>Análise dos Técnicos – Divisão Central

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“Vamos lá, primeiro a gente mata o Scott Skiles, depois eu vou para
o garrafão, você passa a bola pra mim, e aí…”

Apesar do pequeno atraso no cronograma (sabe como é, minha mãe comeu minha lição de casa, passei num buraco e furei os quatro pneus, essas coisas) estamos de volta com nossa Semana dos Técnicos. Dessa vez vamos dar uma olhada na Conferência Leste, mais especificamente na Divisão Central. São alguns dos técnicos mais jovens de toda a NBA, incluindo dois treinadores novatos e, para finalizar, o cara mais insuportável desse hemisfério, tentando sua sorte com um time novo. Vamos lá!

Vinny Del Negro, Chicago Bulls

Lembra quando o Bulls impressionou todo mundo ganhando 49 partidas na temporada regular com um elenco jovem composto por Deng, Ben Gordon e Hinrich? E quando o time fedeu perdendo 49 partidas na temporada passada e dando um jeito de se livrar de Ben Wallace, contratado como a peça que faltava para chegar a um título? Bem, o fracasso foi demais para a diretoria do Bulls, mandaram o técnico e pé-no-saco Scott Skiles embora e foram atrás de dois possíveis substitutos: Mike D’Antoni, que prefiriu ir comandar o Knicks, e Doug Collins, que preferiu continuar comentando jogos na televisão. Sem os dois favoritos para o cargo, o Bulls resolveu apelar para um treinador novato, o ex-jogador Vinny Del Negro.

Gostaria de ser capaz de explicar o motivo dessa escolha, mas não consigo pensar em nada que não seja sua força nominal. Del Negro não tem qualquer experiência como técnico ou auxiliar técnico, apenas foi comentarista, trabalhou na parte administrativa do Suns e tem um nome bacana capaz de vender vários CDs de música pop para garotas.

Os responsáveis pelo Chicago Bulls afirmaram que Vinny foi o que se saiu melhor nas entrevistas para o emprego, cheio de novas idéais e uma vontade enorme de aprender. Mas não é o que todo mundo diz em entrevistas de emprego? “Sim, senhor, tenho muita vontade de aprender, sim. Defeito? Ah, eu sou perfeccionista, sabe? Gosto de tudo feito direitinho, faço até hora extra se for necessário.” O pessoal no Bulls não tem experiência em mentiras de escritório.

Ao menos o discurso do Vinny ao assumir o time foi sensato. Alegou estar ansioso para dar mais e mais minutos para Thabo Sefolosha, Tyrus Thomas e Joaquim Noah, ou seja, colocar pra jogar o núcleo jovem do time que passou muito tempo no banco na época do Skiles. Além disso, contratou como assistentes técnicos dois veteraníssimos: Del Harris, de 71 anos, e Bernie Bickerstaff, de 63. Os dois foram técnicos de moderado sucesso e afirmaram que Vinny, de apenas 41 anos, absorve cada palavra deles com o respeito e o afinco de um pirralho nerd que senta na primeira fileira da sala de aula (mas não usaram essas palavras, claro). O resultado disso a gente vai ver em breve, mas deve levar algum tempo para que o treinador consiga uma voz própria e dê uma identidade ao time. Como o elenco é jovem, parece que o clima é oficialmente de apagar qualquer rastro de pressa em Chicago. Hora de pensar no futuro.

Mike Brown, Cleveland Cavaliers

Se montar um esquema de ataque no basquete fosse um teste de QI, o resultado do Mike Brown diria que “sua inteligência é equivalente a um mico de circo”. Uma criança de 2 anos ou a Luciana Gimenez – que são inteligências equivalentes – seriam capazes de montar uma tática mais complexa do que “passem a bola para LeBron e saiam do caminho”.

Embora o Cavs seja seu primeiro time de verdade, Mike Brown foi assistente técnico de Gregg Popovich, naquele Spurs campeão da NBA em 2003, além de assistente técnico do Rick Carlisle no Pacers que foi para a Final do Leste em 2004. Ou seja, o sujeito sabe o que são times vencedores, tem experiência nos playoffs e é famoso por ser um grande especialista em defesas. Comandando o Cavs, colocou sua equipe sempre entre as melhores defesas e entre os líderes em rebotes defensivos e ofensivos. Foi campeão do Leste e sempre faz estrago nos playoffs, então como pode ser tão criticado e chamado de burro por aí? Basta assistir um punhado de jogos do Cavs e dar uma olhada em como o ataque funciona, na bagunça, na falta de movimentação, na falta de jogadas planejadas. A não ser, é claro, que ele tenha planejado e treinado deixar quatro jogadores parados olhando para o teto enquanto o LeBron faz chover e anda sobre as águas para fazer qualquer coisa acontecer.

