Análise do Draft 2020 – O resto da 1ª Rodada

Está no ar a TERCEIRA parte da Análise do Draft 2020! Antes de começar, leia a Parte 1, onde analisamos o Top 3 de Anthony Edwards, James Wiseman e LaMelo Ball e a Parte 2, onde analisamos os outros jogadores selecionados pelos times que estavam nas 14 primeiras posições. Lá também explicamos os objetivos dessa análise e os desafios desse eterno exercício de futurologia.

Parte 1 – Wolves, Warriors e Hornets
Parte 2 – Bulls, Cavs, Hawks, Pistons, Knicks, Wizards, Suns, Spurs, Kings, Pelicans, Celtics
Parte 3 – Magic, Thunder, Mavericks, Heat, Sixers, Nuggets, Jazz, Raptors, Grizzlies
Parte 4 – Clippers, Bucks, Blazers, Rockets, Pacers, Nets, Lakers

Agora só falta relembrar os nossos Selos de Qualidade™ que avaliam como cada time foi no Draft!

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MÁSCARA – Andar de máscara não é legal, não é bonito, não é confortável e só piora quando o dia está quente. Mas é também a a maneira mais eficaz de se prevenir da Covid-19 e evitar que o vírus se espalhe ainda mais. Selo para os times que podem não estar empolgados com esse Draft, mas que fizeram o que tinham que fazer.

2

A BOLHA – Jogar basquete sem torcida na Disney durante uma pandemia e com os movimentos sociais tomando as ruas? Soa bizarro, mas até que foi bem legal, não foi? Selo para os times que não conseguiram a situação ideal mas que saíram no positivo.

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ZOOM – Ninguém quer assistir aula no Zoom com aquele microfone péssimo do professor, ninguém se empolga em ser convidado para uma videochamada e ninguém quer uma festa de aniversário online com o delay estragando o ritmo do parabéns. Esse ano nos apresentou à “fadiga do zoom”, mas também foi essa tecnologia que nos salvou do isolamento total e absoluto. Selo para os times que fizeram o que dava na atual situação.

4

NEGACIONISTAS – Pior que tentar levar a vida (e seguir vivo) durante uma pandemia é ter que fazer isso ao lado de quem, tal qual o meme do cachorro dentro de uma casa em chamas, insiste que está tudo bem. Não está, por favor não atrapalhe. Selo para os times que fizeram tudo errado e ainda acreditam que é só uma gripezinha.


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Orlando Magic
#15 – Cole Anthony, PG

Considerado um dos melhores jogadores colegiais de 2018-19 e listado como o melhor armador da sua classe pela ESPN, Cole Anthony foi recrutado por uma série de grandes universidades e acabou decidindo ir para a consagrada North Carolina. Ele fechou a carreira colegial como MVP do McDonald’s All-American e do Jordan Classic, dois dos eventos mais renomados e que reúnem a nata do basquete de ensino médio nos EUA. Mas o que parecia uma trajetória óbvia rumo ao estrelato tomou rumos estranhos em uma curta temporada universitária: o armador jogou mal, seu time foi um DESASTRE (o único ano com mais derrotas que vitórias desde que Roy Williams assumiu North Carolina em 2003) e Anthony perdeu metade do campeonato após uma artroscopia no joelho. A combinação de fatores não acabou com sua moral, mas foi o bastante para jogá-lo fora da conversa do Top 10 do Draft.

O principal talento de Anthony é botar a bola no chão, driblar e fazer uma penca de cestas, simples assim. Curiosamente é tudo o que o Orlando Magic precisa, tanto que DJ Augustin tinha um protagonismo maior que seu talento quando jogava por lá. Com a saída do armador rumo ao Toronto Raptors, Anthony irá ganhar essa importante função de vir do banco de reservas para tentar criar qualquer coisa parecida com um ataque. Os especialistas e olheiros costumam criticar a falta de habilidade de Anthony de criar situações para outros companheiros, de manipular defesas para fazer o ataque ser mais fluido. Desenvolver um faro criador pode ser a diferença para ele se tornar algo mais que apenas uma faísca ofensiva vinda do banco.

Como tem sido uma constante nos últimos anos, é claro que Anthony tem ligações familiares com a NBA. Seu pai, Greg Anthony, jogou na NBA por onze temporadas e depois se tornou comentarista na ESPN e na ABC. Os mais novos podem não lembrar dele em quadra, mas certamente já ouviram seus comentários em algum jogo da série NBA 2K.

