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Vince Carter na universidade Smurf

Nós recebemos toneladas de perguntas todos os dias no nosso glorioso Both Teams Played Hard. Algumas são pura trollagem, outras perguntas de iniciante, muitos pedidos de comparação entre jogadores, perguntas de relacionamento, música e até perguntas interessantes de verdade! Uma delas eu achei tão legal, mas tão legal, que achei que renderia um texto, não uma resposta.
Olha o que algum anônimo mandou, foram duas perguntas, na verdade:
“1. Vocês sabem de algum site em que diz o que os jogadores da nba se formaram na universidade? não precisa ser todos, só as estrelas e tal

2. como é a relação dos jogadores universitários que são cotados pra ir pra NBA e a universidade? eles realmente estudam e tal, tipo o Jeremy Lin ou simplesmente estão lá pra jogar e os professores fazem vista grossa sobre a nota deles?”

São questões pouco abordadas e que vale uma discussão, um ótimo tema para um post nesse momento complicado da offseason em que a maioria das contratações já foi comentada e faltam umas duas semanas para começar o Mundial da Turquia.
Muitas estrelas da atualidade nem passaram pela faculdade. No passado alguns jogadores pularam o basquete universitário, como o grande Moses Malone já nos anos 70, mas eram casos raros. No meio dos anos 90, porém, começou a virar febre. E com o sucesso de jogadores como Kevin Garnett e Kobe Bryant, explodiu. Tanto que podemos observar no começo da década de 2000 um fato muito curioso e que hoje parece impossível, de 2001 até 2006, apenas um jogador universitário foi a primeira escolha do Draft! Em 2001 Kwame Brown foi direto do colegial, assim como LeBron James em 2003 e Dwight Howard em 2004. Em 2002 Yao Ming foi o primeiro direto da China e em 2006, Andrea Bargnani, direto da Itália. Somente em 2005 o Andrew Bogut foi o escolhido. Ele, apesar de ser gringo, australiano, jogava basquete universitário nos EUA.
Logo depois disso surgiu a regra de que os jogadores deveriam jogar pelo menos um ano de basquete fora do colegial e ter pelo menos 19 anos antes de poder jogar na NBA. Tirando Brandon Jennings, que foi jogar um ano de basquete profissional na Itália, a maioria opta por fazer o “one-and-done“, jogar um ano de basquete universitário e depois ir para a NBA. Dizem que é por facilitar e não reclamar de quem faz esse tipo de escolha que a Universidade de Kentucky tem conseguido tantas estrelas do colegial em suas equipes. Ou seja, a atividade tanto já virou rotina que até tem seus especialistas.
Entre as novas estrelas da NBA é bem comum ver várias que jogaram só um ano de NCAA, como Kevin Durant, Derrick Rose, Greg Oden, OJ Mayo, Kevin Love, Eric Gordon e Tyreke Evans. No draft desse ano foram 7 jogadores de apenas um ano de faculdade a serem escolhidos na primeira rodada, incluido dois do Top 3, John Wall e Derrick Favors.
Em teoria isso quer dizer que a maioria dos jogadores mais conhecidos vão para a NBA longe de ter um diploma, que em geral só sai depois de 4 anos de estudo. Mas na prática só quer dizer que os diplomas são conseguidos de maneira diferente. Tem virado tendência nos últimos anos os jogadores voltarem para a faculdade entre uma temporada e outra para as chamadas “summer classes“, cursos de verão para quem não pode frequentar a faculdade no ano letivo comum. Alguns também fazem cursos à distância. Pelo o que o New York Times apurou, 45 jogadores da NBA (10% da liga) voltaram para a faculdade nos últimos meses, os times campeões foram o Warriors e o Thunder, dois dos times mais jovens da liga, com 3 cada. Um deles, Russell Westbrook, disse que são duas as principais razões: primeiro dar um bom exemplo para os mais jovens, no exemplo dele, um irmão mais novo. E depois para se prevenir, já pensando em um futuro emprego após a carreira no basquete.
