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Michael Jordan atesta: nem ele daria certo jogando de ala de força

Quando o Stephen Jackson finalmente se viu livre do Warriors e foi trocado para o Bobcats, onde finalmente podia ser reconhecido por sua habilidade defensiva, outro jogador também adquiria uma sonhada liberdade com essa troca. O beneficiado foi Gerald Wallace, eternamente descontente no Bobcats por ter sempre que jogar dentro do garrafão. O Wallace foi escolhido pelo Bobcats no draft de expansão, uma espécie de fim de feira em que a equipe de Charlotte podia escolher os restos de qualquer equipe da NBA, um troço bastante sem dignidade tipo lamber o prato de alguém. Na época o Gerald Wallace jogava apenas um par de minutos no Kings, não havia espaço para ele (aquele time era bom demais e traz lágrimas saudosas aos nossos olhos) e então ficou na lista de sobras para ser escolhido pela franquia iniciante. O Bobcats fez ótimo negócio, se alguém prestasse atenção na equipe mais “blah” da NBA então o Gerald Wallace já teria recebido uns votos para defensor do ano várias vezes. Poucos jogadores são tão atléticos na defesa, tanto nos tocos quanto interceptando as linhas de passe, e sempre foi um excelente reboteiro para seus míseros 2,01m de altura. Apenas uma coisa sempre prejudicou a defesa do Wallace: jogar de ala de força.

Como o time foi montado com peças que estavam sobrando e poucas escolhas de draft, acabou saindo uma espécie de Frankenstein, tipo o atual Clippers (com a diferença de que o Clippers ficou assim por livre e espontânea vontade dos engravatados responsáveis). Então eles nunca tiveram um pivô na vida e acabaram improvisando o Emeka Okafor na posição. Na realidade ele deveria ser um ala, mas como só tinha ele para segurar as pontas, acabou virando o pivô titular por anos e anos a fio. Para fazer dupla de garrafão com ele também nunca teve ninguém, então o Gerald Wallace sempre teve que aturar a posição. A política no Bobcats sempre foi draftar os jogadores mais talentosos disponíveis vindos de times vencedores na universidade – o que acabou rendendo uma enorme quantidade de alas-armadores, baciada para vender pela dúzia. O time nunca ficou tão talentoso assim, a mentalidade vencedora dos draftados não dura muito em times que fedem, e os buracos que existiam no nascimento no time nunca foram arrumados. Ou seja, fodeu.

O Gerald Wallace amargou anos de garrafão sem reclamar, mas como todo mundo que já teve diarreia depois de comer feijoada sabe, o corpo uma hora reclama. Tomando porrada de jogadores muito maiores e mais pesados do que ele, acabou se contundindo em todas as suas 5 temporadas com o Bobcats. Lutar por rebotes contra caras que podem te usar de banquinho não é nunca uma boa ideia para o físico, e o estilo de jogo do Gerald Wallace também é, por si mesmo, bastante propenso a contusões. Como o arremesso nunca foi o forte, ele ataca muito a cesta, enterra muito, e está sempre sobrevoando o garrafão defensivo em algum toco na marcação por cobertura. Basta um punhado de vezes voando por todo lado e marcando o Duncan ou o Amar’e e a carreira de qualquer um vai pro pinico, provavelmente numa cadeira de rodas.

Quando a saúde do Gerald Wallace começou a definhar mais rápido do que carreira de Big Brother, o Bobcats enfim draftou alguém para ficar no garrafão com o Okafor: seu nome era Sean May. Não é difícil colocá-lo na lista de piores escolhas de draft de todos os tempos, a única dificuldade para isso seria o Sean May comer essa lista com azeite e sal. Sempre com problemas de peso, foi mandado pra rua rapidinho e o Bobcats continuou a ter o garrafão mais magricela da NBA. Na temporada passada, o Gerald Wallace enfim bateu o pé e disse que não jogaria nunca mais na vida de ala de força, que a sua saúde era mais importante do que o basquete. Uma decisão comparável ao viciado parando com a cocaína para aumentar as chances de ver seus filhos crescerem, principalmente se lembrarmos da força de alguns jogadores de garrafão nessa liga (o Dwight Howard come ônibus escolares no café da manhã).

Agora, o garrafão do Bobcats tem Tyson Chandler e Nazr Mohammed como pivôs. Eu ainda não entendo como o Mohammed caiu tanto na NBA se ele era tão bom na sua época de Knicks, quando ele era considerado o próximo grande pivô da liga e peça fundamental da equipe (tão fundamental quanto o Channing Frye, e olha o que aconteceu com os dois… acho que o pessoal em New York não tem muita paciência). A moral do Mohammed, então, não é muito alta e ele joga pouco, assim como o Chandler, que está sempre lesionado. Ainda assim, o Bobcats finalmente tem a profundidade necessária para afastar Gerald Wallace do garrafão – tudo culpa do Stephen Jackson.

