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Já estamos na parte 4 da nossa análise anual do Draft. Estou passando tanto tempo lendo, analisando e discutindo desempenho de pirralhos que já estou me sentindo uma professora do primário. Mas infelizmente sou aquela professora gorda, feia e de óculos fundo de garrafa, não a substituta gostosinha e recém-formada. Sorte de vocês que os posts não são em vídeo.
Para entender o espírito da coisa eu recomendo que leiam as partes anteriores, os links estão abaixo:
Parte 1 – Cavs, Wolves, Jazz
Parte 2 – Raptors, Bobcats, Wizards e Pistons
Parte 3 – Kings, Warriors, Suns, Rockets, Pacers e Sixers
E aqui, para ajudar na memória, os selos de qualidade baseado nas piadinhas já batidas da internet mundial:
Fuck Yea – É o personagem convencido, que se gaba de qualquer coisa (qualquer uma mesmo) que tenha dado certo. É o selo para os times que fizeram a coisa certa na hora certa e saíram do Draft com essa pose de fodão. (conheça mais do fuck yea)
Close Enough – É o meu meme favorito. Um cara que quer uma coisa, não consegue exatamente o que deseja mas “cheguei perto o bastante” e empina o nariz. É o selo para os times que não brilharam, mas fizeram a coisa certa. (conheça mais do close enough)
Okay – É o personagem derrotado que abaixa a cabeça e aceita qualquer coisa. Fácil de se identificar com ele nas nossas frustrações cotidianas. É o selo para os times que não pegaram nenhum grande jogador mas fizeram o que dava na hora. (conheça um pouquinho mais do Okay)
Trollface – Esse é um dos mais famosos, o troll, é o cara que faz as coisas de sacanagem, que irrita, que comenta coisas idiotas no Bola Presa só para nos irritar. É o selo para o time que foi trollado, que está achando que fez uma coisa boa mas vai quebrar a cara em breve. (conheça mais do Troll)
Rage Guy – Esse todo mundo já viu, é o famoso “ffffuuuu”, expressão que você pode usar no dia-a-dia quando bater o dedinho na quina, derrubar uma bandeja cheia de comida no chão, perder o ônibus só porque parou pra amarrar o tênis e coisas do tipo. Selo para os times que erraram feio. (conheça mais do Rage Guy)
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New York Knicks
(17) Iman Shumpert, PG/SG
(45) Josh Harrellson, PF/C
Para um time com tantas histórias desastradas na última década até que o NY Knicks atua bem nos Drafts, uma pena que eles raramente tem boas escolhas. É assim, o time é ruim e teria que ter escolhas no Top 10 por isso, mas sempre as envolve em trocas malucas por caras ruins e caros, foi assim que conseguiram Eddy Curry, Jamal Crawford, Steve Francis e toda essa renca que não fez nada em NY. Porém as mesmas trocas renderam escolhas lá no fim do primeiro round, onde o Knicks conseguiu Wilson Chandler, David Lee, Landry Fields e Trevor Ariza. Com Danilo Gallinari sendo a isolada exceção, o Knicks tem o hábito de pegar caras ruins em posições boas e jogadores bons e posições ruins.
O que acontece então quando eles tem uma escolha quase no meio do primeiro round? Pegam um jogador mais ou menos, claro! Uma pena que para esse Knicks os menos pesam muito mais que o normal. Explico, Iman Shumpert tentou ser armador principal na universidade, mas falhou feio nisso, não conseguia distribuir bem a bola e nem era um grande pontuador. Ficou no time porque é um defensor muito acima da média, um carrapato. E aqui eu reproduzo o texto escrito pelo NBADraft.net a seu respeito: “Ele vai ser capaz de defender muito bem, mas já existiu na NBA um time com um especialista em defesa que pega na bola em toda a jogada e inicia o ataque como armador? Existe uma razão para isso não existir”.
