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Perkins queria um abraço e um autógrafo
Com todo respeiro ao Cleveland Cavaliers, ao Spurs, ao Magic e até ao Hornets, nada contra eles (talvez contra o Spurs) mas a final da NBA tem que ser Lakers e Celtics.
A razão histórica é legal, são os times mais tradicionais, os que mais venceram títulos, os que mais disputaram finais e os que têm rivalidades e partidas históricas entre eles por décadas e décadas. Mas não é só isso, eu não queria uma final entre os dois hoje em dia se os times fossem ruins e os jogos entre eles desinteressantes, mais importante que a história antiga desse confronto é o confronto atual. É a rivalidade mais legal da NBA atualmente.
Outra rivalidade é entre Lakers e Spurs. Os dois times ganharam 7 títulos nos últimos 10 anos, venceram 9 vezes o Oeste nesses 10 anos e nesses mesmos 10 anos já se enfrentaram em 6 séries de playoff. É uma rivalidade muito maior que Spurs e Suns de um tempo atrás ou Lakers e Kings do começo da década. Mas ela passa despercebida porque os dois times se respeitam demais.
O Kobe respeita o Bowen, o Bowen respeita o Kobe. O Shaq e o Duncan se respeitavam, o Phil Jackson e o Popovich também. Já o Amaré odeia todos no Spurs, o Doug Christie odiava qualquer um no Lakers e o Shaq não era dos maiores fãs do Vlad Divac. Por isso as rivalidades ganharam mais mídia que a entre Lakers e Spurs, porque confusão dá mais audiência.
E não dá mais audiência à toa, pra gente que está assistindo é muito mais legal ver os caras se odiando na quadra. Não é bom exemplo, não é um sinônimo de espírito esportivo, não é bom para o estômago deles e nem para a qualidade técnica dos jogos, mas o jogo fica mais interessante quando a gente vê todos aqueles deuses inatingíveis do basquete com os sentimentos à flor da pele, se mostrando mais humanos, vulneráveis e agressivos.
A rivalidade atual entre Lakers e Celtics reúne tudo isso e mais um pouco. Ela traz jogos entre os dois melhores times da NBA, tem 5 All-Stars em quadra a cada jogo, o jogo é bem jogado, sempre emocionante e eles se odeiam! Meu deus como se odeiam! Ontem foram 6 faltas técnicas no jogo, todas por desentendimentos e empurrões. Primeiro entre Rondo e Kobe, depois Odom e Garnett e até os coadjuvantes Josh Powell e Leon Powe se estranharam. Não sei se eles embarcaram nessa rixa histórica ou se foi só por causa das finais do ano passado, mas dá pra ver desde os cumprimentos de antes do jogo até as comemorações de final de partida que um time não aguenta ver o outro. Não tem abracinho de parabéns depois da partida, papinho antes de começar, nada, só vão lá com sangue nos olhos e jogam tudo o que podem.
Creio até que é esse ódio que fez o Lakers ganhar os dois jogos que as equipes disputaram nessa temporada, o do Natal que encerrou a sequência de 19 vitórias do Celtics e o de ontem que encerrou a sequência de 12 vitórias. Esse ódio que eu digo não é no sentido de desejar o mal para o adversário, não é rir se ele torcer o pé, mas é não aceitar perder de maneira alguma, fazendo o que for possível e impossível pra vencer, algo que o Celtics teve de sobra nas finais passadas. Nas palavras do Pau Gasol:
“Eu gostaria que tivéssemos vindo pra cá no ano passado com a atitude de hoje. Ninguém deu pra trás, fomos tão físicos quanto qualquer outro time.”
E quem joga basquete sabe que não é muito fácil jogar aquele jogo físico quando só tem amiguinho seu de infância no outro lado, é bem mais fácil e natural dar aquelas trombadas depois de tomar uma falta dura ou de ouvir umas provocações. E o Lakers sentiu na pele a humilhação de perder para o Celtics, ouviu muita merda deles e da imprensa e voltou com gana pra jogar fisicamente e vencer.
Lembro de uma entrevista do Rick Carslile no começo da temporada. Ele tinha acabado de assumir o cargo de técnico do Mavs e disse que o que ele queria é que o time do Dallas odiasse os outros times. Porque eles respeitavam demais o adversário e isso atrapalhava eles nos momentos decisivos. A palavra que ele usou e que eu estou usando é ódio, talvez seja muito forte, não encontro outra melhor agora, mas acho que deu pra entender o meu ponto.
A vitória do Lakers ontem tem significados amplos. É um jeito do Lakers provar pra si mesmo que está ainda na briga pelo título mesmo se o Bynum por algum motivo não voltar, e serve para o Celtics colocar ainda mais os pés no chão e perceber o quanto é difícil vencer dois títulos em sequência mesmo quando se é o melhor time da liga. A temporada é tão longa e tão difícil que nem sempre o melhor elenco ganha, mas saber disso antes dos playoffs começarem já é um bom começo para o Celtics.