FORÇA NOMINAL – O nome parece simples demais, mas sabiam que ele é apenas o segundo Cole a chegar na NBA? O primeiro é o esquecível Cole Aldrich, ex-pivô do OKC Thunder. Tem algum ponto por originalidade-sem-inventar-nome-bizarro aí! Outro bônus: o nome dele me fez lembrar do excelente rapper J.Cole, com quem ele compartilha não só o nome mas também o penteado. Fui pesquisar pra ver se mais alguém já tinha notado semelhanças entre os dois e descobri que eles já JOGARAM JUNTOS em Nova York antes da última temporada universitária e que o músico até apareceu antes de um jogo de North Carolina para bater uma bola com ele e seus companheiros:


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OKC Thunder
#17- Aleksej Pokusevski, C
#34-  Theo Maledon, PG
#37- Vit Krejci, SF

Depois de conseguir incontáveis escolhas de Draft nas trocas de Russell Westbrook, Paul George e Chris Paul, o desafio do General Manager Sam Presti será ACERTAR nessas decisões e selecionar jogadores que possam fazer essa reconstrução de longo prazo valer a pena. Como estamos falando do cara que selecionou Kevin Durant, Westbrook, Serge Ibaka e James Harden em três anos seguidos, melhor não duvidar.

Com sua coleção de escolhas de Draft em mãos, Presti iniciou a jornada com Aleksej Pokusevski, carinhosamente apelidado por todos nós de POKU. Inicialmente sem uma posição tão alta na lista, o Thunder trocou as Escolhas 25 e 28 mais Ricky Rubio com o Minnesota Timberwolves pela Escolha 17 e assim fisgou o sérvio de 2,13m. Para um time com tantas seleções (nesse ano e nos próximos) é razoável transformar dois em um para ter garantia de pegar alguém que o time realmente vê como um talento imperdível. Será que Poku é esse cara?

Bizarramente, Poku tem algumas semelhanças com outro não-americano de sobrenome grande e difícil de falar: Giannis Antetokounmpo. Ambos chegaram na NBA absurdamente jovens, magricelos, com um controle de bola impressionante para a altura deles, mas cercados de dúvidas até por aqueles que os assistiram de perto, afinal ambos só tinham experiência internacional curta na gloriosa segunda divisão da Grécia. Se Poku virar MVP daqui algumas temporadas, sabemos que vai chover olheiro acompanhando de perto as partidas entre o Diagoras Dryopideon e o Ionikos Nikaias em busca de um novo diamante bruto.

O legal de Poku é como ele parece um ala jogando, mesmo com o tamanho de pivozão. Dribla com leveza, corre a quadra, tem bom arremesso e existem até umas compilações legais de passes criativos dele. Pela preferência em jogar no perímetro e por ter um corpo que parece que nunca vai ficar largo como o de Giannis, uma comparação gringa mais lógica seria com Kristaps Porzingis, mas vai saber, o menino ainda é um mistério. Tem gente que não vê talento algum (ainda, ao menos) em Poku enquanto outros veem nele a grande chance de troféu de talento escondido deste Draft 2020. Na sua estreia na pré-temporada, contra o San Antonio Spurs, saiu correndo levando a bola para o ataque toda vez que pegou um rebote, nunca hesitou em bater pra dentro depois de um passe e marcou 14 pontos, quase todos em tiros de longe nos minutos finais. Pareceu muito mais pronto para a NBA do que seu currículo indica, mesmo com o asterisco obrigatório de um jogo amistoso. Se tem um time que tem escolhas de Draft sobrando e plano de longuíssimo prazo para compensar uma possível aposta errada em Poku, esse time é o Thunder. Vale arriscar.

Na segunda rodada o Thunder ficou na Europa e trouxe o francês Theo Maledon. Sempre que aparece um armador do país na NBA  dá aquela coceira de comparar com Tony Parker, mas nesse caso a coceira é dobrada já que Maledon foi revelado pelo ASVEL, time cujo o ex-armador do Spurs é PRESIDENTE! Mas será que tem mais ligações além disso? Se a ideia é comparar os franceses, melhor lembrar do Parker de início de carreira, não do All-Star que foi peça fundamental em um dos maiores times da história. Como a versão jovem do conterrâneo, Maledon é rápido mas não explosivo, abusa dos floaters e dos ângulos para operar entre gigantes e pontuar. Segundo os especialistas, o grande diferencial está na técnica e na criatividade: Parker encontrava caminhos improváveis e difíceis para a cesta, Maledon, ao menos por enquanto, é mais cauteloso e dependente de bons corta-luzes para atacar.

