>Aceitando feder

>

Al Jefferson e sua cara de alegria ao conhecer os torcedores do Jazz

Quando o Wolves resolveu finalmente trocar o Kevin Garnett, parabenizei a franquia. Não tem nada mais horrível para um time da NBA do que ser exageradamente mediano, ter um elenco grotesco, uma baita estrela que consegue segurar as pontas, brigar desesperado por uma classificação para os playoffs e perder sem chances na pós-temporada. O formato da NBA é brutal com os medianos, com os times que não estão brigando por título e nem são ruins o bastante para conseguir bons jogadores no draft. Basta uma ou duas cagadas com contratações desesperadas para sair desse limbo e uma equipe pode ficar trancada por anos a fio nesse grupo intermediário que não fede nem cheira. É preciso muito culhão para desmontar um time desses, no entanto. Uma equipe que vai aos playoffs todo ano, mesmo sem chances de fazer estragos por lá, tem dificuldades em explicar para os torcedores que o time vai feder de vez por uns tempos. Pior ainda é quando a equipe quase vai para os playoffs mas não consegue por uma ou duas posições, e fica aquela impressão de que só falta um jogador para que eles cheguem lá. Mas se chegarem finalmente aos playoffs, vão conseguir ganhar por lá? Essas equipes ficam condenadas à uma esperança que não se transforma em nada até que alguém jogue tudo fora e resolva começar de novo.

Se o David Stern tem razão e nenhuma equipe da NBA conseguiu ter lucro nos últimos tempos, não faz sentido manter uma equipe que não vencerá títulos, te dá prejuízo e não tem esperanças de melhora. A melhor saída é feder bastante para conseguir boas escolhas de draft, encerrar todos os contratos longos e imbecis que foram assinados, esperar a pirralhada amadurecer, e então assinar grandes estrelas para formar um elenco decente. Trocentas equipes da NBA seguiram esse plano especialmente esse ano, com vários times liberando muito espaço salarial para assinar grandes estrelas em elencos formados por novatos e outros jogadores baratinhos, como o Heat ou o Knicks. Algumas outras franquias apostam nos novatos para formar um elenco jovem e forte, até que possam contratar alguma estrela consagrada para levar o time ao campeonato, como é o caso do Bulls e do Nets, por exemplo. Outras apostam inteiramente no draft e em trocas por jogadores inexperientes e montam um time do nada, como o Blazers e o Thunder, fazendo contratações maiores e trocas por jogadores caros apenas para dar uma arrumadinha no elenco bem depois. Imaginei que o Wolves, ao trocar o Garnett, conseguiria um núcleo bastante jovem com uma futura estrela em Al Jefferson, e que a reconstrução duraria pouco tempo. Era só esperar a pirralhada pegar o jeito e depois conseguir um ou outro jogador para fechar algumas posições. Mas não funcionou.

Por um lado, promessas como Corey Brewer demoraram demais para se firmarem na NBA. Por outro, Al Jefferson tornou-se uma estrela rápido demais, num elenco incapaz de acompanhá-lo. Como todo time apostando em novatos, algumas escolhas não deram muito certo, alguns jogadores não souberam jogar juntos. Foi então que o engravatado David Kahn apareceu para pisar no freio e fazer todo mundo entender que reconstruções não podem ser feitas às pressas. Basta ver o Pistons: ao demolir acertadamente um time em declínio que não ganharia mais nada, assinou correndo dois jogadores disponíveis na hora para não ficar com um elenco furado e deu no que deu, o time fede, não tem flexibilidade para assinar outros jogadores porque torrou tudo em dois meia-bocas, e está fadado a ficar entre os medianos por muito, muito tempo. Falha épica, já diriam os gringos. É melhor assumir a bosta, no famoso “pisou na merda abre os dedos”, e deixar o time fedendo com calma do que correr e assinar qualquer um.

