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Eu peço desculpas pela demora com um post nos últimos dias, nem estava tão ocupado assim, mas sempre que começava a escrever sobre esse assunto eu ficava meio inseguro e corria atrás de mais dados, mais informações e repensava o que eu mesmo tinha para escrever. No fim das contas foram dias preso no mesmo assunto. É sobre talvez o meu assunto favorito dentro do basquete e queria fazer um texto digno sobre o assunto, mesmo que isso custe uns dias de vocês entrando no blog só pra ver a mesma coisa.
O tema que eu tanto amo são as estatísticas. Sou perdidamente apaixonado por elas desde sempre, e me incomodava não existirem sobre o futebol, em especial o brasileiro. Passei um bom tempo desde a era da internet discada fuçando essa internet de meu deus atrás de estatísticas sobre futebol, vocês não sabem o quanto de pornografia barata eu passei nessa jornada! Mas é uma batalha em vão, as opções são poucas e limitadas. Engraçado saber que o Datafolha tem um link para estatísticas de esporte no seu site e os últimos dados são do Brasileirão de 2005. Mas o problema é que enquanto o público americano argumenta sobre MVPs e All-Stars com os números debaixo do braço para a discussão, o futebol é o esporte em que o atacante pode tocar na bola uma vez em todo o jogo e ser o herói, melhor jogador, ídolo e mito. No futebol até existe um prazer secreto em ver um time dominar o jogo em posse de bola, chutes a gol e mesmo assim perder o jogo, é o triunfo do imprevisível sobre o racional.
Mas eu sempre tentei não enxergar assim, os números não precisam ser sempre frios e eu acredito, ingenuamente, que o esporte, principalmente o basquete, pode ser medido por eles. Se eles parecem mentir é porque ainda não achamos o jeito certo de medir. O grande exemplo disso foi dado pelo Rob Mahoney, um blogueiro do New York Times e do blog Two Man Game sobre o Dallas Maverick, em um post recente sobre o Kendrick Perkins. Ele começa o texto citando outro blogueiro do NYT que chamou o Shane Battier de “No-Stats-All-Star”. Isso porque o Shane Battier é um defensor preciso, chato, pentelho, técnico, mas que não transforma a sua defesa em roubos ou tocos, ele é capaz de ter sido um jogador decisivo no jogo e não ter nenhum número relevante no box score.
Para conseguir medir a eficiência do Battier então ele buscou as estatísticas de plus/minus (+/-) que medem o placar do jogo para o seu time enquanto certo jogador ou combinação de jogadores estão em quadra. Mas o plus/minus também tem seus defeitos, afinal um jogador nem sempre joga nas melhores situações. Um jogador pode só estar em quadra com companheiros de time ruins ou contra os melhores do outro time, enquanto outros só enfrentam os reservas dos adversários. Pensando nisso foi criado o “Adjusted plus/minus”, a conta para explicar o valor é muito maluca e vários analistas nem tentam, fica para a próxima, mas o objetivo é corrigir o plus/minus original de acordo com a situação em que cada jogador atua. Nesse ranking o Shane Battier se destaca absurdamente e figura entre os nomes famosos e de destaque da NBA. Outro número buscado para explicar a produtividade do ala do Rockets foi medir a produtividade dos jogadores marcados por ele e o resultado é que todo mundo que o enfrenta fica abaixo da sua média de eficiência. Finalmente, depois de anos sendo o “No-Stat-All-Star”, Shane Battier poderia contar em números como era bom.
A revolução estatística no basquete americano nasceu com o beisebol. Primeiro nos anos 60 com o livro “Percentage Baseball” de Earnshaw Cook, mas só ganhou atenção popular no final dos anos 70 com Bill James, que ao invés de analisar o beisebol como todos os outros de sua época, cheio de romantismo e mística, ao invés disso levantava questões como “Que arremessador sofre mais roubos de base?”. A princípio muitos jornais não gostaram da abordagem dele, achando que não interessava ao público, o que lhe fez lançar seus dados em um livro por uma editora pequena, era o “The Bell James Baseball Abstract” em que analisava o ano anterior do baseball baseado somente nos números. Aos poucos outros membros da imprensa abraçaram a idéia e a cultura da estatística avançada começou a florescer.
