O LeBron James teve jogos importantes desde que pisou numa quadra da NBA pela primeira vez. Sim, o seu primeiro jogo como profissional foi muito importante. Pouquíssimos, senão nenhum, jogador na história da NBA chegou com tanta mídia, moral e expectativas como o LeBron James. Todo mundo que é primeira escolha começa cheio de expectativas, mas quantos já são com tanta certeza a nova super estrela de uma geração sem ter jogado uma partida contra adultos? Colocaram a estréia do LeBron contra o fortíssimo (na época) Sacramento Kings em rede nacional pra todo mundo ver. E lá foi LeBron, ao lado de Ricky Davis, Darius Miles, Carlos Boozer e Zydrunas Ilgauskas, e acabou com espetaculares 25 pontos, 6 rebotes e 9 assistências. Pra muito jogador um jogo desses é o ápice da carreira, para LeBron James foi o primeiro jogo e ele passou com louvor de seu primeiro grande jogo.

Tem todos os pontos do LeBron na sua estréia no vídeo abaixo. Legal demais ver como o seu estilo de jogo mudou nesses anos. Ele dava uns ‘floaters’ e fazia uns tipos de bandeja que não faz mais faz tempo!

O primeiro jogo não foi o mais importante porque LeBron é bom demais, passou por ele com tanta facilidade que todo mundo estava esperando os próximos grandes desafios. E, como todos sabem, eles estão nos playoffs.

Depois de fazer parte de times horripilantes em Cleveland, o LeBron só conseguiu fazer sua estréia na pós-temporada em 2006 (em um time não muito melhor que tinha Eric Snow, Drew Gooden e Larry Hughes no time titular). Na estréia, naquela famosa série contra o Wizards, nenhuma chance de críticas: 32 pontos, 11 rebotes e 11 assistências. Nada mal estrear em playoffs com um triple-double, certo?

Nessa mesma série foram outros jogos decisivos: Depois de perder o jogo 2 em Cleveland, o time precisava devolver a derrota em casa no jogo 3 e LeBron fez 41 pontos para que isso acontecesse. Depois venceu mais um jogo em Washington, o decisivo jogo 6, marcando 32 pontos, 7 rebotes, 7 assistências e mais aquele trash talk na orelha do Gilbert Arenas que o fez errar os lances livres que garantiriam a vitória do Cavs.

Passando da primeira fase o Cavs de 2006 enfrentou um dos maiores times daquele ano, o Detroit Pistons. E quando todo mundo esperava uma surra, o Cavs levou a série a um improvável jogo 7. Acabaram perdendo, é verdade, mas foi uma derrota vitoriosa, mais ou menos como quando o Hawks levou a série contra o Boston a 7 jogos em 2008. Nos maiores jogos da série o LeBron foi de novo espetacular: 32 pontos, 5 rebotes e 5 assistências no jogo 5 em Detroit e 27 pontos e 8 rebotes no decisivo jogo 7. Pareceu pouco esse jogo 7? Vale então mencionar que o jogo teve o patético placar de 79 a 61 e que o LeBron foi o único jogador de todo o time do Cavs a passar de 10 pontos.

Em 2007 o grande jogo da temporada foi aquele jogo 5 da final de conferência entre Cavs e Pistons. Era a chance do LeBron mostrar que o time finalmente tinha evoluído e que não iria virar freguês do Detroit. Foi sem dúvida uma das maiores atuações de todos os tempos: 48 pontos, 9 rebotes, 7 assistências e 29 dos últimos 30 pontos do Cavs nesse jogo de duas prorrogações. Vale clicar aqui e ver o vídeo.

Pode-se questionar que por ter vencido essa final de conferência, o maior jogo da carreira do LeBron até hoje tenha sido qualquer um das finais contra o Spurs. Mas vamos ser sinceros, alguém realmente achava que o Cavs ia ser capaz de vencer algum jogo? Aquele time do San Antonio era infinitamente melhor, eles não tinham chance. Vencer o Pistons já era difícil e improvável, contra o Spurs era só cumprir tabela e aceitar a derrota inevitável.

Em 2008 mais uma derrota aceitável, mas mais uma grande atuação de James no jogo mais importante da sua temporada. O Celtics, favorito ao título, só conseguiu bater o Cavs no jogo 7 e mesmo assim foi difícil. Como naquele jogo 7 contra o Pistons, o time do LeBron só fedeu, mas ele sozinho fez 45 pontos e quase venceu por conta própria. Perdeu, mas jogou muito.

A partir de então começam a mudar as coisas para o LeBron James. Até então ele sempre havia sido parte de times ruins e os grandes jogos da sua carreira eram desafios em que ele estava no time mais fraco e tinha a chance de provar que poderia, por ser tão bom, vencer um time mais forte. Eram situações em que se ele tivesse sucesso seria espetacular e se não tivesse, seria uma derrota normal. E vale lembrar que mesmo quando perdeu e não tinha chance de vitória, individualmente o LeBron havia sido muito bom. Criou-se, com razão, números e fatos, a imagem do LeBron como o homem dos grandes momentos, um cara que, como os grandes jogadores da história, gosta de aparecer nos jogos mais importantes.

Mas no ano passado a situação começou a mudar. Pela primeira vez na carreira do LeBron o Cavs tinha um time bom de verdade. Tão bom que acabou com a melhor campanha da NBA! Agora o resto do time não era desculpa e nenhuma derrota para outro time era aceitável, ou LeBron ganhava o título ou assumia a culpa. Depois de varrer seus adversários nas duas primeiras rodadas, pegaram o Orlando Magic, um time que parecia ter resposta para todas as armas do Cavs.

