>Fedem mas nem tanto

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“Dá um abraço no titio!”

Só de brincadeira, imagine que os 15 times de cada Conferência fossem aos playoffs no mesmo formato em que ele é hoje em dia: o melhor time enfrentando o pior, o segundo melhor enfrentando o segundo pior e assim por diante. Se os playoffs começassem hoje, teríamos o melhor time do Oeste, que é o Spurs, enfrentando o pior da  Conferência, que é o Clippers. Enquanto isso, o Lakers em má fase, que caiu para a quarta colocação, enfrentaria o Houston em fase tenebrosa, amargando a quarta pior campanha do Oeste. E, ainda assim, Clippers e Rockets saíram vitoriosos ontem. As duas zebras mostram não apenas que o Lakers anda tropeçando nas próprias pernas e que o Spurs não é esse time imbatível que se comenta por aí, mas também que Rockets e Clippers são equipes muito melhores do que suas campanhas indicam.

A última posição na tabela para o Clippers, em especial, é muito cruel. Isso porque um dos responsáveis pela péssima campanha é a famosa “maldição do Clippers”, que sempre dá um jeito de contundir todo mundo caso o time seja bom: dentre os titulares, Chris Kaman está com uma torção e só jogou metade das partidas até agora, e Baron Davis tem problemas nos joelhos – fora que seus reservas também estão baleados, com o Eric Bledsoe voltando de uma torção no tornozelo e o Randy Foye ainda fora com uma lesão na coxa.

Com Kaman e Baron Davis em plenas condições no quinteto titular, o Clippers certamente teria mais algumas vitórias para sair do fundo do poço. No caso do Kaman, ele é um melhores pivôs da NBA e sua presença embaixo do aro certamente diminuiria a marcação em cima de Blake Griffin – além, claro, de ajudar o time na defesa do garrafão, em que eles fedem. Mas no caso do Baron Davis, o negócio é mais complicado. Quando ele entra bem em quadra, como foi o que aconteceu na partida de ontem contra o Spurs, o Clippers é um timaço. Não faz muito tempo que o Baron Davis era considerado um dos melhores armadores da liga, levando nas costas aquele Warriors que desclassificou o Mavs, dono da então melhor campanha na temporada regular. O problema é que, mesmo quando as contusões não aparecem, é muito difícil ver o Baron Davis entrar bem em quadra, simplesmente porque ele não se importa.

Quando jogava no Warriors, jogava com intensidade, enterrava na cabeça de todo mundo e chamava para si a responsabilidade. Às vezes, até demais. Por ser fominha demais em jogos cruciais que decidiriam a vaga para os playoffs, Don Nelson começou a deixar o Baron Davis de molho no banco de reservas nos momentos importantes das partidas. Não demorou para que ele desse o fora de lá, por conta própria, e escolhesse jogar em Los Angeles para estar mais próximo de sua empresa, uma produtora de filmes. Mas o arrependimento veio logo: Baron Davis descobriu que todas as outras equipes de basquete não comandadas pelo técnico-biruta Don Nelson eram times de verdade, com horários, treinos, defesa, regras de alimentação, jogadas planejadas. Em mais de uma ocasião, Davis foi a público dizer como as coisas eram mais “suaves” no Warriors, e que ele não se dava bem com o clima rígido e pesado do Clippers. Aos poucos foi se desinteressando, focado na produção de filmes nas suas férias, e deixando o basquete de lado.

A troca de técnico talvez pudesse renovar o interesse do Baron Davis, mas o primeiro passo foi catastrófico: ele se apresentou ao time completamente gordo, sem ter jogado um único minuto de basquete nas férias, e o novo técnico Vinny Del Negro ficou puto da vida. Esse é o Baron Davis, senhoras e senhores: um jogador que poderia estar chutando traseiros mas que já torrou o saco, apenas aguarda sua aposentadoria pra poder parar com essa bobagem de basquete. Tipo quem trabalha em banco.

