Alguém tem que perder

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“Viva! Nós não fedemos tanto assim!”

Como tínhamos suspeitado desde o princípio – já diria Chapolim Colorado – o confronto entre China e Alemanha na manhã de sábado decidiu quem iria para a próxima fase da competição olímpica e quem iria para casa. Foi um duelo épico de baixo nível, com pouquíssimos pontos e apenas duas estrelas indiscutíveis: Yao com 25 pontos e 11 rebotes, Nowitzki com 24 pontos e 17 rebotes. Apenas cinco jogadores elemães pontuaram no jogo (e um deles fez apenas dois pontos), sinal que costuma anunciar que o time fede pra burro. A partida foi emocionante, decidida no finalzinho e eu teria várias coisas a dizer sobre ela. O único porém é que eu não assisti ao jogo. Pois é.

A culpa não foi minha, eu até acordei a tempo, interrompi meu sono sagrado em pleno fim de semana, mas não consegui ver o jogo em lugar nenhum. O portal Terra, que está passando todos os esportes ao vivo, deve ter achado que nenhum imbecil acordaria cedo num maldito sábado para ver duas seleções porcarias se enfrentarem. A televisão aberta jamais se atreveria a passar um jogo sem brasileiros ou estadounidenses. A televisão paga é paga e, portanto, eu teria que desembolsar uma grana por ela, coisa que não faço mais já faz um tempo. Dependi de links na internet mas toda vez que eu encontrava algum, ele saia do ar em questão de minutos, restando apenas mensagens de que a transmissão estava violando leis de direito autoral. Engraçado, achei que o objetivo da China com as Olimpíadas era justamente se mostrar para o mundo.

Consegui assistir alguns trechos, mas nada significativo. Diz a lenda que Yi Jianlian defendeu muito bem o alemão Dirk Nowitzki, mas eu teria que ser muito ingênuo para acreditar que o único jogo em que o Yi arriscou defender foi justamente o jogo que eu não vi. Ou seja, pra mim é lorota. Só sei que ele pegou 11 rebotes, segundo jogo seguido com dígitos duplos no quesito, o que pra ele já é um belo milagre. Talvez haja esperança, afinal. Também fiquei sabendo que o Yao Ming acertou outra bola de 3 pontos (a primeira do torneio foi contra os Estados Unidos, na estréia) mas como eu não vi, tenho que confiar no boxscore.

Se tem um cara que não merecia perder era o Nowitzki. Pra mim, não me importa aquela baboseira do “ele ama seu país e pagou o seguro do próprio bolso”, o que interessa é que ele queria jogar, estava apaixonado pela idéia de disputar uma Olimpíada e fez tudo que podia para realizar o sonho. A derrota para a China foi um daqueles momentos tristes em que a gente compreende que, no esporte, alguém tem que perder. Ali no meio do amor pelo esporte, daquela prática que une pessoas que jamais se veriam em outras circunstâncias mas que se encontram porque dedicaram suas vidas a, coincidentemente, praticar a mesma atividade esportiva, há também a derrota. Acontece. Para a China, fica o sabor de derrotar um adversário digno e apaixonado – sabor mais do que óbvio na comemoração de Yao Ming ao fim da partida. Seu sonho de ficar entre os oito primeiros se tornou realidade, mesmo com elenco mequetrefe e a insana pressão sobre seus ombros. Pressão apaixonada dos fãs chineses, amantes do basquete. Pressão patriótica de seu país, tola e cheia de ganância.