Pois é, na NBA não há espaço para armadores especialistas em defesa que não sabem como armar o jogo, a solução poderia ser colocar ele na posição 2 no ataque, mas alguma vez o Mike D’Antoni já usou um cara nessa posição que não tivesse o mínimo de arremesso de longa distância? O jogador até tem seus méritos e talentos, mas os defeitos machucam o Knicks de um jeito muito profundo que me faz acreditar que ele terá papel limitadíssimo no time até que aprenda a arremessar muito bem. Se não melhorar nesse aspecto tem tudo para ser uma escolha jogada no lixo.
No segundo round eles pegaram o Josh Harrellson, um jogador de garrafão que se destaca pelos rebotes e as jogadas de “hustle“, termo usado pelos americanos para se referir àquelas bolas brigadas, vencidas na raça. Se tiver espaço no elenco pode ser usado para descansar os pivôs por alguns minutos, gastar umas faltas e tomar enterradas do Blake Griffin.
Milwuakee Bucks
(19) Tobias Harris, SF/PF
(40) Jon Leuer, PF
via troca: Shaun Livingston, Stephen Jackson e Beno Udrih
O Bucks acredita que tem um elenco para brigar nos playoffs do Leste, por isso preferiram abrir mão da escolha número 10 (além de Corey Maggette e John Salmons) para tentar jogadores prontos e experientes. Foi assim que se envolveu na troca com Bobcats e Kings e saiu com a escolha 19, Shaun Livingston, Stephen Jackson e Beno Udrih. Acho que a troca foi boa pra eles. Primeiro porque Maggette nunca se adaptou perfeitamente à equipe, não sendo a força ofensiva que foi contratado para ser, já John Salmons não repetiu ano passado as boas atuações do ano anterior. Para o lugar deles chega Stephen Jackson, que acrescenta mais ao elenco que os outros dois juntos: apesar de Maggette e Salmons se destacarem no ataque, nenhum dos dois o faz com bolas de longa distância, coisa que faltou ao Bucks e que Jackson oferece. Sem contar que Stephen Jackson tem mais capacidade de distribuição de bola que os outros dois, meros finalizadores, resolvendo outro defeito do time. Na defesa é bem claro que o novo contratado é mais eficiente, embora no sistema do técnico Scott Skiles os antigos jogadores nunca tenham comprometido.
A chegada de Beno Udrih e Shaun Livingston tiram um pouco do peso das costas de Brandon Jennings, que teve problemas na armação do jogo na última temporada e poderia passar algum tempo jogando como segundo armador.
De novatos mesmo eles conseguiram o Tobias Harris, ala que atuou na posição 4 na sua universidade mas que acredita-se que deve atuar na posição 3 na NBA. Se insistir em jogar no garrafão, porém, o rapaz pode se destacar com velocidade e bom controle de bola para a posição e usar isso como um trunfo. Só não sabemos se vamos tirar essas dúvidas tão cedo, algumas declarações do pessoal do Bucks dão a entender que Harris, assim como o segundo-anista Larry Sanders, estão sendo preparados com calma para o futuro da franquia, sem preocupações de jogar bastante agora.
Na segunda rodada eles escolheram o ala de força Jon Leuer, mas pelos motivos expostos acima ele não deve conseguir ficar no time para a temporada. O elenco está cheio, ele é muito jovem e com potencial menor do que os outros pirralhos trabalhados pela equipe. O Bucks foi bem no Draft se avaliarmos de acordo com a sua estratégia a longo prazo, queriam veteranos e fizeram uma troca que o levaram a isso. Mas você pode avaliar o todo negativamente se discordar dessa abordagem. O já citado NBADraft.net, por exemplo, acredita que misturar Stephen Jackson e Brandon Jennings no mesmo vestiário é pedir para dar confusão, e preferiam que nenhuma troca tivesse sido feita e Klay Thompson, bom arremessador escolhido pelo Warriors, tivesse sido escolhido na posição 10. Eu aprovo as mudanças feitas pelo Bucks, mas dá pra entender os riscos deles estarem se trollando também.
Portland Trail Blazers
(21) Nolan Smith, PG/SG
(51) Jon Diebler, SG
(57) Tanguy Ngombo, SF
via troca: Raymond Felton
No primeiro Draft do Blazers em muito tempo sem o famosos General Manager Kevin Pritchard eles foram um pouco mais discretos, mas mesmo assim não passaram em branco e fizeram uma troca que chamou a atenção. Fizeram uma troca grande com Mavs e Nuggets onde perderam Andre Miller e Rudy Fernandez e ganharam Raymond Felton, este a grande aquisição da noite do Draft em Portland.
