>A arte de feder

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Devin Harris esconde o rosto pra não ser apedrejado nas ruas

Perder já é completamente normal para o New Jersey Nets: o elenco acorda, faz xixi, toma café, escova os dentes e aí perde. É como se fosse parte da rotina, não dá pra passar um dia sem um fracasso. Mas temos que dar crédito para o Nets, eles estão levando isso à perfeição, com toda a dedicação que apenas os gênios conseguem imprimir às coisas. Muitos times, como o Knicks e o Clippers, por exemplo, se contentam apenas em perder. Mas o Nets não, eles querem perder como nunca se perdeu antes, querem alcançar a essência da derrota, atingir a ideia platônica do fracasso. O mais incrível é que eles estão conseguindo.

Na noite de ontem, o Nets teve a chance de conseguir o recorde de pior começo de temporada da história da NBA, com 18 derrotas seguidas. O novo técnico, Kiki Vandeweghe (aposto que nem ele sabe escrever o próprio nome), ainda não assumiu o time e é claro que eles iriam perder para o Mavs. Mas o nível da derrota foi épico: apesar de ter jogado bem, com destaque para o Chris Douglas-Roberts que voltou de contusão, o Nets conseguiu dar de presente ao Mavs provavelmente o melhor segundo quarto da história do esporte. Nele, o Mavs errou apenas dois arremessos dos 19 que tentou, acertou todas as 4 bolas de três tentadas e todos os 10 lances livres cobrados. Foram 49 pontos apenas no segundo período, o que já é mais do que o Bobcats consegue fazer num jogo inteiro.

O engraçado desse aproveitamento surreal do Mavs é que dificilmente eles conseguiriam acertar tanto durante o treino ou o aquecimento, arremessando sozinhos. Talvez o Nets devesse ter tirado os jogadores da quadra porque aí, com a pressão de estarem sem marcação, talvez eles errassem um pouco mais do que com os defensores do Nets em jogo. Eu não acertaria tantos arremessos, bolas de três e lances livres sem errar nem em um milhão de anos, sozinho, numa quadra particular. O Nets conseguir permitir esse feito ao Mavs é um passo rumo à perfeição absoluta na arte de feder. Um dia, o mundo se lembrará desse time como os homens que alcançaram a perfeição e a iluminação budista através do fedor. Eles terão templos e seguidores, e o Clippers terá alguém em que se espelhar para tentar sair da mediocriedade e entrar para a história.

Mas não é apenas o Nets que escolheu esse caminho de fracassos. O Sixers, que receberá Iverson de volta na segunda-feira para enfrentar o Nuggets, está cada vez mais indo ladeira abaixo. Ontem contra o Thunder, o novato Jrue Holiday assumiu a armação em tempo integral, com pequenos momentos em que até o Willie Green (que é um arremessador puro) teve que ficar na função. Embora isso não seja um problema tão grande no esquema do técnico Eddie Jordan, acabou se mostrando um problema defensivo considerável quando vemos que o Westbrook bateu seu recorde de assistências num jogo, com 15. Nos moldes do Nets, o Sixers está permitindo atuações épicas dos seus adversários. Já são 8 derrotas seguidas, só perdem em fedor para as históricas 18 seguidas do time mestre-zen de New Jersey.

Com 5 derrotas seguidas e humildemente trilhando o mesmo caminho, temos também o Toronto Raptors. Eles formam o fundo da Conferência Leste junto com o Knicks, que fede mas disfarça, e com o Pistons, que a gente já sabia que ia ser uma droga mas tem uns malucos que achavam que ia dar certo. O Raptors, no entanto, não tinha nenhum motivo para estar adotando esse percurso de iluminação através do fedor. O elenco é bom, adicionaram o Turkoglu, mas as coisas vão de mal a pior. O Chris Bosh está tendo a melhor temporada de sua carreira, pontuando como um maluco inclusive da linha de três pontos, de onde seus arremessos estão bizarramente consistentes. Complementando seu jogo está o Bargnani, que é um dos jogadores que está chutando traseiros da linha de três pontos nessa temporada. Finalmente ele conseguiu criar confiança nos arremessos e está mostrando um arsenal ofensivo bastante surpreendente para alguém que supostamente só sabia arremessar, com muita técnica dentro do garrafão e uma boa velocidade nos giros e no jogo de costas para a cesta. O Calderon é um dos melhores armadores puros da NBA, sempre disposto a dar o passe certo e com um arremesso macio nos moldes do Steve Nash, mas nessa temporada ele não acertou a mão e nem seus lances livres, em que ele bateu recordes na temporada passada, estão caindo. Seu reserva agora é o Jarret Jack, que está jogando bem, sendo agressivo e pontuando um bocado, e o novato DeRozan está jogando bem embora se esperasse muito mais dele na noite do draft (a gente esperava pelo menos que ele passasse mais tempo em quadra, ao invés de ser titular e sumir depois do primeiro quarto, o que lhe coloca na ponta para o Prêmio Royal Ivey do ano). O Turkoglu ganhou suas verdinhas e agora está de boa, bem confortável em seu papel secundário na equipe, de carregador de piano. Tá bom que ele recebeu contrato de estrela para decidir jogos e carregar o time nas costas de vez em quando, mas ele está satisfeito em ser um jogador apenas para complementar a equipe e, nesse sentido, está se saindo bem. Azar de quem pagou o dinheiro, sorte do turco que faz aquilo que sabe e ganha o quádruplo pra isso.

Com tantos jogadores bons e tanta gente pontuando com bastante facilidade, é assustador que esse time esteja despencando na tabela. Pelo jeito, o plano de anos atrás de transformar o Raptors no Suns do Leste (ou seja, tática “corra pela sua vida”, ataque forte, defesa mequetrefe, vencer os times mais-ou-menos e perder para o Spurs nos playoffs) deu mais ou menos certo. Como não tem Spurs no Leste, a ideia de imitar o Suns parecia uma boa, mas agora podemos apreciar um pouco mais o pessoal de Phoenix vendo como tantas cópias paraguaias acabaram virando farofa. O Knicks do técnico D’Antoni pontua como retardado mas não adianta nada, porque a defesa não existe e o ataque é completamente caótico e destrambelhado. O Raptors corre muito e tem um ataque inteligente e balanceado, mas tem uma defesa tão medonha que não dá pra ganhar nem dos times capengas do Leste. Aquele Suns não era um experimento bizarro de feira de ciências, uma ideia furada, um caso de time que não defende bulhufas e acaba fedendo: eles eram um caso único, um time especial capaz de fazer esse estilo dar ao menos moderadamente certo. Talvez a gente devesse repensar algumas ideias sobre defesa, acho que o Suns de hoje e o Suns de uns anos atrás, que tanto criticamos por não defender nem ponto de vista, na verdade quebram um belo de um galho defensivamente. Sabe o que é não defender? É esse Raptors tomando 146 pontos do Hawks ontem (achei que nunca fosse viver para ver um troço desses!), é o Knicks sem um único jogador que saiba o que significa a palavra “defesa”. Esses times não tem chance de dar certo, não tem como ir pra frente. O Suns é um caso raro, único, que merece mais atenção. Talvez eles defendam, afinal de contas. Ou não estariam lá no topo do Oeste, atrás apenas do todo-poderoso Lakers. Alguém tem alguma outra hipótese?

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