>Análise dos Técnicos – Divisão do Pacífico

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“Então é só ir lá e marcar 81 pontos?”

O Danilo ficou com a parte boa ontem. Ele falou dos técnicos da divisão atlântica e pode falar mal das pessoas, o que é sempre mais legal do que falar bem. Mas tudo bem, tudo bem, eu vou para o outro lado dos Estados Unidos falar da divisão da Califórnia, ou melhor, do Pacífico, que tem 4 times da Califórnia e o intrometido do Suns.

Reggie Theus, Sacramento Kings
Reggie Theus foi um ótimo jogador na NBA. Chegou a ter médias superiores a 20 pontos e 9 assistências e acabou a carreira com médias de 18 e 6. Nada mal. Mas mesmo assim ninguém lembra dele.
Mas o Reggie Theus fez de tudo para não ser esquecido. Depois de se aposentar como jogador da NBA, ele começou uma carreira de ator. Sim, no maior estilo Shaquille O’Neal. Pelo jeito os jogadores antigos queriam ser atores, não são como os de hoje que querem ser rappers. Ele participou de filmes como o “Like Mike“, que no Brasil se chama “Pequenos Grandes Astros” e tem participações de jogadores da NBA como Vince Carter, Steve Nash, Jason Kidd e Dirk Nowitzki. Theus fez o papel de um comentarista.
Ele também participou de uma série da NBC chamada “Hang Time”, em que tinha um papel importantíssimo, era o técnico de basquete do time da escola. A patética e vergonhosa abertura do programa pode ser vista no vídeo abaixo. Mas assistam até o fim, senão vocês perdem a participação especial do Alonzo Mourning no episódio!

O cara queria porque queria aparecer e se você resgatar do armário o seu NBA Live 2000 ouvirá a voz do técnico do Kings fazendo os comentários, mas chegou uma hora em que ele decidiu usar seu conhecimento sobre basquete para fazer algo mais importante do que comentar a atuação de pixels em uma tela.

Em 2005 ele foi contratado pelos Aggies da Universidade do Novo México e começou sua carreira como técnico. Lá ele começou com um time horrível e uma campanha de apenas 6 vitórias, no ano seguinte foram 16 e depois 25, levando os Aggies para o torneio da NCAA. Lá ele era considerado um ótimo professor, alguém que pegava os jogadores que vinham crus do colegial e os fazia entender melhor o jogo e a melhorar seus fundamentos. Esses técnicos-professores são os que fazem sucesso no basquete universitário, porque lá você não lida com a nata do talento mundial, como na NBA, lá você tem que lidar com branquelos baixinhos que só têm o esforço pra oferecer, não é fácil.
Mas eis que então Theus surpreende todo mundo e vai para a NBA. Na temporada 2007-08 ele começou como técnico do time que defendeu por anos, o Kings. Nesse seu único ano o saldo foi até que positivo, no disputado Oeste acabaram em 11°, mas com um número de vitórias que os colocariam nos playoffs se Sacramento ficasse no Leste americano.
Mas apesar dos números discretos, acho que o Theus fez um bom trabalho. Ele pegou um time que não tinha armadores e fez o Beno Udrih jogar ainda mais do que jogava quando entrava nos jogos já ganhos do Spurs. Também fez o Brad Miller voltar a jogar como não jogava há anos, conseguiu fazer o Mikki Moore jogar bem mesmo sem os passes do Jason Kidd e, na minha opinião, sabe como usar todo o potencial do Kevin Martin. O K-Mart 2 não é um cara que faz tudo sozinho mas ele sabe fazer os seus pontos e o time joga em função disso.
Em todos os jogos que vi do Kings, vi um time organizado e que sabia o que estava fazendo, não é à toa que engrossou para muito time bom, faltava mesmo um pouco de defesa. O Kings foi o oitavo melhor ataque da liga mas também foi a sétima pior defesa.
Para o ano que vem, o Kings perdeu o Artest (que muitas vezes ignorava o Theus e queria fazer tudo sozinho no ataque) e ganhou o promissor pivete Donte Greene. Com isso o Kings tem um elenco bem novo, com Udrih, Kevin Martin, Donte Greene e os homens de garrafão Jason Thompson, Spencer Hawes e Shelden Williams. Para um monte de pivete, nada melhor do que um professor como Theus. Depois dessa temporada, assistindo a evolução do Kings, será mais fácil de julgá-lo.