A primeira reação de quem lê isso é “Futuro emprego? Mas os caras são milionários!” e esse pensamento faz todo o sentido, já que a média da liga é de 5,8 milhões de dólares por jogador a cada temporada. Mas a NBA Players Association fez um estudo que indica que 60% dos jogadores acabam falindo 5 anos após a sua aposentadoria. O principal motivo, claro, é a irresponsabilidade. Eles querem gastar a grana que ganham em coleções de carros, casas e jóias. Depois é a vontade de ser super-herói. A maioria é de família pobre ou de centros urbanos menos desenvolvidos, aí querem aproveitar que se deram bem na vida para arrumar a vida de todo mundo. Além da sua casa de luxo e do seu Mercedes, querem dar carros importados e casas de muitos dormitórios para os irmãos, mãe, avó, para o grupo de amigos do ginásio e etc. Sustentar essa vida por um tempo é fácil, mas depois não dá mais. Como disse o ala Jason Kapono, “A carreira de um jogador vai em média até uns 30 e poucos anos, a expectativa de vida até os 80. O dinheiro precisa durar mais 50 anos“.
Um exemplo do gasto absurdo que esses jogadores tem foi dado pela própria associação de jogadores, que disse que o Shaq gasta 18 mil dólares por ano só com as contas de TV a cabo de todas suas casas. Claro que ele está bem acima da média, já que por anos ganhou mais de 20 milhões de dólares por temporada, mas mesmo assim mostra bem como estamos tratando de cifras insanas. Também não dá pra esquecer de dois jogadores que já foram dos mais bem pagos da NBA e voltaram da aposentadoria para jogar só pelo dinheiro, Antoine Walker assinou com um time de Porto Rico e Scottie Pippen disputou alguns jogos com um time da Finlândia.
Esse medo de ficar sem dinheiro deve aumentar o número de jogadores da NBA com um diploma, hoje são apenas 21% dos jogadores que terminaram a faculdade. Entre eles existem duas histórias mais comuns. O primeiro grupo é daqueles que continuou a faculdade mesmo depois de entrar na NBA. Como dissemos antes, eles fazem aulas na offseason, online, e vão completando o curso aos poucos. O segundo grupo tem principalmente os jogadores menos conhecidos, são aqueles caras que entraram em uma universidade sem ter muito nome e precisaram usar os 4 anos de faculdade para conseguir chamar a atenção da NBA e entrar no Draft.
O exemplo mais famoso de um jogador com diploma é o do Tim Duncan. Ele chegou na Universidade de Wake Forest reconhecido como um grande jogador e lá se consagrou, poderia ter pulado para a NBA após qualquer ano de faculdade, mas não o fez por uma promessa. Um dia antes de Duncan completar 14 anos sua mãe morreu de câncer de mama, mas não antes de ter feito o filho garantir que iria para a faculdade e a faria até o fim.
O Duncan é formado em psicologia. Apesar das obrigações e viagens que o time tinha que fazer, frequentou todas as aulas, teve boas notas e até fez aulas extras que não precisaria, como literatura chinesa. É um exemplo claro do que diz Debbie Rothstein Murman, diretora de carreira da União dos Jogadores da NBA. Ela afirma que ao serem obrigados a fazer pelo menos um ano de faculdade, os jogadores são forçados a conhecer outras coisas, outras áreas e eventualmente encontram outras paixões além do basquete. Depois do exemplo para os mais jovens e o dinheiro existe um terceiro fator que talvez seja o mais importante, alguns gostam da coisa e querem aprender.
Para os que gostam do ambiente universitário talvez o ideal fosse fazer os 4 anos diretos, como o Duncan, sem precisar de aulas na offseason, mas aí a história do Jerry Stackhouse serve como bom exemplo para entendermos as motivações dos atletas. Durante o segundo ano de faculdade do Stack, sua mãe foi diagnosticada com câncer de mama e a família não tinha dinheiro para pagar o tratamento. Ele então foi para o Draft da NBA, foi escolhido e usou o dinheiro do seu primeiro salário para pagar o tratamento. Não deve ser fácil para eles ver a família passando por dificuldades financeiras ao mesmo tempo em que recusam a chance de ganhar milhões por ano.
O Stackhouse foi um dos que voltou para se formar. Ele e seu companheiro de North Carolina Antawn Jamison se formaram em Estudos Afro-Americanos, uma das formações mais comuns entre os atletas da NBA. Também são corriqueiros os diplomas em Gerenciamento Esportivo e Comunicação, seguido depois por Negócios. Todos, porém, estão perdendo espaço para o cada vez mais usado “Estudos Gerais”.