O Nolan Smith, escolhido na posição 21, não parece acrescentar muita coisa em um elenco talentoso e numeroso. Como muitos jogadores formados em Duke ele parece destinado a ser um atleta bom e que joga com inteligência, mas nada além de um role player. Dizem que ele pode jogar na posição 2, mas em um elenco com Wesley Matthews, Nicolas Batum e mesmo o bichado Brandon Roy é difícil que sobre minutos para ele aí, ele ficaria mesmo como armador principal, onde no time titular deve ficar Raymond Felton, com Brandon Roy quebrando um galho por alguns minutos. Pode soar questionável um time que precisa tanto de um pivô escolher um armador reserva, mas nessa altura do Draft os melhores pivôs já tinham ido embora, então era Nolan Smith ou algum ala de força como Kenneth Faried. E tudo o que o Blazers não precisa é de mais alas de força improvisados na posição 5.
O Jon Diebler (que me lembra Jusitn Bieber sempre que leio) foi escolhido no fim da segunda rodada e é um baita de um arremessador, talvez ganhe espaço no elenco por isso, mas irá brigar com Armon Johnson e Patrick Mills por uma vaga. O último escolhido, Tangu Ngombo, é uma aposta para o futuro, o escolhendo ele fica ligado ao Blazers para um futuro distante quando talvez seja bom o bastante para ir para a NBA. Não deve dar em nada, mas vale pela excelente força nominal e por ser possivelmente o primeiro jogador a atuar no Qatar a ter sido escolhido no Draft.
Denver Nuggets
(22) Kenneth Faried, PF
(26) Jordan Hamilton, SG/SF
(56) Chukwudiebere Maduabum, PF
via troca: Andre Miller
Num primeiro momento a troca por Andre Miller pareceu meio sem sentido, afinal eles estão satisfeitos com o Ty Lawson na armação e o Ray Felton pelo menos poderia atuar como segundo armador, mas o que fazer com Miller? Tudo fez mais sentido quando a escolha 26 foi incluída na troca e quando se lembra que esse é o último ano do contrato de Andre Miller. Os contratos de Miller e Felton acabam no mesmo ano e tem um valor parecido, ambos não seriam aproveitados pelo Nuggets depois, com o dinheiro aberto sendo usado provavelmente para a renovação de contrato com Danilo Gallinari e/ou Wilson Chandler. Então já que é pra manter um armador que só vai durar um ano, que seja o Miller, que veio com uma escolha de Draft de bônus.
A escolha foi usada em Jordan Hamilton, um desses nomes repetidos que a máquina de fazer nomes da NBA cria usando jogadores velhos. Ele pode jogar nas posições 2 ou 3, é um bom arremessador e ótimo reboteiro para a sua posição, o Nuggets sonha com ele sendo o Landry Fields dessa temporada. Deve ter pouco espaço pela presença de Arron Afflalo e Wilson Chandler, mas pode ser uma aposta mais barata caso um dos dois seja trocado por um jogador de garrafão, a verdadeira necessidade do Nuggets atualmente.
Com Kenyon Martin e Nenê virando Free Agents ao mesmo tempo o Nuggets estava desesperado por um jogador de garrafão e na escolha 22 pegaram Kenneth Faried, considerado por alguns o melhor reboteiro desse Draft. É fraco na maior parte do resto do jogo, mas pelo menos é alguma coisa para reforçar a posição mais carente da equipe. O Nuggets fez o possível com suas escolhas de fim de primeira rodada, mas precisa se mexer mais para remontar um time que animou no fim da última temporada mas já está se desmanchando.
