>A prancheta do Phoenix Suns

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Atacar a defesa do Lakers faz parte da tática do Suns. Fazer careta, não.

Como prometido mais cedo, estou aqui para falar do jogo de ontem entre Suns e Lakers, em que o time de Phoenix conseguiu vencer mais uma em casa e igualar a série em 2 a 2. O que eu achei mais legal desses dois jogos em Phoenix foi ver como eles não tiveram nada a ver com os dois jogos de Los Angeles. Os playoffs estavam chatos até agora porque a maioria das séries começava de um jeito e acabava do mesmo jeito, o time que parecia melhor nos primeiros jogos mantinha a hegemonia até o final, e mesmo nos jogos em que perdia não parecia que corria risco de perder a série. E o legal de uma série de sete jogos em relação ao mata-mata em um jogo só (como ocorre no Final Four da Euroliga ou na NCAA) é justamente ver os ajustes que um time faz contra o outro no decorrer dessas longas séries.

O Suns tomou duas surras devastadoras em LA, sofrendo mais de 50 pontos por jogo dentro do garrafão e sem conseguir utilizar direito Amar’e Stoudemire, a maior potência ofensiva do time. Nos jogos 3 e 4 o Lakers ganhou, nos números, a disputa de pontos no garrafão, mas de maneira enganosa e dessa vez sem chegar aos 50 pontos. Digo de maneira enganosa porque o Suns só não fez mais pontos dentro do garrafão porque quando tentava, o Lakers descia o sarrafo e mandava os jogadores do Suns para a linha do lance livre. Foram 42 lances livres tentados no jogo 3 (contra só 20 do Lakers) e 32 no jogo 4 (contra 13 do Lakers). Então nos números brutos o Lakers fez uns 10 pontos a mais no garrafão, na prática foi o Suns que comandou a área pintada. Outro número que indica isso são os rebotes ofensivos, que nos primeiros jogos tinham sido uma das principais armas do Lakers. No jogo 3 o Suns venceu a batalha de rebotes de ataque por 10 a 9 e no jogo 4 por 18 a 13.
Um dos principais fatores que levou a essa superioridade do Suns no garrafão foi a volta efetiva do Robin Lopez, que havia jogado poucos minutos nos primeiros jogos. Apenas sua presença na quadra já faz diferença para igualar o tamanho dos jogadores de garrafão das duas equipes e com ele jogando bem dos dois lados da quadra (até arremesso de meia distância está acertando) o trabalho do Suns ficou bem mais fácil.
O seu companheiro de garrafão Amar’e Stoudemire também foi peça importante nessa reviravolta e é falando nele que vamos abordar como o Suns mudou seu esquema ofensivo para os jogos 3 e 4. Nos primeiros jogos o time tentou jogar aberto demais, usando muito o Channing Frye e isolando o Amar’e no meio do garrafão. Quando ele recebia a bola estava longe da cesta e cercado por Gasol, Odom e/ou Bynum. Foi inútil. Ao mesmo tempo os arremessadores de fora estavam pouco inspirados, deixando tudo mais complicado. Nos jogos em Phoenix o Suns começou a usar mais Robin Lopez e com dois jogadores de garrafão saindo para o pick-and-roll ao invés de um, a defesa do Lakers entrou em colapso.
Vou tentar ser mais claro usando nomes. Vamos supor que Steve Nash tenha a bola em mãos e chame Amar’e Stoudemire para um pick-and-roll, jogada clássica do Suns. Depois do corta-luz, o Nash geralmente ataca a cesta e espera o momento exato para o passe para o Amar’e. Para evitar essa situação o Lakers chama um terceiro marcador para fechar essa linha de passe e cobrir um dos jogadores que ficou para trás. Nos primeiros jogos essa estratégia deu certo porque os jogadores do Suns estavam distantes e errando seus arremessos, mas nos últimos jogos havia um jogador mais perto da cesta, uma dupla de garrafão, não um pivô isolado. Então após o corta sempre havia mais e melhores opções de passe. E tanto Amar’e como Lopez estavam acertando seus arremessos de meia distância, deixando a defesa do Lakers sem saber que lugar da quadra deixar livre para eles atuarem.
A preocupação com essa jogada fez com que o Lakers avançasse mais a sua defesa, deixando o garrafão mais exposto e tentando fazer o Nash soltar a bola mais longe da cesta. Deu certo em alguns momentos, mas às vezes os arremessos de longe caíam e, quando não caíam, o Suns pegava os rebotes ofensivos. Com a defesa do Lakers mais avançada ficava mais fácil para eles pegarem o lado de dentro da cesta para se posicionar para o rebote.
Tudo isso é tática, mas só dá certo com boa execução e talento. E depois que começa a dar certo tem o fator emocional, a confiança e aí até as jogadas que não são tão bem pensadas começam a funcionar. Ontem até arremessos forçados no 1-contra-1 do Jason Richardson e do Grant Hill estavam caindo.
Para terminar a parte do ataque, devemos dar crédito às instruções do técnico Alvin Gentry para que seus jogadores atacassem mais a cesta. Apesar de ser um time de bons arremessadores, o Suns atacou muito o garrafão do Lakers, principalmente Stoudemire, que sempre que se via isolado com Pau Gasol ou Andrew Bynum partia para o drible e a finalização forte na cesta. Em 90% desses ataques Amar’e saía com uma cesta ou uma falta. Alguns torcedores do Lakers podem até questionar algumas delas, mas a maioria das marcações foram corretas e deve-se aceitar que existem mesmo mais marcações de falta quando não se consegue impedir o adversário de chegar muito próximo da cesta. Lá qualquer contato vira falta.
Melhor posicionamento no ataque, garrafão mais cheio de gente, melhor movimentação após e durante o pick-and-roll e, principalmente, atacar a cesta. Tudo isso fez do Suns um time mais perigoso no ataque. Mas o que fez eles empatarem a série foi a defesa.
O que eles fizeram desde o jogo 3 é uma defesa zona 2-3. Que consiste em deixar dois jogadores marcando o perímetro e três mais perto da cesta, um lá embaixo dentro do garrafão e dois mais aberto nas alas. Eles se movimentam de acordo com a movimentação de bola do outro time e não se fixam em marcar um ou outro jogador. Achei um vídeo que deixa bem claro como se comporta uma defesa assim, mas o curioso é que o vídeo nem é sério, é um comercial da NCAA que mostra o time de Syracuse jogando sem adversário e sem bola para promover a compra de um pacote de jogos do March Madness.
Sem nada (literalmente) para distrair, fica fácil de entender a movimentação dessa defesa. A defesa 2-3 tem dois benefícios claros: ela cria a ajuda defensiva, já que todos se movimentam junto com a bola, fechando um dos lados da quadra, e também minimiza os defeitos de jogadores que não são bons marcadores individuais. Com essa cobertura causada pela movimentação dos defensores, caras que marcam mal como Steve Nash, Amar’e Stoudemire ou Channing Frye nunca ficam sozinhos contra atacantes melhores, eles sempre têm alguém na sobra ou alguém vindo do perímetro para dobrar a marcação. Os desenhos abaixo mostram bem como a defesa se movimenta.

