>A era dos veadinhos

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Aquela ponto laranja na cabeça do Jennings é seu cabelo

Não resisti a colocar esse título ridículo, desculpem. Mas é que quando a gente vai se dar ao trabalho de falar do Bucks de novo? Entre os times que vivem grande fase na NBA, o Bucks é a maior surpresa. O Dallas tem 11 vitórias seguidas, mas era de se esperar já que o time já era bom e adicionou Caron Butler e Brendan Haywood. O Magic vive sua melhor fase na temporada, mas também não é surpresa já que o time tem um elenco recheado de talento, bastava o Vince Carter jogar o que sabe para eles deslancharem. Mas e o Bucks? Alguém realmente achava que eles tinham chance de playoff quando caíram para a nona colocação da conferência algumas semanas atrás?

Pra mim o Leste já estava bem decidido. Os 4 primeiros seriam Cavs, Magic, Hawks e Celtics. Depois viria o Raptors, que finalmente tinha aprendido a defender o bastante para vencer jogos de basquete em nível profissional, depois o Heat, que com o Wade não teria como ficar de fora dos playoffs e, para fechar, os bons times do Bulls e do Bobcats.
As coisas começaram a mudar quando o técnico (e chato) Scott Skiles resolveu fazer algumas mudanças no time. Insatisfeito com o aproveitamento cada vez pior dos arremessos de Brandon Jennings, chamou o garoto de lado e pediu para ele ser mais armador do que pontuador. Difícil pedir isso para o seu melhor pontuador que está cercado de jogadores irregulares no ataque como Luc Mbah a Moute, Carlos Delfino e Andrew Bogut. Mas acabou sendo uma decisão perfeita. Com o Jennings se preocupando mais em passar e usando sua habilidade na infiltração para os passes, o time começou a acertar mais bolas de três e Bogut começou a viver a melhor fase da carreira.
Embora o pivô australiano pareça ser ruim porque é, afinal, um pivô australiano, ele é bem talentoso no ataque. Ele funciona muito melhor em ataques velozes, onde pode usar sua agilidade, do que naquele ataque filmado pela supercâmera que o Bucks usava até um tempo atrás. Com o time mais dinâmico ele apareceu muito mais e tem sido a peça mais importante do ataque do Bucks nos últimos 20 jogos.
Nas últimas 20 partidas o Bucks tem 15 vitórias e 5 derrotas, um aproveitamento digno dos melhores times de toda a liga. E no meio dessa sequência é que houve aquele dia em que a NBA virou casa de swing e todo mundo foi trocado. Na putaria o Bucks acabou perdendo um sapato, a cueca furada, mas levou pra casa o John Salmons.
O Salmons não é nenhum deus, nunca vai ser um All-Star, não é grande defensor ou passador e nem é bonito. Mas sabe fazer uma coisa muito bem: pontos. E embora os pontos pareçam ser muito mais importantes que outra função como roubos ou tocos, quando você só faz pontos você entra na categoria de especialistas, como o Chris Andersen é um especialista em tocos ou o Quentin Richardson um especialista em bolas de 3. Da mesma maneira que os dois tocos por jogo do Andersen não serviriam de nada em um time que não defende, o Salmons não faria grande diferença em um time que já tem muitas opções de pontos, ele seria mais um. Mas no Bucks ele era exatamente o que eles precisavam!
Tem um tipo de arremesso que eu chamo de arremesso McDonald’s. Sabe quando você vai sair com o pessoal e um quer ir na balada, outro no barzinho, outro no karaoke, outro no fliperama e como ninguém decide nada a última opção é um bom e velho McDonald’s? Tem algumas posses de bola onde o armador não consegue nada, o pivô não consegue nada, ninguém fica livre e só resta uma última e básica opção, isolar alguém para dar um drible simples e arremessar. Todo time que se preza tem um cara pra fazer isso, mas o Bucks não tinha. Eles tentavam usar o Jennings, mas nem sempre ele conseguia ser esse cara porque ele já é o cara que estava tentando armar a jogada antes, que queria ir no karaoke e não conseguiu. Apareceu então o Salmons, um cara muito bom no arremesso depois do drible e que sabe chutar de três.
Com esses talentos o Salmons já chegou decidindo jogos no Bucks. O mala do Skiles claro que não deixou barato e soltou a pérola de que o Salmons tinha jogado bem “para alguém que não sabia o que estava fazendo em quadra”. Algo como dizer “Você é muito inteligente, considerando que você é uma mulher”. O negócio é ignorar, o Skiles é bem metódico com sua defesa e com como as coisas são feitas em quadra e qualquer jogador que chegasse no meio da temporada não saberia de nada disso, o importante é que o Salmons ajudou mesmo assim e só o fez por ser exatamente o que o time precisava.
