>A voz da experiência

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Não pula mais, joga bingo e faz tricô, mas virou um cara feliz

Pra mim chega. Não consigo comer, não consigo dormir, não consigo ler tranquilo no banheiro, toda hora que eu venho pra esse maldito computador alguma troca nova aconteceu. Quantos posts sobre trocas eu consigo fazer num único dia? Daqui a pouco, as pessoas vão começar a perceber que eu não tenho uma vida.

Primeiro, vamos dar uma recapitulada para eu perceber o tamanho do absurdo e me sentir produtivo: teve o Richard Jefferson para o Spurs, Randy Foye para o Wizards, Jamal Crawford para o Hawks e Shaq para o Cavs. Quem chegar na segunda-feira querendo saber o que aconteceu ultimamente na NBA vai ter leitura para uma vida inteira (fora o draft!), mas espero que até lá a NBA ainda esteja dividida em Leste e Oeste e o planeta Terra continue redondo.

A nova troca que me obriga a vir ao blog mais uma vez (ai, que fome, que sede, que vontade de ir ao banheiro, será que é dia ou noite lá fora?) mandou Vince Carter e Ryan Anderson para o Magic, e Rafer Alston, Tonny Battie e Courtney Lee para o Nets.

Mais surpreendido do que com a troca, estou é surpreso de ver quanto tempo demoraram pra trocar o Carter. Quanto começaram a desmontar aquele Nets que um dia havia sido uma força no Leste mas jamais teria chances de ganhar um anel de campeão, já era óbvio que o Carter não teria uma estadia muito longa por lá. Primeiro o Richard Jefferson virou farofa, o que por si só já era intrigante, afinal ele era o mais jovem do trio que era a base da equipe. Depois, até mesmo o Jason Kidd foi trocado, o que colocou o Nets num óbvio projeto de reconstrução a longo prazo. Se o Carter havia boicotado o Raptors, como diz a lenda, porque não aguentava jogar num time que fedia, como é que ele se sentiria num time que não tinha mais quaisquer intenções de vencer alguma coisa pela próxima década? A resposta foi surpreendente: Carter aceitou a equipe, abraçou o papel de líder, foi a voz da experiência e tornou definitivamente o time melhor. Por isso, até fez sentido mantê-lo lá por tanto tempo, muito embora fosse óbvio que a qualquer minuto ele teria que sentar para dar espaço para algum pirralho meia-boca ganhar minutos de jogo.

Enfim aconteceu, e agora Vince Carter chega a Orlando com uma fama completamente transformada pela sua estadia em New Jersey. Se antes ele era individualista, segurava demais a bola e boicotava sua equipe quando as coisas não iam como ele queria, agora Carter conseguiu mostrar que pode ser mais do que um grande companheiro de equipe – pode ser uma voz forte, de comando e liderança, experiente e capaz de direcionar os novatos em quadra. Com isso em mente, a chegada de Carter ao Orlando não poderia ser mais acertada.

O Magic escalou o Leste com um basquete coletivo, sem estrelas, focado no jogo de perímetro. Nisso Vince Carter se encaixa bem, sendo um ótimo arremessador de três pontos, cada vez mais focado em passar a bola e não muito interessado em ficar penetrando no garrafão. Só que o Magic enfrenta problemas quando as bolas não caem e precisa jogar um basquete lento e cadenciado, com dificuldades de criar jogadas individuais e quase uma inexistência do pick-and-roll e de outras táticas que levem os jogadores a atacar o aro. Quando o Dwight Howard está tendo problemas no ataque ou se encontra com excesso de faltas, o Magic é um time extremamente fragilizado. Turkoglu é o único que chama a responsabilidade para si, especialmente no final dos jogos, e embora tenha tido muito sucesso na empreitada, definitivamente não é o cara que o torcedor gostaria de ver com a última bola de uma Final nas mãos. Nessas horas mais cruciais é que o time carece de individualidade, experiência, maturidade e criatividade.

