O mesmo circo

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 O Clippers é sempre assim, cada um olhando prum lado, tipo os seios da Yasmin Brunet

Ah, o Clippers, a piada favorita de qualquer fã da NBA. O time amaldiçoado, fundado em cima de um cemitério indigena, e que tornou-se nas últimas temporadas apenas um circo que se finge de equipe de basquete. Tem palhaço, elefante, malabares, todos são bons e talentosos, mas a única coisa que os une é estarem debaixo do mesmo toldo. O quê Chris Kaman e Baron Davis têm em comum? Fora as contusões constantes graças à lendária maldição do Clippers, nada. Sempre fico surpreso quando vejo que no fim das contas o primo pobre do Lakers conseguiu montar um baita time bacana, cheio de talento, mas sempre dou risada quando vejo que a equipe simplesmente não encaixa. Mas dou risada assim, com carinho, porque não tem como odiar o Clippers. Também não tem como gostar, claro, é o time mais “nada” da NBA, o equivalente grupal da cara do Duncan, e na nossa pesquisa Bola Presa até agora só um únici coitado se disse torcedor da franquia, mas no fundo todo mundo torce para que a equipe dê ao menos um pouquinho certo. Mania de torcer pelo mais coitado, pelo mais fraco, pelo mais pobre. Sucesso é sempre um troço chato, já diria o Spurs da última década.

A temporada passada do Clippers foi para o ralo antes mesmo de começar, quando a primeira escolha do draft, Blake Griffin, quebrou o joelho ainda numa partida mequetrefe de pré-temporada. É tipo se o LeBron James acabasse de chegar na NBA e o joelho desmanchasse, já pensou como seria aquele Cavs? O Clippers até que tentou segurar as pontas, mas o resto do garrafão também começou a morrer, com uma lesão do Marcus Camby. Não demorou muito e o Camby foi trocado para o Blazers, que tem uma maldição própria que só ataca seus pivôs (coitado do Camby, que fica pulando de uma maldição para a outra). Em troca, o Clippers recebeu Travis Outlaw e Steve Blake, dois jogadores que não quiseram continuar – e nem eram muito bem-vindos mesmo. O único ala de verdade da equipe, Al Thornton, um dos jogadores mais promissores do elenco, começou a perder minutos, tomou fria do técnico, ninguém nunca falou sobre isso, e de repente ele foi trocado pelo Drew Gooden, que também não quis continuar no Clippers nessa temporada. Esse é o Los Angeles Clippers: as pessoas querem sair enquanto há tempo, e os caras bons são trocados por porcaria nenhuma e ninguém vem a pública explicar o que está acontecendo.

O resultado não foi apenas uma equipe desencaixada, mas também uma esburacada. Na armação, Baron Davis só busca o ataque, corre pra frente como um louco o mais rápido possível, e ou arremessa de três ou tenta uma enterrada. Na posição 2, Eric Gordon é um dos melhores arremessadores da NBA, mas não tem altura nem velocidade lateral para defender razoavelmente os armadores adversários. No garrafão, Chris Kaman é um dos pivôs mais habilidosos da NBA, ambidestro, refinado embora tenha cara de que nunca tenha comido com talheres na vida e prefira usar um tacape, mas quando corre parece que está dentro de um aquário. Blake Griffin pode ser uma estrela sensacional na liga mas quebrou antes mesmo de chegar, dá até pra pedir o dinheiro de volta. E o outro jogador de garrafão, DeAndre Jordan, tem potencial pra burro mas é cru, despreparado, pirralho. Então, quem usar na posição 3? Quem nesse time defende? Eles devem correr pra aproveitar o Baron Davis, arremessar pra usar Eric Gordon, ou jogar de forma cadenciada para usar Chris Kaman no garrafão? Eles são um time velho, chefiado por Baron Davis, que deve adicionar mais veteranos rumo a um título (mesmo sem nunca nem chegar nos playoffs) ou devem se focar nos pirralhos e construir em volta de Blake Griffin e DeAndre Jordan, tendo paciência e não tentando vencer ainda? Ninguém sabe. A única certeza é que o dono do circo, o engravatado Donald Sterling, é racista, odeia mexicanos, foi processado trocentas vezes, preso por assédio sexual, e coloca pessoalmente anúncios nos jornais procurando garotas para trabalhar no ginásio do Clippers para, então, tentar traçar todas no famoso “teste do sofá”, imortalizado pelo João Kléber. Bacana, e você achava que só tinha zé-ruela tomando conta do futebol brasileiro.

