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Na noite de sábado, mais um time ruim teve que tentar superar a má fase sem sua principal estrela. Nós sabemos que com o Nets não deu muito certo, já que sem o Devin Harris o time fede ainda mais e acabou batendo o recorde de pior começo de temporada em todos os tempos, com 18 derrotas seguidas. Mas para o Kings, sem Kevin Martin, tudo anda dando bastante certo. É aquela famosa “Síndrome de Gilbert Arenas”, em que para compensar a falta de seu melhor jogador o time marca mais, distribui mais a bola e acaba se saindo melhor do que se estivesse completo. O Houston Rockets, sem Yao Ming e sem Tracy McGrady, está se dando muito bem, obrigado. Dizem que o T-Mac está em plenas condições físicas de voltar às quadras mas o time está dando uma de garota difícil e deixando ele de escanteio, com medo de que sua volta estrague tudo.
Mas o Indiana Pacers existe por cupa do Danny Granger, não dá pra imaginar esse time sem ele. Na temporada passada ele flertou com o posto de cestinha da temporada por uns tempos, nessa temporada está entre os 10 primeiros em pontos – e é disparado o jogador que mais arremessa de três na NBA. Todo o ataque do Pacers passa por ele, mas ele sequer seria reconhecido na rua porque ninguém poderia se importar menos com o time de Indiana desde que o Reggie Miller virou o pior comentarista esportivo do planeta e o Jermaine O’Neal levou seu joelho paraguaio para outro lugar. Além de ter um nome capaz de gerar um belo trocadilho (“Granny Danger”, algo como a “Vovó Perigo”), o jogo do rapaz é espetacular. Tem um alcance e uma facilidade de arremesso que lembra o Kobe, uma explosão física que lembra LeBron, e um cérebro que lembra o Zach Randolph, o que gera um monstro bizarro que faria sucesso em muitos zoológicos mas não ganharia muitos campeonatos de xadrez por aí.
O Danny Granger pontua até de olhos fechados, mas na maior parte do tempo ele é obrigado a isso porque não resta muita gente na equipe capaz de atacar a cesta. A maior prova disso é que Dahntay Jones, que fez carreira como jogador defensivo desde que entrou na NBA e nunca teve mais do que 7 pontos por jogo de média, está marcando 15 pontos por jogo nesse Pacers. No Nuggets, o Dahntay Jones era aquele caso típico de jogador titular que entra só para defender a estrela adversária e sai rapidinho para deixar alguém que sabe jogar basquete entrar em quadra. Se ele pontua tanto no Pacers é porque não tem muita gente melhor pra fazer o trabalho, o que é desesperador. O ponto positivo é que ele já é um dos favoritos para o prêmio de jogador que mais evoluiu na temporada, o que pelo menos vai colocar alguém desse time no mapa (o próximo plano era convencer alguém do elenco a posar pelado para calendários de borracharia).
Depois de uma sequência de 9 derrotas seguidas, com o Danny Granger enfrentando dores nos joelhos e no calcanhar que estão torrando seu saco desde a pré-temporada, finalmente o corpo dele resolveu adotar a tática Chris Paul de “esse time fede então vou ver o filme do Pelé” e rompeu um tendão. Serão meses fora, deixando o Pacers – que já é um time semi-nu e numa sequência terrível de derrotas – completamente pelado. Mas o exemplo do Kings parece ficar cada vez mais e mais comum: sem o Granger, o time colocou mais responsa nas costas de Mike Dunleavy, que acaba de voltar de uma contusão que o tirou de todo o começo de temporada, e também do novato Tyler Hansbrough, que teve excelente pré-temporada, e o negócio deu certo. Primeiro chutaram cachorro morto, dando uma surrinha no Nets, algo que eu e o Denis faríamos acompanhados de outros três macacos adestrados de circo. Mas depois venceram o Wizards numa partida importantíssima: ou essa partida afirma que o Pacers tem chances de jogar em alto nível sem o Granger e continuar se segurando pelas beiradas sonhando com uma oitava vaga no Leste, ou então ela afirma que o Wizards não tem qualquer chance de porcaria nenhuma, fede pra burro, e deveria desmontar e começar de novo.
É que por tantos anos ouvimos sem parar que o Wizards só fede porque o trio principal da equipe nunca está saudável, nunca jogam juntos, ou nunca rendem juntos. No sábado, os três jogaram demais: Jamison praticamente não errou arremessos, inclusive várias bolas de três, e acabou com 31 pontos; Caron Butler defendeu muito bem e terminou com 23 pontos; e o Gilbert Arenas finalmente fez algo digno de nota desde que fechou seu blog, acabando o jogo com um triple-double de 22 pontos, 10 rebotes e 11 assistências. E se não fosse o bastante, o Boykins ainda jogou demais, principalmente no quarto período, e terminou o jogo com 14 pontos. Continua impressionante como sempre ver esse anão infiltrando no garrafão e jogando até de costas para cesta, empurrando seus marcadores para dentro e enfiando um par de arremessos giratórios em suas fuças. Só que mesmo com todas essas atuações de gala, o Wizards conseguiu perder uma partida ganha, graças ao Arenas errando seus dois lances livres com 6 segundos para o fim do jogo com seu time vencendo por 1 ponto, e depois com o Haywood cometendo uma falta no Dunleavy com 0.1 faltando no cronômetro. Ao contrário do Arenas, Dunleavy converteu os dois e aí está o Pacers sem Granger numa sequência de duas vitórias.
Que desculpas o Wizards pode dar agora? Talvez a pressão atmosférica, o alinhamento de Júpiter com Saturno, ou então a cotação do dólar. Jamison já disse que botar a culpa no esquema tático é besteira, que eles entenderam perfeitamente o sistema desde a pré-temporada e que o técnico Flip Saunders está fazendo um excelente trabalho. O técnico é bastante defensivo e o Wizards inteiro provou que sabe defender (ao menos quando está sem o Arenas) em várias ocasiões, então não tinha como ser falta de defesa. O que acontece com essa equipe é inexplicável, se não bastasse eles serem amaldiçoados com a cota de trocentas contusões anuais, ainda perdem jogos fáceis mesmo quando todo mundo faz sua parte.
Aliás, o Arenas precisa começar a reconsiderar sua fama de ser matador nos segundos finais dos jogos – ao menos na linha de lances livres. Todo mundo lembra que o Wizards perdeu aquela série de playoff para o Cavs quando o LeBron passou pelo Arenas, na linha de lance livre, e disse que se o Arenas errasse o jogo estaria perdido porque o LeBron acertaria uma cesta final. Dito e feito, o Arenas fedeu e o LeBron ganhou o jogo numa cesta alucinante. Agora, outro jogo vai pro ralo em situação semelhante, e isso porque o Arenas acerta 80% dos lances livres em sua carreira. Nervos de aço uma ova, ninguém nesse Wizards amaldiçoado tem cabeça para segurar a crise.
Enquanto isso, o Pacers ganhou algum ânimo passando justamente o Wizards na tabela. Estão encostadinhos na oitava vaga, e pegam o Magic na segunda-feira. Como acompanhar o Kings empolgado valeu tanto a pena, e como o meu Rockets sem estrelas é – juro – o time mais divertido de se ver jogar na temporada, prometo dar uma espiada no Pacers. O Mike Dunleavy, eterno “o próximo Larry Bird”, finalmente mostrou que sabia jogar basquete na temporada passada, só não durou muito tempo saudável. Se ele está de volta agora, e vindo de sua melhor partida no ano, merece atenção. Já o Wizards perdeu as 4 últimas partidas e já está começando a passar vergonha – a sorte deles é que ainda existe o Sixers na Conferência Leste. Se não bastasse a equipe da Philadelphia estar com a pior sequência de derrotas atual, com 12, ainda estão passando uns vexames ridículos. O Iverson fez sua “via sacra” da vergonha, passando por todos os times que o acolheram em sequência (Nuggets e Pistons) e perdendo feio nas duas vezes. Aliás, perder feio é pouco, o que o Rodney Stuckey fez com ele foi pior do que isso:
Esse é um belo sinal de que o tempo passa, o tempo voa, e a Poupança Bamerindos vai à falência. O que o Iverson fez ao Jordan agora é feito com ele. E o que o Arenas tanto se orgulhou de fazer, ganhando jogos no finalzinho, agora é o que ele toma na cabeça. O Wizards não tem muitas chances apesar do elenco incrível, mas todas as noites eles podem colocar a cabeça no travesseiro e agradecer: “pelo menos não somos o Sixers. Pelo menos não somos o Sixers.”
Se as coisas continuarem tão feias, talvez seja a hora de tentar uma tática ousada que parece estar dando certo por aí: ficar sem a estrela. Talvez se o Arenas se machucar de novo, ou se o Iguodala tirar umas férias, dê um pouco certo. Veremos, de perto, até quando o truque funciona pro Pacers.