>Resto do peru – A rodada do Natal

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Essa alegria contagia, parem!


A rodada de Natal foi marcada mais pelos comentários sobre ter que jogar no Natal do que pela real qualidade dos jogos. Fechando o assunto de ter que jogar no feriado eu só preciso registrar aqui o que o Stan Van Gundy disse antes da partida contra o Celtics. Lembra que ele tinha sido multado no ano passado por comentários contra os jogos de Natal e que nesse ano não pretendia fazer o mesmo? Pois ele não resistiu e para fugir da multa apelou para a sempre saborosa ironia: “Eu acho que a NBA é tão importante para o Natal que precisamos aumentar o número de jogos de 5 para 10. E precisamos que eles comecem assim que der meia-noite na véspera de Natal, assim não teremos um minuto de Natal sem um jogo na TV. A NBA é o Natal”. Como o Shaq conseguiu se desentender com esse cara? Era porque ele tinha piadas melhores?

O primeiro jogo do dia foi um divertido e desastrado Knicks-Bulls, que valeu por algumas jogadas lindas do Derrick Rose e pela emoção, mas foi um desengonçado jogo que quase somou 50 turnovers entre as duas equipes! Foi legal para o Knicks ganhar um jogo contra um time forte tendo como destaque a defesa no fim do jogo, mas muito foi culpa do Bulls que fez um último quarto péssimo no ataque, passando mais da metade dele sem marcar um ponto sequer enquanto assistia Kurt Thomas e Omer Asik fazendo falta atrás de falta no Amar’e Stoudemire. Como bem disse o cara do blog ShamSports, um torcedor fanático do Bulls: “O Bulls sentiu falta essa noite de bom passe, um segundo jogador para segurar a bola além do Rose, defesa, energia e alguém para marcar o Amar’e. Joakim Noah faz tudo isso”. Eu concordo.

O segundo jogo não foi muito bonito também, mas impressionante. Dwight Howard não se encontrou no ataque, Jason Richardson e Gilbert Arenas foram quase nulos, a defesa do Celtics fez o nunca treinado ataque do Magic parecer um time de pelada e mesmo assim o Magic venceu. Eu vi todos os minutos do jogo e ainda não entendi. Simplesmente eles conseguiram na defesa manter o placar apertado e no final contaram com Jameer Nelson e JJ Redick acertando bolas decisivas. Vou falar mais do Magic daqui um tempo quando eles tiverem o mínimo de um padrão de jogo, mas quando você vence Spurs e Celtics em sequência sem nunca ter treinado junto e jogando feio é porque a coisa está boa pro seu lado.

Mas o jogo mais esperado da noite era mesmo Lakers e Heat. O Lakers está no terceiro lugar do Oeste, mas depois de perder por quase 20 pontos em casa para o Bucks (sem contar o vareio que levaram do Earl Boykins) está começando a assustar os torcedores, já o Heat está destruindo quase todo mundo e o ‘quase’ machuca porque as derrotas são justamente para os grandes concorrentes como Magic, Celtics e Mavs. No fim das contas o Lakers conseguiu manter o ritmo e tomar outra surra em casa e o Heat passeou com muita facilidade e em um dos melhores jogos do Chris Bosh no Heat, venceram por 16.

Como eu sempre defendo aqui no blog, vitórias elásticas nunca são só mérito de um time e nunca só desgraça do perdedor. Em uma liga forte como a NBA tem que acontecer as duas coisas para um time vencer bocejando como foi o caso desse jogo. O Lakers entrou em quadra com um plano defensivo bem claro, era fechar o garrafão e dobrar a marcação sempre que necessário em Dwyane Wade e LeBron James para tirar a bola das mãos deles. A estratégia não é novidade para o Miami, que mesmo tendo dois dos melhores (senão os dois melhores) jogadores em infiltração da NBA é o último colocado da liga em arremessos tentados próximos à cesta, bandejas ou enterradas, com 16 por jogo, 10 a menos que os líderes Denver e Chicago.