Depois de perder o jogo 1, o Cavs precisava ganhar o jogo 2 de qualquer jeito para não ir para Orlando com um 0-2 no placar. Foi difícil, mas LeBron apareceu como um semi-deus de novo para vencer com o arremesso mais espetacular da última pós-temporada.

Depois perderam os jogos 3 e 4 em Orlando mesmo com LeBron tendo uma média de 42 pontos nesses dois jogos. No jogo 5 LeBron meteu mais 37 (pois é, tudo isso com o Pietrus sendo o melhor marcador do mundo para pará-lo!) e o Cavs levou a série para um jogo 6 em Orlando.

A situação era a mesma de hoje: 3 a 2 contra e um jogo com a corda no pescoço na casa do adversário. LeBron então teve a sua pior atuação na série, mas ainda assim um bom jogo, com 25 pontos, 7 rebotes e 7 assistências. Sua imagem ficou arranhada por ele não ter conseguido virar a série sozinho, mas não dava pra ignorar todas as derrotas em que ele tinha até passado dos 40 pontos. Boa parte da culpa caiu sobre o elenco do Cavs que depois de uma temporada regular fora de série, havia caído muito de produção contra o Magic. Time que também tinha seus méritos e o esquema tático certo para bater o Cavs.

Para essa temporada, respostas. Se faltou alguém para parar Dwight Howard, contrataram Shaquille O’Neal. Faltou um ala de força mais ágil pra acompanhar o Rashard Lewis? Trocaram por Antawn Jamison. Mais dois jogadores All-Star no elenco e mais uma vez conseguiram a melhor campanha da NBA. Em outras palavras, foram tirando, aos poucos, todas as “desculpas” que LeBron James tinha para não vencer um campeonato.

Mas tudo parece ter desabado no último jogo 5 contra o Boston Celtics. Foi a maior surra que o Cavs tomou em casa na sua história e agora o time está a uma derrota fora de casa de ser eliminado. E dessa vez nem tem a desculpa de que o LeBron pelo menos fez a sua parte, muito pelo contrário, ele teve o seu pior jogo em playoff na carreira e ele, junto com o resto do time, foi vaiado pela torcida. Tudo isso no que pode ter sido o último jogo em casa da carreira do LeBron, já que, como se comenta desde que o coitado do LeBron nasceu, ele será Free Agent ao fim dessa temporada. O vídeo abaixo mostra como o LeBron foi mal no último jogo, e serve também para observar alguns momentos da defesa do Celtics que o Danilo analisou tão bem no último post.

Bastou esse jogo ruim para todas as outras atuações fora de série que eu comentei virarem passado distante. Muitos críticos nos EUA já dizem que uma derrota nessa série pode ser uma mancha gigantesca na carreira do LeBron, na sua fama de grande jogador de momentos decisivos e até na sua posição atual de incontestável melhor jogador de basquete do mundo. Para outros seria fechar a sua passagem no Cavs como o maior ídolo da franquia, mas também como só mais um que fracassou em levar o time ao sucesso. É pra tanto?

Sim e não. Sim porque a imprensa e os torcedores são chatos pra cacete. A sua imagem vai ficar manchada sim e vai ter um monte de gente idiota chamando-o de “amarelão” e bobagens do tipo. E não porque quem faz essas críticas se esquece que um jogo de basquete, ainda mais nesse nível de playoff de NBA, é muito mais do que um jogador acordar inspirado e decidir “hoje eu quero jogar bem e vencer”. Precisa de jogadores de talento, de esquemas táticos, do resto do time, de sorte, confiança e mais um monte de coisa.

Depois de analisar tudo isso, respondo à pergunta do post. O jogo de hoje contra o Celtics é o mais importante da carreira do LeBron James? Sim. Em nenhum outro momento ele foi tão pressionado pela torcida e pela imprensa e em nenhum outro momento da carreira teve um time tão bom que pudesse levá-lo ao título. Nenhuma derrota com essa equipe de hoje é completamente aceitável. Por fim, o clima do time e do vestiário após o jogo de hoje pode ser decisivo para o andamento da carreira do LeBron, afinal ele vai querer continuar no Cavs depois de uma derrota traumática? Pensando na sua imagem perante a torcida, fãs e imprensa pentelha, na sua confiança, nas suas chances de título e na escolha de onde ele vai continuar sua carreira, não dá pra negar que tudo passa pela partida de hoje e, em caso de vitória, pelo próximo jogo 7.

Por ser o momento de mais pressão na carreira dele e para acompanhar como será a postura defensiva do Celtics é que esse é o jogo mais esperado de toda a pós-temporada até aqui, mas por favor não façam desse jogo mais do que ele já é. Ele é importante, decisivo e tem tudo pra ser bem jogado e emocionante, mas não o usem para definir quem vai ser o LeBron James daqui pra frente. Não foi à toa que eu resgatei todas suas grandes vitórias e derrotas ao longo da carreira, a sua imagem deve ser feita desse total de eventos que acontecem com todo jogador, não algo baseado em um ou dois jogos. Ele jogou mal o jogo 5 e é possível que não passe pela defesa do Celtics de novo, mas fazer o quê, todo jogador está sujeito a ser parado por uma grande defesa.

E na pior das hipóteses, se tudo der errado e ele perder, ano que vem tem mais. Seja lá onde LeBron James for jogar ele ainda terá muito mais “jogos mais importantes da carreira” pela frente. É sentar, preparar a pipoca, aproveitar todos esses jogos e deixar o julgamento para quando o último deles for jogado daqui muitos e muitos anos.