O curioso é que o Baron Davis gordo e desinteressado já seria o bastante para que o Clippers se tornasse um time respeitável. É por isso que, tirando as lesões, a culpa é quase toda do Vinny Del Negro, que de bom só tem o nome de boxeador. Quanto mais vejo o Clippers jogar, mais lembro dos problemas do Bulls na temporada passada e mais acho o Vinny Del Negro um técnico medonho. No Clippers, quando a bola gira no ataque para um dos lados da quadra, ela simplesmente morre por lá. É como se o time tivesse uma jogada para levar a bola para a zona morta, mas quando não surge com isso uma oportunidade de arremesso, a jogada congela. Fica um jogador com cara de bunda segurando a bola bem marcado, 15 segundos sobrando no relógio de arremesso, e aí vai forçando caminho contra a defesa até fazer alguma merda. Essas jogadas que simplesmente “morrem” se extendem a qualquer jogada planejada pelo Clippers. Quando eles fazem um corta-luz na cabeça do garrafão, por exemplo, e não surge uma oportunidade de cesta, o armador sobra com a bola nas mãos e o time inteiro fica parado – provavelmente pensando algo como “nós só planejamos até aqui”. As jogadas não tem nem ritmo, nem continuidade, e nem um “plano B”. Provavelmente por isso o Derrick Rose era obrigado a se virar tanto sozinho, naquelas jogadas de abaixar a cabeça e correr pra frente que eu tanto critiquei na temporada passada. Pronto, tá aí: depois de ver o Clippers jogar e de ver o Derrick Rose acabar com o meu Houston Rockets uma semana atrás, posso dizer que ele chuta mesmo traseiros e que a culpa era do Vinny Del Negro.

Por isso mesmo o Baron Davis é tão importante para esse Clippers: só ele pode fazer o que o Derrick Rose fazia, que é conseguir espaço à força na defesa e conseguir uma situação de cesta. Ontem contra o Spurs, parecia até brincadeira de criança: o gordinho ia com seus movimentos em câmera lenta adentrando no garrafão da equipe de San Antonio e aí passava pro Griffin só porque era legal. Foi assim que o Griffin deu mais enterradas livres do que em qualquer outro jogo da carreira, e contra uma defesa que deveria ter engolido o novato vivo (pensando melhor, o Griffin já jogou contra o Knicks, então com certeza já deu mais enterradas livres, sim). O Blake Griffin anda despirocando a cabeça da molecada, já diriam essas gírias que eu não faço ideia do que significam. Ele já virou queridinho de uma grande parte do pessoal que acompanha a NBA e tinha saudades de ver tanta enterrada de um cara que não chame Dwight Howard. E tem mais, o Blake Griffin cria os próprios arremessos, arranja na marra o espaço para enterrar, e pode finalizar com as duas mãos sem ter que enterrar em toda jogada. Ou seja, sua inteligência no ataque é o bastante para vencer alguns jogos sozinho, enquanto a inteligência ofensiva do Dwight consegue no máximo fazer cruzadinhas no nível “É sopa!”.

Mas é claro que o Dwight dá um pau quando o assunto é defesa, e é nesse ponto que os novos fãs do Clippers precisam respirar fundo e entender que o time ainda fede. Recebemos perguntas e comentários no formspring o tempo inteiro dizendo que o Griffin vai ser MVP, que o time só precisa de um armador para ser campeão, que o Clippers vai para os playoffs. Vamos parar com as “dorgas”, por favor. Se não bastasse o ataque do Vinny Del Negro ser um desastre e depender justamente de um jogador que não está nem um pouco interessado em jogar basquete, a defesa é ainda pior. O posicionamento para os rebotes é péssimo (inclusive por parte do Griffin), a cobertura é mal feita porque a marcação não roda, e faltam defensores no perímetro. No garrafão, DeAndre Jordan é muito cru e, mesmo tendo muito potencial, não deixa de ser simplesmente uma anta. Suas falhas defensivas são assustadoras, coisa que um gorila treinado não faria, mas aí ele dá alguns tocos espetaculares porque ele conseguiria pular até a Lua se quisesse e todo mundo esquece das cagadas. Kaman precisa voltar logo, pena que os joelhos dele são feitos de farinha.