A real é que a maioria dos olheiros via Maledon como um escolha de Top 15 ou 20 até não muito tempo atrás, mas ele foi caindo, caindo e caindo ao longo da temporada. Por que? Para o Presidente Parker o culpado é o técnico do time que ele mesmo comanda! “Ele claramente ‘matou’ Maledon”, disse Parker sobre Zvezdan Mitrovic. “O colocava no banco quando vinham General Managers da NBA assisti-lo. Ele nunca o botava para jogar, a maneira com que Mitrovic o tratou custou uma escolha na primeira rodada para ele. Um jogador como ele deveria estar no Top 10. Eu disse que ele deveria usar o jogador e respeitar os planos do clube”.  Mesmo com bons resultados, eventualmente o treinador foi demitido. Ao Thunder resta agradecer o técnico que fez com que um bom talento estivesse disponível na posição 34.

Para fechar sua participação o Thunder escolheu… outro europeu. Dessa vez Vit Krejci, ala tcheco que joga no Zaragoza da Espanha. Há pouquíssima informação sobre ele internet afora, mesmo nos sites especializados em jovens talentos. Com apenas 20 anos, pouca experiência em ligas grandes na Europa e um joelho machucado que o fará perder toda a temporada 2020-21, o mais provável é que o Thunder deixe Krejci se desenvolvendo por um ou dois anos antes de tentar chamá-lo para os EUA.

FORÇA NOMINAL – Não é que Aleksej Pokusevski não seja um bom nome, mas é que POKU é melhor ainda! É um misto de nome de personagem fofo japonês ou ponta esquerda de time do interior. Como brasileiros devemos sempre apreciar, valorizar e incentivar o uso de apelidos curtos e simples no esporte. Precisamos de mais Dodôs, Tutas e Pitucas no futebol nacional, por exemplo. Fora sobrenomes! O que me lembra, aliás, que quando Vit Krejci chegar na NBA devemos chamá-lo de VITINHO para compensar esse nome esquisito dele.

Por fim devo me abster de comentar o nome de Theo Maledon. Não consigo analisá-lo com a frieza necessária para um assunto tão importante. Minha história pessoal automaticamente o conecta à minha viagem pela Patagônia Chilena, onde fiz uma visita à Caverna do Milodón, gigantesco mamífero pré-histórico encontrado na região e eternizado em uma réplica em tamanho real montada na entrada da gigantesca caverna onde seus fósseis foram encontrados. Quando ouço o nome Theo Maledon, vejo isso:

Milodon


Green

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Dallas Mavericks
#18- Josh Green, SG/SF
#31- Tyrell Terry, PG/SG
#35- Tyler Bey, SF

Lendo sobre o Draft do Dallas Mavericks achei de tudo: desde gente puta da vida porque o time gastou uma Escolha 18 com alguém que provavelmente nunca vai ser mais que um mero coadjuvante até uma galera felicíssima porque Josh Green é o tipo de coadjuvante que o time precisa para colocar em volta de Luka Doncic. Em comum a ideia de que Green, por não ser muito de criar seu próprio arremesso nem ter facilidade para atacar a cesta, não vai ser mais que um role player focado em defesa e eventuais arremessos de longe no ataque. Se isso é bom ou ruim, aí vai de cada um e suas expectativas para alguém selecionado na 18º posição de um Draft.

Nascido na Austrália, Green foi para os EUA aos 14 anos para estudar e tentar uma carreira no basquete. Chegou a ser parceiro de DeAndre Ayton no colegial e se destacou no cenário americano, conseguindo uma bolsa na Universidade do Arizona,  a mesma onde o pivô do Phoenix Suns fez sua solitária temporada universitária. Embora o ataque não tenha sido seu foco, Green teve aproveitamento digno nas bolas de 3 pontos (36% em poucas tentativas) e chamou a atenção com impressionantes enterradas. Entre defesa, cravadas no contra-ataque e eventuais arremessos sem marcação criados por Luka, Green tem tudo para se adaptar rápido. Entendo a razão pela qual o Mavs buscou mais certeza do que aposta em potencial.

Com a primeira escolha da segunda rodada o Mavs investiu em Tyrell Terry, considerado por muitos como um dos melhores arremessadores do Draft. Talvez não tão preciso quanto Aaron Nesmith, mas mais versátil e habilidoso. Há algumas comparações por aí com Steph Curry e Trae Young porque ele gosta de arremessos difíceis e não precisa estar necessariamente equilibrado para disparar, mas obviamente Curry e Trae são jogadores bem mais completos e fazem muito mais que só arremessar. Mas considerando que o Mavs tem Luka encontrando arremessadores livres o tempo todo e que o time acabou de abrir mão de Seth Curry numa troca com o Philadelphia 76ers, a chegada de Terry é muito bem vinda. Sempre empolgante quando o melhor ataque da temporada passada (e da história, estatisticamente falando) ganha mais poder de fogo.