No começo da temporada a resposta do Miami para essa estratégia era continuar insistindo em infiltrar, o que gerava toneladas de erros, ou em arremessar bolas de três, o que causava estranhas estatísticas como ver James Jones e Eddie House arremessando mais vezes que o Chris Bosh ou decidindo bolas importantes ao invés de Wade e LeBron. Com o passar do tempo a estratégia mudou e eles decidiram arremessar longas bolas de dois. Embora ao redor da NBA os tenebrosos long-2s sejam considerados (com apoio estatístico) os arremessos com menor porcentagem de acerto no basquete, eles se encaixam bem nesse caso do Miami. LeBron, Wade e Bosh são melhores nesse tipo de arremesso do que quando tentam se aventurar na linha dos três pontos, assim como Udonis Haslem, Zydrunas Ilgauskas e Carlos Arroyo. Então se a defesa não abre eles arremessam longas bolas de dois e os times que não querem tomar um show de enterradas pagam pra ver.

O Dallas Mavericks pagou pra ver e viu o LeBron passar boa parte do jogo zerado, o Lakers pagou e viu todo mundo meter um arremesso atrás do outro. O LA só no segundo tempo assumiu que a estratégia não estava dando certo e passou a pressionar mais a bola, mas aí o resultado foi uma embaraçosa lição de como não defender um pick-and-roll. Com cortas simples, LeBron, Wade e principalmente Bosh puderam atacar a cesta e marcar os pontos perto do aro que o Phil Jackson tentou evitar no primeiro tempo. Segundo a ESPN.com o Heat fez um terço dos seus pontos em jogadas de pick-and-roll sem cometer nenhum turnover nessas tentativas. Foi um ótimo exemplo do cobertor curto que pode ser enfrentar o Miami Heat quando os seus arremessos de média e longa distância estão caindo. Detalhe que o Lakers apanhou desse jeito mesmo conseguindo outro sucesso defensivo, segurar o Heat a apenas 4 pontos de contra-ataque em toda partida.

No começo da sequência de vitórias do Miami Heat foi divulgado pelos jogadores (e visto por quem assistiu aos jogos) que o técnico Erik Spoelstra resolveu ir pelo caminho mais fácil, ele treinou incansavelmente a defesa e no ataque deu liberdade para LeBron e Wade correrem, era contra-ataque por merecimento: Se um dos dois conseguisse um roubo de bola, toco ou rebote tinha autorização para correr e improvisar. Isso fez o time se empenhar mais na defesa e rendeu pontos fáceis no ataque, tudo para não ficar naquela estagnação ofensiva que eles tinham nas primeiras semanas.

Outro fator importante para a melhora do Heat foram as duas mudanças no elenco, Zydrunas Ilgauskas e Mario Chalmers ganharam muito mais tempo de quadra. O Big Z não é rápido na defesa, mas o trio formado por Wade, LeBron e o ótimo defensor Chalmers faz com que o o pivô lituano não precise lidar muito com armadores rápidos e jovens batendo para cima dele. E no ataque o Chalmers está acertando os arremessos que Arroyo não conseguia e Ilgauskas é um dos que tiram proveito da tática que os outros times usam de forçar o Miami a ganhar os jogos com os chutes de longe. Volta e meia eles ainda tem momentos péssimos e os passes voando no meio do nada em direção à arquibancada ainda estão lá, mas aos poucos o Heat está descobrindo como usar os talentos que cada jogador levou para South Beach. Mesmo com todas as dificuldades desse começo eles já tem, no ranking de pontos por 100 posses de bola, o sexto melhor ataque e segunda melhor defesa da NBA.

Mas chega de elogiar o time mais odiado da NBA, afinal quem aqui quer ver eles terem sucesso? Ninguém! Vamos falar do Lakers e tentar entender porque eles estão jogando tão mal. Mas antes de eu tentar me arriscar acho que o Kobe tem mais moral e entende mais o que acontece lá dentro. Tá aqui o que ele disse depois do jogo contra o Miami Heat:

“Nossa filosofia é que temos que estar todos na mesma página, nós somos tão fortes quanto o mais fraco no nosso time. Temos que nos juntar e seguir lutando, estamos jogando como quem já tem dois anéis de campeão. Não vai ser fácil, se fosse veríamos muitas equipes vencendo três vezes seguidas. Para conseguir você precisar trabalhar e ralar demais. (…) O jogo é a parte mais importante, você precisa se concentrar e jogar todos como se fossem o último, o negócio é sério. Você não pode ganhar dois títulos e ficar satisfeito com isso. Eu não estou e não vou deixar as coisas ficarem assim”. 

