>Ainda mais velhinhos

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Velho caquético, mas ainda feito de tijolos

Acabei de postar sobre como o Celtics parece estar apenas colecionando vovôs numa tentativa clara de me fazer sentir velho. Não sou desses que fica chorando pela aposentadoria do Michael Jordan, nem sofro com a despedida do Magic Johnson, e também não vou ter que enxugar lágrimas quando o Iverson ou o Tracy McGrady pararem definitivamente de jogar. Mas é que acompanhei todos eles em seus auges e vê-los velhinhos, batendo cabeça contra uma pirralhada alimentada por Nescau, Sucrilhos e Orkut me faz sentir cada vez mais velho. Fico lembrando de assistir o Sérgio Mallandro em programa infantil e não com um monte de mulher pelada, sinto o peso da idade, e começo a entender que já passei faz muito tempo da idade de ser draftado na NBA – sonho de todo moleque que percebe que não será nem astronauta, nem o Alexandre Frota. O Celtics ter acabado de contratar o Shaquille O’Neal não ajudou em nada minha sensação.

Mas o que incomoda é só a sensação natural de que o tempo está sempre passando mais rápido do que parece. Não tenho nenhum problema de ver esses veteranos se arrastando pelas quadras mesmo quando obviamente não possuem mais possibilidade de jogo. Tem muita gente que acha ridículo, humilhante, clama por aposentadorias antecipadas, mas um homem não é o seu legado – ele é um ser humano, vivo. Então, ao invés de se preocupar com a imagem que vai ficar para os netinhos, os jogadores tem mais é que jogar até que seja divertido, até que exista tesão pela coisa. Patético ver o Marbury ter que sair da NBA e ir jogar na China? Só até o momento em que vemos ele no All-Star Game chinês se divertindo pra burro, arremessando bolas do meio da quadra e animando uma torcida apaixonada.

Marbury pode ser biruta, seus dois neurônios podem não ser muito amigos um do outro, mas não havia motivo para interromper o basquete só porque tornou-se piada na NBA. Enquanto fizer sentido para o jogador – financeira ou psicologicamente – ele tem é que ficar em quadra. O mesmo vale para um Iverson que há dois anos não recebe propostas decentes, para um T-Mac cujo corpo desistiu do basquete e ninguém mais acredita que possa render alguma coisa.

Quem conhece o Bola Presa das antigas sabe que somos fãs do Rasheed Wallace. Com salário e espaço garantidos no Celtics, especialmente com Kendrick Perkins contundido, resolveu mesmo assim se aposentar porque não via mais graça na brincadeira. Pra ele sempre foi questão de satisfazer-se, não de fazer o óbvio. Muitos dizem que poderia ter sido um dos melhores jogadores de todos os tempos se tivesse ficado dentro do garrafão, mas decidiu que se divertia mais arremessando de três pontos. Mandou sua imagem no “Hall da Fama” da NBA à merda, ganhou um título fazendo do seu jeito (perdeu outro fazendo merda do seu jeito, também), e arcou com toda as consequências dos seus atos. Quando viu que no Celtics o clima era hostil, que o erro não é aceitável, que a vitória vem acima de tudo, deu o fora e pendurou as chuteiras. Não há idade certa para se aposentar: em plena forma física, com dores, se arrastando, no auge, seja lá quando for, a aposentadoria só tem que vir quando o jogador não quiser mais, não tiver mais saco. Se ele estiver mais interessado em jogar baseball, como Jordan, pode parar mesmo se for na flor da idade. Se tiver atuações ridículas graças à idade mas ainda achar legal vir do banco e brincar, como o Jerry Stackhouse, pode ficar na NBA também.

Shaquille O’Neal é desses que está se divertindo. Demorou um tempo para que ele (e eu também, admito) percebesse que seu nível de jogo estava caindo, mas agora já assimilou bem as limitações e está aí apenas para competir. No Heat, Shaq já começou a perceber que ele poderia brilhar mas só seria campeão se fosse secundário no ataque, deixando Wade tomar as rédeas. No Suns, apesar das críticas tão ferrenhas, achei que Shaq jogou bem e foi mais limitado pelas tendências da arbitragem do que pelo seu próprio físico. No Cavs, já foi ficando óbvio que não aguentava mais o tranco de toda uma temporada da NBA e foi topando minutos mais reduzidos, um papel bem secundário em pouco tempo de jogo. Agora vai para o Celtics aceitando um contrato mínimo de veteranos (cerca de 1,3 milhões) e sabendo que será reserva num time de garrafão tão profundo que parece a garganta da Monica Mattos. Seus minutos serão repartidos com Jermaine O’Neal, Glen Davis, Kevin Garnett e Kendrick Perkins (quando ele voltar em fevereiro). Ou seja, a aceitação de seu declínio foi bastante gradual e agora ele sabe que apenas reforça o elenco para dar uma forcinha, nada demais.