O projeto de reconstrução do Wolves começou do zero. Primeiro um técnico novo, o Kurt Rambis, para usar o sistema de triângulos do Lakers. Depois, escolhas de draft com o sistema em vista. O problema é que vai levar anos para os pirralhos entenderem o sistema, criarem consistência, amadurecerem ao lado do técnico – que também é meio iniciante. A suposta estrela do time, Ricky Rubio, só deve vir na próxima temporada porque preferiu ficar na Europa do que jogar num time lixo. O processo é lento, o Wolves tem que ir com calma testando todos os jogadores, dando minutos para os novatos apanharem e aprenderem, aguardar o Rubio, consolidar o sistema de jogo. Mas enquanto isso lá está o Al Jefferson, estrela consolidada, querendo vencer agora, querendo um time de verdade. Foi trocado mais rápido do que o SBT cancela seus telejornais.

Pelas escolhas duvidosas no draft, em que pega vários jogadores de uma mesma posição, David Kahn está ganhando fama de ser uma anta, quase um Isiah Thomas que pelo menos sabe contar usando os dedos. A troca do Al Jefferson não ajudou muito sua causa. Mas a lógica está bem clara: ele não tem pressa nenhuma. Se o time vai perder, feder, ser uma droga, tudo enquanto espera a pirralhada ganhar uns pelos no saco, por que ficar pagando o contrato monstruoso do Al Jefferson? Quando o Wolves se tornar um time decente, o Al Jefferson já teria dado o fora por conta própria mesmo. O melhor a se fazer é economizar umas verdinhas até lá.

O plano lembra um pouco o Grizzlies, que ia para os playoffs todos os anos mas nunca ganhou uma partida sequer de pós-temporada. Ao trocar o Pau Gasol por escolhas futuras e feder pra burro, criou um time muito jovem, cheio de novatos, levou uns anos para que começassem a render juntos, e aí contratou um ou outro veterano para ajudar. Sem estourar o teto salarial, economizando uma grana, o Grizzlies tem grandes chances de ir para os playoffs na próxima temporada apesar de todo mundo ter chamado a troca de burrada. Ter mantido o Gasol seria cagada, o salário era grande demais e ele queria vencer imediatamente enquanto o time precisava feder um pouco durante uns anos para se reconstruir. E não dá pra feder muito se você tem o Gasol, claro.

Como sabemos, a troca do Gasol para o Lakers desequilibrou a liga. A troca do Al Jefferson, que vai permitir que o Wolves feda de verdade enquanto espera seus pirralhos virarem estrelas, não deve desequilibrar tanto. Mas com certeza tornou o Jazz um time muito melhor que vai fazer mais estrago do que nunca nos playoffs. Ou seja, podem esperar uma legião de torcedores do Jazz fazendo muito barulho por aqui, torrando nosso saco e eventualmente descobrindo onde eu moro e queimando minha família na fogueira, amém.

Eu adoro o Carlos Boozer, acho seu arremesso espetacular e ele funciona perfeitamente bem com Deron Williams. Mas como maluco que sou por perder vários dias da minha vida acompanhando os jogos do Wolves, posso afirmar que o Al Jefferson vai ser ainda mais útil para o Jazz. O cara é um monstro embaixo da cesta, justamente onde o Boozer era menos efetivo. Seu arremesso é consistente, vai funcionar perfeitamente bem nas jogadas com o Deron Williams, mas seu trabalho de pernas e pés muito rápidos vai simplesmente dominar o garrafão ofensivo. Ele é um monstro refinadíssimo, do tipo que bebe sangue mas arrota em francês, e vai pontuar horrores com muitos movimentos diferentes no esquema tático rígido e cadenciado do Jazz. Quando o Wolves corria demais, o Al Jefferson ainda rendia bem, mas é de costas para a cesta num jogo lento que ele mostra que pode vencer jogos sozinho. Na defesa também é muito inteligente, tem bom tempo de bola, distribui seus tocos e não compromete muito – algo que já é um avanço frente ao Boozer, que é um dos piores defensores da NBA, disparado.

