>
Não sei se vocês acham isso também, mas pra mim é bem claro que a série entre Suns e Spurs está bem acima desses simples playoffs. Quando você vê o Celtics passeando sobre o Hawks, o Lakers sobre o Nuggets ou até jogos disputados como o jogo 1 entre Cavs e Wizards ou o Hornets e Mavs, você sente que é um clima diferente da temporada regular, que os times jogam diferente, que o clima da torcida é diferente. Mas quando você assiste a série entre Suns e Spurs, parece algo quase que atemporal. Eles não estão mais disputando uma vaga na segunda rodada ou só respondendo a uma rivalidade ou provocação como Cavs e Wizards. Entre Suns e Spurs já é questão de orgulho, de honra.
O legal é que isso se transmite para quem assiste também, não tem jeito. Eu não torço pro Suns e nem pro Spurs. Não gosto do Spurs porque eles sempre vencem e deixei de ser muito fã do Suns quando eles tiraram meu Lakers dos playoffs por dois anos seguidos. Mas mesmo assim me envolvo demais com essa série e no jogo 1 sofri muito mais do que na partida do Lakers, mesmo quando o Lakers chegou a ficar pra trás no segundo período.
O jogo começou tenso, os problemas de falta do Shaq deixaram tudo mais tenso ainda, mas o Suns soube lidar com isso e ótimas atuações do Amaré e do Diaw, somados a um Spurs um bocado lento, sem engrenar no ataque, resultou em uma boa vantagem para o Suns. Tudo mudou no segundo tempo e em especial no quarto período, quando o Spurs, pela bilionésima vez na sua história, conseguiu empatar o jogo bem quando precisava, no fim da partida. O engraçado é que o Suns não jogou mal no quarto período, pode ter cometido alguns erros no ataque e uns outros na defesa, mas nada de mais, nada que não seja comum de acontecer contra um grande time. O que aconteceu foi que o Spurs jogou muito bem mesmo. Jogos históricos são assim, geralmente entram para a história justamente porque os dois times jogaram bem demais e porque qualquer um poderia vencer.
Odeio quando tentam engrandecer partidas que foram ruins. Muitas vezes o jogo tem prorrogação e é disputado só porque os dois times estão igualmente ruins. E já vi jogo que vai pro tempo extra porque o placar não muda nos últimos 3 minutos de jogo. Mas com Suns e Spurs não é assim, com eles o empate se sustenta porque os dois trocam cestas, uma mais difícil do que a outra, uma mais improvável do que a outra, e isso fez o jogo ser histórico como foi. Isso é que faz um torcedor do Lakers quase perder os cabelos em uma mera partida 1 de uma série que nem envolve seu time.
A carga emocional é tanta nessa série, que minha teoria é de que se o Suns passar pelo Spurs, a moral e confiança deles será tão grande que acho que só o Celtics seria capaz de pará-los, mas também não descartaria a chance do time ter uma recaída logo depois da série, tamanho o alívio e a sensação de dever cumprido que seria para eles finalmente derrotar o Spurs. Mas só vamos saber o que vai acontecer se o Suns realmente ganhar, e para isso não adianta ser questão de honra, ser atemporal ou ter rivalidade, tem que ganhar na quadra.
O que vimos na quadra no primeiro jogo é o que devemos ver no segundo, não espero muitas mudanças das duas equipes. O Suns fez o jogo que planejava, o jogo que fez nos dois últimos jogos da temporada regular que resultaram em vitória do Phoenix. Ritmo lento na maioria dos lances e sempre buscando os pontos no garrafão com Amaré e Shaq. O que deve mudar é a postura dos dois homens de garrafão, os mesmos Amaré e Shaq, para não ficarem com problemas de falta de novo.
Podem até dizer que o Suns estava ganhando o jogo quando o Shaq estava fora no primeiro tempo, mas no final ele não podia ficar no banco tamanha a preocupação com Tim Duncan, e várias vezes o grandalhão do Suns teve que recuar e não ir para o toco para não sair do jogo com 6 faltas. Em um jogo decidido por dois pontinhos, no último segundo da segunda prorrogação, qualquer bandeja que o Shaq deixou de defender fez muita falta. Mas o pior é que essas faltas do Shaq e do Amaré não foram a defesa tentando parar o imparável Tim Duncan, das 11 faltas que os dois fizeram juntos, 5 foram faltas de ataque. Os dois precisam tomar mais cuidado no ataque para gastar as suas faltas na defesa, indo com força para cima dos adversários.
