>O prêmio de consolação que deu certo

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Deal with it

A gente tem o poder de elogiar um time e vê-lo perder na rodada seguinte. Ou falar mal de um jogador e ele meter 30 pontos no mesmo dia. Não costumamos estar tão errados assim, às vezes é só naquele dia mesmo, pra tirar uma com a nossa cara. Foi o que aconteceu com o Mavs que perdeu do Bucks bem quando o Danilo fez um post explicando a espetacular sequência de 12 vitórias seguidas do time de Dallas. Mas não se preocupem torcedores do Mavs, nossa zica dura pouco e perder do Bucks não é tão ruim quanto parece. Os veadinhos tem a quinta melhor defesa da NBA! Seu recorde negativo de 10 vitórias e 13 derrotas só existe porque são o segundo pior ataque. Quando conseguem colocar a bola dentro daquele anel laranja que fica pendurado num quadrado de vidro, eles são um ótimo time. Dá pra reclamar que jogaram uma vantagem de 18 pontos no lixo (em casa!), que sofreram com o Hack-a-Haywood e que fizeram uma cesta contra, mas nem tudo é perfeito, né?

Tem time muito mais satisfeito e com números piores na tabela, como o NY Knicks, e é deles que vamos falar e zicar hoje. A satisfação da torcida do Knicks, eufórica ultimamente mesmo sendo uma das mais pentelhas dos Estados Unidos, é explicado pelo enorme fracasso da franquia nos últimos 10 anos. Em 1999 eles se classificaram em sétimo para os playoffs mas mesmo assim venceram o Leste e foram até a final, em que tomaram de 4 a 1 para o Spurs. Nos anos seguintes, de 2000 até hoje, possuem o pior aproveitamento da NBA (perderam 62% dos seus jogos) ao mesmo tempo em que foram o time que mais gastou dinheiro com salários e técnicos. É como pagar mais que todo mundo por um videogame e levar pra casa um 3DO.

Com um desastre atrás do outro eles resolveram se focar em LeBron James. Passaram as últimas temporadas só acumulando contratos expirantes para chegar em 2010 com chance de levar o jogador mais humilde da NBA para a cidade mais humilde dos EUA. Não deu certo. Perderam para Miami não só LeBron como Wade, mas levaram um prêmio de consolação que muito time venderia a mãe para ter: Amar’e Stoudemire. E no desespero por um armador pagaram mais do que qualquer um pagaria pelo Raymond Felton. Essa offseason era pra ser a virada do Knicks, mas acabou sendo um “Fizemos o nosso melhor e ainda estamos em obras”.

Mas a verdade é que o resultado tem saído maior do que muita gente (eu estou nessa!) esperava. Explico todas as razões.

Em uma matéria da faculdade, ainda no Brasil, fiz um projeto de como seria uma revista Bola Presa de basquete. Ficou bem legal e a matéria principal, que fiz só para o meu professor que não sabe nada de basquete ler, era sobre o Amar’e Stoudemire. Questionava se valeria a pena um time investir nele e colocava em questão os argumentos daqueles que acham que ele é um dos melhores jogadores da NBA e os que acham que ele é mais um produto da Steve Nash Ltda. Eu, desinteressante como sou, me colocava no meio termo. Ninguém tem mais de 25 pontos por jogo em uma temporada (como ele já teve duas vezes) só porque tem um armador bom. E era só ver os jogos dele (a segunda metade da temporada passada tem vários exemplos bons) pra ver como nem tudo o que ele fazia era produto de jogada do Nash. A maioria era, claro, mas quando se joga com o Nash é assim!

Mas eu ficava ainda em cima do muro porque achava que ele não era muito eficiente quando segurava muito a bola ou tentava comandar o jogo sozinho. É o tipo de jogador que tem que fazer cortas e brigar por um bom posicionamento para então receber a bola e fazer o que ele sabe fazer, pontos. Portanto, não era que Amar’e precisava do Nash, mas sim de um bom armador, qualquer um, não necessariamente um gênio.

No começo da temporada os meus medos se mostraram verdade, o Amar’e estava fazendo sua tonelada usual de pontos mas do pior jeito possível. Recebia a bola longe da cesta e demorava um tempão até conseguir infiltrar ou arremessar. Era um ataque sem padrão tático e sem a velocidade que o técnico Mike D’Antoni gosta de ver em seus times. O resultado numérico foi um Knicks que não assustava ninguém e que tinha melhores números quando Amar’e estava fora de quadra. Mesmo quando ele marcava 30 pontos acabava com -5 ou -10 nos “net points” ou “plus/minus”, o número que conta o placar do jogo só quando certo jogador está em quadra. Era um típico caso de buraco-negro que lembrava os tempos de Zach Randolph no Blazers e no mesmo Knicks.