Com sua última escolha, o Mavs levou Tyler Bey, outro jogador super atlético e especialista em defesa. Alguns olheiros dizem que ele pode brilhar nessa área na NBA pela tão desejada versatilidade, mas li também críticas de que na Universidade do Colorado ele foi mais um marcador de garrafão do que de perímetro e que pode demorar até se adaptar a marcar alas velozes entre os profissionais. Melhorar na defesa é prioridade máxima em Dallas, esse pode ser o único caminho para Bey cavar um espacinho na rotação de Rick Carlisle.

FORÇA NOMINAL – Sinto que estou me repetindo! Já não fizemos comentários sobre um jogador chamado Bey? Já não falamos que jogadores com iniciais repetidas como Tyrell Terry ganham pontos pelo critério Marvel de iniciais repetidas? Mas vale dizer que é um BAITA nome de herói esse, daqueles que ficam mais famosos que o próprio nome fantasia do mascarado. Uma pena que não podemos elogiar tanto o tedioso Josh Green, o 28º Josh e o 32º Green a jogar na NBA.


2

Miami Heat
#20- Precious Achiwua, PF/C

Lembra que no primeiro post da série contamos que James Wiseman foi suspenso e depois desistiu de jogar a temporada da NCAA pela Universidade de Memphis? Pois adivinha quem herdou sua posição. Precious Achiwua acabou saindo como vencedor do imbróglio envolvendo o companheiro mais famoso, afinal não só ganhou protagonismo como pode atuar de pivô o tempo todo, posição que todos acreditam que seja a sua ideal. Ele fez uma boa temporada e se firmou como uma escolha de Top 20, com até muitos especialistas dizendo que ele deveria ter saído ainda mais cedo no Draft.

A gente nem leva mais em consideração se um cara é bom ou ruim quando chega no Miami Heat, eles venderam tão bem esse negócio de #HeatCulture que agora a gente só pensa se o cara tem a disciplina e estilo de jogo para deixar que o SISTEMA de desenvolvimento de jogadores tire o melhor de seu potencial. E o que dizem de Achiwua é que ele nunca para, nunca descansa, joga com energia o tempo inteiro e sabe tirar proveito da sua capacidade física acima do comum. Não é difícil achar especialistas que o chamam de “jogador mais atlético desse Draft”. Dizem também que não dispensa um treino, e isso é tudo o que o Heat precisa e quer. Ele deve precisar desenvolver mais a parte técnica para realmente ser envolvido em um ataque complexo e cheio de movimentações, mas o time deve acreditar que essa parte pode ensinar.

Seus atributos físicos o colocam como boa alternativa de reserva para Bam Adebayo, uma opção mais física que Meyers Leonard e mais parecida do que o oferecido por Chris Silva na última temporada. É pouco provável que tenha um impacto logo de cara, mas não vou ser eu quem vai duvidar da capacidade desse time de revolucionar seus próprios pirralhos. Achiwua nasceu e cresceu na Nigéria e lá só jogava futebol, foi para o basquete só aos 14 anos quando se mudou para os EUA, então sabemos que aprender rápido não é problema para ele.

FORÇA NOMINAL – Ele chama PRECIOUS. O Precioso! São tantas piadas óbvias envolvendo Gollum e o universo de Senhor dos Anéis que nem vamos nos dar ao trabalho de entrar nesse caminho sem volta. E mesmo sem a referência nerd o nome do cara já está no topo da Força Nominal da NBA. Precious é um elogio, é gostoso de falar, é exagerado. É como se o meia Rodrigo Lindoso se chamasse Rodrigo Maravilhoso. O sobrenome também não deixa a desejar: Achiwua é para ser dito de uma vez só, como se fosse uma só sílaba que dança nas vogais de um espirro.


Maxey

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Philadelphia 76ers
#21- Tyrese Maxey, SG
#49-  Isaiah Joe, SG
#58- Paul Reed, PF/C

Já é tradição na NBA ter jogadores da Universidade de Kentucky selecionados lá em cima no Draft, mas nesse ano Tyrese Maxey não convenceu todo mundo de seu potencial e caiu até a 21ª posição, onde foi fisgado pelo Philadelphia 76ers. Uma boa posição para muitos jogadores, mas frustrante para quem saiu do colegial com mais moral que isso e que foi para a máquina de produzir atletas da NBA de John Calipari.