Eric Gordon está chutando traseiros, voltou espetacular de seu tempinho com a seleção gringa, mas o aproveitamento nas bolas de três pontos tem sido um problema. Eric Gordon tem problemas para se livrar da marcação no perímetro, e as jogadas do Clippers nunca lhe deixam livre. Falta um bom passador no garrafão (coisa que o Griffin, só às vezes, consegue ser) e jogadas que girem a bola atrás de um jogador livre, não que morram nas mãos do Eric Gordon bem marcado e ele não possa fazer nada a não ser forçar uma bola de três pontos horrorosa. Contra defesas de perímetro mais vagabundas, o Clippers é um time bem mais eficiente.

Coisa similar acontece com o Houston Rockets, que também não merece amargar a quarta pior campanha do Oeste. Já falei deles num post recentemente, abordando a dificuldade do time em conseguir um padrão de jogo, mas ainda assim formam uma equipe muito perigosa quando as bolas de três pontos estão caindo. As movimentações ofensivas do técnico Rick Adelman se focam muito em cortes em direção à cesta, seja pelo meio do garrafão, seja pelo fundo da quadra. As equipes que defendem bem o garrafão acabam diminuindo a movimentação do Houston, e as bolas de três pontos precisam cair porque sobra muito espaço para arremessar nesse esquema. Bons arremessadores o time até tem, mas além da maioria não arremessar tanto quanto deveria (deve ser resultado de muita lavagem cerebral do tipo “passem primeiro para o garrafão, procurem primeiro o Yao Ming“, que vai resultar em cedo ou tarde alguém passando a bola para o Yao de terno no banco de reservas), o aproveitamento também tem sido péssimo. Minha sugestão é que se trata, agora, de uma questão de confiança. Após perder os primeiros jogos por placares apertados, não ter mais Yao Ming, e ver a posição na tabela caindo cada vez mais, os arremessos de três ganham outro peso, ficam mais difíceis de converter. Especialmente porque o melhor arremessador da equipe, que é o armador titular Aaron Brooks, passou a maior parte da temporada fora lesionado. Quando ele acerta um par de bolinhas o time acalma, respira, e fica mais fácil para os jogadores secundários acertarem as deles. Depender de bolas de três de quem está tremendo e não quer arremessar fica muito complicado.

É por isso que o Houston venceu o Lakers ontem na experiência do Shane Battier, que sempre foi um bom arremessador de três da zona morta mas que pouco arremessa nesse time, executando outras funções – especialmente defensivas porque o resto do Rockets fede e muito na defesa. Quando as bolas de três caem o Houston é muito perigoso, e isso agora significa – sem Aaron Brooks – que o Battier precisa usar seu sangue frio para arremessar mais. O time coloca cada vez mais a bola nas mãos do Kevin Martin nos momentos difíceis, e ele é um bom arremessador, mas sua tendência é sempre de bater para dentro. Dá pra ver que ele força arremessos de três que não queria dar apenas porque sabe que o time precisa deles, mas sua especialidade é outra – e os próprios arremessos de três que dá seriam mais eficientes se ele pudesse chutar apenas quando está realmente livre, sem a pressão de ter que arremessar a toda hora.

Quando Brooks e Yao voltarem, a situação melhora e o fundo da tabela vai ser coisa do passado, mas a falta de padrão de jogo vai acompanhar para sempre esse time enquanto o Yao for peça central. Assim como o Clippers, que sabe muito bem como é depender de um jogador como o Baron Davis que você nunca sabe se estará lá de verdade, se você poderá ou não contar com ele. O potencial para que os times escalem rumo aos playoffs existe, mas as chances beiram ao ridículo graças à essa dependência de jogadores inconstantes e o quanto isso destrói o padrão de jogo de uma equipe.

Sobre o Lakers e o Spurs, que perderam, a gente comenta nos próximos dias. Mas não antes de comentar a partida de hoje à noite entre Cavs e Heat, que é também um jogo entre um dos quatro melhores do Leste contra um adversário mais fraco – mas que estaria indo para os playoffs, em oitavo, com seus próprios méritos. E tudo isso sendo bem pior do que Clippers e Rockets, vale ressaltar. O mistério do rendimento do Cavs e a reação da equipe – e da cidade – à presença de LeBron James serão nosso post de amanhã. E, antes disso, não deixe de acompanhar a partida (que começa às 23h) através do nosso twitter, que vai estar bombaaaando, cheio de curtição e azaração para a nossa galerinha irada!

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