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O Danilo fez um texto muito legal há pouco tempo sobre a nova defesa por zona que o Rick Carlisle implementou no Dallas Mavericks. É com essa defesa que o Dallas tem incomodado muito os ataques adversários, principalmente forçando eles a arremessos de média e longa distância. O Mavs é o oitavo time que menos permite tentativas de arremesso perto da cesta, está no meio da tabela em permitir tentativas de três pontos e é o quarto que menos sofre tentativas de lances livres, ou seja, obriga os adversários a chutarem muito de meia distância, que é o tipo de arremesso de menor aproveitamento na NBA atualmente. Em outras palavras, a defesa do Dallas é o que os colocou como um dos melhores times do primeiro terço de temporada.
Porém, no basquete não dá pra abrir um a zero, colocar mais um volante e ficar fazendo falta pra segurar o jogo. Você é obrigado a ir ao campo de ataque e fazer alguma coisa e para isso o Mavs estava contando com uma temporada fora de série de Dirk Nowitzki. O alemão mantém os 24 pontos de média que são o seu padrão nos últimos tempos, mas ao invés de fazer isso com 48% de aproveitamento, está com assustadores 54%! E vocês conhecem o Dirk, sabem os arremessos desequilibrados e doidos que ele tenta, acertar 54% é um absurdo de bom. A sua média de arremessos tentados é 16 por jogo, número baixo para um jogador do seu nível, mas que tem a ver com um Dallas que tem passado mais a bola do que de costume já desde a temporada passada. Eles eram um time focado em jogadas individuais por muitos anos, mas desde o ano passado estão no Top 5 de time que mais distribuem assistências.
Com o time entrosado, passando bem a bola e liderados pelo Dirk, o ataque do Mavs também estava fluindo com qualidade. Até que o alemão se machucou. Sem seu cestinha eles conseguiram vencer o Thunder fora de casa com uma atuação monstruosa do Jason Terry no quarto período, mas o sucesso foi breve. Logo perderam do Spurs e até do horrível Toronto Raptors, que na ocasião estava sem meio time. A defesa ainda estava lá (foi o que manteve eles na briga com o Spurs), mas no ataque ficaram estagnados. Apesar dos poucos chutes do Nowitzki por jogo, ele é importante para começar as jogadas. É com a dupla marcação que ele sofre que o time começa a rodar a bola até achar o cara livre, sem essa ameaça o time tem que penar muito mais em movimentações e jogadas individuais para achar alguém em posição para finalizar.
No último Filtro Bola Presa eu mostrei números que mostravam essa dependência do Dirk, posto aqui de novo:
Diferença de pontos por 48 minutos
Com: + 13.3 / Sem: -13.7
Pontos por 48 minutos
Com: 104.7 / Sem: 83.9
Pontos sofridos por 48 minutos
Com: 91.4 / Sem: 97.6
Aproveitamento de arremessos
Com: 49,9% / Sem: 42%
Aproveitamento de bolas de 3 pontos
Com: 38,5% / Sem: 29%
Nunca é bom depender tanto de um cara, mas acontece e não seria o fim do mundo porque o alemão deve voltar em breve. O problema maior foi que durante esse período o cestinha do time foi Caron Butler, e agora ele está machucado também, e não é por uma ou duas semaninhas, as notícias mais recentes afirmam que será por toda a temporada.
O Dallas tem bons chutadores como Jason Terry, JJ Barea e até Jason Kidd, sem contar Dirk, claro. Tem Shawn Marion e Tyson Chandler que se movimentam bem sem a bola para finalizar no garrafão, mas só tinha um jogador que tinha como característica botar a bola no chão, driblar e atacar a cesta, era Butler. Ele nem atacava tanto a cesta como deveria, às vezes confiava demais no seu step-back jumper, aquele arremesso com um passo pra trás que era sua marca registrada, mas mesmo fazendo menos do que devia era o líder do time nisso. Equipes que vivem de arremessadores como o Mavs sempre têm períodos dentro de um jogo em que a bola cisma em não cair, é nesses momentos que falta alguém que jogue mais perto da cesta. O Mavs perdeu esse jogador para toda a temporada.
É preocupante porque no fim das contas, como pontuadores confiáveis eles tinham só Nowitzki, Butler e Terry. O resto raramente passa dos 15 pontos em uma partida. E o Terry é o pontuador menos confiável que você pode ter, ele é capaz de qualquer dia fazer como nos jogos contra Thunder e Heat: feder por três quartos sem parar e aí marcar 90% dos pontos da equipe no último período e vencer o jogo. Mas quem é que mantém o time sequer perto do placar quando o Terry não está com a mão pegando fogo? Em um jogo que acaba 100 a 98 o Terry é o cara que faz os dois pontos de diferença, mas não o que marca os outros 98 que deixaram a partida empatada.
O Mavs nunca está para brincadeira em uma temporada. O Mark Cuban, dono do time, é um zilionário entediado que quer ter o seu time de basquete e quer vê-lo disputando títulos para se divertir. Tá bom que ele nunca ganha, mas pelo menos estão sempre nos playoffs enfrentando as grandes equipes de igual pra igual, é o que vale. Pela falta que fará o Butler e pelo histórico ativo em trocas do Mavs do Cuban, acho difícil que eles fiquem de braços cruzados com um jogador tão importante fora do resto da temporada.
