>Só defesa

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Kevin Garnett com certeza está falando sobre o Gilbert Arenas

Ao fim do massacre do Celtics em cima do Cavs por mais de 30 pontos, perguntaram para o Garnett qual havia sido o plano ofensivo para aquela noite. O Garnett ficou até surpreso: “Ataque? Nem pensamos no ataque!”. Confessou tranquilamente que o único plano desenhado era para a defesa, e que foi ela quem permitiu o bom andamente ofensivo. É por isso que o melhor modo de entender o que está acontecendo nessa série até agora é estudar as diferentes defesas que o Celtics utilizou. Foram diversas variações, todas focadas em apenas uma coisa: parar LeBron James.

Jogo 1
Defesa do Celtics: Paul Pierce ficou responsável por marcar LeBron individualmente, com a ajuda chegando apenas nas infiltrações. A ideia foi marcar o Cavs como se eles fossem um time comum e o Paul Pierce fosse um baita defensor. Rá.
Resposta do Cavs: O LeBron chutou o traseiro do Paul Pierce logo no começo do jogo, jogando principalmente dentro do garrafão e de costas para a cesta. Quando infiltrou, a ajuda chegou sempre atrasada e ou cometeu faltas ou deixou os jogadores de garrafão livres para enterradas. Vitória do Cavs.
Jogo 2
Defesa do Celtics: Marcação dupla em LeBron James quando ele ultrapassou a linha de três pontos, forçando que ele passasse a bola. Além disso, o Celtics apertou a saída de bola para tentar evitar que o LeBron saísse armando o jogo, para ter que receber a bola já na quadra de ataque.
Resposta do Cavs: LeBron teve que bater para dentro antes da marcação dupla chegar, o que faz o Cavs jogar num ritmo muito rápido, errar mais e permitir mais contra-ataques. Nos três primeiros quartos, LeBron preferiu passar a bola para alguém livre, sempre no perímetro, e o resultado foi muito ruim porque o Mo Williams fedeu. No final do jogo LeBron tentou ser mais agressivo e o resultado foi melhor. A marcação pesada na saída de bola levou a muitos erros de reposição e a uma tonelada de pontos fáceis para o Celtics, já que o Cavs não soube o que fazer. Apesar de uma recuperação no segundo tempo, o Celtics tinha aberto uma vantagem grande demais a princípio – essencial para vencer um time com LeBron. Além de evitar que a estrela possa decidir o jogo no final, abrir uma vantagem logo de cara permite que o banco do Celtics possa produzir sem muita responsabilidade, porque quando o jogo está apertado ninguém tem coragem de fazer merda e ameaçar tomar surra de chinelo do Garnett no vestiário.
Jogo 3
Defesa do Celtics: Se a marcação dupla deu tão certo e LeBron só teve algum sucesso no final do jogo, quando começou a infiltrar mais rapidamente, então o Celtics imaginou que o ideal seria dobrar no LeBron quando ele se colocasse em movimento rumo à cesta e colapsar toda a defesa para debaixo do aro, evitando a bandeja. Descer a mão tá valendo, LeBron é muito pior cobrando lances livres do que é dando enterradas. Ou seja, o que o Celtics fez foi desafiar o LeBron a arremessar, e puní-lo se ele entrasse no garrafão.
Resposta do Cavs: Incomodado com a defesa que havia recebido no jogo anterior, em que passou a maior parte do tempo passando a bola para os seus companheiros, LeBron entrou em quadra decidido a arremessar. Não enterrar, nem fazer bandeja, nem bater para dentro, nem passar a bola: apenas arremessar. Ficou no perímetro, sem marcação dupla, vendo a defesa do Celtics focada no garrafão, e acertou uma série de arremessos de fora. Enquanto a defesa do Celtics continuou com o plano original, LeBron pontuou sem parar em arremessos de longa distância e encontrando outros companheiros para arremessar de fora também. Quando a defesa adversária já não sabia mais o que fazer e entrou em colapso, LeBron deitou e rolou e o resultado foi a pior derrota da história em playoffs jogando em casa para o Celtics.
