>Ruim um pouco demais

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Wade finge que precisa mijar para poder dar o fora

O Quentin Richardson continua sua turnê pelos piores times da NBA. Desde o fim da temporada passada, já passou por Grizzlies, Clippers e Wolves. Mantendo a temática de seu passeio pelos Estados Unidos, imaginei que ele fosse acabar parando no Kings, mas na verdade ele acaba de ser mandado para o Heat. Não que a equipe de Miami seja tão horrível quanto as outras que Quentinho andou visitando, mas o Wolves tem potencial demais e, com uma carta aberta explicando que a pirralhada de lá vai ter minutos mesmo que isso signifique perder feio, uma troca era meio inevitável.

Nesse momento, ninguém em sã consciência quer o Quentin Richardson jogando em seu time. É verdade que ele é um bom arremessador de fora e um ótimo reboteiro para sua posição, mas sua mentalidade de “eu arremesso até minha mãe se eu puder” anda muito em baixa na NBA. Com um contrato exageradamente inflado (agradeça ao Nash por ter garantido o leitinho das crianças) e uma postura indesejada dentro das quadras, Quentinho só tem valor mesmo porque seu contrato termina ao fim da próxima temporada e gera espaço salarial para quem quiser arriscar aquisições como LeBron, Wade e Nowitzki, por exemplo.

É assim que o Quentin Richardson está mais rodado do que a Vivi Fernandes ou fita do “Lagoa Azul”: vários times interessados em flexibilidade salarial em 2010 aceitam seu contrato gordo, mas trocam assim que surgir uma oportunidade melhor de economizar grana. O Wolves, por exemplo, trocou o Quentin Richardson pelo Mark Blount e, assim, conseguiu outro contrato que expira nessa temporada mas ainda economizou cerca de 2 milhões de verdinhas ainda nesse ano, porque o contrato do Blount é menor.

Isso significa que o Heat escolheu perder dinheiro para adquirir o Quentin Richardson! O espaço salarial de 2010 não foi comprometido, mas os bolsos dessa temporada acabam de ficar um pouco mais vazios para que o Heat tenha no elenco o cara que ninguém quer, aquele beijinho no meio dos brigadeiros gostosos em festa de criança (coco, como todos nós sabemos, não tem acento mas não engana: é escroto). Por que diabos o Heat se importou o bastante para fazer essa troca? A resposta acaba dedando a crise pela qual passa a equipe.

Pra começar, o elenco está tão fraco que o Quentin Richardson chega ao time com espaço garantido na rotação. O melhor arremessador daquelas bandas é o Daequan Cook, muito inconsistente e, convenhamos, longe de ser um arremessador legítimo. Diawara e Dorell Wright são bons defensores mas excessivamente limitados no ataque. Não há ninguém para substituir Shawn Marion e Jamario Moon, ninguém capaz de ser o ala titular. Se o Michael Beasley sair do garrafão e for jogar de ala pequeno, aí o Udonis Haslem é que não tem reservas. Ou seja, o elenco é um cobertor curto demais e ninguém, além do Wade, merecia ser titular. Num time sério (onde o Jamaal Magloire, clone ruim do Zach Randolph, não fosse considerado um jogador importante, por exemplo) a maioria dos membros do Heat esquentariam banco e teriam que lutar por minutos. No Heat, vão começar jogando, de modo que a chegada do Quentin Richardson traz profundidade ao time. Por “profundidade”, entenda algo como a Mari Alexandre dizendo que leu “O Segredo”: uma merda, mas a gente até comemora o fato dela não ser analfabeta.

Só que o buraco é mais embaixo, já diria o Mr. Magoo. Dwyane Wade não deu escândalo e nem tacou travesseiros como a gracinha do Kobe Bryant na época em que o Lakers só tinha ele, mas o Wade deixou bem claro que o elenco fede e que não há condições de que ele reassine com um time tão fraco. Pat Riley, doutorado na arte da discussão de Jardim de Infância e responsável pelas finanças, bate o pé e diz que não faz sentido gastar dinheiro agora com o time se o Wade não der certeza de que vai reassinar o seu contrato. No maior esquema do “dilema Tostines”, os dois lados tem razão e portanto o time continuará parado nesse paradoxo, um estranho vórtex espaço-temporal que pode transformar o Heat no novo Cippers.