No começo dos anos 80 a evolução do beisebol nas estatística chamou a atenção do basquete, em especial de jovens universitários, em especial Dean Oliver e Daryl Morey. Anos depois, Oliver foi o responsável pela criação do fórum APBR Metrics, o grande centro de discussões sobre estatísticas avançadas no basquete em toda a internet. Em 2003 Oliver lançou o livro “Basketball on Paper” que até hoje guia todos os que procuram entender o basquete pelos números, suas contribuições para o basquete renderam para ele um emprego como consultor no Seattle Supersonics e depois no Denver Nuggets, onde trabalha até hoje. Em 2003 também foi lançado o livro “Moneyball: A arte de vencer um jogo injusto”, a segunda revolução estatística no beisebol. O livro de Michael Lewis mostrava como o General Manager do Oakland A’s usava estatísticas nunca antes consideradas em um jogo de beisebol para conseguir contornar a dificuldade que era comandar um time com recursos bem mais escassos que os gigantes da MLB. Esse livro foi uma das grandes inspirações de Daryl Morey, formado em ciências da computação com ênfase em estatísticas e que trabalhou como assistente de estatísticas para o Celtics antes de virar o General Manager do Houston Rockets.
Esses são apenas dois exemplos de uma tendência crescente na NBA, a de respeito às estatísticas. Até o criador do site Basketball-Reference.com, Justin Kubatko, o maior banco de dados sobre estatísticas da NBA na internet, tem sua vaga dentro da liga como consultor do Portland Trail Blazers, que, por sinal, tem como General Manager o engenheiro com forte formação matemática Rich Cho.
Os números no beisebol são mais fáceis de medir porque não existe muita interação entre os jogadores como no basquete, é mais fácil para eles medir o que é uma ação individual e avaliar o jogador em separado do seu time. No basquete a porcentagem dos arremessos é influenciada pela qualidade dos passes que se recebe, da ameaça que seus companheiros são para a defesa adversária e muitas outras coisas. Tem também a questão das assistências, afinal quantos bons passes não entram para a estatística por causa de um arremesso torto ou uma bandeja parada por falta? Ou mesmo nos rebotes, um jogador pode pegar vários por jogo, mas será que ele pega aqueles mais difíceis, com três ou quatro jogadores batalhando pela bola? Pouco a pouco é o que as novas estatísticas tentam responder.
Assim como a matemática avançada, quanto mais a fundo se vai para as respostas, menos precisas elas ficam, embora isso perturbe quem busca os números atrás dessa precisão. Elementos como a eficiência, adjusted plus/minus e porcentagem de rebotes estão mais para estimativas do que para certezas concretas, mas são elas que guiam a mente de todos os citados acima. A porcentagem de rebotes é uma conta que diz quantos por cento dos rebotes de uma equipe são pegos por aquele jogador, o atual líder da NBA é Kevin Love com 23.5%, seguido de muito muito perto por Marcus Camby, ou seja, é uma estatística apoiada pela média de rebotes por jogo. Mas a de porcentagem de roubos, por exemplo, mostra Tony Allen liderando com folga! Na frente dos consagrados Chris Paul e Rajon Rondo. Alguns poderiam argumentar que a média por 36 ou 48 minutos corrigiria isso, mas igualar o número de minutos jogados não considera que times jogam em velocidades diferentes e, logo, têm mais ou menos oportnuidades de roubar bolas, arremessar, pegar rebotes, etc.
Possivelmente a maior contribuição de Dean Oliver para o basquete foi a contagem do jogo de basquete pelas posses de bola. Afinal, é mais fácil ter a maior média de pontos por jogo se você joga em extrema velocidade e tem 110 posses de bola por jogo, certamente fará mais pontos do que um time que joga com cuidado e acaba tendo 90 posses de bola, o que não quer dizer que é um ataque mais eficiente. O mesmo vale para a defesa. A questão da posse de bola é também uma das diferenças entre a contagem de eficiência feita apenas somando e subtraindo estatísticas e o famoso PER, criado pelo analista John Hollinger e que, apesar dele mesmo admitir que prejudica jogadores com qualidades defensivas como Shane Battier, é o melhor jeito de analisar com um número único os jogadores mais eficientes da liga. Mas não esqueçam, como diz Oliver no seu livro: “Não tenha esperanças em um sistema definitivo para medir o talento dos jogadores. Isso não existe. Mas existe muito valor nas tentativas”. Eu falo mais sobre o PER e sua fórmula nessa coluna de alguns anos atrás.