Agora uma coisa que os dois jogos entre Lakers e Celtics nessa temporada tiveram em comum foi que nenhum dos dois times e nenhum jogador conseguiu levar o seu melhor jogo pra quadra. O nível de competição e de defesa foi tão alto que todos tiveram dificuldades.
O Kobe não deu um arremesso sequer sem alguma mão na cara dele ou que ele não precisasse fazer algum malabarismo para não tomar toco. O Lakers precisa agradecer aos céus por ele ser tão fora de série que mesmo depois de amassar tanto o aro ele tenha confiança e sangue frio o bastante pra meter 3 bolas de 3 na fuça do Paul Pierce no quarto período de um jogo fora de casa. Aquelas bolas foram mais impressionantes que todos os 61 pontos contra a defesa de cones do Knicks.
O Garnett não teve vida fácil também mas se atrapalhou mais sozinho do que com o LA, cometendo algumas faltas bobas e não garantindo os rebotes ofensivos. Depois do vareio do ano passado, o Lakers no jogo de ontem empatou (12 a 12) em rebotes ofensivos com o Celtics. Também conseguiu mais roubos de bola e, mais importante, cometeu menos turnovers.
Nas finais do ano passado o Lakers muitas vezes exagerava na quantidade de passes e acabava cometendo muitos erros, o Celtics defende muito bem as linhas de passe e é mortal nos contra-ataques, então é preciso um cuidado redobrado, que o Lakers teve ontem. Algumas vezes até se via o Lakers insistir muito nas jogadas individuais para não insistir nos passes, o que é uma boa idéia quando os confrontos pessoais são a seu favor, como o Gasol que estava em vantagem sobre o Perkins ou quando o Odom começou a vencer o Garnett no drible.
Apesar da visível melhora do Lakers, tanto em atitude como taticamente, o Celtics pode se condenar por perder esse jogo também. Eles poderiam ter disparado na frente no primeiro quarto mas não o fizeram porque perderam muitas oportunidades fáceis em contra-ataques, principalmente com o Rondo que queria a qualquer custo fazer suas bandejas e errou demais.
Também perder o Garnett por faltas com mais de 4 minutos faltando pro fim do jogo foi decisivo, pior que isso foi só colocar no lugar dele o Ursinho Carinhoso Glenn Davis na partida ao invés do Leon Powe. O Powe estava matando o Lakers com seus rebotes ofensivos e é ágil o bastante para marcar o Lamar Odom, o Glen Davis em quadra não fez nada de mais, teve várias chances de arremesso, fez uma bola e depois fez a falta que resultou nos lances livres vencedores do Odom.
Sempre que eu vejo o Odom na linha do lance livre em um momento decisivo de um jogo eu lembro de uma história, mas infelizmente não lembro de quem a contou. Era alguém que sempre ia aos jogos do Clippers na época que o Odom jogava lá. Aí ele levou um amigo, conhecido ou sei lá o que, e no fim do jogo o Odom estava na linha do lance livre para decidir a partida. Então esse cara virou para o colega e disse “ele vai errar, ele sempre erra”. E o Odom errou.
Em parte porque o Odom sempre erra lance livre e em parte porque ele é pior ainda em momentos decisivos. Mas ontem foi uma exceção, acertou os dois e foi um dos melhores, senão o melhor, jogador do Lakers em todo segundo tempo. Durante a primeira etapa eu estava xingando ele muito e torcendo pro Lakers trocá-lo por qualquer negão capaz de dar tocos, mas ao fim do jogo me senti mal por tê-lo criticado, fez uma partidaça.
Quem deu uma amarelada ontem no lance livre foi o Paul Pierce, que se tivesse feito os dois que teve chance de fazer no fim do tempo normal poderia ter levado o jogo pra casa. O Paul Pierce por sinal está se saindo um dos melhores “Kobe-Stoppers” da NBA, melhor que o finado Ruben Patterson que deu para si mesmo o apelido de Kobe-Stopper anos atrás. Mas o Kobe também marcou bem o Paul Pierce nas bolas decisivas, seria um duelo legal se eles se marcassem durante mais tempo nos jogos.
A série entre os dois times agora acabou. Só se vêem de novo nesse ano se forem para as finais. Como o Lakers venceu os dois jogos, em caso de empate entre as duas equipes na temporada regular o mando de quadra numa eventual final é do Lakers.
O próximo jogo do Lakers é mais uma batalha, domingo pega o Cavs que ainda não perdeu em casa. Já o Boston tem a partida dos sonhos para se redimir de uma derrota, vai ao Madison Square Garden pegar o Knicks. E aí, o que vai acontecer? Paul Pierce ou Ray Allen? Quem passa dos 50 pontos? Eu aposto que o Knicks não passa de 80 pontos.
Alguns vídeos do jogo de ontem que valem a pena: