>Última chance

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Darko se segura como pode, mas ainda fede

A pior coisa que poderia ter acontecido para o Darko Milicic era ter sido draftado pelo Detroit Pistons. O time já chutava traseiros, linha laços muito fortes entre os jogadores e não estava nem um pouco interessado em dar minutos para um pirralho bem cru que precisava amadurecer em quadra. Mofando no banco, Darko foi campeão com média de uns 5 minutos por partida – e isso porque só entrou num terço dos jogos. Não dá pra saber como teria sido se o Pistons tivesse draftado Carmelo Anthony, talvez por já ter chegado na NBA como um jogador mais preparado ele tivesse conquistado mais minutos em quadra, mas é bem possível que por não defender bulhufas ele acabasse mofando no banco. O problema é que o Darko precisava aprender a jogar, seu ataque sempre foi limitadíssimo, e sem minutos ele estava fadado a desaparecer do mundo do basquete.

Quando fugiu para o Magic, passou a ter mais minutos e mostrar uma produção consistente. Dava pra ver o potencial que explicava uma segunda escolha do draft, mas ainda tão cru que até se desenvolver o mundo já teria terminado com o colapso decorrente da morte do Silvio Santos. Mas como potencial é o que liga, o Grizzlies acreditou e contratou, só não decidiu o que ia fazer com o pobre Darko. Titular ou reserva? Atacar ou defender? Desenvolver ou mandar embora? Pra agora ou pro futuro? Pra comer aqui ou pra viagem? Sem saber o que fazer, o Darko escolheu aquilo que faz melhor: feder.

Assinado agora pelo Knicks, Darko tem um esquema que encaixa com seu estilo de jogo, fazendo com que ele corra, use seu físico e jogue de frente para a cesta. Tem um técnico louco que se finge de desesperado porque “alguém tem que defender no time”, e que está disposto a bancar o Darko nessa função. Tem um time sem pretenções de coisa alguma mas que receberá a atenção de todo mundo. E a promessa de um lugar numa equipe que irá se transformar na temporada que vem, assinando grandes estrelas. Ou seja, a situação é a melhor possível para o Darko, o mais distante que ele já chegou daquele Detroit Pistons em que nem peidar ele podia. Ele ainda fede, a gente sabe, mas é a última chance que ele terá na NBA. Se der errado, o próximo time que assiná-lo é a mulher do padre.

Existe outro jogador exatamente nessa mesma situação no Knicks. Inicialmente acreditava-se ser uma lua pequena, presa pela gravidade da Terra, causando alguns eclipses solares. Depois, cogitou-se a possibilidade de ser apenas um meteoro, vagando lentamente pelo Universo e colidindo com a Terra sem muito estardalhaço. No entanto, conforme o tamanho do meteoro foi crescendo em nossa atmosfera, mais estudos mostraram-se necessários. Pesquisas recentes apontam que trata-se apenas de um jogador de basquete chamado Eddy Curry.

Daftado com uma quarta escolha, o Curry recebeu toda a paciência e apoio do Bulls. Era a época em que os fãs estavam enchendo o saco de saudade do Jordan, e o Bulls só empilhava pirralhos para tentar reconstruir uma equipe antes dos anos três mil. Os fãs não tinham paciência, mas o Curry foi se transformando num pivô respeitável, embora incapaz de levantar os braços para pegar um rebote. Quando acabou seu contrato, meio queimado com os torcedores, arrumou uma troca com o Knicks (vamos todos tirar um momento de nossas vidas para rir do que o Bulls recebeu naquela troca: Tim Thomas, o homem que não gosta de jogar basquete; Jermaine Jackson, o homem que foi demitido em seguida e tem o nome do irmão do Michael Jackson; e Michael Sweetney, o gordo que rolou sua vida pra fora da NBA).

Quando as coisas começaram a dar certo para o Curry, sua forma física foi pro saco. Apareceu para a pré-temporada gordo, lento e com dores nos joelhos. Com o D’Antoni assumindo a equipe, o único jeito do Curry jogar obeso assim seria se ele aprendesse a rolar muito rápido, ou se ele ficasse apenas no ataque, versão basquetebolística do Romário. Quando apareceu pelo segundo ano seguido fora de forma no ínicio de temporada, Curry foi parar no fim do banco de reservas e, sabe como é, gordo deprimido só fica ainda mais gordo. Na temporada passada, se não bastasse ele não ter minutos de jogo, sentir o joelho e estar obeso, ainda teve que lidar com o assassinato de sua ex-namorada e de seu filho, a perda de sua casa graças a dívidas (casa que havia sido assaltada um ano antes) e um processo por assédio sexual, aberto pelo seu motorista particular. Não é bolinho não, embora certamente o Curry tenha comido muitos bolinhos pra esquecer. Foi um ano lastimável para ele e o surpreendente seria que fosse capaz de jogar basquete com tanta coisa acontecendo na vida. Só de pensar já dá desânimo de viver num mundo tão deprimente.

