A revanche

A última Final da NBA, entre Warriors e Cavs, teve um leve asterisco por parte dos torcedores de Cleveland: com Kevin Love fora e Kyrie Irving nitidamente jogando lesionado, não foi possível saber se o elenco completo seria capaz de mudar o desfecho da série. Por isso a revanche entre as equipes na noite de Natal, com o Warriors flertando com a melhor campanha da história e o Cavs líder do Leste com seu elenco completo, foi um evento que recebeu todos os olhares dos fãs de basquete. Uma vitória contundente do Cavs fora de casa na rodada de Natal levantaria sérias suspeitas sobre o real significado da campanha do Warriors até agora e tiraria esse clima de “já ganhou” que assola a NBA nessa temporada. Mas a vitória não veio, o Cavs perdeu um jogo disputado, e o que nos resta é analisar como o time se saiu na tentativa de parar o Warriors para saber se ainda há esperança para LeBron e seus amigos. Vamos então por partes, analisando cada personagem fundamental para o jogo mais importante da temporada até aqui.


Kevin Love, o ausente

Parte fundamental da estratégia do Cavs para vencer o Warriors é apostar no tamanho, nos rebotes ofensivos e no jogo de garrafão. Por isso, Kevin Love abriu mão eventualmente de seu lugar no perímetro (onde, aliás, errou todos os 5 arremessos que deu) para jogar de costas para a cesta e se fazer sentir embaixo do aro. A estratégia funcionou na parte dos rebotes, mas foi completamente fracassada na parte ofensiva. Kevin Love não só errou quase tudo que tentou como também se mostrou incapaz de se colocar em condições de receber a bola mesmo quando marcado por jogadores muito menores do que ele. Em parte considerável do jogo, Love foi defendido por Klay Thompson, que embora forte não passa de um armador; nos 6 minutos finais da partida, quando o Cavs adotou um garrafão composto por Love e LeBron James, o Warriors se deu ao luxo de colocar o armador Shaun Livingston para marcar Love, o que se mostrou tão eficiente quanto qualquer outro jogador que o time usou para defendê-lo durante toda a partida. Love não conseguiu se fazer temer em quadra, não soube aproveitar quando foi marcado por jogadores menores, errou bolas simples perto da cesta e como resultado o Warriors fingiu que ele sequer existia, colocando qualquer um para defendê-lo. Foi tão ausente quanto na Final em que não jogou. Sou fã do Love, acho seu jogo ofensivo super completo, mas não há como defender sua atuação natalina. Jogando assim contra o Warriors, é melhor nem colocá-lo em quadra – Tristan Thompson faz um trabalho melhor de obrigar o elenco do Warriors a respeitar sua presença no garrafão.

Timofey Mozgov, o estabanado

Claramente o plano do Cavs de explorar a maior estatura e pontuar dentro do garrafão passava principalmente por estabelecer Mozgov embaixo da cesta. No começo do jogo, na volta dos tempos técnicos, em toda posse de bola mais trabalhada enquanto esteve em quadra, Mozgov foi o alvo do ataque. Errou literalmente tudo que tentou, incluindo bandejas simples e ganchos desmarcado, e tomou toco de todo mundo. A frustração do LeBron James em ter que acionar um cara que não acertava nada não foi nem um pouco camuflada. Eventualmente Mozgov simplesmente saiu de quadra e não voltou mais, mostrando que o plano de utilizar o pivô não dá nenhum sinal de sucesso. Novamente, Tristan Thompson se sai melhor do que isso – pelo menos acerta uma ou outra enterrada.

LeBron James, o incomodado

É visível como LeBron James esteve descontente em quadra. Não queria estabelecer Mozgov no garrafão, ficava puto com cada turnover do companheiro, e em algumas jogadas de ataque que claramente não envolviam LeBron, ele voltava andando para a quadra ofensiva às vezes até mesmo pelo lado de FORA. Não teve paciência com os erros defensivos da equipe e pareceu o tempo inteiro contrariado. Nos 6 minutos finais de jogo, formou o garrafão com Kevin Love para enfrentar o “quinteto da morte” do Warriors, com 5 nanicos em quadra. Como comentei num post anterior, era a chance de vermos LeBron como pivô para enfrentar de igual para igual Draymond Green. O problema é que Love foi marcado na maior parte do tempo por Shaun Livingston ou Klay Thompson, o que permitiu que Iguodala mantivesse a marcação no LeBron mesmo no garrafão – Draymond Green não precisou se arriscar na defesa, passando os minutos finais na marcação do Kyrie Irving. A frustração do LeBron de mudar a formação, aceitar ser pivô ou ala de força, e ainda assim ser marcado pelo Iguodala porque o resto do time não forçou o Warriors aos ajustes devidos foi até engraçada. Além disso, LeBron visivelmente cansou ao longo da partida. Quando voltou para salvar um contra-ataque criado por um turnover besta, LeBron estava tão puto quanto estava esbaforido e correu pro banco para respirar, o que é péssimo negócio. Se o objetivo era diminuir o ritmo de jogo, o Cavs falhou miseravelmente, porque forçou bolas na velocidade, arremessos na transição e muitos contra-ataques, ao ponto do LeBron ver estrelas. Talvez relacionado tanto com o cansaço quanto com o descontentamento, LeBron ainda errou lances livres decisivos nos minutos finais do jogo que poderiam ter mudado a história da partida. Ao menos para mim, parece bem nítido que o LeBron não esteve inteiramente no jogo por não concordar com o modelo e com o desempenho dos companheiros. Ao término da partida, elogiou a defesa da equipe – realmente, o ponte forte da noite, tirando claramente o Warriors do seu fluxo normal ofensivo – mas é óbvio que defender bem não é suficiente para vencer esse confronto.