Se tem uma coisa boa nessa contusão do Caron Butler foi o seu timing, pouco antes de um mês antes da data-limite para trocas no meio da temporada. Até agora só o Magic fez trocas bombásticas e muitos dos jogadores que especula-se que serão trocados ainda estão em seus times, então dá tempo para o Mavs meter o bedelho e ver o que consegue. O alvo principal deve ser Carmelo Anthony. Há algum tempo, mesmo com Bulter saudável, comenta-se isso na imprensa americana e embora uma declaração oficial tenha dito que não há interesse do Mavs, eu não acredito. Por que diabos um time como o Dallas não gostaria de ter o Melo? Por que não há garantia de extensão de contrato? Oras, o Butler também é Free Agent ano que vem e não tem, qual seria a diferença?
Os problemas para essa troca estão no outro lado. Geralmente quando um time troca um jogador do nível do Carmelo Anthony tenta-se mandar o cara para a outra conferência. Não é bom ajudar seus rivais locais a montar supertimes e o Denver não vai ajudar o Mavs a ter um time tão bom, já basta ter Lakers e Spurs para enfrentar nos playoffs. Além disso, os contratos expirantes de Butler e DeShawn Stevenson seriam só para virar farofa no ano que vem, então eles poderiam muito bem receber o Eddy Curry do Knicks ou o Troy Murphy do Nets, o que não falta é time com salários grandes e prontos para acabar. Vamos então ao ponto que é o que vão mandar junto do salário expirante. O Knicks não quer mandar Landry Fields e tem suas dúvidas em mandar Gallinari ou Wilson Chandler, o Nets parece que toparia mandar o Derrick Favors e mais qualquer um que não seja o Brook Lopez. Já o Mavs teria para oferecer só o Rodrigue Beubois, que dependendo do seu otimismo pode ser uma estrela daqui uns anos ou só um bom reserva.
Por essas razões eu acho que o Melo em Dallas é possível, mas muito improvável. É certeza que eles vão chamar o Nuggets para conversar, mas não vejo nada saindo dali. Então podemos pensar, quem mais o Mavs poderia tentar? O Bobcats está em modo de demolição depois da saída do Larry Brown e doido para fazer trocas, o veterano Stephen Jackson não é intocável e poderia dar certo no Dallas embora seja mais arremessador do que qualquer outra coisa. No mesmo Bobcats tem o Gerald Wallace, que não é pontuador nato mas quebraria mais que um ótimo galho. Outros nomes como Corey Maggette e Rip Hamilton fariam bastante sentido, mas acho que de todas as opções nenhuma se encaixa melhor do que Andre Iguodala.
O ala do Sixers vive um momento estranho na sua carreira. Ele é disparado o melhor jogador do elenco do seu time, sem discussão, mas a melhora deles na tabela (atualmente 9º no Leste depois de um começo de temporada patético) se deu justamente quando tiraram responsabilidades das mãos de A.I. Ao invés dele comandar o ataque como um point-forward, Jrue Holiday tem mais tempo com a bola. Eles também usam mais o Elton Brand dentro do garrafão e de lá criam jogadas para os arremessadores Jodie Meeks e Andres Nocioni. Até quando joga junto dos reservas o time está dando mais espaço para o novato-decepção Evan Turner, que volta e meia mostra um relance de bom basquete, mas logo esquece. Sobra para o Iggy alguns momentos de glória nos últimos períodos quando deixam ele infiltrar em jogadas de isolação ou quando o time volta às suas origens de contra-ataque, em que ele é mestre. Mas é só isso, ele não é mais essencial como já foi, embora ganhe um salário de quem deveria ser armador, ala, pivô, técnico e deus dentro do time.
Temos então o Sixers que paga demais por um jogador que não é mais tão necessário e que ao mesmo tempo está doido para cortar custos e do outro lado o Mavs, com contratos expirantes para oferecer e que adoraria um jogador com as qualidades do Iguodala: bom passador, ótimo nas infiltrações e que pode arremessar de longe (embora não se deva contar com isso). Sem contar que Iguodala é um excelente defensor, tanto no homem a homem como interceptando linhas de passe, ele seria mais do que útil em uma série de playoff marcando Kobe, Durant ou Ginóbili. Sim, ele é caro e o contrato tem mais 4 anos de duração, mas não é o Mark Cuban o cara que não liga para as multas que vai ter que pagar?
O propósito do post é dizer que o Mavs tem que se mexer e que oportunidades não faltam. Não gosto de ficar comentando trocas que não aconteceram, mas essa do Iguodala é, pra mim, muito óbvia para não acontecer! Mais óbvia que isso só o fato da TV dos anos 90 ser melhor do que hoje. Em termos de salários a simples troca DeShawn Stevenson e Caron Butler por Andre Iguodala já daria certo, mas imagino que o Sixers deveria pedir algo mais como escolhas de draft ou até o mesmo Beubois, o que poderia complicar o negócio. Talvez mandar o francês seja demais, mas algumas escolhas de draft o Mavs não teria porque negar. É sentar numa mesa (ou numa churrascaria se você for o Ronaldinho) e botar para funcionar. A excelente temporada do Mavs depende de uma mudança para continuar dando certo.