Uma preocupação comum entre os olheiros está na relação entre sua altura, 1,90m, com a falta de cacoete para ser um armador principal na NBA. Ele compensa com habilidade e sabe pontuar de maneiras diferentes, mas criar para os outros não é sua maior qualidade no momento. Uma comparação feita frequentemente é com Lou Williams. Para jogadores assim há duas soluções: vir do banco em minutos limitados ou colocá-los ao lado de armadores mais altos, assim ele pode jogar na posição 2 no ataque mas marcar armadores do seu tamanho na defesa. Com o gigante Ben Simmons armando o jogo, o Sixers pode se dar ao luxo de lidar com Maxey.

Mas se Maxey precisa comer muito arroz e feijão para estar na mesma frase que Lou Williams em QUALIDADE ofensiva, não só em estilo, defensivamente ele tem muito mais potencial que o eterno sexto homem da NBA. Todos elogiam sua inteligência e agressividade defensiva, o que também combina muito com o estilo do time marcar nos últimos anos. Com Simmons, Matisse Thybulle e Danny Green não vão faltar boas opções para defender jogadores de perímetro dos rivais. Nos tiros de longa distância Maxey foi mal em Kentucky, apenas 29% de aproveitamento, mas ele arremessou bem no basquete colegial e seu alto aproveitamento em lances-livres dão otimismo aos olheiros. Historicamente, os números mostram que quem tem bom aproveitamento de lance-livre tem muito mais facilidade de aprender e desenvolver os arremessos de longa distância. Só uma coisa me incomodou no jogador: seu perfil na página do Draft da NBA diz que ele viu todos os filmes da Marvel desde 2008. Ele e mais quantas milhões de pessoas ao redor do planeta?! Desde quando isso é uma curiosidade válida? Precisamos de histórias melhores, menino!

Na segunda rodada o Sixers investiu em Isaiah Joe só para não deixar dúvida de que é Daryl Morey quem manda por lá agora. Joe é um especialista em arremessos de longa distância e só. O time precisa de talento na área e Morey não tem poupado esforços para trazer gente assim desde que chegou, incluindo Seth Curry via troca no dia do próprio Draft. Mas como Joe caiu tanto no Draft mesmo trazendo um talento que tanta gente mata pra conseguir hoje? Bom, depois de brilhar na Universidade do Arkansas com 42% de acerto no seu primeiro ano universitário, na temporada passada seu número caiu para 34% e ele ainda teve a temporada encurtada por uma lesão no joelho, combinação mortal. Provavelmente Morey viu o segundo ano como uma aberração e levou em consideração sua primeira temporada, quando fez 113 bolas de 3 pontos, a quarta maior marca de um novato na NCAA.

Na ANTEPENÚLTIMA escolha do Draft, o Sixers chamou Paul Reed, ala ainda considerado bem despreparado para a NBA mas com um físico impressionante e perigoso nos rebotes ofensivos. Organizar a agressividade de Reed será o desafio do Sixers, que já definiu que ele passará essa temporada na liga de desenvolvimento, a G-League. Já citamos outras vezes como famílias de atletas parecem gerar mais atletas e aqui temos mais um exemplo: o pai de Reed foi jogador profissional de basquete na Europa e seu tio, Mike Sims-Walker, jogou quatro temporadas na NFL. Se você não joga na NBA, culpe seus pais.

FORÇA NOMINAL – Gosto muito do nome Tyrese Maxey, mas como aconteceu de alguém com essa Força Nominal não ser um ala de força com ombro largo que enterra uma dúzia de vezes por jogo? Já imagino um grandalhão mostrando os músculos depois de cravar na cabeça de um adversário, não um arremessador pequenino. Bem diferente de Paul Reed, que imagino ser um senhor de meia idade que trabalha numa revendedora de carros usados.

A linha é tênue entre um nome comum e um nome de simplicidade marcante. Força Nominal não é ciência, é FEELING, então é difícil explicar, mas pra mim Isaiah Joe está claramente no lado da simplicidade marcante. Só do cara jogar com apenas um “Joe” escrito nas costas já me deixa muito feliz, quase como quando vejo o Kyle Guy do Sacramento Kings com “CARA” nas costas. É como se o time não quisesse nem se dar ao trabalho de personalizar seu uniforme! Aliás, ansioso para um duelo entre Guy e Joe, vou me sentir assistindo um jogo de desconhecidos numa quadra de cimento num parque qualquer.