Jogo 4
Defesa do Celtics: Ao invés de marcar LeBron James, o plano foi marcar seu caminho. Funciona assim: um carinha qualquer marca o LeBron, não precisa ser o Paul Pierce, mesmo atrás da linha de três pontos. Outros dois jogadores, um de cada lado do LeBron, abandonam os jogadores que estão marcando apenas para dar uns passos para o lado, ocupando os espaços que LeBron usaria para infiltrar tanto à sua direita quanto à sua esquerda. Se ele infiltra, ao invés dos três fecharem em cima dele, apenas vão afunilando o caminho em direção à linha de fundo da quadra. Na prática isso deixou jogadores do Cavs livres, mas nem tanto assim (os marcadores estão próximos) e sem precisar dobrar a marcação a defesa no perímetro foi muito melhor, permitindo menos bolas de três do Cavs. Foi a melhor defesa que eu já vi ser usada contra o LeBron.
Resposta do Cavs: LeBron tentou arremessar, mas estava marcado mais de perto e errou tudo, dia ruim. Quando tentou infiltrar, começou a ver que os espaços estavam ocupados e que tinha que bater para a esquerda, rumo ao fim da quadra. Ficou preso na linha de fundo algumas vezes, onde enfim a marcação dobrava, e perdeu a bola constantemente. Rapidamente LeBron ficou frustrado e começou a passar a bola para os jogadores que ficavam livres com a defesa de espaços do Celtics, em especial Antawn Jamison. Bizarramente o Jamison só sabe cortar para a direita e ninguém no Celtics sabe disso, o técnico Doc Rivers não tem qualquer informação para ajudar a equipe, e então LeBron continuou colocando a bola para o Jamison cortar para dentro e atacar a cesta com facilidade. Mas a defesa mais forte de perímetro do Celtics fez o Cavs errar muitas bolas de três, e o time não soube mudar de estratégia. Bolas erradas de três pontos dão rebotes mais longos, que caíram nas mãos de Rajon Rondo, que assim pode puxar o contra-ataque mais rápido, para assim o Celtics não ter que enfrentar a fortíssima defesa de meia-quadra do Cavs, e assim LeBron e seus amigos não tinham como vencer o jogo. Mas pelo menos foi disputado.
Jogo 5
Defesa do Celtics: Mesma do jogo anterior, mas com alguns ajustes. A escolha foi de novo por marcar o caminho do LeBron, deixando jogadores do Cavs livres no garrafão. O objetivo era impedir os arremessos de três para pegar rebotes e jogar no contra-ataque, e deixar que Shaq recebesse a bola – marcando os espaços, é fácil para os jogadores do Celtics se aproximarem a tempo de fazer uma falta no pivô. Além de contar com o baixo aproveitamento de lances livres do garrafão do Cavs, isso ainda vai cortando o ritmo da equipe até convencer todo mundo a arremessar de três. Dessa vez, até mesmo o Shelden Williams entrou em quadra para o Celtics ter mais faltas para fazer no Shaq. Eu podia ter esse emprego: não jogar nunca, ficar lá apenas existindo, e entrar em quadra uma vez por ano para dar um chute no saco de um pivô velho.
Resposta do Cavs: LeBron não consegue ver essa defesa do Celtics e não enxergar espaços para os companheiros. Começou o jogo passando a bola, distribuindo assistências e principalmente dando a bola para Shaq toda vez que a marcação no LeBron dobrava na linha de fundo, liberando o pivô livre embaixo da cesta. O Shaq foi sofrendo faltas, fazendo seus pontinhos, errando lances livres, e o Celtics com isso acabava saindo no lucro. LeBron de novo não conseguiu acertar os arremessos, e ao infiltrar tomou safanão desde o primeiro passo – o objetivo é fazer falta antes de que LeBron possa cobrar os lances livres para que assim a jogada ofensiva recomece e, dessa vez, ele resolva passar a bola para alguém, de preferência o Shaq mesmo. Durante um tempo o elenco de apoio do Cavs segurou as pontas, com o LeBron só tocando de lado, mas quando o Celtics está tendo um grande jogo – às vezes acontece – é preciso uma atuação dominante para equilibrar a partida. Ela não veio, a defesa não deixou. Novamente, o Celtics jogou muito bem no contra-ataque e, na frente do placar, os reservas entram e jogam com facilidade, pontuam numa boa, bocejando, sem medo do Garnett beber o sangue de seus familiares.