Procurando fotos para colocar no nosso Tumblr, vi uma que exemplifica perfeitamente o que aconteceu com o Pau Gasol toda vez que ele tentou se posicionar contra o Amar’e Stoudemire no ataque.
A cara de perdido do espanhol já diz tudo, mas mais importante que isso são os três jogadores em volta dele deixando sua vida um inferno. Nessa situação o Gasol só tem duas opções, ou ele força um arremesso ou procura quem está livre para passar a bola. Ele fez as duas coisas ontem, forçou bastante (acertou 6-14 arremessos) mas também passou muito, geralmente para o Ron Artest, o cara que o Suns elegeu para ficar livre sempre que houvesse uma dobra de marcação. Nos desenhos acima o Ron Artest é a bolinha azul que fica sozinha do outro lado da quadra.

Segundo a teoria de quem estuda basquete, o passe direto de um lado para o outro procurando quem ficou livre é uma ótima maneira de furar essa zona, mas para o Lakers ela não funciona quando Artest está na quadra, já que o ala não tem acertado seus arremessos de longa distância.

Para saber outras maneiras de furar essa defesa, eu procurei um vídeo do Coach K, o técnico da Universidade de Duke e da seleção americana, em que ele ensina como lidar com uma defesa Zona 2-3.

Nesse vídeo o Coach K dá 5 dicas de como furar a zona. Será que o Lakers tem feito alguma coisa disso tudo?

1. Uso inteligente do drible
Usar o drible para atacar o buraco que fica entre os dois defensores da frente, fazendo-os fechar no mesmo homem e assim deixar um dos jogadores livres. O Lakers não tem feito nada disso, ao contrário, tem tentado furar a zona apenas com passes, nunca com o drible.

2. Mudar o lado da bola
Isso o Lakers tem feito e é isso o que o Suns quer que o Lakers faça. Ao invés de atacar a cesta, ficar mudando a bola de lado. Mas o Suns tem tido a preocupação de deixar livre Lamar Odom ou Ron Artest, raramente Fisher ou Kobe. Uma solução para o Lakers pode ser usar outros jogadores no lugar desses dois durante alguns momentos do jogo. Duas ou três bolas de três do Sasha Vujacic, por exemplo, poderiam fazer a diferença.