Do mesmo modo, era preciso sair um perdedor na partida seguinte, a mais importante da rodada. Não que a Espanha merecesse a sova, mas os Estados Unidos deram umas belas palmadas no traseiro espanhol, no maior estilo “vai potranca”. Em nenhum momento do jogo os espanhóis tiveram qualquer esperança de sequer encostar no placar e, pelo que pareceu, desistiram do jogo rapidinho. Foi tudo um pesadelo para Gasol e seus amigos: as bolas de 3 pontos espanholas não caiam e as bolas de 3 americanas, pela primeira vez nessa Olimpíada, caíram sem maiores dificuldades. A defesa dos Estados Unidos manteve a intensidade e mesmo os armadores Calderon e Ricky Rubio, notoriamente frios como a Mari do vôlei, acabaram cometendo erros tolos que se tornaram enterradas surreais. Para o Rubio foi uma bela apresentação, com direito a um belo passe para ponte-aérea e muita seriedade marcando (e sendo marcado por) jogadores do naipe de Jason Kidd e Chris Paul. Foi o suficiente para gerar ainda mais interesse por parte dos sedentos times da NBA, mas não foi nem de longe o bastante para manter o time espanhol calmo e dentro do esquema tático. Foi um baile.

Durante as primeiras vitórias americanas, alguns ameaçaram dizer que com aquele aproveitamento nos arremessos de fora e nos lances livres, os Estados Unidos não seriam capazes de derrotar Grécia, Espanha e Argentina, por exemplo. Bem, a Grécia não ofereceu muita resistência. E contra a Espanha, os americanos foram muito mais competentes nesses quesitos. Para deixar isso mais claro e descobrir se a seleção dos Estados Unidos estava fedendo ou não nos arremessos de 3 pontos apesar de Kobe, LeBron, Michael Redd e Carmelo Anthony, resolvi dar uma olhada no aproveitamento de todas as equipes durante as quatro primeiras partidas. O primeiro número é o de arremessos de 3 pontos convertidos, o segundo número é o de arremessos tentados, e por fim vem a porcentagem de aproveitamento. Vamos lá!

Rússia:

33/86 (38%)

Irã:
34/87 (39%)

Alemanha:
36/93 (38%)

Angola:
37/104 (35%)

Espanha:
27/87 (31%)

Grécia:
29/75 (38%)

Lituânia:
38/88 (43%)

Argentina:
36/92 (39%)

Austrália:
32/83 (38%)

Croácia:
28/63 (44%)

China:
32/97 (32%)

EUA:
31/90 (34%)

O aproveitamento dos Estados Unidos, portanto, só não é pior do que o chinês e o espanhol. Isso porque, no jogo americano contra a Espanha, a lógica presente até o momento se inverteu: as bolas dos Estados Unidos caíram, as da Espanha não. Foram 12 arremessos certos em 25 tentados, aproveitamento de quase 50%. Ou seja, antes dessa partida o aproveitamento americano nas bolas de 3 era de 29% (19/65). Irch.

Hora de dar uma olhada, então, no aproveitamento dos “especialistas” americanos em cada um dos jogos:

Primeiro jogo
Kobe: 1/7
Redd: 3/7
Carmelo: 0/2
LeBron: 1/3

Segundo jogo
Kobe: 0/8
Redd: 0/2
Carmelo: 1/2
LeBron: 0/0

Terceiro jogo
Kobe: 2/5
Redd: 1/2
Carmelo: 2/4
LeBron: 0/3

Quarto jogo
Kobe: 2/4
Redd: 0/1
Carmelo: 4/6
LeBron: 2/5

Até enfrentar a Espanha, Kobe Bryant tinha acertado 3 arremessos em 20 tentativas. Eu não vou nem calcular a porcentagem para ele não passar vergonha. As explicações para isso podem ser milhares, indo de defesa por zona nos moldes internacionais a orangotangos voadores de Marte. Se a melhora que vimos contra a Espanha se mantiver, isso nem sequer será um assunto, mas se os problemas de trás da linha de 3 pontos atrapalharem a seleção americana, vamos levantar algumas suspeitas (de preferência que não contenham criaturas marcianas, para não ofender os céticos) e tentar achar explicações. Enquanto isso, os Estados Unidos vão massacrar a Alemanha e ter uma folga. A partir de então o negócio complica, vira mata-mata e, se por algum motivo eu não conseguir ver algum jogo, vou ficar muito mais revoltado do que ao perder Yao contra Nowitzki na primeira fase. Muito mais revoltado. Muito mais.

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