O curso de Estudos Gerais não existe em todas as faculdades, mas foi criado para facilitar a vida dos atletas que querem se dedicar mais à vida esportiva. De todos os alunos da Universidade de Michigan, por exemplo, apenas 3% são atletas. Ao mesmo tempo, entre os formados em Estudos Gerais, 49% são jogadores das mais diversas modalidades. Essa formação pede que o aluno cumpra um certo número de créditos e horas de aula, mas sem nenhum direcionamento em especial, basicamente ele faz as aulas que quiser. Muita gente critica esse formato porque os atletas acabam escolhendo apenas as aulas mais fáceis e as que tem professores (geralmente membros do conselho atlético) que liberam os jogadores de diversas atividades de sala. Seria, para os críticos, um diploma ganho sem merecimento e sem valor.
A história mais interessante que eu conheço de jogadores da NBA e sua relação com as universidades é a do Vince Carter. Ele saiu da Universidade de North Carolina (a mesma de Stackhouse e Jamison) para a NBA, mas continou fazendo aulas para conseguir se formar também em Estudos Afro-Americanos. Ele conseguiu se formar em 2001, mas a cerimônia de formatura acabou ficando para o dia 20 de maio, mesma data do jogo 7 da semi-final de conferência entre o Philadelphia 76ers e o Toronto Raptors de Carter. Foi uma bafafá para saber se ele iria mesmo receber o diploma entre a imprensa e até dentro do time, mas para ele nunca foi uma dúvida. Foi para a cerimônia, recebeu o canudo e de lá saiu correndo para pegar um vôo até a Philadelphia.
E detalhe, não estamos falando de uma série de playoff normal, mas de uma das melhores da última década e talvez de todos os tempos. O duelo Carter-Iverson daquele ano está na história da NBA como um dos mais intensos e impressionantes já vistos. Vale a pausa no tema universitário para vocês entenderem do que estamos falando.
No jogo 1 foram 35 pontos de Carter e 36 de Iverson, com vitória do Raptors na Philadelphia. O Sixers respondeu vencendo o jogo 2 com 54 pontos do Iverson. A partida 3 teve o Carter acertando 8 bolas de 3 seguidas e marcando 50 para dar a vantagem de 2-1 para o Toronto. Ficou 2-2 depois que o Iverson liderou uma virada histórica marcando 30 pontos fora de casa. No dia do jogo 5 o Iverson recebeu seu troféu de MVP da temporada e marcou 52 pontos, 3-2. Empatou de novo depois que o Carter respondeu com 39 pontos no jogo 6. Logo depois veio o anúncio de que o Carter iria mesmo para a formatura no dia do jogo final.
Imaginem como estavam os ânimos nas duas equipes e em todos os jogadores antes do jogo 7. E mesmo assim o Vince Carter teve a frieza de conseguir dividir seu dia entre a formatura e o jogo. A partida acabou sendo bem truncada, nervosa e Carter marcou apenas 20 pontos, já Iverson recebeu marcação dupla o jogo todo e respondeu com seu recorde de assistências na carreira, 16. Mas o grande momento foi o fim da partida, quando Vinsanity teve a chance de transformar aquele 20 de maio no maior dia da sua vida. O diploma e um arremesso no último segundo em um jogo 7 fora de casa. Foi por pouco e até hoje ele ouve que jogou mal porque não se concentrou para aquela partida.
Os detalhes desse duelo épico podem ser vistos num especial da NBA TV em duas partes: Parte 1 e Parte 2. Vale a pena!
Não achei nenhum site que indicasse em quê cada jogador da NBA é formado, mas pesquisando fui achando aos poucos. Segue a lista dos que descobri:
Josh Howard – Fez a mesma Wake Forest onde o Tim Duncan se formou e onde Chris Paul ainda faz aulas. O único jogador a admitir que fuma maconha entre uma temporada e outra é formado em Sociologia. Um típico maconheiro dos cursos de humanas.
Michael Jordan – Apesar de também ter ido a North Carolina não se formou em Estudos Afro-Americanos, mas sim em Geografia.
Shaquille O’Neal – Ele fez 3 anos na LSU e depois foi para a NBA, mas acabou concluindo o curso depois, se formando em Artes e faltando a um jogo da temporada 2000-01 (com permissão do Phil Jackson) para ir à formatura. Na cerimônia ele falou ao público “Agora eu finalmente vou poder arranjar um emprego de verdade“. Em 2005 ele conseguiu um MBA online na Universidade de Phoenix e disse que um dia vai ter um trabalho das 9 às 5 como todo mundo.