Mas bom, eu tinha comentado no começo do texto que o post no blog do New York Times era para explicar como o Kendrick Perkins era bom na defesa, não só Shane Battier. Acontece que tudo o que usaram para provar que o ala do Rockets era um bom defensor não funcionava com o Perkins. Como era possível que todos estivessem vendo que ele era uma das pedras fundamentais da melhor defesa da NBA (segundo todas as estatísticas) e os números não mostravam nada? O seu adjusted plus/minus foi um dos piores da NBA na temporada passada mesmo sendo onde os jogadores com as suas características brilhavam. E medindo o valor dos pivôs que jogam contra ele, a eficiência dos adversários continuava na média contra Perkins, com poucas exceções. E é nessa hora que devemos ou jogar os números fora e acreditar nos nossos instintos, ou renegar os instintos e criticar Perkins pelos números. Ou, como fez Mahoney, ir cada vez mais fundo para achar um número que pareça dizer a verdade. Ele usou os números fornecidos pelo genial (e ainda fechado para o público nessa temporada) Synergy Sports e percebeu que nos arremessos próximos ao aro, quando os jogadores recebem próximos a cesta, Perkins permite apenas 0.7 pontos por posse de bola, uma das melhores marcas de toda a NBA, e isso acertando apenas 38% dos arremessos, um número dominante se considerarmos o quanto estão perto da cesta. Por fim, o Perk comete faltas em apenas 6% dessas situações. Em outras palavras, Perkins não tem os melhores números porque enfrenta muitos dos “novos pivôs”, caras como Andrew Bynum, Andrew Bogut ou até os famosos alas de força improvisados, como Amar’e Stoudemire ou Pau Gasol, jogadores que tem um bom jogo de meia distância e sabem causar impacto mais longe da cesta. Aí quando enfrenta jogadores que querem se impôr embaixo da cesta, como Dwight Howard, Perkins garante a sua reputação como um dos grandes defensores da NBA.
Como bem descrito no texto do NYT, Shane Battier é um jogador que se destaca quando nos afastamos e vemos o jogo num nível geral, enquanto Perkins se destaca quando vemos o jogo em um “micro level”. Pode parecer confuso, talvez até uma sacanagem, sempre buscando números atrás de números até achar um que beneficie ou prejudique o jogador. Mas não é algo que precisa ser visto da perspectiva do bom e ruim, as estatísticas não estão aqui para serem usadas para provar quem é melhor que quem (algo desnecessário e, como defendemos fortemente aqui, só diminui o basquete a algo simplista). O número mostra que o Perkins é bom naquele tipo específico de defesa e ponto, é isso.
A acusação de manipulação dos números surgiu nos últimos dias com um polêmico post de Henry Abbott no blog True Hoop, “A verdade sobre Kobe Bryant nos momentos decisivos”. Nessa análise ele não usa nenhum número muito avançado, mas inova por ir atrás dos números em uma área em que costumamos ser guiados apenas pelos nossos instintos. Quando o Lakers perdeu um jogo em uma air ball de três pontos do Lamar Odom anos e anos atrás contra o Pistons, eu lembro de ter xingado por horas dizendo “Por que não deram a bola para o Kobe?”. Milhares de outros fizeram um questionamento parecido quando LeBron James passou a última bola do jogo, o da vitória, contra o mesmo Pistons em um jogo de playoff, para o arremesso de três de ninguém mais ninguém menos que Donnyell Marshall. A chuva de críticas continha coisas como “Uma estrela como LeBron James deve chamar a responsabilidade em uma hora como essa”. É natural, queremos o que consideramos o melhor jogador para decidir, é algo até da cultura americana que valoriza tanto o “franchise player”, se é o time do LeBron é ele quem deve ganhar e perder pelo time.
O artigo de Abbott lembra a pesquisa feita com os 30 General Managers da NBA (incluindo todos os nerds como Cho e Morey) em que 77% responderam que se tivessem todos os jogadores da NBA para escolher para um arremesso final, escolheriam Kobe. Mas analisando os dados de todos os jogos da NBA desde 1996-97 até hoje, em momentos com 24 segundos ou menos e jogos empatados ou perdendo por até dois pontos, Kobe tem apenas 31% de aproveitamento nesses arremessos decisivos. É apenas o 25º melhor entre os com 30 tentativas ou mais. O líder, disparado, é Carmelo Anthony com 47%. Sem querer puxar sardinha para o nosso lado, mas um estudo muito parecido foi públicado pela gente quando tínhamos uma coluna sobre estatística no BasketBrasil. O texto pode ser lido aqui e contém o seguinte trecho:
“‘Kobe Bryant é o melhor jogador para dar o último arremesso’
Falso. Segundo os dados coletados pelo 82games.com, Kobe Bryant é apenas o quarto jogador que mais acertou bolas decisivas e é o que mais bolas errou nas últimas 5 temporadas.