Se sou um defensor do LeBron James, isso deve-se em grande parte à existência do técnico Mike Brown. Eu vejo LeBron querendo envolver seus companheiros, querendo passar a bola, tendo físico para jogar de costas para a cesta, dentro do garrafão, versatilidade para jogar em várias posições, armar o jogo volta e meia. Mas também vejo o técnico mais bocó da atualidade usando o LeBron sempre da mesma forma, mesmo quando ele recebe marcação dupla ou até mesmo tripla. Kobe e Jordan foram treinados pelo Mestre Zen, Phil Jackson. O que teria sido deles se fossem treinados pelo mosca-morta do Mike Brown? É insuportável ver um dos melhores jogadores da NBA, um dos maiores talentos físicos a jogar essa budega, ser tão pessimamente utilizado por seu técnico. Se LeBron sair de Cleveland como dizem todos os boatos, não será apenas porque a diretoria não consegue colocar à sua volta um elenco decente. Será também porque seu técnico não presta, mesmo montando defesas poderosas e tendo vencido o Leste. Tá certo, ele é o técnico mais novo da NBA com apenas 38 anos (só alguns meses mais novo que o Lawrence Frank), mas não parece mostrar nenhum sinal de que está disposto a aprender e mudar seu modo de lidar com o jogo.


Michael Curry, Detroit Pistons

Ex-jogador do Pistons e assistente técnico da equipe nos últimos anos, Michael Curry acabou ganhando pontos de experiência o bastante para evoluir para o posto de técnico depois que o Flip Saunders rodou. O Saunders era um bom técnico, especialista na parte ofensiva, com uma defesa questionável, que levou o Wolves e o Pistons para os playoffs quinhentas vezes mas seus times sempre amarelam na hora mais importante. Coisas como motivação e confiança do elenco passaram a se tornar um assunto comum e o Pistons decidiu tomar uma providência.

Michael Curry não tem experiência alguma como treinador mas foi escolhido simplesmente porque o elenco confia nele. Como assistente técnico, era muito respeitado por todos os jogadores como sendo um cara durão e exigente. É esse tipo de exigência, motivação e confiança que, espera-se, seja o que leve o Pistons a não ser um time que joga no piloto automático muitas vezes e perde justamente quando não pode.

O Michael Curry já vinha sendo cotado para ser técnico faz um tempo. Quando o Suns mandou o D’Antoni empilhar coquinho na descida, tentou entrar em contato com o Curry mas o Pistons não deixou. Eram dois os assistentes técnicos em Detroit, Michael Curry e Terry Porter, e apenas o segundo teve permissão para falar com o Suns. Acabou sendo contratado e, pouco tempo depois, o Curry assumiu o Pistons. O mercado está em alta para assistentes técnicos de Detroit.

Nas declarações que deu até agora, Michael Curry reclamou da preparação física do Pistons e já avisou que vai exigir muito mais. O que ele quer é o físico de seus jogadores aguentando os playoffs numa boa, então todo mundo tem que se apresentar antes da temporada começar com o condicionamento em dia. Além disso, já avisou que Rasheed Wallace, em especial, terá que estar melhor fisicamente justamente porque jogará muito mais no garrafão durante essa temporada. Ou seja, o cara chegou chamando todo mundo de gordo, colocando todo mundo para correr e fazer abdominais, e obrigando o Sheed a ficar lá embaixo do garrafão, algo que mataria ele de tédio? Quanto tempo vai levar para os jogadores do Pistons se encherem dessa mané e tacarem ele pela janela?

Jim O’Brien, Indiana Pacers

Lembrar de Jim O’Brien é lembrar daqueles bons tempos em que o Celtics desafiava as leis da lógica e do bom senso e vencia jogos, mas sem ter um elenco que parece um All-Star Game e ganha anéis mesmo com o babaca do Doc Rivers. Naquela época, o Celtics era formado por Paul Pierce e Antoine Walker, quebrava todos os recordes em bolas de 3 pontos arremessadas e era muito divertido de assistir. Me sinto velho lembrando de um Antoine Walker retardado porém sensacional, que levava seu time às vitórias. Naquela época a gente podia atravessar a rua sem olhar para os lados e continuar se perguntando quando é que o Papa João Paulo II ia finalmente morrer.

