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Não faz muito tempo, escrevi um post mais sério sobre a contusão de Yao Ming, que pode deixá-lo fora das quadras definitivamente. Desde então, o chinês passou pela faca numa cirurgia que foi considerada um sucesso. Foi o mesmo procedimento pelo qual o Ilgauskas passou anos atrás, então podemos concluir que Yao Ming deve ser capaz de jogar por mais alguns anos, mas com a velocidade de alguém que se movimenta debaixo d’água. No entanto, a situação de Yao não se modifica: sua missão cultural está encerrada e seu valor para a China e para o Houston Rockets começa a esvair-se. O pivô retornará às quadras com minutos limitados, importância diminuída, e é apenas questão de tempo para que o Houston tenha que começar do zero, montando um novo garrafão para compor um novo elenco. Será, então, um processo de transição em que Yao Ming vai segurando as pontas enquanto arruma-se alguém para ficar com o garrafão da equipe pelos anos seguintes.
Acontece que, para a temporada que vem, não tem transição, não tem ninguém pra ir segurando as pontas e empurrando com a barriga. O Houston precisa de pivôs imediatamente para tapar o buraco vazio e talvez ter esperança (ou fingir ter esperança, ao menos) de que um deles seja o pivô do futuro para a equipe. E tudo isso sem nenhum jogador relevante para ser trocado e nenhum espaço no orçamento para contratar um jogador de uma posição que já é mais escassa na NBA do que risadas no Zorra Total.
Levando isso em conta, devo admitir que o Houston Rockets fez um excelente trabalho. Conseguiu, sem nenhum esforço e a preço de banana, dois pivôs para tapar buraco. Os dois meio zé-ninguém, mequetrefes, mas cheios de potencial e pelo menos capazes de não passar (muita) vergonha. Pra quem achava que o pivô teria que ser o Olajuwon numa cadeira de rodas, estou quase soltando fogos.
A primeira aquisição foi o David Andersen. Ele é um pivô australiano de 2,13m que já jogou no CSKA na Rússia, foi campeão italiano trocentas vezes e acabou de ser campeão espanhol com o Barcelona. É um daqueles caras que nunca vão pra NBA, preferem ficar passeando pelo mundo, jogando pouquíssimos minutos e nunca dá pra saber se são capazes de fazer aquilo que seu potencial parece indicar. Nem na seleção australiana ele teve muitas oportunidades, o que é sempre um péssimo sinal. A NBA costuma ter um pé atrás com jogadores assim, deixando para escolher o Scola e o Ginóbili bem tarde no draft, no receio de que eles não funcionem num basquete mais físico ou, pior, nunca resolvam ir jogar nos Estados Unidos (basta pensar no Splitter, por exemplo, que parece que vai passar as próximas décadas na Europa e o Spurs daqui a pouco até esquece que ele existe). Scola e Ginóbili, no entanto, eram estrelas consagradas no basquete europeu, enquanto o David Andersen ainda é só uma aposta. Foi escolhido no draft pelo Hawks, na segunda rodada, em 2002. Sem contrato garantido, sem segurança, ganhando tufos de dinheiro na Europa, ele nunca viria brincar em Atlanta. Mas o Rockets mandou uma futura escolha de segunda rodada, uma grana, recebeu os direitos ao David Andersen e então foi negociar. Ajudou a pagar a recisão de contrato, garantiu o australiano na equipe por pelo menos dois anos (o terceiro é opcional) e colocou mais de 2 milhões nos bolsos dele por temporada. Pronto, agora o rapaz vai ser bonzinho e vir jogar na NBA.
Se a experiência der certo, Andersen foi uma grande sacada. Pelo seu tamanho, ainda permite que a defesa do Rockets afunile os jogadores adversários em sua direção. No ataque, Andersen gosta de jogar longe da cesta, arremessando de longe (e acertando cerca de 40% dos seus arremessos de três pontos!) e, portanto, não é tão diferente taticamente do que o Yao Ming gosta de fazer. Se ele for uma porcaria, também não ganha tanto dinheiro assim e depois de duas temporadas volta pra Europa continuar com a vida. Posso viver com isso.
A outra aquisição da equipe foi o Pops Mensah-Bonsu. E se você acha que esse é o nome de maior força nominal da última década, é porque não viu seu nome inteiro: Nana Papa Yaw Dwene Mensah-Bonsu. Minha nossa, é o nome mais bacanudo desde Dikembe Mutombo Mpolondo Mukamba Jean-Jacques Wamutombo! Só isso já justificaria sua contratação sem dúvida alguma, vou comprar uma camiseta agora mesmo – especialmente se eles conseguirem enfiar o nome inteiro nela, mesmo que tenha que ser frente e verso.
O Pops (eu prefiro chamar de “Nana Papa”, que parece nome de banda ruim) teve uma carreira interessante no basquete universitário, atlético pra burro, cravando na cabeça de todo mundo e fazendo a festa no mundo do YouTube. Acontece que ele se machucou feio e passou um tempão fora das quadras, voltou meia-boca e acabou sequer sendo draftado na NBA (o que é meio bizarro, porque nas últimas escolhas da segunda rodada a força nominal conta muito!). Acabou tendo que se virar na Liga de Desenvolvimento da NBA, onde chutou traseiros, e também na Europa. Ganhou oportunidades com o Mavs e o Spurs, mas sempre jogando mais na D-League do que qualquer outra coisa, onde ele é atlético demais para o resto da criançada. Mas foi o Raptors quem decidiu dar para o Nana Papa uma chance de verdade, com minutos em quadra e um papel na equipe: vir do banco de reservas e trazer energia, enterradas e – por que não? – cabeçadas. Rapidinho virou um dos favoritos da torcida e o Houston percebeu que, em terra de cego, quem tem um olho é caolho. Ou seja, para um time sem pivôs, um cara que vem do banco para incendiar o jogo e dar um par de cravadas já é um baita avanço.
No fundo, o Pops é a reencarnação do Stromile Swift, embora o Swift ainda não tenha morrido (taí um caso para intrigar a mente dos budistas!). Cheio de potencial, vive em Top 10 de melhores enterradas, abarrotado de energia, mas deve morrer aos 80 anos sem ter feito muita coisa, sem evoluir seu jogo e ainda ouvindo papos, no leito de morte, de que tem muito potencial e deveria receber uma chance de algum time da NBA. O engraçado é que o Rockets já foi um dos 482 times do globo a apostarem no Swift e desistirem bem rápido. Se o Pops for minimamente superior, se ele for capaz de trazer qualquer outra faceta ao seu jogo (defesa, visão de jogo, cozinhar mariscos, costurar meias furadas), então a aposta terá dado resultado.
Com tantos times incapazes de acrescentar qualquer jogador (Heat, estou olhando pra você), é surpreendente que o Houston tenha arrumado duas apostas sei lá de onde. Pra mim está ótimo, o time vai feder uns tempos mas pelo menos tenho um par de jogadores para acompanhar de perto (e xingar pra burro, se for o caso) durante minha maratona assistindo aos jogos do Rockets na temporada (o League Pass vem aí, moçada!). Vou deixar todos vocês bem informados com o desempenho da dupla, e podem apostar em pelo menos alguns vídeos de enterradas do Pops aqui e no nosso Tumblr. Aliás, por falar em vídeos do sujeito, a Dime postou há um tempo atrás algo que me deixou um tanto sorridente (a não ser pela música, mas deixa pra lá):
Dá pra se entreter e salivar um pouco antes da Copa América, não dá?