Antes do LeBron James saber que time ele ia jogar profissionalmente, a gente já sabia que ele estava na história da NBA. Se desse tudo perfeitamente certo ele seria o melhor jogador da história, se fosse só certo, um dos melhores. Se desse errado, seria motivo de chacota para o resto da vida como o garoto que chegou como grande promessa e não deu em nada. Por bem ou por mal ele já era personagem da história da liga.
Aliás, histórias de grandes promessas jovens que não deram em nada são comuns na NBA. Vivemos hoje ainda a era das piadas sobre o fracasso do Darius Miles, que só vira notícia na hora que rende prejuízo para o Blazers. E nos anos 90 o grande nome foi Harold Miner, o Baby Jordan, que teve uma carreira muito discreta e que hoje é um investidor na área de imóveis e que recusa todas as entrevistas e aparições públicas relacionadas ao basquete. Desse status o LeBron já passou, mas que imagem ele deixará ao fim da carreira?
Podemos começar a descobrir vendo que imagem ele tem hoje. Depois de 6 anos na NBA ele ultrapassou todas as dificuldades e críticas que enfrentou. A falta de habilidade com a mão esquerda ficou pra trás já na sua segunda temporada, os arremessos de longa distância melhoraram a cada ano, a ausência nos playoffs foi respondida com estréia de triple-double, atuações históricas e até com um título de conferência.
O apelido de LeBronze James, que ganhou depois das olimpíadas de 2004 e do mundial de 2006, acabou depois do ouro em Pequim.
O título de MVP na temporada 2008-09, conquistado em um time que teve a melhor campanha da liga, parecia coroar esses primeiros seis anos de carreira e de superação de LeBron James dentro da NBA. Depois de muita mídia, muito auê, muito hype, ele tinha finalmente se tornado o super jogador que todos esperavam que ele fosse. O rosto da NBA em sua era.
Porém, essa história de sucesso avassalador ganhou alguns detalhes inesperados nos últimos meses.
Tudo começou quando o Cleveland Cavaliers foi eliminado pelo Orlando Magic. Durante a série o LeBron deu entrevistas em que, nas entrelinhas, dava pra ler que ele estava terrivelmente decepcionado com a atuação e a postura de seus companheiros de time na série. Antes do jogo da eliminação ele disse que estava preparado para o último jogo, mas que só poderia falar por ele mesmo.
Questionamentos sobre sua liderança dentro do grupo começaram e só acabaram no jogo seguinte, quando o assunto virou então a falta de espírito esportivo do LeBron. Após a eliminação, o King James saiu correndo em direção ao vestiário e não cumpriu a regra padrão do Fair Play da NBA de cumprimentar os jogadores e comissão técnica do time adversário.
Um dia depois do maior feito do Orlando Magic em mais de uma década, a alguns dias da final da NBA, a mídia americana só falava de como o LeBron não tinha respeito pelo adversário, que era egocêntrico, que foi mal educado ou, como os que o defendiam falavam, era competitivo demais.
A poeira pareceu baixar com o fim da temporada, mas não baixou. Se você pensar, é justamente na offseason, quando falta assunto, que pequenas bobagens tomam grandes proporções por pura falta de opção. Em um evento em Nova York, o LeBron usou uma camiseta com os dizeres “LBJ MVP“. LBJ, pra quem é lerdo, é a abreviação do seu nome.
Dias depois, em viagem pela França, flagraram o LeBron com outra camiseta, essa com a estampa “Check my $tats“. Ou “Olhem minhas e$tatísticas”.
Eu achei a primeira camiseta uma forma da Nike, sua patrocinadora, homenagear e promover um de seus principais parceiros e símbolos. A segunda eu achei que tem uma veia bem humorística, além de fazer muito sentido dentro da cultura do hip-hop em que a maioria dos jogadores americanos e negros da NBA se encontram.
Pois as duas camisetas começaram uma onda de perseguição ao LeBron na internet. Para uns ele tinha se tornado um babaca, que era imaturo, para outros tinha um ego maior que as banhas do Sean May e de que importavam suas estatísticas se não tinha nenhum título no currículo?
Procurem no Google e vão ver a quantidade de fóruns discutindo as camisetas do LeBron James. É assustador pela quantidade e assustador pelo ódio que muitas pessoas tem dele. E com esse ódio todo, tudo o que o LeBron não precisava era dar mais pano pra manga, certo?