Kobe acertou 14 arremessos vencedores e errou 56, um aproveitamento de 25% das tentativas. Também acertou 12 de 15 lances livres, deu apenas uma assistência e cometeu 5 desperdícios. Podemos dizer que o padrão é Kobe não passar a bola na posse de bola final, arremessar por conta própria e acertar uma a cada quatro.”
No mesmo texto mostramos como Carmelo Anthony era o mais decisivo desde aquela época e como jogadores com fama de amarelões como Dirk Nowitzki e Peja Stojakovic eram na verdade acima da média. Enquanto isso Chauncey Billups, o famoso “Mr. Big Shot”, tem um aproveitamento terrível. O que é bem curioso é que os nomes e os aproveitamentos não são muito diferentes quando analisados não só a posse de bola final mas também os últimos cinco minutos de um jogo apertado.
A acusação feita por muitos admiradores do Kobe é que essa é uma das formas de manipular os números contra um jogador, que as estatísticas não poderiam ser ousadas a ponto de contrariar toda a maioria de torcedores, jogadores, General Managers e até de alienígenas que acham Kobe o maioral. Mas a verdade é que o Kobe interpreta ao máximo a teoria do “O time é meu e eu decido” e o final dos jogos é com ele. Contando só os números dessa temporada, por exemplo, Kobe é líder absoluto em arremessos tentados nos últimos 5 minutos de jogos decididos por poucos pontos. São 34.7 arremessos tentados a cada 48 minutos do chamado “crunch time”, perto dele somente Derrick Rose e Carmelo Anthony, mas com a diferença que Kobe tem 38% de aproveitamento, enquanto Rose tem 39% e Melo impressionantes 45%.
Ou seja, não é exagero. O Kobe acha que a responsabilidade nos finais do jogo é só dele e ele só passa a bola se realmente for a última opção, mas logo pedindo a bola de volta. Mas sejamos sinceros, nos últimos três playoffs em muitas vezes ele soltou a bola, mais do que é normal para ele. Foi assim com aqueles pick-and-rolls no alto da quadra com Pau Gasol e Lamar Odom e os passes que ele deu para Derek Fisher e Ron Artest meterem bolas decisivas de três pontos. Decisões importantes, inteligentes e que renderam títulos, mas raras, não há como negar. Podem argumentar que o Kobe tenta arremessos mais difíceis que os outros, mas isso só acontece porque o adversário sabe que ele só passa a bola em último caso. Não queremos que Kobe perca a sua magia por causa de meia dúzia de números, mas quando se analisa estatísticas dessa maneira você deve estar aberto a engolir coisas que até pouco tempo atrás pareciam verdades absolutas.
Eu dou um exemplo que aconteceu comigo e é bem recente. Vocês devem se lembrar desse meu post analisando o San Antonio Spurs, certo? Eu disse que o Spurs estava se enganando, mas enganaram a mim também. Um dos meus argumentos para explicar a mudança do Spurs em relação aos últimos anos era a velocidade com que eles jogavam, e sustentei a teoria com o número de posses de bola que eles tem por jogo, um dos maiores da NBA. Mas alguns problemas aparecem, como uma jogada com vários rebotes ofensivos conta como uma grande e longa posse de bola. Turnovers também criam mais posses e nem sempre estão ligados a velocidade dos times. Surgiu uma nova maneira de medir a velocidade com que os times jogam e elas desmentem o que eu disse. Rohan Cruffy do SBNation.com (e não da seleção holandesa de 74) criou um método em que se mede a velocidade dos ataques da NBA de acordo com o tempo que eles gastam para efetuar cada posse de bola. Nessa medida os times mais rápidos continuam sendo os mais rápidos se em comparação com os de número de posses de bola por jogo: Nuggets, Knicks, Warrirors e Suns. Mas o Spurs, para a minha surpresa, despenca na tabela.