Terry Porter, Phoenix Suns
O começo da carreira do Terry Porter como técnico foi promissor. O antigo armador do Blazers e do Spurs (campeão com o Duncan e cia em 99) começou como técnico do Bucks na temporada 2003-04, lá ele pegou um time que tinha o recém-promovido a estrela Michael Redd e um bando de talento bem mediano, como o Tintim Van Horn, o Joe Smith, a eterna promessa Desmond Mason e o novato e ainda cru armador TJ Ford.
O time acabou a temporada com 41 vitórias, 41 derrotas e se classificou em sexto para os playoffs. Um feito espetacular! Pensa bem, você coloca toda a responsa do time nas mãos do TJ Ford, um recém-draftado, ele só joga 55 dos 82 jogos e no resto a armação é feita pela farsa do Damon Jones. Esse armador está preparando jogadas para caras como o Tim Thomas e o Desmond Mason e mesmo assim você vai em sexto para os playoffs com um técnico novato! E no Bucks! As coisas não costumam dar certo por lá.
O segredo foi um ataque fulminante. Ford e Damon Jones botavam a meninada pra correr e aproveitavam a velocidade do Desmond Mason e as bolas de três do Tim Thomas e do Redd para ter o quarto melhor ataque da NBA naquela temporada.
Mas no ano seguinte o TJ Ford não jogou porque estava com seus problemas nas costas e a armação ficou na mão de Mike James e Mo Williams (pausa para gargalhada). Você consegue imaginar uma dupla de armadores mais fominha e que mais estraga os companheiros de time? Imagina a situação do Porter ao ver o Mike James fazendo tudo errado no ataque e tendo só o Mo Williams como opção de troca. Não foi à toa que o time virou apenas o 15° melhor ataque da NBA, não foi para os playoffs e Porter foi mandado embora.
Nos dois anos o Bucks ficou entre as 10 piores defesas da NBA.
Resumo da matéria: Porter montou um time veloz, bom ofensivamente, que dependia de armadores rápidos e não conseguiu montar uma defesa boa.
Ele é a cara do Suns, o time ainda vai ser bonito de ver e os torcedores do time de Phoenix podem esperar mais do mesmo. Talvez um pouco mais de jogo de meia quadra, umas jogadas diferentes, mas no geral vai ser o mesmo show de antes com a mesma merda de resultado de antes. Só precisamos ver como ele lida com as potências de Shaq e Amaré no garrafão, porque no Bucks ele treinou um time que tinha Marcus Fizer e Zaza Pachulia. Eca.