Jim O’Brien era responsável por um ataque veloz, de contra-ataques, baseado no jogo de perímetro, arremessando muito de fora do garrafão. Seu assistente técnico, Dick Harter, era uma das maiores mentes defensivas do mundo desde os bons tempos do goleiro Zetti, do São Paulo. Juntos, levaram o elenco limitado do Celtics até a final do Leste em 2002, mas foi aí que o maluco do Danny Ainge começou a lascar com tudo. Trocou o Walker sem motivo nenhum, passou a obrigar a utilização de novatos sem talento e afundou o time de vez com trocas absurdas que sonhavam apenas com o futuro. Jim O’Brien, então, falou que estava saindo para comprar cigarros e nunca mais voltou.

Foi para o Sixers e levou o time para os playoffs imediatamente, com um ataque que deixou Iverson feliz da vida. Mas como a diretoria do time queria contratar Mo Cheeks (vá entender o porquê), mandou o pobre Jim embora. Passou um tempo como comentarista e então assumiu o Pacers na temporada passada, o pior Pacers para se ter nas mãos nos últimos tempos. Além de Jermaine O’Neal contundido, o time de Indiana é uma tentativa do dirigente Larry Bird de construir um colégio católico para moços politicamente corretos. Todo mundo que arruma encrenca ou tem uma vida fora das quadras conturbada foi, aos poucos, sendo trocado ou afastado. O resultado final é um time que perdeu talentos como Stephen Jackson e Ron Artest e tenta vencer com o branquelo do Troy Murphy, que já tem no nome a certeza de que tudo vai dar errado. Jamaal Tinsley, um jogador que tinha tudo para se dar bem no esquema ofensivo do técnico O’Brien, foi cada vez mais punido por sua conduta e pelas contusões, até chegar ao ponto atual: ele não tem sequer um armário no vestiário, mesmo ainda não tendo sido trocado ou mandado embora. Estão apenas fechando os olhos e fazendo pensamento positivo para que ele desapareça, no melhor esquema “O Segredo”.

A dupla Jim O’Brien e seu assistente defensivo Dick Harter têm uma árdua tarefa nas mãos. O elenco do Pacers está em total reconstrução, tendo se livrado inclusive do Jermaine O’Neal, e agora só tem uma pivetada para cheirar a talco e participar da brincadeira. Mas Jim O’Brien é um ótimo professor de novatos e ensina um ataque espontâneo e livre em quadra. Com ele, o eterno fracasso Mike Dunleavy e a futura estrela Danny Granger (também conhecido no mundo do tracadilho como Granny Danger) tiveram o melhor ano de suas carreiras. O Pacers acabou muito bem a temporada, chegou a tentar pegar a oitava vaga no Leste apesar das contusões e da bagunça que estava acontecendo no time, e era um dos times mais divertidos de se assistir jogar. Eu gosto do O’Brien e coloco uma fé em seu ataque veloz e talento com a pirralhada.

Scott Skiles, Milwaukee Bucks

O Skiles é a esposa que ninguém quer ter: faz uma comida deliciosa mas critica o marido o tempo todo e em todo lugar, na cozinha, na cama, no banheiro e na frente dos amigos. Grita o tempo todo, cola na geladeira a lista de regras da casa (se não levantar a tampa da privada antes de mijar, tem que pagar 50 flexões) e nunca dá o braço a torcer. Ou seja, Scott Skiles é um divórcio sempre esperando para acontecer.

Poucos técnicos são tão bons estrategistas quanto ele, é verdade. Se eu tivesse que escolher alguém para desenhar a jogada final de uma partida que levasse à cesta da vitória, escolheria o Skiles. Mas vá ser pentelho assim no inferno! A palavra principal com ele é “disciplina”. O que ele exige do time não é talento, mas obediência irrestrita. Grita com os jogadores de forma exigente, o que pode ser até motivador a princípio, mas quando ele grita por qualquer coisa, critica os jogadores o tempo inteiro e não tem vergonha de esculachar seus jogadores quando está falando com a imprensa, está criando um clima insuportável em seu elenco.