O Wallace sempre foi o melhor jogador defensivo da equipe, disparado. Agora, a obrigação de marcar o melhor jogador adversário vai para o Stephen Jackson, que se diverte com a obrigação e finalmente sente que seu trabalho é admirado. Tanto ele quanto Gerald Wallace e Boris Diaw podem jogar nas duas posições de ala, além de quebrarem bons galhos na armação. Isso significa que o Bobcats tem três jogadores capazes de jogar como armadores, alas ou no garrafão, dependendo dos adversários, do bom humor e da pressão atmosférica. Com isso, o Stephen Jackson pode começar o jogo como armador arremessando como um louco, atuar como armador puro às vezes chamando as jogadas, de repente se tornar ala-armador na defesa e mais pra frente ir para o garrafão marcar algum ala de força ou jogar de costas para cesta. Enquanto isso, o Boris Diaw vai tapando os buracos toda vez que o Stephen Jackson muda de posição, sendo que já jogou até mesmo de pivô no Suns e tem experiência como armador principal no Hawks.

O Gerald Wallace participa desse troca-troca também, mas com moderação. No garrafão, não precisa jogar mais. Então ele pode ficar mais longe do aro arremessando, não precisa segurar jogadores muito maiores do que ele, e não coloca uma pressão tão grande no próprio corpo. Os resultados até agora são espetaculares: sem ter que brigar por posicionamento perto do aro, Gerald Wallace agora é o líder de rebotes da NBA. O líder. De rebotes. Você leu direito. São 12,3 rebotes de média por partida, além de um roubo e meio e praticamente um toco por jogo. São números que finalmente podem colocá-lo na briga de melhor defensor da temporada e, ao contrário do Dwight Howard, ele realmente é um bom defensor, olha que legal. O engraçado é que o Gerald só pode render tanto assim como defensor porque o Stephen Jackson está fazendo um excelente trabalho defensivo no garrafão e parando as estrelas adversárias – então não deveria ser ele o cotado para defensor da temporada? Foi ele quem torrou o saco do Carmelo Anthony ontem e permitiu que o Gerald Wallace se focasse no ataque, numa vitória bem categórica em cima do Denver Nuggets (aquele que fez xixi na festa da volta do Iverson ao Sixers).

Finalmente estamos falando de um time digno de alegria para o técnico Larry Brown: dois defensores expetaculares, tornando um ao outro ainda melhores. Desde que o Stephen Jackson chegou no Bobcats, foram 6 vitórias em 11 partidas, o que é mais da metade e é o suficiente para ficar lá no alto do Leste (na verdade, mesmo com o começo difícil, o Bobcats está em sétimo na tabela, empatado em número de vitórias com o surpreendente Bucks que está em sexto) . Nas últimas 8 partidas, foram 6 vitórias – incluindo uma sequência de 4 vitórias seguidas com direito a atropelar o Cavs. O time tem outra cara, outro ritmo, bons defensores, confiança no ataque. Uma das duas derrotas dos últimos 8 jogos foi contra o Celtics, então foi muito justificável. Mas a outra… bem, a outra foi contra o Nets – a primeira vitória da equipe na temporada depois de perder suas 18 primeiras partidas.

Não há justificativa para perder pro Nets, é como ser derrotado no vôlei por alguém sem braços. Mas pelo menos foi uma derrota para o Nets com técnico novo, Devin Harris de volta, Chris Douglas-Roberts titular e pontuando como um louco, e o Brook Lopez mostrando que é no momento o melhor pivô do Leste (se ele não for All-Star vai ser mais vergonhoso pra NBA do que na temporada passada quando o Al Jefferson acabou não sendo chamado). Esse mesmo Nets chutou o traseiro ontem do Bulls, então acho que dá pra dar um sorrisinho amarelo e tentar acreditar que não é uma derrota tão feia assim. O Nets mostrou contra o Bulls que não dá pra entrar de salto alto contra uma equipe que na verdade não fede tanto assim como a tabela mostra. Não há nenhuma dúvida de que a equipe de New Jersey vai ter mais de 9 vitórias e escapar do recorde de pior campanha de todos os tempos. Mas enquanto isso, o Bobcats parece dar passos decisivos rumo aos playoffs, com um Gerald Wallace líder em rebotes – e um Stephen Jackson responsável por isso. Quem achou que logo ele seria trocado errou feio: ele é agora a alma dessa equipe.

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