A defesa permitiu a vitória, sem dúvidas, mas o Celtics também está ficando mais inteligente no ataque. Garnett, Paul Pierce e Ray Allen finalmente jogaram bem juntos, o que é raro, mas a minha impressão foi de que todos os pontos feitos pelo Celtics no jogo inteiro foram marcados em cima do Antawn Jamison. Sem brincadeira, basta espiar os melhores momentos para vê-lo tomando vários arremessos do Garnett, dribles secos do Paul Pierce, cestas consecutivas do Glen Davis, dentre outros. Finalmente o Celtics entendeu algumas chaves básicas para a vitória: defender como malucos, fazer LeBron James colocar para fora seu lado Madre Teresa e passar a bola, jogar no contra-ataque, e sempre que tiver que atacar em meia quadra, atacar o pobre do Antawn Jamison. Tá bom que o Jamison tem feito um bom trabalho no ataque em cima do Garnett, mas bastou que o Garnett se focasse em pará-lo para não existir mais um motivo sequer para que permanecesse em quadra. Eu teria tirado o Jamison, demitido seu traseiro gordo e proibido sua mãe de pisar em Cleveland nos primeiros 5 minutos de jogo, mas ele jogou mais de 30 – provavelmente para dar tempo do time inteiro do Celtics conseguir fazer uma cesta em sua cabeça. Me inscrevi para tentar pontuar em cima dele também, mas o jogo terminou antes que chamassem a minha senha.
Faz sentido que Garnett tenha ficado surpreso com a pergunta sobre o ataque impecável que o Celtics teve na noite de ontem: ele só se focou na defesa, jogou no contra-ataque, e quando teve que executar jogadas ofensivas foi marcado pelo Antawn Jamison, que é a mesma coisa que jogar sozinho. O ataque foi moleza, difícil foi defender com garra, pular em toda bola, garantir rebotes para o contra-ataque e parar LeBron James.
Bizarramente, no que parece ser uma frase vinda do Universo Bizarro, o ponto fraco de LeBron parece ser justamente sua mania de passar a bola para os jogadores livres durante o jogo. No começo de carreira ele perdeu muitos jogos passando a bola do último arremesso para algum cara aleatório que estava livre e que, por ser zé-ninguém, tremeu e errou. Todo mundo dizia que a verdadeira estrela arremessaria aquela bola não importando se a Alinne Moraes estivesse nua, livre e desempedida pedindo a porcaria da bola da zona morta. Aos poucos o LeBron foi parando de dar esse último passe, aprendeu a resolver finais de jogos sozinho, mas durante uma partida inteira em que três jogadores estão focados em pará-lo e outros companheiros tem espaço para infiltrar, ele não sabe fazer outra coisa além de acioná-los. Parece passivo, desinteressado, mas na verdade está fazendo o mais óbvio. No primeiro tempo do último jogo, quando seus companheiros acertaram arremessos, pareceu ótimo. Mas depois, quando todo mundo começa a ficar frustrado com LeBron por não assumir e com a defesa do Celtics por ser forte (e estar descendo o cacete!), os arremessos param de cair e aí é o LeBron que vai ficando frustrado com o resto do time. O elenco é incrível, muitos jogadores talentosos e capazes, mas ninguém ali além do LeBron tem aquela vontade de dar os últimos arremessos, de decidir sozinho. O único ali que quer fazer isso é o Mo Williams, mas ele não tem cérebro: vai te ganhar um jogo e perder outros três se você continuar lhe dando a bola. No entanto, é nele que resta a última esperança do Cavs. Se no próximo jogo, em Boston, Mo Williams não justificar os passes de LeBron, a série vai acabar. Se ele estiver inspirado e permitir um pouco de espaço para que LeBron faça o que sabe no final do jogo, a coisa complica. O que importa para o Cavs é manter a diferença de pontos sob controle até o quarto período, quando os reservas do Celtics amarelam e o LeBron pode pontuar e cavar faltas à vontade.
Na mesma entrevista, quando perguntado como fazer para vencer a série, Garnett respondeu com sinceridade: é só ganhar o próximo jogo em casa, é o único jeito. Admitiu que o Celtics não tem chances de enfrentar o melhor time da NBA com o melhor jogador da NBA num Jogo 7 sendo disputado em casa. Para o Celtics, a sensação para a próxima partida em Boston também é de tudo ou nada. Será que LeBron mudará sua resposta à defesa? Será que Mo Williams aparecerá para decidir? Porque para o Celtics, não há nada a aprender ou decidir: basta manter a defesa.

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