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Acalmem-se torcedores do Bulls. Pela primeira vez em um bom tempo quem vai falar do time de vocês não é o Danilo, então podem ficar tranquilos que eu não vou pegar tanto no pé do Derrick Rose quanto o meu parceiro de blog. Nós dois costumamos concordar na maioria dos assuntos quando se trata de NBA, seja logo de cara ou até um conseguir convencer o outro, mas com o Chicago Bulls acho que não tem jeito, é onde temos mais diferenças.
A primeira delas vocês já conhecem, é o Derrick Rose. Enquanto o Danilo não acha ele o deus que muita gente por aí considera, eu me impressiono cada vez mais com o garoto. Sempre foi muito rápido, compete com o Russell Westbrook pelo título de armador com mais impulsão (e mais enterradas fora de série) e desde que foi para a seleção americana no mundial aprendeu a arremessar como se fosse um Ray Allen de bigode. Sério, olha esses números: em bolas de três pontos o aproveitamento dele era de 22% no seu primeiro ano, 26% no ano passado e hoje é de 42%! O Ray Allen tem 1% a mais, 43. Tá bom que o Ray Ray tenta bolas mais complicadas e tem marcação especializada para pará-lo da linha dos três, mas mesmo assim é impressionante.
Curioso que embora às vezes tenhamos uma impressão diferente durante os jogos, o aproveitamento do Rose em todas as outras posições da quadra é basicamente o mesmo de antes ou não mudou o bastante para ser relevante. Seus arremessos tentados por jogo subiram em 3 em relação à temporada passada e as bolas de 3 tentadas subiram de pouco mais de 0 para 4 por jogo. Ou seja, em termos de pontuação o Derrick Rose é o mesmo jogador do ano passado mas agora tentando (e acertando) bolas de três pontos.
Mas chamo mais a atenção para outra estatística, que mostra uma melhora do Rose no quesito que ele mais me incomoda, os passes. Ele melhorou de 6 assistências por jogo para 8.3, o que o coloca no top 10 da NBA pela primeira vez na carreira. Chamo a atenção para isso porque eu sempre achei que o maior problema do Rose é que ele era bom demais, mas não conseguia transformar esse talento em um time melhor, o Bulls era um time estagnado no ataque que vivia de umas infiltrações e do tipo de assistência mais básico que existe, o kick-out, que é quando o armador entra no garrafão e toca para alguém arremessar de fora. Todo time precisa disso, mas é pouco.
Nessa temporada, porém, com um novo técnico, Tim Thibodeau, o Bulls começou a ameaçar novas movimentações ofensivas. Foi aos poucos, o técnico está mais preocupado com a defesa (atualmente a quinta melhor da NBA), mas o ataque está mudando. Além da contribuição do técnico, estão contribuindo os novos jogadores, em especial Kyle Korver e agora Carlos Boozer.
O Korver me chamou a atenção quando chegou na NBA em 2003 primeiro porque parecia o Ashton Kutcher, depois porque poucas vezes tinha visto um novato ser tão bom nos arremessos de três, e por fim porque o Marcel (sim, o ex-jogador da seleção brasileira) o odiava. Naquela época a NBA era transmitida na TV aberta pela RedeTV, com comentários do Marcel, jogadas-show, a delícia da Cristina Lyra fazendo parte do programa, e por algum motivo estranho todo mundo aparecia na transmissão com um PSP na mão. Sempre que tinha jogo do Sixers (e tinha bastante, pelo horário favorável da costa leste americana e pelo Allen Iverson) era um festival de ódio ao Korver. Não sei se é birra que um arremessador tem com o outro ou se o Marcel tinha medo que as pessoas achassem que se ele tivesse jogado na NBA teria sido só um reserva em um time médio, sei lá, o psiquiatra dele que explique, mas pra mim era motivo para prestar mais atenção no novato branquelo.
Nos anos seguintes foi possível ver o Korver melhorar em muita coisa, até na sua pouco conhecida defesa, mas ele virou mestre mesmo em se movimentar sem a bola. Vindo da escola Reggie Miller de correr como um rato num labirinto, ele aprendeu a sempre achar um lugar para arremessar e hoje vive não só das bolas de três, mas de chutes de todos os cantos da quadra. Ele é o jogador perfeito para a “Motion Offense”, o sistema de ataque que o Bulls usa e que, embora tenha um milhão de variações, todas tem os mesmos princípios: Poucas jogadas desenhadas para serem seguidas à risca, espaçamento entre os jogadores, muitos passes e movimentação constante dos jogadores. Se um está correndo para o seu lado você não pode ficar lá e embolar tudo, todo mundo precisa dar espaço um para o outro. É isso que faz o Rose ter espaço para driblar e infiltrar, os arremessadores ficam longe dele, os jogadores de garrafão saem da frente e tudo fica mais fácil.
E é aí que eu volto para os problemas do Derrick Rose com os passes. Ano passado tinha a desculpa do ataque que tinha correntes nas pernas, mas nesse ano com todo mundo se mexendo ainda acho que o Rose segura demais a bola. Ele não é ruim por causa disso, não tiro ele da briga de MVP e nem nada do tipo, mas é algo que eu não consigo ver sem me incomodar. Às vezes eu tenho a impressão de que o time mesmo pára de se mexer de tanto que o Rose fica driblando pra lá e pra cá, e ele dribla tão bem que eu faria o mesmo se jogasse lá, parece que o maior problema do cara é excesso de talento. Mas falando sério, o Bulls tinha que dar um jeito de balancear isso. Deixar tudo nas mãos do Rose em um quarto período de um jogo apertado ou quando o time está mal e precisa dar uma empolgada é normal, estrelas estão aí pra isso, mas acontecer durante o jogo todo só serve para deixar outros jogadores fora de ritmo e o Rose cansado.