Mas com o tempo a coisa foi mudando, bem aos poucos, jogo a jogo. No começo os números do “plus/minus” ainda não favoreciam muito o Amar’e, mas ele já estava fazendo a diferença no quarto período dos jogos e o Knicks começou a vencer e não parou mais. São hoje oito vitórias seguidas e 13 nos últimos 14 jogos, e nesses oito jogos seguidos o STAT marcou mais de 30 em todos as partidas, um recorde da franquia e o primeiro jogador da NBA a conseguir pelo menos 8 jogos seguidos com mais de 30 desde que Kobe Bryant conseguiu 9 vezes seguidas na temporada 2005-06.

As duas últimas partidas foram simbólicas também para o Amar’e, ele não só fez jogadas decisivas no fim dos jogos como os números começaram a contribuir também. Na difícil vitória contra o Nuggets, o time esteve +16 com Amar’e em quadra e -12 com ele fora, antes, contra o Wizards, +13 com e -7 sem ele. Mas não vamos ficar presos nos números, o time agora consegue procurar ele em quadra mas sem se prender a isso. Eles fazem suas jogadas e não jogam em função do seu pivô. Ao invés de assistir ao Amar’e, jogam o basquete veloz que devem jogar e o acionam quando é a melhor opção. Eu outras palavras, estão entrosados.

E já que estão entrosados temos que falar dos outros jogadores que fizeram possível a gente falar bem do Knicks pela primeira vez em tanto tempo. Tudo começa com Raymond Felton, o armador que, nas sábias palavras de um analista do site FanHouse, “parece melhor jogador em 20 jogos pelo Knicks do que em 5 anos pelo Bobcats”. Isso define o que é o Felton nessa temporada. Esqueça tudo o que já comentamos sobre ele nos últimos anos, é um novo jogador, mais agressivo (+4 arremessos tentados em relação ao ano passado), melhor arremessador (melhor marca na carreira em arremessos de quadra e segunda melhor em três pontos) e melhor em pontos, 18 por partida, 4 a mais que no ano passado. Também tem os melhores números em assistências, 8,7, contra 5,6 na temporada anterior, e em roubos, 2 por jogo, 8º melhor em toda a NBA. O aumento no número de assistências e de arremessos tentados mostra como ele tem uma função muito mais importante e que fica mais com a bola na mão no Knicks. No Bobcats ele distribuía a responsabilidade de armar as jogadas com Stephen Jackson e Boris Diaw, que são bons passadores, mas em New York ele tem a chance de comandar o show por conta própria e ainda pode jogar em velocidade. Ele não é nenhum Ty Lawson correndo mas se sente mais confortável no jogo de transição do que no basquete burocrático de meia quadra que o técnico Larry Brown usava em Charlotte.

Outra coisa que o Felton tem no Knicks que não tinha em Charlotte? Sorte:

Algumas pessoas tem criticado o Danilo Gallinari nessa temporada, mas acho que o jogo dele só tem muito problema pra quem tinha a expectativa de que ele seria um jogador completo e espetacular. Ele não é isso e acho que nunca vai ser, mas é um ótimo arremessador e até melhorou levemente o seu aproveitamento em arremessos perto do aro. É um role player que faz bem o seu papel e que não compromete porque quando está em um mal dia pode ser rapidamente substituído pelo Wilson Chandler, que faz a melhor temporada da sua carreira. Chandler é um dos vários bons candidatos ao prêmio de 6º homem da temporada com média de 17,5 pontos, 6 rebotes e 37% de aproveitamento nos três pontos, quase 10% melhor que na temporada passada! Ele dobrou o número de tentativas de três por jogo em relação ao ano passado, deixou de atacar o aro como antes e tem se estabelecido no time como um arremessador, usando o espaço que ter um pivô dominante como o Amar’e Stoudemire abre.

Por fim merece muito destaque o Landry Fields. Ele foi escolhido no segundo round do Draft e até dissemos aqui que ele deveria mofar na D-League. Não é à toa, os dois maiores sites que analisam universitários que vão para a NBA, o NBADraft.net e o DraftExpress, não colocavam o Fields nem entre os 60 draftados. O NBADraft.net dizia que ele era o 93º melhor jogador inscrito! 6 meses depois ele está recebendo o prêmio de novato do mês na frente de Evan Turner e John Wall. Pode-se questionar o prêmio, mas só de estar na discussão é uma surpresa, ele estar na NBA é uma surpresa, oras!

Ele tinha todas as características de jogadores que fracassam na NBA: Com 2,01m ele tem altura para jogar em diversas posições, na universidade jogava nas posições 2, 3 e 4, mas assustou alguns scouts da NBA ao se destacar mais na 4, como ala-pivô. Sem chance dele entrar num garrafão da NBA com esse tamanho. Também tinha o problema dele ter tido três anos discretos antes de brilhar no basquete universitário como Senior e, por fim, era bom em tudo mas não era especialista em nada. No segundo round do Draft os times costumam buscar especialistas (defensor, arremessador, reboteiro) ou algum cara de 19 anos que possa ser preparado para o futuro. Fields não era ruim em nada mas não era espetacular em nada e já tinha 22 anos. Ele tinha tudo pra dar errado.