Mike Dunleavy, Los Angeles Clippers
O Junior está jogando no Pacers, o papai é técnico do Clippers. Vitórias e sucesso não devem ser assunto na mesa no dia de ação de graças.
Mas Mike Dunleavy é um cara bacana, em sua carreira ele conseguiu bons resultados. No time bom de Los Angeles, o Lakers, ele começou sua jornada como técnico e logo no primeiro ano foi para a final da NBA, quando perdeu para o Bulls do Jordan.
Depois do Lakers ele foi para o Bucks, onde não conseguiu nada, afinal era o Bucks. De lá foi para o Portland, onde comandou um timaço. Lembram de Damon Stoudamire, Derek Anderson, Steve Smith, Scottie Pippen, Rasheed Wallace e Arvydas Sabonis? Eram comandados por Dunleavy. O time jogava muito bem mas amarelava, foi bi-vice do Oeste, perdendo para o Spurs em 99 e para o Lakers em 2000, naquele jogo 7 inacreditável em que eles estavam ganhando por uns 20 pontos de vantagem no terceiro período, quando começaram a mijar nas calças.
Depois de perder um jogo daquele, o Dunleavy saiu do Portland, era melhor perder o emprego do que ser assassinado pelo Rasheed Wallace.
Em 2003 ele chegou no Clippers e das 5 temporadas que fez com o time, 4 foram um fracasso, mas uma foi espetacular. Ele comandou o Clippers a seu primeiro playoff desde 97 e ganhou (em cima do Nuggets amarelão do Carmelo, por 4 a 1) a sua primeira série de playoff desde 1977! Dá pra imaginar um time mais derrotado do que o Clippers? Na semi-final do Oeste levaram o Suns a 7 jogos em uma série espetacular.
Foi o ápice do Clippers na NBA. Mas não sei o quanto disso era mérito de Dunleavy. No ano anterior o Clippers já era um time bom, mas perdia sempre no final dos jogos, não tinha calma pra decidir, um número que eu não consigo mais achar mostrava como o Clippers era um dos times que mais perdia jogos por diferença menor de 5 pontos. Então eles conseguiram os experientes Cassell e Mobley e com eles ficou tudo mais fácil. Será que não é papel do técnico fazer os jogadores terem tranquilidade para fechar os jogos? Ou ele desenhava as jogadas certas e os caras que não colocavam a bola dentro da cesta?
Não sei, teria que acompanhar o time mais de perto para julgar essas coisas. E acompanhei o Clippers bem de perto apenas nos playoffs daquele ano e Dunleavy foi perfeito na série contra o Suns. O time de Phoenix estava sem o Amaré e usando o Boris Diaw de pivô, pensando nisso o Dunleavy fez de tudo para usar o Elton Brand e o Chris Kaman até não poder mais, abusando do coitado do francês, que não tinha o que fazer. Dado curioso é que o Boris Diaw liderou a NBA em cometer faltas seguidas de cesta naquele ano, coitado, vendo ele tentando de tudo pra parar o Kaman deu pra entender o motivo.
Depois desse ano tudo voltou ao normal e nada funciona no Clippers. Falar se o Dunleavy é bom ou não vendo ele no Clippers não é justo, é como tentar dizer se um piloto de Fórmula 1 é bom colocando o cara para pilotar um Fusca. Um fusca amaldiçoado, porque essa zica do Clippers é maldição.

Don Nelson, Golden State Warriors
Vou ter o bom senso de não falar muito da carreira do Don Nelson, daria pra fazer um livro pra falar de seus 2234 jogos como técnico em 29 temporadas. Engraçado que os primeiros anos dele foram no Bucks! Dos 5 técnicos que estão na Divisão do Pacífico, 3 já treinaram o Bucks. Coincidência?
Então ao invés de falar de números e conquistas, vou falar de todas as inovações que o Don Nelson, o primeiro e único técnico-arte, levou para a NBA.
Point-Forward: É algo como um armador-ala. É um jogador alto, ala por natureza, mas que faz todas as funções de um armador principal, algo que o Lamar Odom fez muitas vezes no Heat e volta e meia faz no Lakers, como o Kirilenko fez naquele famoso jogo do Jazz em que o Fisher chegou atrasado contra o Warriors e o Jazz não tinha armador.
Don Nelson criou esse conceito nos anos 80 quando treinava o Bucks. Ele mandava o ala Paul Pressey, de 2,02 metros de altura, para armar o time, enquanto os armadores Sidney Moncrief e Ricky Pierce podiam ficar livres da obrigação e só marcarem seus pontos. Lembro vagamente dele tentar a mesma coisa com o Antoine Walker no Mavs durante alguns momentos de alguns jogos.
Run-and-gun: A técnica de correria que o Suns deixou famosa pra quem acompanha a NBA hoje em dia foi criada pela mente doentia do Don Nelson quando ele treinava o Warriors nos anos 90. Era o chamado Run TMC, uma brincadeira com o nome do grupo de rap Run DMC mas usando as iniciais dos três caras principais do esquema, o Tim Hardaway, Mitch Hitchmond e o Chris Mullin.
Small Ball: É o termo usado quando falamos de times que usam equipes baixas. Às vezes usamos esse termo quando um técnico coloca um ala de força, da posição 4, como pivô. Mas o Don Nelson levava esse conceito ao extremo. Esse Warriors dos anos 90 tinha tinha três armadores e dois alas apenas, sendo que o Rod Higgins, de 2,03, era o chamado pivô. Hoje ele faz algo parecido quando o Al Harrington joga na posição 5. Mas às vezes ele colocava 5 armadores ao mesmo tempo. No Dallas de 2002, ele costumava usar um quinteto com Nash, Van Exel, Finley, Tim Hardaway e Nowitzki. Com o alemão fora do garrafão, claro.
Hack-a-Shaq: Fazer faltas propositais no Shaq para ele errar os lances livres. Aqui está sua obra-prima. Como todo artista, ele é um incompreendido. Ninguém viu a beleza da sua criação. Ele quebrou todas as regras ao encontrar a única brecha nas regras e no talento do Shaq para pará-lo! Lindo! Depois ele ainda evoluiu a técnica para o Hack-a-Bowen nas séries entre Dallas e Spurs. Espírito esportivo pode faltar, mas criatividade é o que não falta para Don Nelson.
Engraçado que o Don Nelson na verdade gosta muito do Shaq. Na meia temporada que ele passou no Knicks, fez de tudo para que o time de Nova York trocasse o Patrick Ewing para abrir lugar para o Shaq, que estaria livre no ano seguinte. Isso causou tantas brigas que ele deu o fora de lá.

