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Tim Duncan adora chamar a atenção
Uma vitória acima de 50% de aproveitamento, um pouco mais de vitórias em casa do que fora. Seis vitórias e 4 derrotas nos últimos 10 jogos, o décimo melhor ataque da NBA e a nona melhor defesa. Esses números medianos, nada espetaculares e longe de serem comprometedores são estranhos só porque são do Spurs.
Nos últimos 10 anos nos acostumamos a ver o Spurs sempre na ponta, sempre brigando por títulos. Mas como já disse nesse post sobre o Hawks, tá na hora de aceitar que o Spurs é, atualmente, um time comum na NBA.
Tá bom que eles são tão sem graça, mas tão sem graça que nem uma queda trágica e melancólica eles conseguem, até na hora de ir pro ralo eles são lentos e discretos. Aos poucos foram caindo, abalaram o mundo ao não ganhar a NBA em um ano ímpar no ano passado e agora estão em oitavo no Oeste, atrás do Thunder. Tudo bem que estão em oitavo mas só com apenas umas 3 vitórias da área de mando de quadra nos playoffs, por isso não dá pra dizer que o Spurs precisa mandar todo mundo embora e começar de novo o time agora mesmo, mas é fato que não assusta ninguém ver a espora no calendário do seu time.
Essa falta de receio chegou a seu extremo ontem, quando o Suns, o maior freguês do Spurs em todos os tempos, venceu o primeiro confronto direto entre os dois times na temporada apesar do Tim Duncan continuar abusando do Amar’e Stoudemire como se o TD fosse o Polanski e o Amar’e uma menina de 13 anos. É impressionante como o STAT enfrentou o Duncan milhares de vezes e ainda não tem idéia de como se faz para pará-lo, uma defesa um pouco melhor e ele poderia ser facilmente um dos cinco melhores jogadores da NBA.
Duncan e Amar’e à parte, a estrela do jogo de ontem foi o Goran Dragic. O moleque destruiu com o Spurs e marcou seus 18 pontos, máximo da carreira, sempre quando o time precisava mais. A alegria de todos no banco de reservas era tamanha que eu acho que ele deve ser o cara mais legal do mundo fora da quadra e tava todo mundo esperando ele ter esse grande jogo. Mas por melhor que o Dragic tenha sido, foi a única grande ajuda além de Nash e Amar’e que o Suns teve. Alguns anos atrás isso não seria o bastante para bater o Spurs.
Alguns anos atrás, na verdade, era difícil qualquer jogador que não fosse grande coisa ter o jogo da carreira contra o Spurs. Se estivéssemos em 2007 o Dragic ia ter o jogo da vida dele contra o Kings ou o Knicks, não contra o San Antonio, fazendo pontos na fuça do Ginobili e do Tony Parker.
Outro fato bem interessante do jogo de ontem foi a velocidade da partida. Foi um jogo corrido, com placar alto (116 a 104) e mais de 85 arremessos para os dois lados (mais de 95 para o Suns), ou seja, o jogo foi no ritmo do Suns. Antigamente mesmo quando o Suns eventualmente ganhava, era jogando naquele jogo lento, amarrado e de meia quadra do Spurs. Como por exemplo aconteceu ontem mesmo quando o Bobcats ditou o ritmo da partida e fez o Knicks arremessar apenas 75 bolas no jogo todo, com vitória dos Bobgatos.
Mas mesmo assim não é pra sair por aí dizendo que o Spurs tem a pior defesa da NBA, que eles tomam ponto como se tivessem o Betão na defesa. Eles ainda tem o Duncan que é um puta defensor de garrafão e outros bons jogadores no perímetro. Também não dá pra dizer que eles só dependem de Parker e Duncan para fazer os pontos no ataque. O Richard Jefferson foi contratado pra dar uma força, o Ginobili está de volta e a pivetada liderada por George Hill e Dejuan Blair tem jogado bem. Aliás, esses moleques, principalmente o Blair, também servem pra tirar o estigma de time velho que o Spurs ganhou nos últimos anos.