Porém, observar talentos juvenis não é uma ciência exata e surpreendentemente ele está conseguindo repetir as atuações “all-around” em nível profissional. 10 pontos por jogo, 7,6 rebotes (excelente número para alguém de sua posição) e um roubo por jogo, sem contar os 52% de aproveitamento. Ele não força arremessos, é muito bom nos rebotes, erra pouco, defende muito bem e faz o trabalho sujo que o David Lee fazia até o ano passado como corta-luz, rebotes ofensivos, acompanhar o contra-ataque para aproveitar uma bola que sobre na sua mão, recuperação de bolas perdidas, etc.

Com a ascensão de todos esses jogadores, o Knicks saiu do nível de mediocridade que lhe era característico na última década e hoje parece um legítimo time de playoff no Leste. Mas depois disso aparecem duas perguntas:
1. Essa sequência de vitórias foi algo real ou um golpe de sorte?
2. O time precisa ainda de uma mudança drástica para realmente ir longe?

1. Eu não acredito que tenha sido um golpe de sorte, eles jogaram realmente um bom basquete, mas também abusaram de um calendário que os ajudou. Durante as 13 vitórias em 14 jogos, enfrentaram times em má fase como Clippers, Kings, Nets, Wolves, Raptors, Wizards e Bobcats. Além de pegar os bons Warriors e Hornets em seus piores momentos na temporada. Vitória impressionante mesmo foi a última sobre o Nuggets! Não é culpa do Knicks pegar esses adversários um atrás do outro e isso não desvaloriza o feito deles, a primeira sequência de 8 vitórias da franquia desde 1995, mas se nos próximos 14 jogos eles ficarem com 7-7 não vejam como uma aberração também.

2. O Donnie Walsh, presidente do Knicks, disse essa semana: “Se você acha que o time é bom o bastante você não faz nenhuma troca bombástica, se achar que não é o bastante você faz. Eu ainda não decidi o que eu acho sobre o nosso time”.

Ele provavelmente vai se decidir até o fim do mês. Hoje o Knicks pega o Celtics e até o fim do mês enfrenta o Miami Heat, Orlando Magic e o Chicago Bulls, todos os times do Leste que estão hoje à frente do Knicks. Se o time tiver sucesso contra todos esses, talvez eles não façam nenhuma loucura atrás de Carmelo Anthony, mas se tomar um sarrafo atrás do outro é possível que alguma coisa mude, eles não parecem estar satisfeitos em voltar a ser um time de playoff, o plano do Knicks é mais ambicioso.

Um plano poderia ser esperar até a temporada terminar e simplesmente assinar com o Carmelo Anthony, que já deixou bem claro pra todo mundo que gostaria de jogar no Knicks. Parece o cenário perfeito porque assim eles não perdem nada fazendo uma troca, só ganham o Melo por nada. Mas a coisa não é tão fácil quanto parece. Primeiro porque o Nets está se equipando para continuar atrás de Melo, hoje já conseguiu mais duas escolhas de 1º round (de Lakers e Rockets, em uma troca que vamos analisar mais pra frente e enviou Joe Smith para o Lakers, Terrence Williams para o Rockets e Sasha Sharapova para o Nets) para mandar para o Denver junto com Derrick Favors em troca do ala. Depois porque o Carmelo quer assinar a sua extensão de contrato antes da temporada acabar, para não correr o risco de ganhar menos do que podia com o novo acordo financeiro entre a liga e os jogadores. O jogador prefere o Knicks sobre o Nets, mas entre ganhar muito mais dinheiro no Nets e menos no Knicks ele pode mudar de idéia.

Tem também uma terceira questão importante: O time pode precisar de mais peças para brigar com os times do topo do Leste, mas esse cara é o Carmelo Anthony? Afinal, o que ele traria para o Knicks são pontos e um poder de decisão no quarto período. Mas o Knicks é o quarto melhor ataque da NBA em pontos a cada 100 posses de bola, o segundo em total de pontos e Felton e Amar’e estão se virando mais do que bem nos quarto períodos fazendo o bom e velho pick and roll. Eles tem vários pontuadores, já falamos aqui de Gallinari e Chandler, não seria melhor buscar outro tipo de jogador?

O Knicks ainda é uma defesa fraca, é apenas o 24º melhor time da liga em pontos sofridos a cada 100 posses de bola e é o terceiro time que mais sofre pontos no garrafão, atrás apenas dos patéticos Raptors e Suns, que nem deveriam contar na lista porque eles não tem idéia do que é defender um garrafão. Entre Melo e um bom ala de força ou pivô para jogar ao lado de Amar’e, o que o Knicks precisa mais? É uma questão pra pensar durante o jogo de hoje contra o Celtics. Sim, eu sei que somar nossa zica de falar de um time e ele perder logo no dia que esse time enfrenta o melhor time do Leste é apelação. Mal aê, Knicks.

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