No lado ofensivo, o Suns precisa continuar usando Amaré Stoudemire sempre que possível. Além de ser a melhor arma de ataque do Suns, ele pode causar o problema de faltas no outro time agora, talvez tirando Kurt Thomas ou Duncan da quadra por importantes minutos. Mas quando eu digo “sempre que possível” é justamente para ele não tentar passar por cima de todo mundo e fazer as suas faltas de ataque. Com Amaré funcionando bem, muito espaço será criado para os outros jogadores, que precisam se destacar mais, não podem ser como Boris Diaw, que foi genial no primeiro tempo e patético no segundo. E como eu disse na análise antes do primeiro jogo, o Suns tem que aproveitar todas as chances de correr para correr, os pontos de contra-ataque, pontos fáceis, são essenciais para bater uma defesa forte como a do Spurs.
Acredito que no lado do Spurs a estratégia não irá mudar muito também, até porque é a mesma há alguns anos. O que eles não podem repetir é a mediana atuação que eles tiveram no primeiro tempo do jogo passado, mesmo com o Shaq fora do jogo, o Suns está forte e não é sempre que vai dar essa colher de chá, o Spurs tem que aproveitar suas chances pra não depender de bola de 3 do Duncan em todos os jogos da série. Para uma vitória mais tranquila, o negócio é explorar Tim Duncan sempre que possível lá onde ele tem as manhas, no garrafão, e criar a pior dúvida da história da NBA na defesa do Suns: dobrar ou não dobrar a marcação em cima de Tim Duncan?
É uma pergunta que pode render livros, teses, discussões, brigas e etc. Mas eu tenho a minha opinião e ela é a de que em 90% dos casos você não deve dobrar a marcação nele. Os motivos são simples: o Duncan é um ótimo passador, ele já sabe onde todos estão posicionados e eles geralmente são ótimos arremessadores. Com a marcação dupla sempre vai sobrar alguém livre e o Duncan sempre acha esse alguém. Quando você deixa o Duncan no 1-contra-1, você até pode não levar vantagem já que o cara é um dos melhores da história, mas pelo menos ninguém vai ter arremesso livre, o Duncan pode ter vantagem mas não estará livre, estará com um arremesso contestado. Além disso, você obriga o Duncan a resolver todas as bolas, você não deixa ele envolver os outros no jogo e você não dá ritmo, movimentação de bola e confiança para o Spurs.
Outro motivo para não dobrar a marcação é que o Suns não é um dos times mais espertos na hora de cobrir os espaços abertos pela marcação dupla. Quando é o Spurs que fecha o Amaré ou o Nash com uma marcação dupla, os outros jogadores sabem onde devem estar para minimizar os prejuízos. Resultado de anos de entrosamento defensivo que o Suns não tem. O que o Suns pode fazer, se for esperto, é controlar o relógio de 24 segundos, já que dobrar a marcação quando o relógio estiver próximo do fim pode ser um bom negócio.
Em uma série entre Suns e Spurs, tudo pode acontecer e praticamente tudo já aconteceu nos últimos anos (menos o Suns vencer, isso não acontece nunca!), mas pra hoje espero mais um jogo disputado até o fim como o primeiro. Talvez dois jogos épicos, históricos, clássicos (adicione seu adjetivo cliché aqui), essa série vai ser bem longa, com muitos jogos decididos nos últimos dois minutos de partida e, claro, será bem prazerosa de se assistir.
Ah, e só uma dica pro Sr. Raja Bell: O Ginobili é canhoto. CANHOTO. Mão Esquerda. A que não escreve. Pense duas vezes antes de escolher que lado oferecer para a bandeja. De nada.
Notas:
– Enquanto uns times fazem batalhas antológicas nos playoffs, outros estão de férias. O Bucks, eliminado faz tempo, já trocou de Manager e agora troca de técnico. O novo é Scott Skiles, sim, aquele que ninguém sente falta em Chicago. Vamos ver se ele faz o Ramon Sessions quebrar o recorde do próprio Skiles de 30 assistências em um mesmo jogo.
– O Bulls, por sua vez, dispensou o interino que substituiu Skiles, Jim Boylan, mas ainda não escolheu o técnico novo.
– Isiah Thomas não é mais técnico do Knicks. E em notícia mais surpreendente ainda, a Terra é redonda.
– Kevin Garnett venceu hoje o prêmio de melhor defensor do ano. Cada um que vota escolhe alguém para colocar em primeiro, segundo e terceiro. Além de KG, os outros votados para primeiro lugar foram Camby, Battier e Bowen.