Em 2010 muitos jogadores geniais verão o fim de seus contratos e o mercado estará cheio de possibilidades para equipes que querem começar do zero. Se o Heat perder Wade, terá dinheiro para contratar jogadores de nível similar – caso, é claro, eles topem jogar em Miami. Com as estrelas contratadas, é possível comprometer-se com um plano de longo prazo e cercá-las com os jogadores mais apropriados, torrando uma grana louca neles. Agora, sem saber se Wade fica ou não fica, é complicado contratar ou trocar por jogadores porque o Pat Riley fica sem saber se está construindo um time ao redor do Wade ou do Carlos Boozer, por exemplo. Eu sei que o Clippers apenas soma jogadores aleatórios e coloca todo mundo pra rodar, mas no mundo real as contratações tentam ter um padrão e formar um todo coerente, de modo que o Wade precisa de uma decisão para que o Heat possa se preparar.

Mas o Wade seria débil mental de continuar num time tão porcaria se ele pode aceitar, na temporada que vem, propostas interessantes de times que estarão em condições muito superiores de brigar por um título. O que aconteceu é que o Heat se afundou demais na merda e perdeu aquele ponto de equilíbrio ideal: ser um time ruim, que precisa de alguns jogadores para crescer, mas que não é ruim demais a ponto de parecer um caso perdido. É isso que o Knicks quer tanto parecer ser, um time atraente, com potencial, mas que é claramente ruim porque precisa de uma grande estrela. Esse tipo de situação é tentadora para grandes jogadores que querem ressuscitar um franquia sem ficar em último lugar da NBA por uns anos. O Heat ficou em condições tão deploráveis que não dá pra levar muito a sério a ideia de que, com um par de jogadores novos, a franquia voltasse ao topo.

O Knicks caminha firme rumo a essa imagem de “eu fedo mas nem tanto, sou uma merda mas tenho esperança”, meio que a garota feia dos filmes adolescentes com coque no cabelo, óculos enormes, e que a gente sabe que no final do filme vai soltar o cabelão, piscar os olhos com lentes de contato e maquiagem de primeira e ser uma delícia absurda. O Heat virou a garota obesa do fundo da sala, que pode até disfarçar o cecê passando vinagre mas não vai emagrecer o necessário nos próximos anos. Insistir na garota obesa seria um ato de fé e amor, mas acho que Wade não se encontra nessa situação. Desde o começo ele não gostou muito do draft do Beasley, alegando que a escolha deveria ter sido trocada por um jogador experiente (como o Kobe, tão puto da vida quando a franquia escolheu o Bynum), e não parece ter muitas expectativas de que essa dupla dê certo.

Sob esse aspecto, a contratação de Quentin Richardson é uma tentativa desesperada com toques de novela mexicana: mais do que melhorar um pouco o elenco mequetrefe, Quentinho é um dos melhores amigos do Wade e os dois treinam juntos ao fim de toda temporada da NBA. Foi uma tentativa de agradar o Dwyane Wade pelas beiradas, pegando no lado emocional. Pat Riley já tinha avisado que o Heat não iria contratar mais ninguém nessa temporada, que o time estava fechado, mas agora ele abriu uma exceção para trazer um amigo pessoal do Wade para jogar e, quem sabe, ser até titular. É muito golpe baixo, tipo dar flores e poeminha quando sua garota quer terminar com você. É feio, muito feio. Mas dá certo, crianças, então façam à vontade.

A vontade do Wade é de claramente dar o fora. Sua temporada passada foi surreal, depois dele dedicar toda suas férias em treinamentos insanos, específicos e exagerados que lhe permitiram ser o melhor jogador da seleção americana apesar de estar voltando de contusão (é como o treinamento que o Arenas tentou depois da primeira contusão, mas aí o joelho dele desmontou quenem Lego). Diz a lenda que o Wade está se dedicando num volume ainda maior de treinamentos, e se for verdade seus números de MVP vão estar ainda mais elevados. O problema é que ninguém falou das estatísticas débeis mentais do Wade na temporada passada, e nem levou a sério sua campanha para ser MVP, simplesmente porque seu time fede. É bem óbvio que o Wade não vai aturar isso mais uma vez: o Heat tem uma temporada, com o amiguinho Quentinho ajudando, para provar que pode ser ruim-mas-nem-tanto e colocar o Wade como concorrente real ao prêmio de MVP. Se não acontecer, o Heat provavelmente terá nova cara na temporada que vem – com uma nova estrela, se alguém aceitar jogar por lá. Talvez contratando mais amiguinhos dos jogadores famosos. Ou talvez as praias ajudem.

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