Eis que algumas semanas atrás sai uma notícia dizendo que o LeBron James e a Nike tinham confiscado a fita de um jogo do camp do LeBron James. Esses camps são clínicas organizadas por jogadores e que reunem jovens jogadores de colegial e de faculdades. Em um dos dias de sua clínica o LeBron participou de um jogo e acabou tomando uma enterrada na cabeça, dada pelo Jordan Crawford, jogador da Universidade de Xavier. Logo depois do jogo a fita com a enterrada foi confiscada e ninguém viu a cravada.
Pronto. Mais pontos de impopularidade para o King James. Perdeu pontos por não ter espírito esportivo de novo e ainda virou motivo de chacota entre os que não gostam dele por ter tomado uma na cabeça. Finalmente ontem sairam uns vídeos, feitos da arquibancada por pessoas que estavam acompanhando o jogo, da tão famosa enterrada proibida.
Pois é, é isso. O cara atacou a cesta com velocidade, o LeBron tentou dar um toco pelo lado e não conseguiu. Nada que não aconteça em todo jogo de bom nível. Se não tivessem confiscado era capaz de esse ser só mais um vídeo perdido na internet, como é, por exemplo, esse vídeo do Michael Jordan perdendo um duelo de 1-contra-1 contra o desconhecido John Rogers, CEO de uma empresa de investimento. Assim como não viraria motivo de ótimas piadas como essa camiseta:
A repercussão negativa do confisco desse vídeo, somada a todas as polêmicas iniciadas na série contra o Orlando, criaram uma enxurrada de movimento anti-LeBron na internet entre os torcedores da NBA. Um movimento que, claro, não começou agora, mas ganhou bastante espaço.
Me aventurando por comentários em blogs e fóruns nacionais e gringos há anos, já vi muita gente que torce contra o LeBron haja o que houver. Alguém sabe o motivo disso? Meu palpite é excesso de mídia em cima do rapaz. Falam tanto dele que você acaba pegando birra, só acho que seria mais inteligente odiar a mídia e não o LeBron. É como Los Hermanos, mais chato que a banda, que é ok, são os fãs idolatrando como se fosse uma religião. Por isso odeio os fãs de Los Hermanos, não o grupo.
Depois de tudo isso volto à pergunta do início: qual será o resultado disso tudo na imagem que o LeBron irá deixar? Por um lado penso que tudo isso de agora será apenas temporário, uma má impressão deixada depois de um resultado frustrante e que será antigo como fóssil daqui um ano se ele for campeão ao lado do Shaq. Mas como será se daqui um ano tiver outra derrota? E se ele frustrar a cidade de Cleveland para partir rumo a Nova York em busca do maior salário da história da NBA, como dizem por aí?
Posso estar exagerando, mas as próximas atitudes do LeBron em grandes momentos irão definir que tipo de super ídolo ele irá se tornar. Pode realmente se parecer com o Jordan, que é admirado por todo e qualquer ser humano que saiba o que é basquete. Ou pode acabar seguindo os passos de seu parceiro de fantoche Kobe Bryant e se tornar um ídolo meio a meio. Amado por metade dos fãs e massacrado pela outra metade.
Só deixando claro que o LeBron não é uma simples vítima da mídia. Não quis dizer isso. No episódio das suas camisetas foi exagero de todas as partes, mas quando ele não cumprimentou ninguém depois do jogo ele não só foi mal educado com os outros atletas como não soube limpar sua barra depois. Uma mera entrevista dizendo que ele foi tolo e que estava de cabeça quente (com um bom motivo) já teria resolvido tudo.
Na questão do vídeo ele foi ainda pior. Não sei se a idéia de confiscar o vídeo partiu dele ou da Nike, mas os dois poderiam ter transformado isso em uma promoção da Nike e do próprio LeBron como um cara bacana e bem humorado. Alguns vídeos feitos pela Nike com o LeBron e o tal Crawford no YouTube tirando sarro da situação, e o LeBron passaria de mal perdedor para um cara bacana em instantes.
Por outro lado, essas atitudes que criam uma imagem negativa podem ser, apesar de todas as dores de cabeça que trazem, verdadeiras. O que temos a ver se o LeBron não cumprimenta ninguém depois de derrotas e não gosta de ser visto tomando enterradas na cabeça? Se tudo isso narrado aqui pode fazer com que o LeBron não seja mais o queridinho da NBA, pode ser que pelo menos possa servir para que possamos ver um LeBron mais verdadeiro.
Talvez ele seja mesmo mais tarado por vitórias e conquistas do que educado e correto. Talvez ele tenha um Ron Artest enrustido dentro dele. Talvez ele esteja pouco se ferrando pra imagem que ele tem perante o público. Concordando ou não com suas atitudes, sendo a sua imagem presente e futura boa ou ruim, creio que estamos vendo, com o passar do tempo, um LeBron James menos maquiado, mais real e mais humano.