Outro que estava nos dois últimos títulos, Lamar Odom, concorda e deu uma declaração bem sincera: “Parte do nosso problema é que estamos muito convencidos e achando que não vamos e nem deveríamos perder. Acho que nessa temporada estamos com excesso de confiança e foi assim que começamos, desde o período de treinos”. 

Isso explica basicamente porque o Lakers tem perdido. Contra times fracos o time é preguiçoso, contra os mais fortes parece que acha que o resultado virá naturalmente, aí acaba fazendo tudo do jeito mais simples e quando não dá certo simplesmente ficam nervosos ou com cara de bunda ao invés de ralar para mudar as coisas. E eles não podem se dar ao luxo de fazer isso.

Essa equipe do Lakers é provavelmente a menos dominante a ter vencido três vezes seguidas o Oeste e a menos espetacular a ter sido bi-campeã em muito tempo. E isso é um grande elogio ao espírito de luta e de superação desses jogadores. Acompanhamos essas temporadas de perto e não só escrevemos aqui como lemos ao redor da internet muita gente apontando vários defeitos do time nessas últimas temporadas. Era sempre uma das melhores, mas faltava defesa, depois um armador, depois jogadores explosivos, banco de reservas, arremessadores de três, etc, etc. O segredo foi que o time sempre jogou bem quando precisava. No ano passado estava tomando sufoco do OKC Thunder e do Phoenix Suns nos playoffs e chegou a empatar as duas séries em 2 a 2 antes de jogar com o coração no jogo 5 e dar uma aula de basquete no jogo 6. Foi exatamente a mesma coisa que aconteceu na final do Oeste de 2009 contra o Nuggets, durante boa parte da série parecia que o Denver tinha o melhor time, mas aí o Lakers venceu o jogo 5 com uma atuação heróica do Lamar Odom e o jogo 6 foi possivelmente o melhor do Lakers desde o saída do Shaquille O’Neal em 2004. Na final contra o Orlando Magic, Trevor Ariza e Odom resolveram aprender a arremessar de três, contra o Celtics foi Ron Artest que salvou o time no jogo 7. Defeitos do time que foram superados quando a água bateu na bunda.

Foi por isso que eu achava que esse jogo contra o Miami Heat seria diferente. Sim, o Lakers estava com problemas, mas sempre esteve e conseguia superá-los nos jogos importantes e nesse Natal, um jogo para mostrar quem ainda manda na NBA, jogou como time pequeno e foi dominado como se fosse um Grizzlies da vida. Mostrou as mesmas deficiências dos jogos anteriores, como falta de movimentação, excesso de jogadas individuais, baixo aproveitamento dos arremessos de três e um banco de reservas que nem parece o mesmo grupo de jogadores que estava ganhando jogos por conta própria nas primeiras semanas da temporada. Sem contar a defesa que já comentamos acima.

Com o elenco mais forte do que nos anos anteriores, mesmo técnico e mesmo tudo só dá pra colocar a culpa no fator psicológico mesmo. Vai ser interessante ver como isso se desenvolve sob o comando do Phil Jackson, que por anos foi considerado o melhor em justamente motivar seus atletas e por Kobe Bryant, que beira a loucura de tão tarado por basquete e por vitórias. Sabe no Natal quando ninguém queria jogar? Kobe também disse que está cansado de sempre seu Lakers jogar no feriado todos os anos, mas mesmo assim chegou 3 horas antes de todo mundo para ficar treinando seus arremessos e depois foi o último a sair, sozinho e esfriando aos poucos a cabeça quando até sua família já tinha voltado sozinha pra casa.
Sim, ele é workaholic. “Vou chutar uns traseiros nos próximos treinos. Vou bater com umas coisas na cabeça de todo mundo até eles entenderem”.

Bônus do Natal
Um vídeo com uma raridade: Marcaram 10 segundos na cobrança do lance livre do Dwight Howard. Garanto que muita gente nem conhecia essa regra de tão rara que ela é! Se o jurássico Hubie Brown ficou surpreso durante a transmissão é porque é realmente bem difícil de ser marcado.

“E os outros jogos? Nenhuma palavra sobre Ellis e Durant?”
– Boas vitórias de Warriors e Thunder nos jogos que não deveriam ter acontecido. Jogaram bem, estão de parabéns! Esses garotos tem futuro!

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