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Denver Nuggets
#22- Zeke Nnaji, C
#24- RJ Hampton, SG

Com escolhas próximas, o Denver Nuggets escolheu jogadores com trajetórias totalmente opostas: Zeke Nnaji começou a temporada como um dos nomes menos conhecidos das promessas da Universidade do Arizona, mas fez excelente campeonato e roubou para si muito do protagonismo que eram de Josh Green e Nico Mannion; já RJ Hampton saiu do basquete colegial como um dos nomes mais badalados do seu ano e surpreendeu a todos ao seguir os passos de LaMelo Ball na liga australiana (pra ser mais preciso, ele jogou em um time da Nova Zelândia que disputa a NBL). Só que lá o ala não foi tão bem e acabou despencando no Draft, indo de provável escolha Top 10 para ser selecionado na posição 24 pelo Nuggets.

A mudança de perspectiva sobre os dois no último ano muda também como enxergamos como eles podem ajudar o Nuggets. A impressão atual é que Nnaji poderá contribuir mais rápido. Com a saída de Mason Plumlee, devem sobrar minutos para que o novato seja testado desde já. Sua principal qualidade segundo os olheiros está nos rebotes ofensivos e finalizando pick-and-rolls. Com Jamal Murray e Facundo Campazzo no time, passes não devem faltar. E sabe outro talento que ele tem e é incomum para caras na NBA? Ele não só TOCA PIANO desde criança como já até compõe suas próprias músicas. Se seu apelido não for The Virtuoso, desisto do basquete.

Com facilidade para botar a bola no chão e pontuar, RJ Hampton chamou bastante a atenção nos tempos de escola, mas no New Zealand Breakers ele teve mais dificuldade de render no ataque. Na função de criador de jogadas não se revelou criativo e o arremesso de média e longa distância o abandonou no meio da temporada. Com 1,95m de altura não é um problema que ele não se torne um armador na NBA, mas o chute de longe precisa voltar em algum momento. Será que  Hampton é só alguém que sobrava no ensino médio mas empacou ou tem talento aí? O Nuggets vem tendo sucesso no desenvolvimento de jovens jogadores e muita paciência para não colocá-los logo na fogueira, foi assim com Michael Porter Jr e Bol Bol e ambos estão começando a dar resultado. Ainda não sabemos se foi a melhor escolha para o Nuggets, mas ela certamente foi ótima para Hampton.

FORÇA NOMINAL – O nome Zach Naji já seria bem legal, transformar isso em Zeke Nnaji, com N duplicado e tudo, é só para AOMILHAR a concorrência. Se há algo que pese contra esse nome é que ele é feito para um músico consagrado do hip-hop ou para um excêntrico artista que circula entre o cinema, a música e as artes plásticas. É mais que um mero nome de atleta. Em compensação, RJ Hampton é o nome de ator ruim de cabelo sedoso que protagonizou séries de sucesso nos anos 1990.


Udoka

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Utah Jazz
#27- Udoka Azubuike, C
#37- Elijah Hughes, SG

Com sua escolha de primeira rodada o Utah Jazz surpreendeu ao selecionar o gigantesco pivô Udoka Azubuike, que a maioria dos especialistas previa que sairia apenas no meio da segunda rodada. Com 2,13m de altura e impressionantes 2,30m de envergadura, além de um corpanzil de ocupar três assentos no avião, Azubuike tem o fator Boban de ser impossível não notar ele em quadra.

No passado ele teria sido selecionado antes, mas hoje o que se espera de um pivô é versatilidade, agilidade e velocidade, coisas que Azubuike não oferece no nível de outros tantos grandões na NBA. Tem lugar pra ele na liga hoje? Talvez sim. Embora seja simplesmente impossível imaginar ele saindo para marcar jogadores no perímetro ou arremessando de 3 pontos, nos últimos anos mais times têm adotado uma defesa conservadora onde os pivôs nunca saem de dentro do garrafão. É o famoso “drop coverage” em que os marcadores do perímetro se desdobram para evitar arremessos de 3 pontos enquanto o pivô sempre recua para evitar bandejas e enterradas. O próprio Jazz usa o Rudy Gobert dessa maneira, então é possível que não enxerguem isso como um grande problema em Azubuike.

O gigante soube usar muito bem seu tamanho junto de um bom timing defensivo nos três anos de Universidade do Kansas para ser peça bem importante de um time vitorioso. No ataque era usado poucas vezes e deve continuar assim, mas se aprender com Gobert como fazer 40 corta-luzes em uma mesma posse de bola, seu trabalho estará feito e seus minutos garantidos. Dá pra aprender muito também com o recém retornado Derrick Favors. Quem gosta de versatilidade vinda do banco de reservas não gostou muito da escolha.