Um Vince Carter em seu auge provavelmente destruiria esse Magic, centralizando o jogo e acabando com qualquer chance da bola rodar e encontrar os arremessadores livres na linha de três pontos. Mas esse Carter velho, cansado e líder em New Jersey é perfeito para o papel do cara que decide no final dos jogos, imprime maturidade ao time, dá tranquilidade à equipe quando a rotação ofensiva não está funcionando, e tudo isso sem comprometer o esquema tático. Acredito que esse seja o momento perfeito da carreira do Carter para ele assumir um papel secundário frente a um esquema em que prevalece um todo. Mas, quando precisar, Carter poderá tomar decisões, ser criativo e decidir partidas – quer o Turkoglu esteja lá, quer ele tenha sido assinado por outra equipe.

De brinde na paçoca, o Magic ainda ganha o Ryan Anderson, que foi draftado justamente como sendo um Rashard Lewis dos pobres. Para vir do banco e manter o esquema tático, ele é perfeito, por ser um ala alto que arremessa de três pontos. Melhor do que colocar Dwight Howard e Marcin Gortat juntos em quadra como o Magic foi obrigado a fazer várias vezes contra o Lakers na Final, já que os dois pivôs têm o mesmo papel e só congestionam um garrafão que precisa estar mais livre para que o jogo de perímetro funcione.

Abrir mão de Tonny Battie, que é velho e machucado, e de Rafer Alston, que nitidamente era só um quebra-galho enquanto o Jameer Nelson estava machucado, foi até bem barato. Só fiquei triste pelo Alston, mesmo odiando ele, porque o coitado nunca consegue pertencer mesmo. Já tinha escrito sobre como ele sempre tentou fazer seu papel direitinho mas ainda assim foi descartado em Houston, e agora a mesma coisa aconteceu em Orlando, apesar do bom trabalho que ele desempenhou levando esse Magic a uma Final de NBA. Ninguém vai sentir falta dele por lá, é verdade, em Houston ninguém nem reconheceria o sujeito na rua (talvez se fosse para dar umas porradas), mas isso não deixa de ser triste. Em New Jersey, o coitado vai ser reserva do Devin Harris e terá minutos bem limitados. É o fim de sua carreira como titular, que sinceramente durou mais do que devia. Façamos um minuto de silêncio.

O único jogador importante que o Magic tem que abrir mão é o Courtney Lee, que se mostrou um defensor espetacular e cada vez mais impressionante no ataque. Será um grande jogador, sem dúvidas, mas o time de Orlando precisava de experiência. Três jogos seguidos da Final entre Magic e Lakers abriram com o Lee dando os primeiros arremessos, era bem claro que ele era deixado livre por ser mais jovem, limitado e inexperiente. Ele tentou decidir dois jogos no minuto final, incluindo uma ponte-aérea no último segundo que, se tivesse entrado, poderia ter transformado completamente aquela série – mas não entrou. Confiar e depender tanto de um novato não faz sentido para um time que chegou a uma Final e já tem um elenco bem jovem. Vida longa ao Courtney Lee, mas o Magic precisa de outra coisa.

No Nets, ele terá espaço para ser titular imediatamente e dominar a armação pela próxima década ao lado do Devin Harris. Desde que ele não se importe de estar num time que fede, tudo vai ficar bem. O Nets finalmente apertou o botão do apocalipse total e ninguém com idade suficiente para beber deve continuar no elenco, a reforma é generalizada. Ainda assim, parece que o elenco é mais forte e interessante do que a maioria das coisas que temos por aí, especialmente no Leste, e não acho que eles devam ficar muito tempo fora dos playoffs, especialmente se o Brook Lopez continuar sua evolução e se tornar um pokémon de verdade. Além disso, o Nets economiza uma graninha e começa a flertar com aquelas ideias malucas de contratar LeBrons e Kobes, coisa que nunca vai acontecer, mas eles estarão bem mesmo assim. Não bem como o Magic, claro, que agora tem que ser considerado uma força ainda maior do que já era. Bizarro, com as recentes trocas do Cavs, do Magic e a volta do Garnett no Celtics, não é que o Leste ficou verdadeiramente divertido?

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