É cedo demais para chamar o Kahn de burro. Ao menos ele tem os bagos de deixar o time fedendo sem ficar pagando salários absurdos desnecessariamente. Vai se focar na pirralhada, ir com calma, esperar o Rubio e não vai deixar ninguém descontente por lá. Veteranos que querem vencer só devem chegar muito depois, quando o elenco já estiver maduro o bastante. E o Jazz aproveitou essa barbada para conseguir um assalto a mão armada nos moldes do Gasol-para-o-Lakers, capaz de fazer muito estrago se o resto do time jogar bem. Levante a mão quem é o doido que viu o Al Jefferson jogar nas temporadas passadas. Se você não levantou, pode ter certeza de que ele é um dos melhores jogadores de garrafão da NBA, muito mais versátil do que o Boozer, muito mais físico embaixo da cesta, e vai chutar muitos traseiros. Se você levantou a mão, então já sabe o tamanho da encrenca que o Jazz vai causar na liga. Os mórmons foram abençoados, vai ver rezar dá resultado.

No Wolves, o garrafão agora tem Kevin Love e Darko Milicic – por mais bizarro que seja, é um dos garrafões que mais valerá a pena acompanhar na temporada que vem. O Love é um dos jogadores mais inteligentes da NBA, faz cruzadinhas no nível “Putaquemepariu”, passa a bola como poucos armadores e é famoso por dar assistências de um lado da quadra para o outro, é espetacular. Arremessa também de todos os cantos, inclusive da linha de três (e até da quadra de defesa).

Além disso, sempre toma a decisão certa, é até chato. Vai ser uma estrela na liga, sem dúvidas, e tendo muito mais minutos em quadra sem Al Jefferson, nos dará mais chances de vê-lo atuando. Seu parceiro de garrafão será o Darko, também conhecido como “um dos maiores fracassos da história do draft”. Desde que foi escolhido com a segunda escolha do melhor draft de todos os tempos, passou de um time para o outro sem nunca render grandes coisas. Mas isso depende do que se espera dele, claro. Todo time que contrata o Darko espera um jogador que domine o garrafão e mostre o potencial que justificou sua segunda escolha no draft, mas o que todo time encontra é um jogador de apenas 25 anos, excelente defensor, com problemas para manter a calma dentro de quadra. A maior dificuldade do Darko sempre foi sua cabeça, ele precisava ouvir o pagodinho “deixa acontecer naturalmente”, porque desde que entrou na NBA – novo demais para conseguir sequer cortar as próprias unhas – queria mostrar que merecia ter sido escolhido tão cedo no draft no lugar do Carmelo Anthony. Dê a bola para Darko e ele vai tentar fazer milagre, errar uma bola, ficar puto da vida, forçar uma outra bola para compensar, errar de novo porque está nervoso e forçando o jogo, se desesperar porque esperam mais dele, forçar de novo, e assim por diante. Ele fica tão puto consigo mesmo que chegou até a rasgar a própria camiseta:

Também deu aquela clássica entrevista jogando pela sua seleção nacional, em que afirma que vai foder as mães dos três juízes que “lhe roubaram o jogo” (e foder a filha deles se tiverem também). Mesmo tão descontrolado, nas poucas vezes em que ganhou minutos e conseguiu manter a calma em quadra mostrou seu talento defensivo e seu jogo refinado perto da cesta. Se tivesse sido escolhido na segunda rodada, teria jogado a vida toda, nunca teria sido trocado e seria tido com uma baita sorte do time que o pegou. Para ele, assim como para Kwame Brown, a merda é o medo da expectativa dos outros. O David Kahn disse recentemente que convenceu Darko a ficar na NBA ao invés de voltar para a Europa, como pretendia, dando-lhe estabilidade, segurança, um papel limitado em quadra (puramente defensivo) e muita confiança. Deu uma longa entrevista apenas falando sobre o que ele vê no Darko que os outros não percebem. É difícil imaginar que aquele jogador afoito e nervoso pra burro renderá no Wolves com carinho e paciência, mas é nisso que o Kahn aposta e é mais um motivo para acompanharmos esse garrafão. Love e sua genialidade nos passes, Darko e sua cabeça-de-bagre tentando não arrancar sua própria cabeça. Não vai ser tão legal quanto o Al Jefferson destruindo com o Deron Williams, mas é um dos poucos motivos para acompanhar a pirralhada do Wolves na temporada que vem. E se der certo, pelo menos vão parar de xingar tanto o Kahn. Ele, ainda, não merece.

Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?

Como são os planos?

São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:

R$ 14

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

R$ 20

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Como funciona o pagamento?

As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.