Em alguns momentos do jogo o San Antonio joga com George Hill, Richard Jefferson, Roger Mason, Duncan e Matt Bonner, por exemplo: não é um time velho, tem bons defensores, tem arremessadores, tem caras de garrafão, tem experiência, tem o melhor ala de força de todos os tempos, nada do que reclamar. Mas não é mais o bastante, simples assim.
Ao longo da última década criamos um padrão Spurs de excelência em que esperamos sempre o melhor time, o mais bem preparado, o que não comete erros, mas depois de tantos anos o Spurs estacionou e está naquele terrível limbo do meio termo. Ele não tem defeitos óbvios mas não é o melhor em nada.
Lembra quando o Timberwolves do Kevin Garnett passou uns 7 anos seguidos sempre indo aos playoffs mas nunca passando da primeira rodada? Ou o Pistons de Grant Hill e Jerry Stackhouse, que era um bom elenco mas que não ia longe? Ou mesmo o Atlanta Hawks dos últimos anos? Pois é, é o Spurs de hoje. Um time bom, um time com peças decentes em todas as posições mas que é só ver em ação para ter certeza de que não tem chance de ir longe. Eles vão ganhar dos Warriors da vida mas vão parar com facilidade nas mãos de Lakers, Nuggets, Mavs e, como vimos ontem, até do Suns, time que eles conheciam mais a fundo do que a gente conhece a Mônica Mattos.
O que é diferente no caso do Spurs em relação aos times que eu citei é a história recente. Nenhum deles vinha de uma base vencedora com uma torcida que se acostumou a grandes glórias. Para o Hawks, depois de tantos anos de times medíocres, é até legal estar nesse meio termo do Leste. Mas para o Spurs incomoda os jogadores, incomoda a torcida e chama a atenção da gente. Estou aqui falando mal do Spurs e sou capaz de aparecer amanhã exaltando o Kings, que tem três vitórias a menos só porque deles eu não esperava nem que soubessem bater bola.
Essa esperança constante sobre o Spurs cria uma pressão, mas o que eles irão fazer com ela? Vão manter o time até o Duncan aposentar? Vão trocar metade da equipe? Vão esperar os mais novos evoluirem? Vão deixar o Ginobili sair do time na temporada que vem quando virar Free Agent? Embora ainda tenha muita, muita temporada pela frente, com tempo de sobra pra ajeitar o que está aí em quadra, é, mais do que nunca, hora do Spurs pensar no futuro.
O Pistons que eu citei, do Stack e do Hill, era bom, os dois juntos faziam mais pontos que Kobe e Shaq juntos na época, mas eles decidiram que mesmo assim era hora de trocar os dois. Foi uma reformulação total. Em troca conseguiram caras como Richard Hamilton e Ben Wallace, a base do time campeão de 2004. Já o Wolves saiu do limbo adicionando mais gente ao elenco que tinha, sem perder nada, Sprewell e Cassell chegaram e levaram o time a uma final de conferência.
Pela postura do Spurs nos últimos anos e até pela movimentação do time nessa offseason, quando decidiram pagar multas por extrapolar o teto salarial pela primeira vez em anos, aposto que eles vão pelo mesmo caminho do Wolves. Não acho que vão aceitar ficar no meio termo em que estão. Vão adicionar veteranos e jogadores de peso enquanto o Duncan continuar a jogar, esperando aproveitar seus últimos anos de carreira ao máximo.
Nos próximos anos, se veremos velhos fazendo papel de bobo ou um candidato ao título, tudo depende das trocas e contratações que o Spurs vai arrumar quando decidir se mexer. Essa semana mesmo o Greg Popovich estava resmungando (ainda!) sobre a troca que levou o Pau Gasol para o Lakers, dizendo que uma troca ruim do Grizzlies mudou a cara da NBA inteira, redefinindo quem é forte e fraco no Oeste. Uma reclamação de quem torce muito para ser o beneficiado na próxima burrada.