Mas o Eddy Curry está de volta, perdeu vinte quilos e tem planos de perder mais dez até a temporada começar. Mesmo que ele não consiga um lugar no ataque velocidade-da-luz do D’antoni (o Curry é, no máximo, um Cavaleiro de Prata), se ele conseguir entrar um pouco que seja em quadra, com certa regularidade, já será o bastante para que ele tenha chances de ser trocado e comece de novo em outra equipe, novos ares, novas expectativas. Do jeito que está, a carreira do Curry acabou. Com uns minutinhos aqui, outros ali, ele pode ganhar a oportunidade de um recomeço. Darko e Curry são dois pivôs no Knicks, ou seja, posições meio ingratas para um técnico que prefere usar um anão de cuecas dentro do garrafão, mas os dois estão jogando pelas suas carreiras. Será uma temporada bacana de acompanhar.

Curiosamente, existe um outro pivô ligado ao Knicks que também tem em jogo suas últimas chances de ter uma carreira na NBA. Channing Frye foi draftado pelo Knicks com a oitava escolha e foi uma enorme surpresa. Mostrou ter um jogo muito refinado, com arremessos de média e longa distância e muita graça perto da cesta (graça de bailarina, não graça Ari Toledo, por favor). Foi titular um bom tempo e todo mundo considerava o jogador uma das grandes sacadas do Isiah Thomas, que draftou o moço e bancou sua presença em quadra ao lado do Eddy Curry. Funcionava bem, um jogava bem dentro do garrafão e o outro fora, eles se complementavam. Mas o mais interessante é como os dois se complementavam para formar a pior dupla de garrafão defensiva de todos os tempos, perdendo até para Nenê e Juwan Howard naquele finado Nuggets que tinha nosso brasileiro ainda novato – e ainda magro.

Mas o Frye teve uma ótima temporada e começou a ser alvo de propostas de troca. O Isiah Thomas deixou bem claro que o Frye era intocável, uma das estrelas jovens da equipe e em volta da qual o time seria construído. Nenhuma troca seria boa o bastante. Só que o Channing Frye se contundiu na primeira temporada e voltou lento e fora de forma para a segunda. Piorou em todos os quesitos, começou a mostrar que era apenas um novato assustado, e a torcida do Knicks caiu matando porque não tinha mais paciência com o burro do Isiah Thomas. A torcida queria jogadores de verdade, experientes, comprovados, não um novato que caía de produção de uma temporada para a outra. Foi assim que o Frye foi trocado pelo Zach Randolph, naquela famosa troca em que o Blazers melhorou muitíssimo ao perder seu maior cestinha. O Blazers é um time esperto, com planejamento, e não havia espaço para o Frye – o objetivo era só se livrar do Randolph, que é bom pra burro mas afunda qualquer equipe. A equipe é profunda demais e o Frye nunca teve chances por lá, relegado ao banco. De intocável, estrela do futuro, caiu para ser eleito o melhor décimo cara num banco de reservas de uma equipe que começa com “B” e acaba com “lazers” (famoso troféu, esse).

Até que o Suns sem Shaq resolveu apostar no garoto. Qualquer um que consiga trocar uma lâmpada serve, altura é o que pega. O único pivô da equipe é o Amar’e, que não é um pivô, então a gente sabe que o negócio tá feio. O Robin Lopez, que é tão secundário que seu nome é até Robin, pode conseguir uns minutinhos mas não apenas tem reserva tatuado na testa como também se contundiu e deve passar as próximas 6 semanas fora das quadras. O Channing Frye chega na equipe, então, não para ser um reserva com vários minutos. Ele chega para ser titular.

O técnico do Suns, Alvin Gentry, avisou que o Frye destruiu nos treinos, impressionou todo mundo e vai ser o pivô titular. Mas só no papel, porque o pivô de verdade vai ser o Amar’e Stoudemire, com o Frye jogando de ala. Segundo o Gentry, no boxscore vai aparecer o Amar’e de ala e o Frye de pivô só para o mala do Amar’e não reclamar o tempo inteiro de ter que ser pivô. Ou seja, o Stoudemire é um porre.

Assim como Darko e Curry, o Frye tem uma situação que pode salvar sua carreira. Seria triste que qualquer um dos três virasse farofa porque têm muito potencial e sabem jogar basquete, só precisam de um pouco de sorte (e de um pouco de regime, né, Curry?). Todos vamos acompanhar o Knicks de perto nessa temporada, em que está em jogo a chance da equipe de contratar LeBron James. Mas talvez o mais legal de ver seja o Suns e seu novo pivô titular, tentando provar que o Isiah Thomas não é um burro completo, apenas um tanto imbecil e incompetente. E burro, claro.

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