Kyrie Irving, o lesionado

Foi ótimo ter o Irving de volta depois de tanto tempo lesionado para vermos o Cavs completo, mas ele estava completamente sem ritmo de jogo. Errou infinitas bandejas e as bolas na transição que são sua arma principal. Quando cansou de errar essas bolas, chutou bastante do perímetro e, assim como Kevin Love, errou todos os arremessos de três pontos. Foi um desastre completo e mantém o asterisco: será que um Kyrie Irving inteiramente saudável e com ritmo de jogo mudaria a dinâmica da partida forçando a defesa do Warriors a se ajustar? No final do jogo, com Draymond Green cuidando de sua marcação, não conseguiu fazer nada – era justamente a hora de atacar a cesta e encontrar brechas no garrafão. Não foi dessa vez.

Matthew Dellavedova, o lunático

O sucesso da noite foi a defesa do Cavs que forçou o Warriors a 16 turnovers e se provou a melhor defesa em transição de toda a NBA. O Warriors não chegou a 90 pontos, ninguém entrou num bom ritmo de arremessos, e coube a eles diminuir o ritmo e jogar no garrafão para conseguir espaços, forçando bolas no Draymond Green ou com Shaun Livingston de costas para a cesta. Parte importante dessa defesa sufocante é responsabilidade de Dellavedova e sua marcação física, seu trabalho no Curry e sua capacidade de ocupar espaços nas infiltrações usando o corpo. Talvez colocá-lo junto com Irving em quadra nos momentos finais, contra aquele “quinteto da morte”, seja suficiente para tirar o Warriors do seu plano de jogo.

Klay Thompson e Shaun Livingston, os gigantes

Quando falamos que o Warriors “joga baixo”, é preciso lembrar que sua formação é baixa por abrir mão de pivôs e alas de força clássicos, mas não pela pouca estatura ou força dos jogadores do elenco. Klay Thompson tem 2,04m e talvez seja o jogador mais forte de sua posição na NBA atual; o reserva Shaun Livingston é um armador principal com 2,01m de altura e uma capacidade incrível de usar o corpo para criar espaços ou jogar de costas para a cesta. Na rodada de Natal Thompson foi um gigante na defesa, marcando Kevin Love com facilidade, e Livingston foi um gigante no ataque, acertando 8 dos 9 arremessos que tentou, a maioria em jogadas de costas para a cesta ou arremessos da cabeça do garrafão. Palmas para quem montou esse elenco, com tamanho, força e explosão em todas as posições, e um tapinha na mão pra quem não entende quão bom o Klay Thompson é e para quem achou que a carreira do Livingston estava encerrada depois que seu joelho desmontou como Lego.

Draymond Green, o politropos

Como Ulisses, na Odisseia, Draymong Green é o de muitas faces, o de muitos talentos, o de muitas artimanhas. Se em alguns jogos lhe cabe rodar a bola, contra o Cavs foi a vez de demarcar seu espaço no garrafão, criar pontos perto do aro e lutar pelos rebotes. Às vezes pareceu até exagerado o afinco do Warriors em colocar a bola nas suas mãos, até porque isso diminuiu muito o ritmo da equipe, a velocidade das jogadas e o aproveitamento dos arremessos do perímetro. Talvez tenha sido questão de provar um ponto, de que o tamanho do Cavs não assusta, mas certamente foi o teste definitivo para o Draymond Green como pivô: defendeu como nunca, pegou rebotes, marcou de Mozgov a Kyrie Irving, foi o líder em assistências da partida, deu tocos e acertou bolas de três pontos quando a defesa do Cavs pagou para ver. Foi uma partida impecável, sem altos e baixos, e para mim o atestado de que Draymond Green é o melhor pivô da NBA nesse momento. Quando o resto do Warriors está desconfortável, sem ritmo, cansado ou as bolas simplesmente não caem, ele é a segurança – uma verdadeira âncora na melhor equipe da temporada.

Stephen Curry, o imparável

Com um desconforto no calcanhar que o tirou da partida por alguns momentos para enfaixar o pé, uma marcação brutal e a melhor defesa de transição da NBA para atrapalhar seus arremessos na correria, Stephen Curry não teve um dia fácil. Não deu tempo de sorrir, dar risada ou acertar bolas a quatro passos da linha de três pontos. Mas no final do jogo, quando o Cavs colocou sua formação mais baixa para sufocar o perímetro e Curry recebeu marcação individual pressionada de Kyrie Irving, o armador do Warriors simplesmente bateu para dentro e deixou Irving pra trás na velocidade. É isso que faz de Curry esse jogador imparável: quando lhe tiram o arremesso, seu drible, velocidade e controle do corpo no ar fazem com que ele tire uma bandeja de dentro da orelha que viram pontos fundamentais ou espaço para um arremesso de um companheiro no perímetro. Duas bandejas sob marcação individual depois, Curry ganhou o jogo mesmo depois de uma partida discreta. Ou seja: não dá para descartá-lo em momento algum, e não é assim que o Cavs deve fechar suas partidas.


O que aprendemos na rodada de Natal, além de que basquete é a coisa mais legal dessas festividades de fim de ano? Basicamente que o Cavs não está confortável usando seu tamanho, e que o Warriors não tem medo – e nem respeito! – pelo tamanho adversário. Se LeBron quer ter chances de vitória caso essa Final se repita ano que vem, muita coisa ainda precisa ser alterada, tendo em vista que só a defesa fez seu papel, e isso até os 6 minutos finais, quando a marcação deixou a desejar. Palpite: a primeira coisa que deve mudar nesse Cavs é o técnico e sua ênfase no garrafão. A cara do LeBron após mais essa derrota deda que isso deve ocorrer em breve.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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