O pivô é mais um jogador nascido na Nigéria que foi estudar nos EUA e conseguiu boa carreira universitária e depois uma vaga na NBA, é uma tendência que tem crescido muito nos últimos anos. Azubuike deixou o país africano aos 14 anos e foi rever a mãe só quase CINCO ANOS depois, quando ela foi assistir ele disputar o Final Four em 2018. Não deve ter sido uma adolescência fácil.

Na segunda rodada o Jazz investiu em Elijah Hughes, ala que está empolgando a torcida local e que penou para chegar na NBA. No ensino médio ele jogava em um colégio longe de sua casa e a soma das viagens exaustivas e da alta exigência acadêmica estavam prejudicando suas notas e com isso ele corria risco de não cumprir os requisitos pedidos pela NCAA para jogadores com bolsa. Ele então se transferiu para um INTERNATO e ainda fez aulas de reforço numa Summer School para recuperar suas notas. Deu certo e ele conseguiu sua vaga na East Carolina University, uma escola pequena em termos de tradição no basquete e que só revelou QUATRO jogadores da NBA na sua história, nenhum de sucesso. Só que depois de uma temporada por lá ele conseguiu transferência para Syracuse, aí sim uma universidade de tradição onde seu sucesso garantiu uma carreira profissional.

No ataque Hughes é um faz-tudo: bom arremesso, boa movimentação sem a bola e capacidade de criar seus próprios arremessos. Não faz nada de forma excepcional, por isso está na segunda rodada, mas tem a chance de se dar bem em um sistema ofensivo bem estruturado como o do Jazz. Deve aproveitar a chance de chegar num time onde nenhum reserva além de Jordan Clarkson tem espaço garantido.

FORÇA NOMINAL – Na série NBA 2k, quando você joga um modo carreira que simula muitas temporadas rumo ao futuro, eventualmente o jogo é obrigado a INVENTAR jogadores para alimentar esse mundo fantasioso. A solução encontrada muitas vezes é juntar nomes de outros jogadores que já existem dentro do sistema do jogo. É disso que eu lembrei quando descobri que havia um jogador chamado Udoka Azubuike! Ele é claramente uma soma de Ime Udoka, ex-jogador que depois de anos como na comissão técnica do San Antonio Spurs agora é assistente de Steve Nash no Brooklyn Nets, e Kelenna Azubuike, ex-ala do Golden State Warriors, atual comentarista dos jogos do time e um dos jogadores mais bonitos que já passaram pela NBA. Sabem quantos outros Udokas existiram na história da liga além de Ime Udoka? Nenhum. Quantos Azubuikes além de Kelenna? Zero. Não é como se ele chamasse Tracy Carter ou algo assim, ele é a soma de dois nomes até então ÚNICOS no basquete. É uma falha grotesca na Matrix que comanda essa distopia onde vivemos. Aprovado!

Falando em nomes incomuns, Elijah não é dos mais populares. O ala será apenas o SEGUNDO jogador com esse nome na história da NBA! Curiosamente o outro também jogou no Utah Jazz, era Elijah Millsap, irmão de Paul Millsap. O nome por si só não parece grande coisa, soa como um jornalista que escreve uma coluna sobre comportamento para o New York Times, mas temos que dar pontos para a originalidade no mundo do basquete.


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3

Toronto Raptors
#29- Malachi Flynn, PG
#59- Jalen Harris, SG

O legal de um time ter personalidade bem definida é que isso ajuda muito na hora de entender a razão pela qual um jogador foi escolhido. Ao pesquisar sobre Malachi Flynn eu li sobre ele ser um armador que sempre joga na intensidade máxima, sobre como é disciplinado no ataque, como é inteligente com a bola na mão para compensar o físico nada exuberante e como se entrega na defesa para nunca deixar o time na mão, mesmo que geralmente esteja marcando caras mais altos e/ou mais fortes. Ele não é perfeito para o Toronto Raptors? Não é um candidato a novo Fred VanVleet? O time é construído ao redor de jogadores inteligentes, batalhadores e disciplinados. A impressão é que não sabemos qual é o limite de talento de Flynn, mas que o Raptors vai chegar nele.

Com 22 anos, o armador é outro “veterano” do Draft. Isso porque ele começou a carreira universitária em Washington State, jogou dois anos por lá e depois se transferiu para San Diego State, onde brilhou na última temporada. Só que na NCAA você precisa passar um ano sem jogar se quiser mudar de escola. Então embora seja considerado um “Junior”, que é como são chamados os jogadores de terceiro ano, ele já está há quatro temporadas na universidade. Não que isso seja um problema para o Raptors, que até ano passado investia pesado no desenvolvimento de Chris Boucher mesmo com o pivô já tendo 27 anos e nenhum sucesso anterior na NBA.