O problema é que, talvez por me sentir velho, eu nunca admito totalmente o declínio desses atletas. Pra mim o Suns fez bem em contratar o Shaq porque ele ainda chutava traseiros (fiquei confuso com a falha do projeto), ainda acho que o Iverson é tão bom quanto era no Nuggets e apenas ficou queimado na liga, e que o T-Mac continua o mesmo de toda sua carreira no Houston, em que ele não precisava de joelhos para vencer partidas. Então, acho que o Shaq é uma ajuda maior para o Celtics do que talvez até ele imagine. Pra começar, o estilo de jogo do Boston é ideal para o pivô. A defesa é forte e gosta de afunilar em direção ao centro do garrafão, o ataque de meia-quadra é lento, cadenciado, e todas essas palavras frescas que usamos para dizer que na verdade os jogadores não fazem ideia de como atacar porque o Celtics não tem um técnico ofensivo e por isso isolam jogadores no mano-a-mano. Ou seja, o Shaq vai receber mais a bola no garrafão do que recebeu nos últimos 5 anos e vai ter chances de produzir porque o time inteiro tem uma tendência a passar para alguém e ficar só olhando. Na defesa ele é o mais próximo de uma parede de tijolos que pode-se encontrar por aí para substituir o Perkins, que é uma parede de adamantium, e nem vai ter que se esforçar muito. É um casamento perfeito e provavelmente a última tentativa séria tanto de Shaq quanto do resto dos velhinhos. Somaram mais um astro em decadência, mais um que foi espetacular em seu auge, mas Shaq certamente será mais do que apenas um nome importante. Tornou o time imediatamente melhor, e como se não bastasse, torna o confronto do Celtics contra o Heat (o tal “Trio Brocha” contra o “Trio Polução Noturna”) ainda mais legal, por ter dado um anel de campeão para o Heat poucos anos atrás.

Se desse pra pegar uma máquina do tempo e juntar versões novinhas de Garnett, Pierce, Allen, Jermaine e Shaq, seria com certeza o melhor time da história da humanidade, em qualquer esporte. Venceria até ginástica olímpica, se competisse. Dava pra mandar os cinco para as Olimpíadas e eles seriam medalhistas em todos os eventos. Agora, só mostram que ainda querem brincar, ainda sonham em ganhar, e têm todo o direito disso – mesmo que me lembrem de como o tempo passa e tenham poucas chances reais de sucesso. Mas frente à minha inegável ingenuidade, não consigo agora deixar de levar esse Celtics muito a sério com Shaq em quadra. O jogador mais dominante que já vi jogar ainda pode desequilibrar nesse time, principalmente porque poderá ter seus minutos limitados e, além disso, não tem qualquer responsabilidade.

Nosso fiel leitor Renzo comentou muito bem no meu post sobre o Celtics dizendo que a franquia é muito tradicional, a cidade se identifica plenamente com o time, e que há um esforço real de endeusar o trio de Garnett, Ray Allen e Paul Pierce para que fiquem à altura dos outros títulos e não pareça apenas um título “aleatório”, vencido por uns caras quaisquer que foram juntados na cagada. Isso justifica o medo da franquia de começar uma reconstrução, mas como Shaq se encaixa nisso? Obviamente ele foi apenas uma contratação quebra-galho, está passando de time em time após o término de cada temporada, ficou mais rodado do que fita do “Lagoa Azul”, e não terá nunca sua imagem associada ao Celtics. Ele deve saber bem disso, não terá “transformado uma franquia em campeã” como alega ter feito a vida inteira, o Celtics ganhou um título dois anos atrás, então sua imagem não importa. Está lá para ser reserva, jogar um pouco, tentar mais um anel sem compromisso. Para os engravatados do Celtics, Shaq é o atestado de que “tudo foi feito para que o trio pudesse ganhar”. Com mais um anel, os três podem se colocar na história da franquia e respirar em paz. Mais do que nunca, essa é a última chance. Curiosamente, esse último respiro, agora cada vez mais forte, vem justamente no mesmo ano em que surge o outro trio, em Miami, tão novo e empolgado. Dá para não estar completamente biruta para assistir a Celtics e Heat na abertura da temporada, dia 26 de outubro?

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