Sua especialidade é a defesa e é exatamente isso que ele cobra de seus jogadores sem parar, integralmente. Quem não defende não tem vez, vai parar no banco, assim como quem não obedece. Na ditadura de Scott Skiles, o Bulls viu Eddy Curry e Tyson Chandler indo parar na reserva e sendo trocados por ordens suas. Curry é um gordo que ainda é um talento ofensivo, mas Tyson Chandler é um dos melhores pivôs da NBA e não pára de evoluir um ano sequer – a troca foi uma cagada. Às vezes, a visão rígida de Skiles acaba prendendo ele próprio, evitando que use seus melhores jogadores e entregue o melhor resultado em quadra. Não faz sentido a sua visão de disciplina ser mais importante do que as vitórias dentro das partidas. Por exemplo, Ben Gordon não defende e então é punido com o banco de reservas, com minutos limitados, com castigos físicos. E assim o time perde, todo mundo fica descontente e não vê a hora de dar o fora. Quando o Luol Deng e o próprio Ben Gordon pedem quatrocentos bilhões de dólares por ano para jogar no Bulls, acho até justo: é um valor mínimo para encarar o Scott Skiles diariamente durante uma temporada.

Diz a lenda que, desde seus tempos de Phoenix Suns, o Skiles não grita mais. Mas isso não quer dizer que ele não reclame o tempo todo, não cobre o impossível e não castigue seus jogadores fisicamente. No Bulls, sob seu regime, quem não atinge o padrão “paga 100”, e uma visão comum por lá é um bando de jogadores crescidos correndo ao redor da quadra porque erraram uma bandeja. Eu sei, tem gente que adora esse tipo de coisa, que acha que basquete se aprende na porrada, que criança se educa no chicote. Mas a fama do Skiles no Bulls é o bastante para fazer jogadores free agents evitarem jogar pra ele. Ninguém quer ficar sofrendo só de alegre, a não ser masoquista, mas é melhor nem entrar nesse assunto.

Quando o Ben Wallace chegou ao Chicago Bulls como a grande esperança de tornar o time um real candidato ao título, acabou trombando de frente com Skiles. Logo de cara, o Skiles obrigou os jogadores a enfaixarem seus tornozelos antes de treinos e partidas, algo que o Big Ben nunca tinha feito e assumidamente achou uma merda ter que botar em prática. Além disso, estava em voga no elenco uma lei idiota que proibia o uso de faixas na cabeça. Quando o Big Ben entrou em quadra com uma, o Skiles colocou ele no banco assim que percebeu. Todos os assistentes técnicos foram falar com o Wallace, pedir para ele tirar, mas ele não obedeceu. Só tirou a faixa no fim do primeiro quarto e, segundos depois, sem falar nada, Skiles colocou ele de volta em quadra. No segundo tempo, Ben Wallace voltou com a faixa do vestiário e nem foi colocado em quadra. Assim que tirou para coçar a cabeça, foi colocado em quadra. Tudo um jogo de crianças, uma brincadeira de mentes entediadas, uma vontade grande demais de ter poder. Por que alguém se importaria com faixas de cabeça? Que vontade é essa de ser obedecido que faz ele só colocar o Ben Wallace nos segundos em que ele tira a maldita faixa da cabeça? Freud explica, algo a ver com falos e mães.

O clima com o Ben Wallace ficou insuportável e ele teve que ser trocado. Mas quando o clima com o resto do time ficou insuportável, não dava pra trocar o time inteiro, a não ser que mandessem eles para Seattle. O jeito foi mandar o Skiles pro olho da rua e aguardar alguém apaixonado por seu estilo “obedece essa merda e defende direito” dar uma chance para o rapaz. Rapidinho ele se tornou o novo técnico do Bucks. A troca do fominha maluco Mo Williams deve ter tudo a ver com a chegada de Skiles, ele não duraria nem 5 segundos nesse esquema, e agora é o elenco de Milwaukee que deve sofrer. Se a disciplina vai dar algum resultado nesse elenco cheio de modificações e mais atlético, só saberemos na próxima temporada. Mas eu sempre acho que esse tipo de coisa dá errado a longo prazo, você pode até se esforçar mais no começo, mas ninguém fica sofrendo em silêncio por anos a fio. A não ser masoquistas, mas, bem, deixa pra lá.

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