3. Usar o meio da zona
Se essa zona 2-3 tem um ponto fraco ela é o ponto do meio entre as duas linhas de defesa. Alguns técnico até dizem que isso é tão básico que se aprende na sétima série. O Lakers, no entanto, tem feito isso muito pouco, mas quando o faz, dá certo. Por exemplo, em uma jogada do último jogo em que o Kobe atrai a marcação dupla e solta a bola para o Lamar Odom, que corre para o meio da zona e faz a cesta.

O passe para o meio não precisa resultar sempre numa bandeja, pode ser também um arremesso curto ou até outro passe, mas é importante colocar um jogador depois da linha dos dois marcadores e sem um marcador próximo. E quando os defensores se preocupam demais em fechar o meio, algum outro ponto da quadra acaba ficando livre.

4. Manter os pivôs atrás da zona
Esse é o ponto chave que o Lakers não tem feito e é o que falta para superar essa zona. Pau Gasol e Andrew Bynum estão tentando ficar na frente da defesa para conseguir receber a bola no meio daquela procissão de passes que o LA tem dado, quando na verdade eles devem ficar atrás da linha de três defensores.

Como o Coach K mostra muito bem no vídeo, quando se fica atrás da zona o atacante tem melhor posição do que o defensor para o rebote ofensivo em caso de um arremesso errado. E com a vantagem de altura que o Lakers tem sobre o Suns em vários momentos do jogo, isso pode ser decisivo. A outra vantagem é não ter o defensor sempre controlando você, ao ficar atrás do pivô pode-se cortar para a frente a qualquer momento sem ser visto e fazer um movimento de ataque rápido, antes que a marcação dobre. Pode-se dizer que o defensor pode ir mais para trás na linha de fundo para tentar ficar atrás do atacante, mas isso seria marcação individual, o garrafão ficaria aberto para infiltrações e o princípio da zona seria quebrado.

5. Uso do corta-luz
Aqui os pivôs usam o corta-luz para deixar um dos jogadores do perímetro livres. O corta faz com que a movimentação da zona seja interrompida e o ataque tenha algum espaço. O Lakers fez uma jogada perfeita nesse sentido no segundo tempo do jogo 4, quando o Amar’e Stoudemire até acabou fazendo falta no Gasol ao tentar passar pelo bloqueio, mas foi pouco repetida ao longo da partida. Bynum, que tem tido dificuldade no ataque, poderia ser mais útil fazendo bloqueio e criando espaços para o Lakers atacar a cesta.

Após o jogo o Kobe deu uma entrevista dizendo que a maior preocupação dele está no que eu disse na primeira parte desse texto, o ataque do Suns contra a defesa do Lakers. Ele disse que é na defesa que se ganha títulos e que lá está o problema do time. Ele tem seu argumento sustentado quando se vê que o Lakers, apesar de estar visivelmente sofrendo contra a Zona 2-3, marcou 109 e 106 pontos nos dois jogos em Phoenix. Uma defesa que segurasse o Suns a 100 pontos já teria garantido a varrida.

Eu não tenho moral pra discordar do Kobe, mas não gosto de ver os jogos com tanta diferença entre as duas partes da quadra. O Lakers precisa de ajustes da defesa e talvez (só talvez) isso seja o bastante para voltar a vencer, mas basta ver os jogos pra perceber que o ataque está sofrendo e algo precisa ser feito para mudar a situação.

Para o Suns resta manter o que está dando certo, mas também não custa pensar num plano B caso o Lakers descubra como voltar a render mais no ataque e na defesa. O técnico que escreve no site Bballbreakdown, por exemplo, sugere que o Suns mude sua defesa para um Box and one. Nessa defesa quatro jogadores mantém a zona como ela já está sendo feita enquanto outro jogador fica na marcação individual, para esse técnico o Grant Hill deveria ficar marcando Kobe no mano a mano enquanto o resto marca em zona.

Vale a pena ver o vídeo em que ele conta tudo isso, lá ele selecionou várias jogadas do jogo 4 em que mostra como o Lakers lida com a zona. Destaque para as duas cestas do Odom que aparecem na compilação. Em uma ele se movimenta atrás da zona e na outra correndo para o meio da zona (a jogada que citei alguns parágrafos acima), tudo do jeitinho que o Coach K ensinou. Também é legal (ou um saco, se você torce para o Lakers como eu) ver como o Lakers insiste em passar a bola sem parar ao invés de atacar a zona.

Para os que pediram, espero que a defesa por zona 2-3 tenha ficado mais bem explicada.

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