Juwan Howard – Esse é nerd. Se formou em Comunicação e foi o primeiro jogador a sair da faculdade para a NBA antes de acabar o curso e mesmo assim conseguir se formar no mesmo ano que o resto da sua classe. A motivação dele foi uma promessa feita a sua avó, que achava que o neto não poderia desperdiçar a chance de poder estudar de graça numa faculdade grande como a Michigan State.
Emeka Okafor – Talvez o maior gênio da NBA na atualidade. Ele saiu da UConn depois de 3 anos, mas foi tempo suficiente para ele fazer e passar em todas as matérias necessárias e se formar com honras em Finanças. O seu então companheiro de time Ben Gordon dizia que ele não saía em uma viagem com o time sem levar dezenas de livros e passava a viagem inteira estudando.
Danny Granger – Ele jogou os 4 anos de faculdade, mas foi dividido. Os dois primeiros em Bradley e depois na Universidade do Novo México. Se formou em Engenharia Civil!
Grant Hill – Assim como Tim Duncan, poderia ter saído antes da faculdade, mas vivendo o melhor momento da história de Duke resolveu passar os 4 anos na faculdade e se formou em Ciências Políticas. Curiosidade política sobre o Hill: sua mãe foi companheira de quarto de Hillary Clinton na faculdade e as duas mantiveram contato. No dia em que foi escolhido no Draft, Grant Hill recebeu um telefonema do então presidente e marido de Hillary, Bill Clinton.
Shane Battier – Outro formado em Duke como Grant Hill. Ele chegou a ganhar prêmios dentro da Universidade como um dos melhores alunos e se formou em Estudos Comparativos de Religião, uma área que procura semelhanças e diferenças entre mitos, rituais e conceitos em religiões ao redor do mundo.
Devin Harris – Está fazendo aulas no verão para terminar o curso de Sociologia.
David Robinson – A outra torre gêmea ao lado de Tim Duncan também se formou e era muito bom nos estudos. Teve uma nota absurda nos SATs, uma espécie de vestibular americano e escolheu ir para a Academia da Marinha, onde se formou em Matemática. Tá aí outro motivo para odiar o Spurs, eles eram campeões com um garrafão que não era só melhor que o do seu time, mas também mais culto e inteligente. O outro odiado do Spurs, Bruce Bowen, é formado em Comunicação.
John Salmons – Ok, esse é bizarro. Ele se formou na Universidade de Miami em Criminologia e Sociologia, mas diz que quando parar com a NBA quer trabalhar como fashion designer. Faz algum sentido? Que comecem as piadinhas do estilista que joga no time do veadinho.
Chris Bosh – Ele ainda não acabou a faculdade, mas prometeu para sua mãe que ainda vai ir até o fim. Sua formação é em Design Gráfico.
Aaron Brooks – Formado em Ciências Políticas pela Universidade do Oregon.
Kenyon Martin – Sabe aquele doido de pavio curto, cara de mal e tatuagens pelo corpo? Formado em Justiça Criminal. Será que ele conversa sobre isso com Carmelo Anthony, JR Smith e Chris Andersen? Só perguntando…
Pau Gasol – O espanhol chegou a passar numa faculdade de medicina antes de decidir que iria ser somente jogador profissional de basquete. Mas quem sabe ele não faz depois que se aposentar, imagina que bizarro ser atendido por um médico de 2,16m!
Brandon Roy – O armador do Blazers deve se orgulhar de ter se formado. Ele precisou fazer quatro SATs para conseguir a nota mínima para entrar na universidade, tamanha era sua dificuldade nos estudos. Ele cursou os 4 anos na Universidade de Washington e se formou em Estudos Étnicos Americanos.

Atualização!
Ron Artest – Atendendo a pedidos, colocamos o Ron Ron. Ele é formado em Matemática pela Universidade de St.John. Aproveitando sua especialidade, ele criou o A.R.T.E.S.T (Arithmetic Reaches Tomorrow’s Exemplary Students Today), um programa de ensino de matemática na escola Felix Cook Jr que ensina crianças de 3ª a 5ª série questões de matemática usando estatísticas do Ron Artest na NBA.
É isso, esse post é uma homenagem a todos que na nossa pesquisa estão pedindo por textos menores.

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