Phil Jackson, Los Angeles Lakers
O sistema de triângulos, que deixou o Phil Jackson tão famoso, não é criação dele. É de um antigo técnico da USC e que depois foi aperfeiçoado pelo assistente do Phil Jackson, o Tex Winter.
Mas mesmo assim, é o sistema que mostra tudo no que o Phil Jackson acredita e o que o fez ser talvez o melhor técnico da história da NBA.
O sistema de triângulos não é fácil de entender, ele é complexo, para isso o time precisa de jogadores inteligentes. Não espere ver o Lakers mandando o Lamar Odom pelo Kenyon Martin num futuro próximo, entender o jogo é parte fundamental do jogo e o Phil Jackson não só preza isso como também ensina aos jogadores. Ele entende os triângulos e faz os jogadores entenderem também (tá, o Kwame Brown e o Gary Payton não contam!).
O sistema de triângulos não funciona se não for em equipe. Todos tem que estar se entendendo e têm que jogar juntos, como vimos na era Kobe-Shaq, os caras não precisam se amar, mas tem que saber jogar como equipe e nisso o Phil Jackson pega no pé mesmo, nada o deixa mais irritado do que jogadas individuais preciptadas, é só ver ele espumando no banco quando o Kobe quer inventar muito.
O Phil Jackson não tem o apelido de “Zen Master” à toa, o trabalho psicológico dele com os jogadores é pesado. Passam por entrevistas públicas criticando ou elogiando o jogador, longas conversas, sessões de meditação e até recomendação de livros. O Phil (não o Big Phil, esse está no Chelsea) recomenda um livro diferente para cada um, de acordo com o que ele acha que cada um deve aprender naquele momento.
O sistema de triângulos tem poucas jogadas desenhadas, não é um sistema de jogo fechado, é uma variação de movimentos onde o ataque reage às decisões da defesa, então o time tem que estar mentalmente preparado para qualquer coisa que aconteça na quadra. O técnico tem que confiar no seu time. Podem reparar, o Phil Jackson é o único técnico que não pede tempo naquelas situações óbvias. O Lakers toma bola de três, enterrada e faz turnover e lá está o Zen sendo Zen e só olhando o jogo. Nas palavras do Steve Kerr, que jogou para o Phil Jackson no Bulls:
“Ele é um dos poucos técnicos que não pede tempo quando o time adversário está numa sequência de pontos. Ele diz que o time tem que achar uma maneira de resolver seus problemas sozinhos, que eles não podem depender dele o tempo todo.”
E muitas vezes os times saem desses buracos sozinhos, e não dá pra medir o tamanho do crescimento da confiança e da maturidade dos jogadores depois de uma situação dessa. Acompanhando o meu Lakers de perto dá pra ver como essa pivetada de Farmar, Vujacic, Walton e Bynum cresceu nesses últimos anos com o Phil Jackson. Esse time não seria nada sem ele e talvez levar o Lakers ao título seja o que falta para a consagração final do Zen Master, afinal falta apenas mais um anel de campeão para ele se tornar o técnico com mais títulos na história da NBA.
E ele sabe ser engraçado também:

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