O time de Tim Duncan é o 13º mais veloz em posses de bola (chegou a ser o 8º mais veloz no início da temporada) e é o 19º se contando o tempo do relógio. E a razão é simples, quando se mede o tempo de arremesso do adversário o Spurs é, sei lá diabos porquê, o time que sofre os arremessos mais rápidos em toda a NBA. Os times que enfrentam o Spurs ao invés de trabalhar a bola partem pra cima e sempre aceleram o jogo, arremessando cedo, causando uma inflação no número de posses de bola por jogo. Sim, o Spurs tem um pouco mais de pontos por contra-ataque por jogo e está usando mais os seus jogadores velozes, mas eles não são um time que joga em um ritmo tão veloz como eu supunha.
O curioso é que isso não parece ter relação com a qualidade da defesa também. Times bons na defesa como o Hornets, Magic, Bulls e Bucks forçam seus adversários a arremessos depois de muito tempo no relógio. Mas outras boas defesas como Lakers, Heat e Celtics forçam arremessos velozes, não parece existir um padrão. Ou, claro, a gente que não ainda não soube analisar os dados direito.
Portanto, precisamos ter a cabeça aberta para admitir que algumas coisas nos enganam. Ver o Spurs tentando puxar mais contra-ataques do que o normal e ter a confirmação numérica dos placares altos e das posses de bola excessivas me fez cometer o erro de ver um Spurs excessivamente rápido, quando na verdade são os adversários deles que impõe essa velocidade. Se para alguns fãs é difícil admitir a derrota para os números, imagine para os jogadores. Esse é o desafio de outro nerd do basquete atual, Erik Spoelstra, treinador do Miami Heat.
Ele foi chamado pelo Pat Riley há mais de 10 anos para buscar novos dados estatísticos para ajudar o Miami Heat a evoluir nesse nicho crescente dentro do basquete. Então Spoelstra chamou um desenvolvedor de software só para o time, Shmuel Einstein. Nas palavras de Spoelstra: “Achei que seria uma boa chamar um cara com o sobrenome Einstein”. Juntos eles desenvolveram novas maneiras de analisar o jogo, especialmente separando diferentes tipos de jogadas e analisando a sua eficiência, o sistema é complexo ao ponto de que cada posse de bola defensiva é analisada sob a perspectiva de 54 diferentes critérios, “É um trabalho entediante”, admite o técnico.
Assim que o Spoelstra descobriu que teria o árduo trabalho de treinar LeBron, Wade e Bosh ao mesmo tempo, começou a se debruçar sobre toneladas de vídeo do seu Heat, além de Cavs e Raptors. Afinal, como esses jogadores eram mais eficientes e em que jogadas mais se destacavam? A análise foi feita e mesmo assim o tempo para treinar foi pouco e o começo de temporada foi desastroso, especialmente no ataque. O que chamava mais a atenção era como o time tinha números péssimos com LeBron e Wade ao mesmo tempo em quadra. Foi quando Spoelstra chamou todos, disse que os dois não estavam funcionando juntos e afirmou que eles deveriam aprender a jogar juntos, afinal não ia colocar ninguém no banco. Para mostrar o que esperava deles apresentou um gráfico de pizza dividido com todas as maneiras que eles deveriam pontuar: duas ou três enterradas ou bandejas em contra-ataques, algumas cestas cortando em direção à cesta, dois arremessos de longe, duas jogadas de costas pra cesta e assim por diante. Se realizassem tudo isso teriam a liberdade de jogar no high pick-and-roll (com o corta-luz na linha dos três) no final de cada período, situação em que os três mais se destacavam em seus antigos times.
Segundo Spoelstra não são todos os jogadores que sabem lidar assim com os números, então sempre o melhor jeito é mastigar o máximo possível. Segundo ele só 5% de tudo o que eles calculam chega aos jogadores e muitas vezes assim, em gráficos desenhados e fáceis de entender. A experiência com o Heat tem dado certo, nos últimos jogos os gráficos de como cada jogador marca têm mudado para mais perto do ideal pensado por Spoelstra, segundo ele principalmente com Wade, que marca seus pontos das maneiras mais variadas possíveis, como ele havia proposto.
O que podemos tirar disso tudo é que a revolução estatística já chegou na NBA e só cresce. Mas por enquanto ainda é um território dividido, longe da certeza absoluta que o tema a princípio propõe. General Managers, jogadores e mesmo (ou principalmente) os torcedores estão pensando duas vezes em aceitar a revolução. Eu diria, até, que cerca de 65,7% dos torcedores casuais da NBA consideram as estatísticas avançadas uma bobagem. Mas é só uma estimativa.