Com a penúltima escolha do Draft, o Raptors selecionou Jalen Harris, outro jogador de 22 anos vindo de uma universidade não tão badalada. Parece uma aposta consciente em querer transformar jogadores rodados e com qualidades mais claras em peças importantes do banco de reservas do time. Vai de encontro ao que muitos times fazem no fim do Draft de pegar caras mais jovens com o tal “potencial” ou gringos que vão ser largados na Europa na esperança de virar alguma coisa. O Raptors parece acreditar mais em atletas com experiência e contam com seu sistema de desenvolvimento de atletas para converter isso em algo útil na NBA. Nessa temporada Harris deve ficar na G-League.

FORÇA NOMINALMalachi é a versão deles de Malaquias, que é um dos nomes com melhor e mais cômica sonoridade em toda a língua portuguesa. É tão divertido de falar e repetir que eu JAMAIS daria esse nome para o meu filho, porque eu mesmo não seria capaz de levá-lo a sério. Deveria respeitar mais a origem religiosa do nome e não dar risada? Sim. Consigo? Não. Dito isso, Malachi em inglês não soa tão divertido, mas Flynn compensa com quê de marra. Sobre Jalen Harris não tenho nada a comentar, comer uma pera seria mais empolgante.


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3

Memphis Grizzlies
#30- Desmond Bane, SG
#35- Xavier Tillman, PF

A escolha de Draft do Memphis Grizzlies nesse ano era do Boston Celtics, mas o time conseguiu participar da brincadeira com uma troca de última hora com… o Boston Celtics. Não foi para pegar sua escolha de volta (era a 14º deste Draft), mas serviu para selecionar o último jogador da primeira rodada. Em troca mandaram duas escolhas futuras de segunda rodada. Eventualmente Danny Ainge vai se AFOGAR em tantas escolhas, é inevitável.

Com essa Escolha 30 o Grizzlies selecionou Desmond Bane, um dos queridinhos da galera no Twitter e que flutuava da posição 20 até a 40 em diferentes Mock Drafts internet afora. Essa amplitude de análise passa muito pelo fato dele já ter 22 anos e ter jogado quatro temporadas na Texas Christian University, tem gente que olha caras assim e acham que não há mais evolução possível, enquanto outros só analisam o desempenho e a capacidade de ajudar imediatamente. Bom arremessador, especialmente perigoso se mexendo sem a bola e com boa visão de jogo, Bane tem tudo para encontrar diferentes maneiras de pontuar na NBA. Desenvolver a capacidade de criar para outros, assim como a defesa, vão definir se ele se tornará peça importante do Grizzlies ou se será só um bom complemento a Ja Morant que divide alguns minutos com Dillon Brooks.

No comecinho da segunda rodada o Grizzlies apostou em Xavier Tillman, jogador de garrafão que deve tirar muito proveito de jogar ao lado de um fenômeno como Morant. A descrição dele no The Ringer feita antes do Draft, por exemplo, diz que ele deveria torcer para cair em um time com um armador “de elite” para conseguir mostrar seus melhores atributos: fazer corta-luzes, segurar passes em pick-and-rolls e tomar boas decisões quando recebe esses passes, especialmente quando a defesa dobra a marcação sobre o armador e obriga quem recebeu a bola a tirar proveito de um quatro contra três. Na defesa o desafio pode ser maior: com 2,03m ele é bem baixo para um jogador de garrafão, mas não ágil o bastante para garantir que marca qualquer bom jogador no perímetro. Em um elenco com Jaren Jackson Jr, Brandon Clarke e Jonas Valanciunas, precisará ir bem para entrar de vez na rotação.

Uma curiosidade: Tillman, de 21 anos, é pai de DOIS FILHOS! Ele morava com sua esposa e a filha Ayanna, de 4 anos, dentro do alojamento da Universidade de Michigan. O caçula Xavier Tillman Jr. nasceu em Fevereiro deste ano, pouco antes da temporada ser cancelada. Lidar com responsabilidade não será um problema para o ala.

FORÇA NOMINAL – Quando seu sobrenome é o nome de um vilão do Batman, sua Força Nominal está garantida. No aguardo para quando Bane se juntar o Joker Nikola Jokic para enfrentar o Homem Morcego da NBA…

Coyote


A parte FINAL da Análise do Draft 2020 chegará nos próximos dias para falar dos poucos times que restam, alguns que só escolheram na segunda rodada ou que não selecionaram ninguém.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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