Para tapar os buracos do time com a saída de Steve Blake, que foi ser feliz no Lakers, e do Travis Outlaw, fominha talentosíssimo que foi encher as orelhas de dinheiro no Nets, o Clippers apostou no draft, ou seja, parece que optaram pela renovação do elenco. Mas o Al-Farouq Aminu teve partidas muito fracas nas Summer Leagues, parece estar muito cru, tem um arremesso amador, e por enquanto só rende correndo, no contra-ataque. Já o Eric Bladsoe, tido como o melhor armador disponível no draft, mostrou que só sabe abaixar a cabeça e correr pra frente, é excelente pontuador, mas não espere que ele segure o jogo ou passe a bola. Ou seja, dois jogadores imaturos que, pra variar, não se encaixam com Kaman e Eric Gordon. E aí, de repente, o Clippers me surpreendeu: contrariando a aposta nos pirralhos, gastou suas verdinhas restantes contratando apenas veteranos, dois jogadores muito bons que são bastante ignorados pela liga. Primeiro foi o Randy Foye, um dos raros armadores da NBA que conseguem jogar com igual naturalidade nas duas posições de armação, e que sabem tanto correr quanto segurar o jogo. Foye não é o grande pontuador que se esperava quando foi draftado, mas é inteligente e tem um jogo bastante consistente, ideal para vir do banco e cumprir qualquer função. Depois veio a contratação do Ryan Gomes, um dos meus jogadores favoritos na NBA simplesmente porque ele faz de tudo, até cozinha e passa roupa. O Ryan Gomes pode jogar nas duas posições de ala, defende bem, tem um arremesso confiável de três pontos, sabe o que fazer de costas para a cesta e sempre procura passar a bola ao invés de tentar o próprio arremesso. Quando tinha muitos minutos no Wolves, ele era sempre um “quase triple-double” esperando pra acontecer, fazendo um pouquinho de tudo e mantendo o time sob controle, sempre naqueles 6 rebotes, 6 assistências, e uns 7 pontos (é como o LeBron James seria se fosse desnutrido ou um anão). No Wolves, um cara desses é tido como inútil, ele não pontua, não ganha jogos, é só mais um. No Lakers ou no Celtics, ele seria um deus, seriam feitos sacrifícios em sua homenagem, bebês nasceriam com seu nome, porque ele é exatamente o que faz times serem campeões. Ele tornaria qualquer banco de um time vencedor em algo poderoso, quase como um Ron Artest que defende pior mas tem um cérebro não-lesionado dentro da caixa craniana. Ou seja, o Clippers adicionou dois jogadores experientes que podem jogar múltiplas posições e que são ideiais para completar elencos vencedores e permitir que possam dar o próximo passo rumo ao título. Espera, quando foi que o Clippers achou que precisava torrar todo o seu dinheiro contratando peças para o banco de reservas apenas para completar o elenco? Que eu me lembre, eles eram um time horrível que não vai aos playoffs há anos e que tem um monte de novato cru que só ficará assadinho daqui uma década.

Eu sei lá o que o Clippers está fazendo, e a verdade é que eu nem deveria me importar, afinal a maioria dos jogadores vai se lesionar, bater o carro, ter filhos indesejados e pegar gonorreia. O toque final na completa falta de sentido, atração final do espetáculo circense, foi a contratação do Brian Cook. Lembram? O cara que um dia foi comparado com o David West, santa heresia, e que na verdade é só um corpo grande e lento que arremessa – e mal – de três pontos? O Phil Jackson gritou tanto com ele no Lakers que eu pensei que seu cérebro tinha derretido pelos ouvidos, mas pelo jeito ele ainda consegue se levantar, andar e receber cheques. Vai entender.

Ainda assim, enquanto a gente ri do absurdo, o elenco do Clippers é divertidíssimo como todo circo, reality show ou eleição democrática sabe ser. O quinteto titular deve ter Baron Davis, Eric Gordon, Ryan Gomes, Blake Griffin e Chris Kaman. O time é rápido, lento, ofensivo, defensivo, agressivo, passivo, arremessador, sem arremesso, tudo ao mesmo tempo. Vai dizer que não dá muita vontade de espiar? Todo mundo tem, ao menos, a obrigação de ver o Blake Griffin jogar para saber se ele mereceu ser a primeira escolha do draft. Por não ter jogado nenhuma partida na temporada passada, ele entra nessa como novato, pode jogar o All-Star de novatos e tudo, e primeiras escolhas sempre são divertidas de acompanhar. Fora isso, o DeAndre Jordan impressionou muita gente na Summer League com bons movimentos de pés e ganchos refinados no garrafão, deve ter aprendido com o Chris Kaman, e deve ser uma bela surpresa assim que o Kaman invariavelmente se machucar de novo. Mas o grande destaque desse time deve ser mesmo o Eric Gordon. Apesar de estar ainda correndo o risco de ser cortado, Gordon está na seleção americana que vai participar do Campeonato Mundial agora no fim de agosto e todo mundo está dizendo que, ao menos nos treinos, ele é o melhor arremessador da seleção. Levando em conta companheiros como Danny Granger e Kevin Durant, isso quer dizer muita coisa. Eric Gordon tem arremesso quase automático, deve funcionar maravilhosamente bem no basquete da FIBA em que a linha de três é mais próxima do aro, e está pronto para ter uma temporada definitiva para se sagrar pelo Clippers. Não vai fazer muito além de pontuar, mas deve fazer isso com uma rara combinação de distância nos arremessos e força física para dar umas trombadas.

Em breve vamos acompanhar de perto a seleção americana no Mundial, dando uma olhada em como as estrelas da NBA vão se sair e o que suas atuações podem significar para suas equipes. Mas, por enquanto, vale espiar o Eric Gordon. Se ele for cortado da seleção é só porque não tem ninguém lá alto o bastante para pegar geleia em cima do armário e o Eric Gordon é um anão, mas se ele ficar vai fazer muito estrago nas defesas por zona adversárias. Assim como fará estrago pelo Clippers, mesmo se esse time, pra variar, não fizer nenhum sentido jogando junto.

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