Com essa sequência de vitórias o Bucks hoje já está perto do Raptors no quinto lugar do Leste! Deixou Heat, Bobcats e Bulls pra trás. Eu, sinceramente, torço para que nessa briga o Bulls fique de fora. Sou fã de Derrick Rose e Luol Deng mas o time tem que pagar pelas decisões que tomou. Trocaram Tyrus Thomas e John Salmons apenas para ter espaço salarial no ano que vem, mandou cada um para um rival direto na classificação para os playoffs e só pensou na próxima temporada o tempo todo, que se ferrem nessa então!
Espero que os times que tenham pensado nessa temporada sejam recompensados por isso e vão para os playoffs, até porque Bobcats e Bucks são dois times que lutam há anos por uma vaga na pós-temporada e fazem isso sem conseguir atrair nenhum nome de peso para seu elenco. São dois remanescentes da escola Pistons de se montar um time, com muitos role players e defesa. E para um playoff ter graça, precisa de todos os personagens, desde os times de puro ataque como o Suns, os chatos como o Spurs, os convencidos como o Lakers, os mal-encarados como o Nuggets e o pequeno trabalhador esforçado como Bucks e Bobocats.
Na sequência de 20 jogos o Bucks só teve duas derrotas inaceitáveis. Perdeu um jogo para o fraco Pistons e outro para o Rockets, não é que o Houston seja ruim, mas tomar 127 pontos em casa é motivo de vergonha. As outras derrotas foram para Hawks, Mavericks e Magic, todos times com melhor recorde, elenco e que jogaram em casa.
Já falei da mudança de estilo de jogo do Jennings, que favoreceu o Bogut, e da adição do Salmons, mas o segredo do sucesso desse time desde o primeiro jogo da temporada, o que segurou eles perto da zona dos playoffs mesmo nos momentos mais complicados do ano, foi a defesa. Atualmente o Bucks é o terceiro colocado no ranking de defesa que mede o número de pontos sofridos a cada 100 posses de bola, um número assustador para um elenco que não tem nenhum especialista em defesa. Talvez o Mbah a Moute esteja acima de média, mas o resto é Jennings, Bogut, Ridnour, Delfino, todos jogadores que passaram a carreira ouvindo que não defendiam bem, que eram soft, um jeito simpático de dizer que eles são mariquinhas.
Mas outro número me impressionou mais. O site Hoopdata tem os números de aproveitamento das equipes em todos os tipos de arremesso, desde os mais próximos da cesta até os mais distantes. O Bucks, sem ter nenhum bloqueador nato em seu elenco, é a sétima melhor equipe em defender os arremessos próximos à cesta. O Lakers, com Gasol e Bynum, fica atrás do Bucks na hora de defender os arremessos dados perto do aro, como os ganchos dos pivôs ou as infiltrações dos armadores. E dos 6 times que estão na frente do Bucks ainda podemos tirar o Pacers, que apesar do aproveitamento baixo dos seus adversários é um dos times que mais comete faltas e sofre pontos de lances livres, ou seja, o adversário não faz os pontos na bandeja mas faz no lance livre.
Para terminar, o Bucks é o quarto time que mais força turnovers em toda a NBA, atrás apenas de Celtics, Bobcats e do Warriors, que só é líder por jogar na defesa como se jogasse NBA Live, tentando roubar bolas o tempo inteiro e deixando o adversário dar 10 enterradas livres no processo.
Que fique claro que o Bucks merece muitos créditos por estar na situação em que está, parecia piada pensar no Bucks lutando pela quinta vaga do Leste no começo da temporada, mas mesmo assim devemos reconhecer que o time ainda é limitado. Aproveitei para falar deles agora porque a sequência de 20 jogos foi impressionante, mas será difícil manter o ritmo agora que pegam, em sequência, Celtics e Jazz e, na semana seguinte, Nuggets e Hawks. Mas provavelmente eles já estão jogando bem o bastante para relaxar um pouco e deixar a briga pela última vaga no Leste para Bobcats e Bulls. Na briga com Tyreke Evans, Stephen Curry e Darren Collison, o Jennings vai poder se gabar pelo menos de ser o primeiro deles a jogar um jogo de pós-temporada.

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