final me cheira a demérito do Cavs).

Durante toda essa semana (e pra compensar o fato de que não andamos muito presentes nos últimos dias), vamos analisar a fundo o Lakers campeão, o futuro do Orlando Magic, os lances cruciais que definiram a última partida e a série inteira, o Kobe com um anel sem Shaquille O’Neal, e fazer um balanço geral desse Los Angeles Lakers que levantou o caneco na noite de ontem. Vai ser uma cobertura toda especial para se despedir em grande estilo dessa temporada, e um agradecimento cuidadoso e carinhoso a todos os nossos fãs que nos leram com tanto afinco e saco de Papai Noel durante todos esses meses. Não percam, então, nos próximos dias, uma cobertura caprichada, cereja no bolinho de quem acompanha o Bola Presa! Até lá!

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