E o pior é que eu acho que essa situação só tende a ficar ainda mais evidente. Tudo porque o Joakim Noah ficará fora do time por 2 meses depois de operar o dedo, pelo jeito ele não é nenhum Kobe Bryant ou Lula para fazer seu trabalho do jeito que quer mesmo com dedos a menos. Ele reclamou que não conseguia fazer as coisas do mesmo jeito, que não estava jogando no nível que ele esperava e decidiu perder esses meses ainda na temporada regular para operar. Embora ele seja um pivô, pareça desengonçado e tenha o único arremesso da NBA que pode ser comparado ao do Shawn Marion, é bizarramente o melhor passador do time depois de Derrick Rose.
Abaixo um vídeo com o “Tornado”, a estranhíssima mecânica de arremesso do Noah, que melhorou consideravelmente o seu arremesso de meia-distância.
O Noah era o cara que depois de fazer o corta-luz para o Derrick Rose podia receber a bola e não parar a jogada, é tipo raro e útil de pivô. A maioria ou recebe a bola pra enterrar, pra arremessar ou para chorar por não saber o que fazer com aquele estranho objeto laranja, mas o Noah tem esse arremesso que é bom (mas não deveria) e uma visão de jogo acima da média para encontrar companheiros livres para o arremesso.
Para compensar, o Bulls finalmente tem o Carlos Boozer, que passou o começo da temporada machucado e não chegou a disputar 10 partidas ao lado do seu parceiro de garrafão. Boozer vai compensar um dos talentos do Noah, os rebotes, além de ter um arremesso melhor e 100 vezes mais bonito. Mas em compensação ele não tem o mesmo tamanho, defesa e passe. Boozer recebe a bola pra definir.
Mas falando da defesa do Boozer, esse é outro ponto chave em que eu e o Danilo discordamos. Ele acha que o Carlitos é um peso morto na defesa, eu acho que ele tem alguns talentos que precisam ser reconhecidos, como o esforço, a dedicação em bolas perdidas e principalmente os rebotes de defesa. Uma defesa só é boa de verdade quando todo o esforço para forçar o erro adversário resulta em um rebote na sua mão, se eles pegam de novo não serve pra nada. E o Boozer é excelente na proteção do rebote defensivo.
Mas ele está longe de ser perfeito, eu sei. Uma jogada do último jogo deles contra o Clippers, quando foram destruídos pelo Blake Griffin, mostra como é o Boozer. Ele voltou mais rápido que toda a defesa do Bulls de um ataque mal sucedido para interceptar um passe e jogar a bola para lateral. Esforço inteligente e digno de aplausos, longe de ser um JR Smith desinteressado que vemos por aí. Mas em compensação, assim que o Clippers botou a bola em quadra o Boozer foi abusado pelo DeAndre Jordan, que deu uma enterrada impressionante. Vai ser por falta de tamanho e capacidade, mas não de vontade, que o Bulls deve piorar na sua defesa sem Noah.
Vai ser complicado pra eles manter essa posição no Top 5 da NBA em defesa improvisando Boozer ou Taj Gibson de pivô ou dando minutos demais para o Omer Asik. Mas no ataque eles devem se dar bem, se perdem o passe do Noah, ganham algo que não têm desde… desde… alguém lembra a última vez que o Bulls teve um jogador bom ofensivamente no garrafão? Ah, Elton Brand há exatamente 10 temporadas atrás!
Ter um cara com bom jogo perto da cesta deixa tudo mais simples, ele faz meia dúzia de ganchinhos fáceis, umas enterradas, uns arremessos de média distância e dois minutos depois já está recebendo marcação dupla e liberando alguém para um arremesso sem marcação. Tá bom que o Derrick Rose não sabe o que é ter um cara com essas características no seu time, mas tá na hora de aprender e é mais uma oportunidade para soltar a bola um pouquinho mais, até porque ele mesmo pode receber a bola de volta para um chute limpo e claro de três.
É uma pena a gente ter que demorar tanto tempo para poder analisar o Bulls completo, com seu quinteto ideal em quadra, mas o começo de temporada do time foi pra deixar otimista e o Boozer só fez bons jogos depois da estréia patética. Para eles as críticas não são mais estruturais, do tipo “precisam de um jogador com tal característica”, agora os comentários são focadas nos detalhes. Têm defeitos, são capazes de perder em casa para o Clippers, por exemplo, mas é o melhor time do Bulls em muito tempo. Tem o técnico, os jogadores, um sistema definido de ataque e defesa, então é esperar as contusões darem uma trégua pra ver se estão um pouco ou muito longe atrás de Miami Heat e Boston Celtics. Do Orlando eu não sei porque nem consigo falar o elenco deles de cabeça agora, eles ainda jogam de azul, né?
– Apesar do que está escrito abaixo, o post foi feito por mim, Denis, não pelo Danilo, que não é esquizofrênico.