O charme das escolhas do Nuggets foi, na verdade, a da segunda rodada: Chukwudiebere Maduabum. O vulcão islandês dos jogadores da NBA é, por algum motivo, chamado apenas de Chu Chu. Ele só é marmelada porque é nigeriano, mesma nacionalidade do General Manager do Nuggets, Masai Uriji. Você não pode escolher um conterrâneo de nome estranho lá no fim do Draft e tudo ficar assim normal, ele deve ser agente do cara e agora o valorizou para transferir para a Europa. A CBF e o Ricardo Teixeira estão envolvidos e todo mundo sabe! Falando um pouco mais sério (só um pouco), Chu Chu já jogou 3 partidas na D-League, liga de desenvolvimento da NBA e na única em que ficou mais de 10 minutos em quadra saiu com 0 pontos, 1 rebote e 3 tocos.
Chicago Bulls
(23) Nikola Mirotic, SF/PF
(30) Jimmy Butler, SF
O Bulls trocou suas escolhas 28 e 43 com o Wolves para poder subir para a 23 e pegar um cara que não vai para a NBA tão cedo: Nikola Mirotic joga no Real Madrid e tem uma multa milionária para sair. Mas nada que não estivesse nos planos, o Bulls já tem um elenco cheio, salários altos e contratos fechados para praticamente todo o elenco, há pouco espaço para novos talentos. Escolher Mirotic é ter um bom jogador na manga para daqui vários anos quando os atuais contratos de Ronnie Brewer, Kyle Korver e afins estiverem acabando. Eles fizeram o mesmo com Omer Asik há alguns anos e a espera rendeu bons frutos.
Com Jimmy Butler na 30ª escolha eles conseguiram o menor salário garantido de todo o Draft, já que os valores vão caindo desde o primeiro até o último da primeira rodada, então não deve pesar em nada na folha salarial da equipe. Mas se financeiramente a escolha foi boa, não penso o mesmo da parte técnica. Butler é bom no jogo de transição e deve se adaptar ao estilo defensivo do Bulls, mas eles já não tem o Ronnie Brewer para isso? Onde está o arremessador que eles queriam? Kyle Singler, que caiu para a segunda rodada, é um defensor com arremesso de três pontos e se resolveria melhor as deficiências do time. O Draft não foi ruim, mas na prática o Bulls vai para a próxima temporada com o mesmo time. Daqui alguns anos que Mirotic nos prove que o selo de troll foi um erro.
Oklahoma City Thunder
(24) Reggie Jackson, PG
O Thunder tem bons jogadores em todas as posições, então na hora de usar sua única escolha no Draft eles pensaram “Hum, que tal pegar uma aberração da natureza?” e chamaram Reggie Jackson. O rapaz tem 1,92m de altura e, atenção, 2,13m de envergadura!!! Putaquemeupariu! Jesusmariajosé! É isso aqui mas sem ser piada.
O problema dele é o mesmo do Iman Shumpert, escolhido pelo Knicks, é um armador que não é lá tão bom na distribuição de bolas e quando joga de segundo armador não pode ajudar nos arremessos de longa distância. O que muda nesse caso é que o Thunder é um time que usa menos os arremessos de longe que o Knicks e que não considera ter um não-arremessador como um defeito imperdoável, como acontece no esquema do Mike D’Antoni em Nova York. Para o Thunder vale mais a pena ter um excelente defensor com ótimo físico que pode marcar mais de uma posição, roubar bolas e puxar contra-ataques. Apesar de defeitos serem defeitos em qualquer time, estes em especial podem passar mais despercebidos no Thunder do que no Knicks.
A questão que se abre aqui é o que fazer com o Eric Maynor. Quando Russell Westbrook teve dificuldades contra o Grizzlies e o Mavs, foi Maynor que comandou o ataque do Thunder, aliás muita gente até preferia o Maynor armando com o Westbrook de segundo armador em alguns momentos da partida. A chegada de Jackson vai tirar espaço do Maynor? Seria estupidez, já que o time já tem um armador sem cabeça de armador e com habilidades físicas fora do comum. E se for para jogar na posição dois, onde arranjar minutos entre a boa combinação de Thabo Sefolosha e James Harden? O jogador parece ter seus talentos e deve ser divertido ver ele jogar e tropeçar nos seus braços de Lamar Odom, mas atualmente não vejo muito espaço para ele atuar no Thunder. Que o treinem bastante para que ele possa aproveitar as chances que aparecerem no futuro, seja com alguma troca ou contusão.